"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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sábado, 31 de julho de 2010

Conselho só adianta quando...



Tendo como ofício andar pelo mundo combatendo o mal, Dom Quixote o encontra aonde quer que vá. Embora Sancho Pança se valha de argumentos fundados na realidade para convencer o amo de que o mal é imaginário, o fiel escudeiro nada consegue.

Exemplo disso é o célebre episódio em que, pelo fato de só imaginar batalhas e desafios, o Quixote toma um rebanho de ovelhas por um “copiosíssimo esquadrão”.

Quando Sancho lhe diz que se trata de uma ilusão, ele clama:

- Pois então não ouves o relinchar dos cavalos, o tocar dos clarins, o rufar dos tambores?

E avança de lança em riste sem dar atenção ao conselho do escudeiro:

- Volte, vosmecê... Juro por Deus que são carneiros e ovelhas o que vai atacar.

Nem morto, ou quase morto pelas pedras que os pastores atiram, o Quixote desiste de acreditar que lutou contra um esquadrão inimigo. Alega que, por invejar a sua glória, o Maligno o persegue, faz desaparecer as coisas, transformando até um exército num rebanho.

O Quixote é louco, claro, porque não leva em conta a realidade, mas não é por acaso que nós nos reconhecemos nele. Assim é, porque privilegiamos nosso imaginário. Também nós ouvimos sem escutar e enxergamos sem ver para impedir que o nosso desejo seja contrariado.

Diz o provérbio que, se conselho adiantasse, a gente venderia em vez de dar.

Conselho só adianta quando não contraria O DESEJO de quem é aconselhado.

Segundo Freud, não é possível acabar com uma fantasia mostrando que a realidade é contrária a ela. A fantasia resiste aos argumentos e só se transforma quando o próprio sujeito descobre a sua origem.

Daí a razão pela qual a cura analítica se apóia na rememoração. O analista que se vale da realidade para convencer o analisando a abrir mão do que imagina é quixotesco no mau sentido.

Só é possível agir sobre o desejo fazendo emergir o desejo do outro.

Isso é o que faz o analista se o analisando – ao contrário do Quixote - for capaz de escutar. E, mais ainda, se ele for capaz de se escutar.

Como isso raramente acontece no começo de uma análise, ambos têm de saber esperar.

Adaptado RF

(Texto original: "O risco do conselho" da psicanalista e escritora Betty Millan em Veja de 26 de maio de 2010, pag 159)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Dá-me um novo coração





Existe uma passagem bíblica no Evangelho de Lucas, pela qual sou apaixonada e sempre que possível eu estou lendo e comentando com alguém, como na semana passada por ocasião de um bate-papo informal aqui em casa com algumas pessoas amigas e familiares. (Cf Lucas 19:1.10)

Refiro-me à história de Zaqueu, esse homem poderoso que carregava em si uma história sinistra de exploração financeira e que, mesmo sendo uma pessoa assim de caráter tão repulsivo, teve curiosidade para saber acerca de Jesus a ponto de se expor diante dos mesmos que roubava descaradamente, só para ver Jesus de perto. Sabe-se lá a ânsia que havia em seu peito que o levara a adiantar-se e subir numa árvore (lugares mais altos) de modo que tivesse uma visão mais ampla. E Jesus - que não se impressionava com multidões posto que veio para salvar o perdido - vendo aquele esforço e conhecendo a ânsia do seu coração, escolheu estar em sua casa, escandalizando a todos que estavam à Sua volta. (19.7)

Ora, esses murmuradores que viviam à sua volta são no mínimo suspeitos, pois se seguiam mesmo a Jesus, deveriam saber que Ele não era propriedade exclusiva do capricho milagreiro deles; que Jesus não só entra e come na mesa dos pecadores, como lá se hospeda! Entretanto eles não sabem. E nunca vão saber. Pelo menos enquanto não se converterem como fez Zaqueu. Pelo menos enquanto continuarem apenas como mais um no meio de uma multidão que adora as maravilhas feitas por Aquele homem, que quer os benefícios dessas maravilhas, mas a Ele não se entrega para que maravilhas sejam realizadas em seu próprio coração.

