Tem gente que vive repetindo aos
quatro cantos do mundo que não tem problema de carência, entretanto revela
justamente o contrário quando grita por todos os poros que o mundo tem uma
enorme dívida com ela. E se revolta porque não pode reverter a situação em que
ela mesma se colocou, ficando mais injuriada por não poder punir quem acha que
merece a devida punição. Curiosamente, consegue enxergar as pessoas que são
egoístas, que só se preocupam com o próprio umbigo, analisando-as
minuciosamente conforme sua própria
ótica ressentida e limitada. Leva anos alimentando sua autocomiseração,
sempre atribuindo a outrem as consequências das próprias escolhas. E, mesmo
quando um dia resolve ‘tomar uma atitude’, e as coisas não tomam exatamente
aquele rumo que queria, se frustra sem admitir que não se organizou e apenas
quis que as coisas acontecessem ‘do seu
jeito’. Então, quando percebe que sua vontade não foi realizada, credita a
outras pessoas todo o fracasso de seus intentos.
Faz a salada da justiça própria atribuindo ao diabo todo tipo de problema, dificuldade, más intenções veladas,
falsidade, covardia. Tudo o que é de ruim nessa vida simplifica com a palavra
diabo. Então, sem atinar para a armadilha que o próprio diabo prepara dentro
dela mesma, segue detonando todo mundo e afirmando com todas as letras que quer mais é
botar a titica no ventilador. A própria titica. Não admite nem se conforma que
apenas ela esteja suja. Quer salpicar a sujeira em outros! De preferência,
naqueles que, segundo seu próprio julgamento, são responsáveis por ela estar na
sujeira. Ou seja: atribui ao diabo todo tipo de problema nos outros, enquanto suas
próprias ações e reações insanas são permitidas, já que na sua cabeça, é tudo
fruto de injustiça sofrida. Então, seu espírito religioso entra em ação com
toda força, afirmando que Deus há de pesar a mão naqueles que (supostamente) a
prejudicaram. Carregando uma enorme lista no coração amargo, sai acusando e
nomeando claramente determinadas pessoas, por cada um dos próprios dissabores e
consequentes prejuízos experimentados.
Afasta-se de todos – familiares em
primeiro plano - ficando à margem de todos os tipos de relacionamentos saudáveis, sem se dar conta de que não
são os outros que se afastam, e sim ela mesma que os afasta com a sua
agressividade, sua amargura, sua justiça própria e sua intolerância. E, quando
se depara com alguém que resolve conversar, sem intransigência, mas também sem
complacência - colocando o preto no branco - 'lamenta' com forte tom irônico, o fato de ainda não
ter atingido o grau de purificação daquela pessoa. E aproveita para desfolhar o rosário das diferenças
entre sua interlocutora de vida arrumadinha, e ela, a completa arruinada.
Afinal, em sua cabecinha surtada, tudo isso lhe dá o direito de atirar, não
apenas para todos os lados, mas para cima e para baixo.
Acha que vida espiritual está dissociada da vida em geral e que resume-se a práticas religiosas agendadas; se diz em 'comunhão com Deus' mas não consegue aplicar essa comunhão na vida prática; uma dificuldade mais séria denuncia a superficialidade dessa comunhão; diz que ressentimento não tem nada a ver com atualidade, tentando enganar a si mesma
que deixou no passado o que não pode ser mudado. Ora, ressentimento é algo bem atual, uma vez que surge de um sentimento que
ganha força a cada dia. Um sentimento que se REnova. Daí o nome
REssentimento. É uma coisa antiga,
guardada, fétida e cheia de bactérias que, atualizada, traz o seu inevitável
ônus: provoca os mais terríveis destroços na própria pessoa, impedindo-a de
realizar as tarefas mais simples, posto que sua mente está escravizada, presa a
um passado mal resolvido que vem sempre à tona, arremessado pelas águas da
amargura que a impedem de tratar do assunto mais corriqueiro de maneira sensata e equilibrada.
Constantemente confusa e
contraditória, enquanto diz que consciência faz parte do julgamento no Juízo
Final, afirma - em tom velado de ameaça - que tal situação tem que ser
resolvida, por bem ou mal. Diz que
assume as vaciladas que deu na vida, mas ao mesmo tempo faz acusações, dizendo
que foi rejeitada, expulsa do convívio. Usa a expressão ‘expulsa’ sabendo que vai influenciar na mente do espectador por ser uma palavra com forte tom de reprovação ao senso comum. Porém,
convenientemente, decide esquecer o contexto onde tal ‘expulsão’ aconteceu. Pela
própria irreverência, pela própria intolerância, pela própria leviandade.
