Aos vinte nos casamos, aos 30 somos belas e tememos os 40 sem imaginarmos que lá nos permitimos um deslumbre de nós mesmas. Chegamos aos 40 e nos surpreendemos, pois ainda nos percebemos enxutas, cheias de vitalidade e massa muscular em cima. Olhamos para nós, para o tempo, para a lente de aumento, para o espelho... E dizemos: nem doeu, e aqui estou eu. Inteiraça!
Aos 50... Tudo bem, concordo que vai embora um pouco de massa muscular mas de quebra vem maturidade. Que bom, pois junto com ela vem bronca pesada que só mesmo muita maturidade pra segurar a onda. Os problemas de saúde começam a surgir com mais frequência. Alguns engraçadinhos (mais jovens, claro!) dizem que é a idade do condor: com dor aqui, com dor ali... É quando se resgata a porção criativa e bem humorada, tirando de letra situações mais delicadas.
Quem não se lembra da personagem da Lília Cabral, cinquentona aparentemente com tudo em cima, em cena típica de “O Divã”? É na boate dançando com o garotão que ela cai em si – literalmente - ao sentir o peso da coluna. Não em peso adiposo, mas de tempo... E isso não é “privilégio” das mais cheinhas, qualquer uma está sujeita a passar por essa saia justa. Cá pra nós, euzinha sei bem o nome dessa saia justa, justíssima: coluna vertebral! Esta nos denuncia, não tem preenchimento, lifting, botox nem bisturi que disfarce. Cruel rss
Não tem jeito, chega uma época em que a coluna nos sugere algumas mudanças drásticas no nosso estilo de vida. E você até pode apelar pra acupuntura, hidroginástica e pilates. Tem mesmo que apelar, pois estes são ótimos companheiros no alívio desse incômodo, mas a palavra de ordem é desacelerar. Sem crise. Gradativamente.
Então, quanto mais o tempo passa, mais dribladoras nos tornamos, sempre optando por boa qualidade de vida. Tornamo-nos mais exigentes e seletivas, porém com leveza e naturalidade. Só assim não ficamos com a sensação de que estamos perdendo algo, deixando alguma coisa pelo caminho.
O bom é que junto com todas essas dores próprias da idade vêm também alegrias próprias da idade que contrabalançam e dão o equilíbrio exato. Alegria de poder optar pela própria idade; alívio de não ter mais que brigar tanto para parecer mais jovem; sentimento de autoconfiança que só o tempo pode proporcionar e que podemos resumir em uma palavrinha mágica chamada serenidade.
A alegria da mulher de 50 é uma alegria gostosa, intensa, na porção exata e necessária. Na justa medida conferida pela existência. Olhar para trás e pensar que está (quase) inteira diante de todas as intempéries a faz uma vitoriosa.
Vitoriosa em conquistas “por tabela”. Sim, pois ser avó é ser mãe novamente sem obrigações, podendo rolar com o neto na praia, na cama, no chão, no tapete. Com aquela energia revisada e revisitada ao ouvir de novo o riso inocente, espontâneo, sincero.
Ah, o neto, a netinha... A alegria de ter um neto é indizível... Entretanto, parafraseando Affonso Romano, arrisco dizer que além de poder mostrar-se como modelo de vida, é uma feliz oportunidade para reeditar o afeto ocioso e estocado.
Hoje eu recebi um e-mail de um tio no qual há um fragmento que me inspirou a fazer essa enxuta viagem em mim mesma e que diz assim:
“A emoção toma conta de mim, quando você diz que se emociona facilmente e por isso, acredita que está ficando velha. Não. Está ficando cada vez mais "apurada". Cada vez mais entende as coisas escritas nas entrelinhas”.
Ele, alguns anos à frente, certamente sabe o que diz...
“Se O SENHOR não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam”.
(Sl 127a)