Imagino a mudança radical na vida daquele homem podre de rico. Mudança que tem sua marca no arrependimento vez que ele caiu na real e teve a consciência de dar METADE de seus bens aos pobres e ainda de RESTITUIR quatro vezes mais a quem roubou, explorou, saqueou, sacaneou sabe-se lá como, já que ele era “o maioral dos publicanos”.

É dessa consciência que eu falo e nada tem a ver com cartilhas denominacionais. É desse novo nascimento a partir da REGENERAÇÃO provocando na pessoa algo “diferente” que vai preenchendo o seu coração em processo contínuo que o acompanha pelo resto de sua vida, de glória em glória...

O nome disso é GRAÇA e não há como confundir, pois por meio dela passamos a agir com o amor que não tem a ver com mera complacência e passar a mão na cabeça do mala e sim com atitudes justas, tolerantes e cheias de misericórdia.

Ainda hoje continuamos em meio às multidões que seguem diariamente às igrejas para, cumprimentando irmãos com ósculo santo, entoar cânticos de louvor e “buscar a palavra” que inclusive nem cumprimos posto que os nossos corações estão pedrados; ainda hoje somos parte dos templos lotados com nossas indumentárias e regrinhas religiosas como meios de salvação, enganando aos outros e a nós mesmos com abominável aspecto falso-piedoso, enquanto nossos corações estão repletos dos lixos detestáveis à vista d` Aquele que sonda todos os corações.

Olhando para nós, Jesus certamente diria: já vi esse filme...

E ainda hoje, em meio a essas pessoas religiosas que juram de pés juntos que O seguem, Ele continua o mesmo, sem impressionar-se com suas performances, suas ofertas, suas promessas enganosas, procurando simplesmente jantar na casa de quem não quer fazer parte de um grupo numeroso de oba-oba, mas O quer no comando de sua própria vida, implodindo, desconstruindo e reconstruindo seu coração.

É quando Ele diz:

Hoje, houve salvação nesta casa!

domingo, 18 de julho de 2010

Língua venenosa


(O texto abaixo é reflexo da minha veia de advogada de defesa dos fracos e oprimidos sinceramente arrependidos e da minha indignação grrrrrr com pessoas que se dizem discípulas de Jesus mas que não hesitam em atirar pedras. Que sirva de reflexão para todos nós! "Porque todos tropeçamos em muitas coisas" (Tiago 3:2a)

Embora tendo vivenciado inúmeras situações decepcionantes em relação ao ser humano ao longo da minha existência, jamais perdi a esperança e continuo acreditando nas pessoas, talvez pela consciência da responsabilidade na área do ensino que sempre atuei, ainda que sabendo o quanto é desgastante mexer com conceitos equivocados quase sempre associados a uma forte carga preconceituosa; carga essa instalada justamente pela carência da informação adequada que permite viver melhor, mais leve, mais tolerante, mais livre e mais distante da desinformação e/ou falta de envolvimento real em determinadas situações que alimentam os conceitos pré-estabelecidos e que impedem uma boa comunicação.

Entretanto, não posso deixar de externar a  minha perplexidade em constatar que em meio a tanta informação dinâmica e perfeitamente à mão, há gente preguiçosa, inerte, desinteressada e/ou incapaz de RE-organizar, RE-arrumar, RE-ver, enfim dar uma CONSTANTE checada em seus conceitos, muitos deles confusos, distorcidos, velhos e mofados, preferindo viver na perniciosa contramão da comunicação saudável e transparente.

O grande perigo é quando isso acontece no âmbito das relações onde a desinformação provoca o poder de manipular a verdade e estabelecer situações injustas ao se espalhar uma notícia apimentando seu teor com emoção negativista e pessoal. A pessoa não se dá conta de que tal notícia disseminada dessa forma assume dimensões terríveis tornando-se MENTIRA posto que fora do contexto, generalizada, demonizada. (E será mesmo que não se dá conta? Há casos em que se percebe claramente uma mistura bem dosada de malícia e perversidade).

E, na medida em que se explora determinado fato sem a clareza acerca do mesmo e ainda com fortes pitadas de sentimentos tais como antipatias pessoais, intolerâncias, fragmentos de fatos antigos e pressuposições, vão sendo geradas novas cargas emotivas que findam por prejudicar uma vida inteirinha.