Paradoxalmente, considera-se o
suprassumo do ser humano. Uma pessoa responsável. Excelente profissional, mãe/pai excepcional, amigo(a), companheiro(a), mas do tipo, ‘quem não me aceita, problema de
quem não me aceita’. Dono(a) de um autojulgamento impecável tem convicção de que o
problema está sempre nos outros. Jamais vai admitir, conscientemente, que o
nome de tudo pelo qual está passando é CONSEQUÊNCIA DAS PRÓPRIAS ESCOLHAS.
Consequência dos próprios atos. Pois tudo na vida tem seu preço e a conta um
dia vem.
E ninguém ouse dizer-lhe para ter
paciência e humildade. Na sua concepção, é uma tremenda ironia pedir a alguém
que tá na m#@*& pra ter paciência, porque ela vai racionalizar lembrando as
diferenças socioeconômicas, porém sem deixar de arrematar com a batida no peito que humildade eu tenho, pois é de mim
mesma, confundindo seu estilo de vida desprovido de glamour e bens materiais, com
simplicidade e humildade.
Ora, definitivamente, humildade
não é do ser humano. Nunca foi! Muito pelo contrário. O ser humano, pela
própria natureza caída, é pretensioso, arrogante, orgulhoso, teimoso,
vingativo, voluntarioso, vaidoso e cheio de justiça própria. Somente quando ele
se esvazia de si mesmo e QUER o socorro verdadeiro - que nada tem a ver com
denominação religiosa - é que Deus faz morada no seu ser. E assim mesmo, isso
ainda é um processo pela vida inteirinha. Uma obra inacabada, onde entregamos todas as nossas resistências e somos colocados em constante renovação. E assim nos entregamos a esse moldar por toda a nossa existência. E então percebemos que o nosso coração vai sendo pacificado e vamos acalmando-nos,
pois que tivemos uma experiência única em nosso ser, um encontro pessoal com
Deus, e nos maravilhamos, porque sem nenhum mérito nosso, foi feita a
reconciliação. Aquela reconciliação da Cruz cuja revelação teve o momento certo
na nossa vida e fez cair por terra todos os nossos ‘eus’. É quando caímos na
real e fazemos a nossa entrega verdadeira! É também quando descobrimos que
nosso maior oponente é o nosso próprio coração. E ficamos em paz mesmo em meio
ao caos.
Por isso, a paciência é uma
ironia. Pois paciência vem de PAZ. Essa paz que vem de Deus e que está acima
das circunstâncias. Essa paz que nos livra do autoengano e nos faz largar as
armas que Satanás coloca sutilmente em nossas mãos ‘para derrotar os que nos
fazem mal’, pois que não passam de armadilhas para nos destruir a nós mesmos.
Essa paz que nos mostra o quanto somos tolos quando achamos que estamos sendo
realistas. Essa paz que é fruto da substituição
de todos os cerimonialismos pagãos das exaustivas e repetitivas orações e
jejuns pela entrega total e irrestrita
das nossas raivas, do nosso orgulho ferido e das nossas teimosias. E só tem
um segredo para se alcançar essa paz: converter-se
ao SENHOR! O convite de Jesus não é meramente para ocuparmos um banco da
igreja e seguirmos uma lista de obrigações religiosas. O convite de Jesus é
para o arrependimento, que vem acompanhado de uma vontade permanente de mudança
de conceitos. E, como falou certa vez um
pregador, ‘a consciência do Evangelho em nós é PERDÃO. Sem essa consciência é
impossível fazer a viagem existencial de mudanças interiores’. Viagem esta, que durante o seu percurso desistimos de dar murro em ponta de faca, posto que um caminho excelente que promove CURA.
Textos Complementares:
e não vestirá o homem vestido de mulher,
porque qualquer que faz isto
abominação é ao Senhor teu Deus'.
