O mundo não é o que deveria ser. O mundo está dividido em sub mundos. São muitos os submundos que convivem dentro do mundo e cada submundo se considera a totalidade do mundo. Por exemplo, o primeiro mundo e o terceiro mundo. O mundo da pobreza e o mundo da riqueza. O mundo de hoje, de ontem e de amanhã. O mundo dos jovens e o mundo dos velhos. E o mundo das crianças. Mas o grande abismo entre os submundos é resultado do abismo que existe no coração de cada pessoa e que separa “o mundo do eu” e “o mundo do outro”. Para que experimentemos a unidade de um mundo sem fronteiras étnicas, sócio-econômicas, político-ideológias e religiosas é necessário que cada pessoa rompa as fronteiras de seu próprio mundo e se abra para outro mundo, especialmente o mundo do outro.
Foi exatamente isso o que Jesus fez. Deixou seu “mundo divino”, o céu, e veio ao mundo dos homens, a terra. Seu movimento certamente foi inspirado no coração de seu Pai, que “tanto amou o mundo”. Deus tem um coração que abraça o mundo. Seu Filho tem um coração que se dá pelo mundo. O Espírito de Deus derrama esse mesmo amor em nossos corações. Para que sejamos um com Deus, assim como Pai, Filho e Espírito são um, precisamos abrir nossos corações para que sejamos um entre nós. O abraço de Deus é o abraço de um coração que abraça o mundo. E nesse abraço de Deus não estamos sós, pois Deus é Pai nosso, aquele que dá um mesmo nome a toda a família nos céus e na terra.
Estamos num tempo em que de fato é imperativo “viver sem fronteiras”. Palavras como multiculturalismo, pluralidade e diversidade exigem outras, como diálogo, convergência e tolerância, e impelem cada um de nós ao caminho da comunhão, compaixão e solidariedade. A diaconia dilata o coração. No abraço de Deus e de seu Cristo, servo sofredor, que acolhem o mundo, somos convidados a abraçar o Borel, Jerusalém e Bagdá; a convidar à nossa mesa o órfão, a viúva e o estrangeiro; a abrir conversações com ateus, agnósticos e piedosos de todos os credos; conviver com todas as gentes, independentemente de raça e cor, gênero e orientação sexual, ideologia e religião; a juntar forças para o bem comum e a colaborar com as iniciativas das pessoas de boa vontade e suas causas justas.
Passou o tempo do sectarismo fanático e dos preconceitos que resultam em juízos condenatórios. Não existe mais espaço para o dogmatismo prepotente. Quem se acredita dono exclusivo da verdade e vive para impor sobre todos sua moral particular acabará falando sozinho, tão útil como uma vela debaixo da cama, irrelevante como sal sem sabor, que para nada presta senão para ser pisado pelos homens.
É urgente a proclamação do Evangelho de Jesus Cristo – por palavras e obras. É imperativo que coloquemos abaixo os muros e superemos as barreiras que nos separam. É imprescindível abrirmos nossos corações para o amor de Deus que não apenas nos abraça, mas abraça o mundo. Assim, todos juntos, sentados na mesma relva, ouviremos as palavras de vida eterna pronunciadas por Jesus e, enquanto compartilhamos o pão da terra, desfrutaremos do pão do céu, que ele, Jesus, multiplicará e distribuirá na ciranda da nossa comunhão.
2009 | Ed René Kivitz -
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