É onde a língua solta contamina a tudo e a todos pondo em chamas toda a carreira de uma vida humana. Com a língua, esse órgão tão pequeno, (Ler Tiago caps 3 e 4) somos capazes de destruir vidas, de queimar o filme do outro, de fazer a caveira literalmente, posto que mata; de manchar para sempre a reputação de alguém com a maldade gerada de nossas próprias racionalizações, nossos auto-enganos, nossa visão limitada da realidade; onde pegamos esses ingredientes no armário do nosso próprio coração enganoso e desesperadamente corrupto (Cf. Jr. 17.9) e colocamos tudo no caldeirão medieval e assustadoramente atual saindo em desenfreada caça às bruxas.

E o mais esquisito, contraditório e repulsivo é que da mesma boca que se amaldiçoa pessoas, como um mal incontido e carregando veneno mortífero, dessa mesma boca e com a mesma língua são ditas palavras doces.

É aí então que eu questiono essa contradição, essa hipocrisia, essa falsa-piedade.

"Acaso, pode a fonte jorrar do mesmo lugar
o que é doce e o que é amargoso?
Acaso, meus irmãos,
pode a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos?
Tampouco fonte de água salgada
pode dar água doce."

Na carta de Tiago esse tema é abordado por meio de conselhos práticos a um povo que tinha suas relações estremecidas pela falta de amor, pelo discurso não-cristão, pelas palavras amargas e ressentidas e pelas atitudes sem compaixão.

E assim, inevitavelmente, eu volto a bater na tecla da maledicência quando ele diz que inveja amargurada e sentimento FACCIOSO nada têm a ver com a sabedoria lá do alto e que antes é terrena, animal e demoníaca.

E complementa que onde há inveja e sentimento faccioso, instala-se a confusão E TODA ESPÉCIE DE COISAS RUINS. E que isso acontece porque a nossa sabedoria é egoísta e revela amargura.

Enquanto que, ao buscarmos a sabedoria lá do Alto, a relação com o próximo passa a ser:

Pura, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sem fingimento.

RF.

" Segui a paz com todos e a santificação,
sem a qual ninguém verá o Senhor, atentando diligentemente,
por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus;
nem haja alguma raiz de amargura que,
brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados".
(Hebreus 12.15) Grifos meus- RF

sábado, 17 de julho de 2010

Ação & Demagogia


Carta a um irmão
(Escrita hoje às 6hs da manhã)

LH


Louvo a Deus pela sua vida, posto que você saiu do si-mesmo e, sem qualquer vestígio de interesse pessoal, ignorando porquês, causas e razões, não passou ao largo e "pensou os ferimentos" tratando de quem, pelas vicissitudes da vida, fora jogado à própria sorte durante um longo tempo de sua vida.

A exemplo do que falou outro discípulo de Jesus, Agostinho de Hipona, pra mim isso é Evangelho PURO.

"Pregue o Evangelho. Se precisar use palavras".  O mais é acréscimo farisaico e vão.

E, baseada nessa parábola sobre o verdadeiro, sintético e contundente mandamento, eu acrescentaria que Deus não tem nenhum altar de culto fora do amor ao próximo.

E estou bem certa de que, quando você assim agiu, falou Jesus ao coração de cada um de nós, supostos conhecedores da Lei:

"Vai e procede tu de igual modo" . (Cf Lucas 10.37)

Imperativo no "vai tu", o Autor de nossas vidas não perguntou se o intérprete da Lei gostaria de ser assim, de agir assim, nem muito menos questionou sobre a vida pregressa do homem largado no chão. Ele simplesmente dá a ordem! Manda que assim se cumpra!

Lembrando que intérpretes da Lei ou Escribas eram especialistas tanto em teologia como em questões legais e, assim, tramavam muitas questões de debate para pegar Jesus em armadilhas e Jesus respondeu com uma ligação entre os dois mandamentos, porque o primeiro não pode existir sem o segundo (Ver 1Jo 4.10) tanto quanto o segundo não pode ser mantido sem o primeiro. (Bíblia da Mulher-Ed Mundo Cristão , rodapé da pág 1196)

E aqui eu acrescento lembrando ainda que quando Jesus estava para ser glorificado (Cf João 13), novamente enfatizou (palavras) o que fez (ação) quando missionário na terra:

Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros.