E nos dias de hoje, então... Bora combinar que não se aplica mesmo nada disso que os mais antigos continuam insistindo em querer impor aos mais jovens que, diga-se de passagem, não estão mais engolindo silenciosamente essa interminável lista de normas relacionadas à própria exterioridade. (Basta ver os comentários destes em determinados blogs)
Portanto, se mulheres de algumas denominações que se ACOSTUMARAM a identificar-se assim, destacando-se orgulhosamente (vaidosamente) seguindo à risca (à risca mesmo? Há controvérsias...), determinações ligadas a exterioridades, mulheres estas que se dizem tão 'tementes' a Deus, se elas vissem mesmo essa prática como algo ABOMINÁVEL aos olhos de Deus, certamente não ousariam descumprir uma ordem divina tão contundente, por mais que 'o trabalho' exigisse. (E por mais que o apóstolo Paulo dissesse para obedecer ao chefe). Sim, pois não são poucas as mulheres que deixam escapar a desculpa esfarrapada 'Ah, eu uso calça comprida por exigência no trabalho'. (Amparando-se em ensinamentos de cartas paulinas sobre submissão)
Outra desculpa esfarrapada, também retirada de todo um contexto de orientações paulinas - que se tornou um jargão intragável - diz que é 'para não escandalizar as mais fraquinhas'. Então, por que não começar esclarecendo? Pois, se aquele comportamento, não provoca em mim quaisquer resquícios de crise de consciência, certamente terei como falar a esse respeito com firmeza e serenidade com qualquer pessoa que me abordar nesse sentido.
Toda essa confusão religiosa me lembra uma passagem em Levítico 18 (versículos de 6 a 18) que muitos crentes de boa fé, porém engessados pelas normas religiosas, também utilizam de forma tremendamente equivocada.
Refiro-me, mais particularmente, a este versículo:
'Não descobrirás a nudez de teu pai e de tua mãe; ela é tua mãe, não lhes descobrirás a nudez'.(v7)
Lembro-me de uma senhora já idosa que havia sido operada e, quando lá cheguei para visitá-la, seu filho sentir um grande alívio pela minha presença, pedindo-me para ir lá no quarto ajudá-la a levar ao banheiro com urgência. Não entendi porque ele mesmo não o fez, e ele me explicou que não podia porque ela estava com pouca roupa por baixo dos lençóis. Além, claro, da exposição inevitável da intimidade em um evento assim. Quando questionei acerca da necessidade urgente dela, ele me deu esse versículo acima. Não concordei e expliquei a que se refere tal versículo. Ademais, que Deus inflexível é esse que impede que um filho auxilie a mãe? E se eu não chegasse ali? E só tivesse ele e mais ninguém para ampará-la? E as mães idosas que só geraram um filho? Deus ia permitir que ele a desamparasse, qualquer que fosse a situação? Deus é, acima de tudo, amparo, zelo, amor, cuidado, auxílio, atenção. E isso, Ele deseja que seja refletido na nossa vida prática, no nosso cotidiano.
Ora, qualquer pessoa que ler do versículo seis até o dezoito entenderá perfeitamente que aquela colocação ali se trata de INCESTO. Não precisa ser teólogo nem ter dons especiais, é suficiente APENAS se despir de regras estabelecidas, para entender o que está colocado de forma bem simples:
Nudez descoberta --> referência a relações sexuais e/ou coabitação.
Isso, porque naquele contexto, havia uma grande devassidão devido às ramificações espirituais e sociais ligadas ao pecado. Além disso, naquela época as pessoas viviam em clãs ou grupos numerosos, vivam em tendas, morava todo mundo junto, sendo tudo isso 'prato cheio' para a proximidade e a intimidade sexual. Inclusive, o capítulo 18 de Levítico se encerra com uma forte advertência (v24 a v30) contra o comportamento sexual pervertido, o que confirma a conotação e o sentido da evidente referência ao incesto.
Enfim... Como falei em comentário sobre 'usos e costumes' em um blog de um amigo, eu lembraria aqui as palavras de Jesus 'não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça', em mais um dos milhares momentos de controvérsias entre Ele e os judeus (com seus usos e costumes como passagem garantida para o céu), onde Ele rebate com veemência o rigor com leis estabelecidas, colocando em segundo plano a necessidade do próximo.
Gente, pensar não faz mal algum. Ao contrário, derruba mitos. Inclusive os mitos que nos oprimem o corpo e a alma. E isso faz muito bem. Liberta! Liberta-nos dos velhos e carcomidos costumes, muitos deles, de origem pagã.
N´Aquele que veio ao mundo, não para nos tirar a inteligência, mas livrar-nos dos nossos pecados. Inclusive, o da opressão religiosa.
R.