E acrescenta repetindo: ASSIM COMO eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros.

Esse mandamento - que de novo nada tinha - tornou-se NOVO ao ser entregue/vivido pelo próprio Autor.

E Ele acrescenta ainda:

Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: SE tiverdes amor uns com os outros.

Li um texto de uma amiga por esses dias sobre lavar os pés do outro, que foi um verdadeiro soco no meu estômago. Pois não é pelo prazer de escrever sobre as coisas do Alto que eu seja justa. Justo só Ele! Sou sim, justificada, lavada pelo Seu sangue, já não devo nada, está pago, está consumado na CRUZ!

Caso você tenha tempo e interesse, dê um clique AQUI 
E lá, o meu comentário a respeito, foi esse:

Ser instrumento de cura pra valer requer que se saia do casulo e aí é que a coisa pega, pois ninguém quer sair da falsa segurança do casulo e se expor, ir fundo, se abaixar, lavar a nossa sujeira que está no outro.

A essa diferença preferimos fazer vista grossa.

E continuamos sujos e afirmando que amamos os diferentes...

É isso que nosso coração - habituado a números, quantidades, templos cheios, barganhas, negociatas, trocas, favores, retornos, reconhecimentos, aplausos e pódios - não consegue captar, engessando-nos e impedindo-nos de cumprir o mandamento em relação ao próximo que não é meu amigo, o cara com o qual tenho afinidades, o da mesma crença, meu coleguinha de faculdade nem o preferidinho do coração. Além do mais, dar a mão ao próximo nada tem a ver com o repulsivo proselitismo que Jesus simplesmente ABOMINA!

E sobre isso Ele adverte: (Mt 23.15)
"Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós!"

Caramba, meu irmão! Isso é MUITO SÉRIO! Pois convidar uma pessoa para ir à minha igreja é uma coisa e abrir o templo pra ela é outra.

E eu só sei de uma coisa:

No dia em que colocarmos nossos olhos na leitura do Evangelho despidos de todas essas máscaras farisaicas e como revelação para a nossa vida prática, a "preocupação com a vida alheia" passará a ser a OCUPAÇÃO que Jesus nos ordena e então cairá a ficha ao que Ele nos diz: "Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes".

Enfim, feliz e aliviada, rogo aos céus que atitudes assim sejam como respingos ácidos em nossos corações endurecidos pelos costumes que nos robotizam!

São os votos sinceros de quem não é a última coca-cola do deserto, mas que não cansa de falar de VIDA na existência seca e árida desse mesmo deserto.

E que Deus, Pai Todo-Poderoso, tenha misericórdia de todos nós,

R.


“E eis que certo homem, intérprete da Lei,

se levantou com o intuito de pôr Jesus à prova e disse-lhe:
Mestre, que farei para herdar a vida eterna?

Então, Jesus lhe perguntou: Que está escrito na lei? Como interpretas?

A isto ele respondeu:

Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração,

de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento;

e: amarás o teu próximo como a ti mesmo.

Então, Jesus lhe disse: Respondeste corretamente, faze isto e viverás".

(Lucas 10:25.28)





sexta-feira, 16 de julho de 2010

ANSIOSA, EU?!



Em alguma proporção, e de alguma maneira, nós já experimentamos essa agonia chamada ansiedade que especialistas colocam como sentimento indefinido de apreensão desagradável, porém com sensações físicas definidas tais como opressão no peito, palpitação, sudorese e falta de ar, e que normalmente surge com a ameaça indefinida de um perigo iminente.

Diante de tais sinais não há como dissociar corpo, mente e espírito. O corpo, no qual se aloja toda uma fisiologia, carrega um compartimento chamado mente que nos fornece ferramentas para administrar toda a problemática dessa dinâmica chamada existência. Além disso, há uma dimensão espiritual que diz respeito a questionamentos acerca da vida capaz de tirar o ser humano do si-mesmo. Ou seja: somos corpo, mente e espírito cuja interligação aponta um fluir que transita entre o físico, o emocional e o espiritual.

Observe-se entretanto, que há uma clara diferença entre ansiedade e medo, e muitos de nossos supostos medos não passam de ansiedades. No medo, acontece a experiência real onde se delineia uma reação a um determinado estado; isto é, há uma ameaça perfeitamente definida. Na ansiedade, acende-se uma luzinha ante o perigo iminente antecipando uma dor e uma defesa contra algo em potencial capaz de nos reprimir, achatar, oprimir, se bem que  de forma vaga, mas que está se instalando em nosso ser como perfeita ameaça. Nesse sentido, a ansiedade tem sua função benéfica ao acender essa luzinha de alerta. Porém, quando passamos a sofrer diante da possibilidade de algum ruim, já se torna uma doença da alma. É quando Jesus nos alerta sobre as inquietações com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus próprios cuidados; basta ao HOJE e agora os problemas do HOJE e agora. As questões que estamos vivenciando é que precisam ser administradas.

A ansiedade passa a ser um problemão quando se torna uma constante em resposta aos nossos medos reais e geralmente estão ligados  ao receio de sermos descartados, além do forte sentimento de competição, onde todo mundo é adversário em potencial. Essa competição muda e ao mesmo tempo gritante está presente em casa e fora dela, no local de trabalho, entre pessoas que se dizem amigas, nos textos de blogs e nos comentários destes; até mesmo nas inofensivas conversas informais de grupos de amigos que saem pra tomar uma; e isso se vê com frequência até na vida conjugal onde duas pessoas que se dizem amar uma à outra brigam pelo primeiro lugar no pódio.

Outro equívoco está ligado à idéia de centralização e dependência onde, paralela à pretensão de salvador da pátria, surge no coração do homem uma ansiedade que  gera pressão mas atrai e fascina e diz claramente que se ele baixar a guarda sai tudo do eixo. Daí a insônia, o desgaste físico e emocional, a dificuldade em relaxar e a insegurança que se instala provocando o medo de ser feliz.

Não sou autoridade no assunto, mas as experiências me colocaram dentro desse laboratório me fazendo uma autodidata nessa ansiedade crônica que só adianta ser tratada de uma maneira impactante, em um tratamento de choque no âmbito da fé, posto que somente assim essa doença da alma é neutralizada na raiz. E, ao cair a ficha, a percebemos vã; pois nela nada há de produtivo, pelo contrário, traz sérios danos ao ser humano em todas as esferas; é quando entendemos  o quanto ela é perniciosa e tem sua origem nas nossas vaidades, nessa nossa veia competitiva e egoísta que cansa, enfada, esgota as energias e estabelece um vazio angustiante; e justamente por ser unilateral é mero correr atrás do vento. (Ec. 4.4)

"Não andeis ansiosos de coisa alguma;
em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições,
pela oração e pela súplica, com ações de graças.
E a paz de Deus, que excede todo o entendimento,
guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus".
(Fp 4: 6 e 7)


quinta-feira, 15 de julho de 2010

TRATORES, DIFERENÇAS... E MUDANÇAS!



Pegando o gancho da postagem de ontem do meu amigo JC (Ele não é Jesus Cristo, mas quer ser rss) e também a partir do sugestivo título que ele deu ao texto – UM TRATOR PARA CADA MEMBRO - fiquei a refletir como seria se, de fato, cada membro dessas igrejas malucas por aí afora, decidissem passar o seu trator de lucidez e de vergonha na cara por cima de todas essas falácias em nome de Deus e que têm enorme poder de escravizar mentes, cegando-as, engessando-as, robotizando-as, explorando-as material e psicologicamente.

Ah, se houvesse esse trator pra cada membro! O mundo seria melhor de se respirar, mais leve e, consequentemente, muito mais saudável porque em meio a todas as diversidades que enriquecem o planeta, a reciclagem seria de bom tamanho e o que é, de fato, lixo, retornaria para o lixo.

E aí eu dou um pulo lá na Bélgica, mais precisamente numa cidadezinha chamada Kasterlee, situada na província de Antuérpia e, inevitavelmente, traço um paralelo em notícia fresquinha chegada concomitante por e-mail, onde uma jovem sobrinha experimenta visceralmente as velhas DIFERENÇAS ao ouvir de um morador a pergunta “A pessoa vai à igreja fazer o quê?”. E o interessante é que ambos pasmam, cada um conforme a bagagem que carrega, com seus conceitos, princípios e valores. De um lado, a que foi habituada a encontrar, acreditar e confiar no Deus dos lugares físicos; e de outro, um interlocutor que não tem nada disso na bagagem e demonstra claramente não encontrar nem acreditar nem mesmo confiar nesse tipo de Deus nesses espaços citados. E pra completar o que eu chamaria de tratamento de choque, ainda arremata: eu nunca fui a uma.

Quer saber? Choques assim me animam pra caramba! Principalmente quando se percebe que em meio a uma enoooorme diferença cultural algo une essas duas pessoas: o amor que transcende a tudo. É desse trator que eu falo. Esse trator que vem e passa por cima de todas essas diferenças, destruindo as bobagens religiosas que proporcionam as verdadeiras confusões e, de forma simples e desconcertante, sai construindo uma ponte conciliadora, à medida que põe abaixo toda a falácia, todo o cerimonialismo, todo o ritual, todos os dogmas.

É quando duas vidas alheias se tornam uma só; é quando crenças opostas trazem a esperança de vir a ser uma única fé pelo milagre do Amor. E nesse milagre dá-se uma plenitude inexplicável que vem carregada de uma incrível mudança em nossos conceitos, nossos princípios, nossos antigos valores. Mudança essa que ninguém é capaz de operar em si mesmo posto ser algo de caráter divino. E justamente por ser de caráter divino não há espaço para melindres, para esse lance de “sentir-se ofendido” típico dos crentes com convicções arraigadas e "imutáveis".

E essa mudança - que não está no nosso poder - é tão perfeita, que o crescimento vem naturalmente. A mente se expande, as idéias se reorganizam, as sólidas construções se reconstroem. E então, olhamos para trás e vemos que saímos, não do lugar certo ou lugar errado, mas do lugar comum. Percebemos com alegria que saímos do lugar que, equivocadamente, acreditávamos com todas as nossas forças, ser o lugar destinado a estarmos, pois determinado por um suposto plano superior.

Para mim, isso aí é o princípio do processo de maturidade. É quando corrigimos perspectivas para enxergar o caminho com clareza, deixando as coisas de menino lá no tempo das coisas de menino, onde se tinha uma idéia limitada da imagem de Deus e seus planos para nós. É quando percebemos que não há caminho certo ou errado. Que há um único Caminho. E quando essa ficha cai (vixe sou do tempo de ficha rss) é quando deixamos de ser crianças nessa pseudo-fé fabricada e enfiada goela abaixo, nessas crenças que adoecem a alma, nos velhos e carcomidos estilos farisaicos, nos comodismos que afastam o próximo. Então nos esvaziamos de nossa arrogância denominacional e religiosa e partimos para a vida real nos expondo, dando a cara a bater, tentando, vacilando, errando, reconhecendo o erro, corrigindo... Crescendo no Amor que me diz que ainda que minha fé seja tão tremenda a ponto de transportar montes SE eu não tiver AMOR não serei absolutamente NADA.

Portanto, parafraseando a autora de um texto recebido por e-mail, a palavra de ordem não é bem uma mera preocupação com a vida alheia, porém OCUPAÇÃO.  É quando passamos da mera existência para a verdadeira VIDA. É quando deixamos morrer a velha natureza... Pois quando saímos do nosso quadrado seguro e confortável e decidimos pinçar feridas DIFERENTES por aí - inclusive fora dos átrios religiosos - os planos de Deus naturalmente acontecem.

Posto que esses são Seus Planos...

RF.

"Tem que morrer pra germinar

Plantar n'algum lugar

Ressucitar no chão nossa semeadura..."

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Movimento anti-casulo

Amor é decisão, é compromisso, é dedicação, é envolvimento.




Ao ler a primeira carta de Paulo escrita para o recém formado grupo de cristãos em Tessalonica, me deparei com algumas declarações de amor embutidas e alguns questionamentos foram inevitáveis.

Consigo sentir a emoção de Paulo ao dizer que sempre lembra com carinho e ora por aqueles que um dia precisou abandonar tão precocemente, Lucas descreve o entrevero no livro de Atos capitulo 17.

Ao receber noticias daquele grupo formado na cidade portuária, fruto de sua segunda viagem missionária, Paulo escreve fazendo recomendações, orientando sobre "as coisas dos últimos dias", sobre os mortos, enfim todas as questões que naquele momento inquietavam os irmãos que sofriam perseguição.

No entanto, o que me pegou foi o entendimento de que, mais do que uma carta escatológica ali estava uma carta que expressa amor e cuidado. No cap 2 e ver 8 vem o "golpe" que me derrubou:

"Assim nós, sendo-vos tão afeiçoados, de boa vontade quiséramos comunicar-vos, não somente o evangelho de Deus, mas ainda as nossas próprias almas; porquanto nos éreis muito queridos."

Fiquei aflita para entender o que Paulo quis dizer com "comunicar nossas almas", afinal os filósofos gregos não tinham consenso a respeito da alma, suas funções e características.

Entendi que ele quis dizer o óbvio, existia naquele momento a necessidade de compartilhamento de anseios, desejos, aflições, medos, alegrias, amores, enfim tudo aquilo que denominamos pertencer a alma.

Não temos tempo, nem condição para fazer isto dentro das igrejas, ou em nossas reuniões, dificilmente compartilhamos algo além da persona de bom crente, limpinho e bom pagador das dividas. Persona que se encontra amalgamada ao eu, de forma que não há diferenciação. Os mestres tem muito a oferecer em termos de suas solidas teologias, mas pouco tocam outras almas.

Criamos casulos e nos chamamos de irmãos por pura convenção, hábito. Não estamos dispostos para nada mais do que um escandaloso "A Paz do Senhor, meu irmão" "Graça e Paz" ou "Paz de Deus", ao gosto do freguês.

Este seria o caminho inverso do desejado e arquitetado pelo Pai, basta ver o que Filho ensinou.

Em João 13, Jesus está prestes a trilhar a estrada da morte e ainda se detém para oferecer aos discípulos amados (sim ele os amou até o fim!! No versículo 1, vejo o quanto havia afeição e carinho por aqueles homens) um derradeiro ensinamento.

Ele tira a capa, envolve a cintura como uma toalha, enche uma bacia com água, manda a galera sentar, lava e enxuga os pés dos discípulos.

O ritual normal para a entrada em qualquer ambiente se tornou dinâmica de grupo Divina.

Ele amou didaticamente.

Não estamos falando de qualquer pezinho frequentador de pedicure semanal, mas sim do pé palestino, sujo, cascudo, feridento e mal cheiroso.

Ele vai além e diz que assim como Ele fez devemos fazer. Saberão que somos discípulos se assim o fizermos. E mais, seremos felizes se colocarmos em prática aquilo que aprendemos com o Mestre.

O segredo da cura está na disposição para sermos instrumentos de cura para outro, quando lavo seu pé, meu pé será lavado.

Não descerá anjo ou qualquer outra entidade para fazer o serviço, pois cabe a mim fazê-lo.

Quebro meu casulo, dessa forma me aproximo o suficiente para ver realmente aquele que se apresenta a minha frente. Interessante que a palavra grega para alma também é usada para borboleta, aquele bichinho lindo que sai do casulo.

Jesus finaliza dizendo que quem receber aquele que Ele enviou, o recebe, assim como recebe o Pai que O enviou.

Aceito como verdade para minha existência que o milagre está mais nas minhas mãos do que eu imaginava.




terça-feira, 13 de julho de 2010

Dois pesos e duas medidas?



Recentemente fui acusada erroneamente de dar uma de juíza. E digo erroneamente porque juiz é aquele que julga, que decide, que executa, e eu, na verdade, sou mesmo é advogada de defesa nata de pobres e oprimidos.

Juiz de Direito: membro do poder judicial, que tem autoridade e poder para julgar e sentenciar.
Fonte: Dicionário Michaelis

Ademais, eu não tomei nenhuma decisão drástica - graças a Deus!- e não é porque eu não possua algumas características necessárias para exercer a função em questão, pois até que eu tenho boa dose de sensibilidade, bom senso, senso de ética, senso crítico e uma tremenda vocação humanitária, sem falsa modéstia.

PORÉM, ah porém... O que pega é que conhecimento e opinião pessoal, aparência e verdade, vaidade e excessivo rigor são algumas das ambivalências que constantemente desafiam a mente de quem tem a autoridade e o poder para tal decisão, seja na própria existência ou na função social que o delicado cargo confere.

summum jus, summa injuria <--- expressão que significa que o excessivo rigor equivale a INJUSTIÇA.

E o interessante é que na hora de sermos nossos próprios juízes, a balança entra em tilti, vez que ao sondarmos nossos próprios corações até que nos envergonhamos um pouco do que vemos, entretanto temos o cuidado de sermos complacentes com nós mesmos e, por isso, facilmente encontramos mil racionalizações para cada atitude impensada e, por vezes, inconsequente, que cometemos com os outros. Já em relação às atitudes dos outros que nos atinge os brios, reagimos de maneira rígida e inflexível, do tipo bateu uma, levou duas.

Imagino que tipo de indignação nos apossaria se tivéssemos a capacidade – e o direito- de sondar as mentes das pessoas e desmascarar pra valer as suas farsas, suas mentirinhas sórdidas cotidianas, sua hipocrisia, sua falsa-piedade; certamente nos armaríamos até os dentes nessa relatividade finita do olhar arrogante e meramente HUMANO que vê com lente de aumento apenas na direção oposta ao próprio coração.

Daí as máscaras, penso eu, pois assim é a natureza humana calando na alma um  real“me engana que eu gosto”. E gosta porque esse engano é uma espécie de espelho silencioso onde ninguém acusa ninguém, por serem iguais, embora todos estejam a postos com suas pedras à mão ao menor vacilo. Vacilo... Do outro, claro!

E, nesse ambiente falso, o fiel da balança do nosso coração perde o sentido do perfeito equilíbrio, e então se instala o bloqueio que impede o exercício da compaixão.

E, pra mim, o mais grave é quando essa cilada alcança dimensão mais confusa atingindo ápice dramático e cruel; é quando esse bloqueio se instala em gente sincera, porém sistemática e religiosa que jura de pés juntos ter o aval de Deus nas suas decisões estritamente pessoais. Afinal foi colocado “em oração”.

Então – aí a cilada! - assumindo responsabilidades avessas ao caráter de Deus, eis que o deus do ego e da justiça própria se desenha tomando forma e força nas vontades pessoais, traçando plano bastante conveniente, no qual a pessoa ocupa o posto de juíza e rapidamente arroga-se o direito de tomar medidas severas, precipitadas e sem compaixão.

Ora, o alerta de Tiago acerca da maledicência e do domínio da língua (caps 3 e 4) é que a nossa fala é DESTRUTIVA quando verdades são repassadas de maneira rude e indelicada com o desejo de ferir o outro e/ou exaltar a si mesmo. E ele aborda isso de forma contundente dizendo com enorme CLAREZA que se há em nosso coração inveja amargurada e sentimento FACCIOSO, tal sabedoria não vem do alto, sendo antes, terrena, animal e demoníaca.

E aí eu me pergunto o que é que a SABEDORIA DE DEUS tem a ver com:

• O DESAMOR

• O pisar na cana que fumega

• A insensibilidade

• A necessidade/vontade/ânsia pessoal

• As transferências

• O medo

• A insegurança

• A pseudo-superioridade espiritual

• A pressa

• A precipitação

• As influências

• As afirmações e auto-afirmações do homem FALHO?

Esse deus que assim age e assim manda agir não é o Deus que eu conheço!

Graças a Deus!

E enquanto vamos aplicando nossa justiça própria, com dois pesos e duas medidas, Deus nos diz:

O homem para quem olharei é este:

o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra.

(Cf Isaías, cap. 66 - parte"b" do versículo 2).







quinta-feira, 1 de julho de 2010

Antes que seja tarde...

Foto de Jr. (Mãe coruja rss)



Com força e com vontade

A felicidade há de se espalhar

Com toda intensidade

Há de molhar o seco

De enxugar os olhos

De iluminar os becos


Antes que seja tarde

Há de assaltar os bares

E retomar as ruas

E visitar os lares


Antes que seja tarde

Há de rasgar as trevas

E abençoar o dia

E de guardar as pedras


Antes que seja tarde

Há de deixar sementes

No mais bendito fruto

Na terra e no ventre


Antes que seja tarde

Há de fazer alarde

E libertar os sonhos

Da nossa mocidade



Antes que seja tarde

Há de mudar os homens

Antes que a chama apague

Antes que a fé se acabe



Ivan Lins/Victor Martins