"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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sábado, 28 de agosto de 2010

No partir do pão...




Ao longo da história da humanidade, e beeeem antes do Jesus histórico/messiânico, o ser humano sempre foi louco por performance, amando/adorando/curtindo as celebrações formais e os rituais em si, apaixonando-se loucamente pelos mesmos, deslumbrado com o oba-oba dos aplausos e aí não se conforma em descer do palco e conviver de fato com a simplicidade do "partir o pão" cotidiano - ou certamente não consegue enxergar, posto que a visão se restringe ao sensacionalismo religioso - transformando A CELEBRAÇÃO DIÁRIA nas mais diversas encenações e exigências doutrinárias que não passam de meras demonstrações externas vazias e repetitivas. 

E o coração, onde fica? Bem distante das pessoas que estão ali mesmo "no templo" e, consequentemente, distante de Deus. E todos lá... Ironicamente, dentro do templo! Afinal, comer e beber o pão e o vinho em reverência cerimoniosa em meio à platéia é muito fácil; despir-se dessas vestes e SE DAR como pão e vinho, NA PRÁTICA é o que se torna difícil para muitos religiosos.

Esse povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim - repetiria mais tarde o próprio Jesus, em contestação ao sistema de interpretação elaborado/preservado em desacordo com Ele - invalidando a palavra de Deus, negligenciando o mandamento e guardando a tradição.

Como ouvi certa vez, dividir o pão é fundir a alma, mas acontece que o homem tem sede de pódio e no pódio só cabe um!  De fato, o pódio é deslumbrante, altivo... Mas solitário. Ora, o homem não se incomoda com isso, ele quer brilhar sozinho ainda assim. E como são muitos, então segue-se a encenação onde cada um bate no próprio peito e ATUA com a sua reverência pessoal, sua formalidade, enfim um sem número de formas de pseudo-devoção que transformam esse ato em uma brincadeira fútil, egoista e perigosa, posto que vazia, mecânica e impessoal e que nada diz acerca de CELEBRAÇÃO DA VIDA.

Vejo que é aí que entra o repúdio de Jesus ao contestar e transgredir normas culturais e religiosas do seu próprio povo! Pois Ele bem sabia das doenças emocionais, psicológicas e espirituais que surgem dessa coisa toda chamada HIPOCRISIA que só gera mais doença, mais distanciamentos, preconceitos, perversões e os mais agressivos comportamentos, reinfestando e contaminando a todos. Então Ele propôs A CURA - Se propôs como a própria Cura! - e as pessoas não sacaram! Até aos dias de  hoje...

Me chama à atenção uma passagem registrada nos 4 Evangelhos que nos conta sobre a preocupação dos discípulos querendo despedir uma multidão devido ao cair da tarde, sem ter alimento para tanta gente.  Porém, sabendo da importância em estarem ali reunidos, Jesus os demove da idéia, partindo o pão de forma milagrosa e distribuindo com todos ali presentes que comeram e se fartaram. E imagino que lá eles permaneceram, ouvindo o Mestre e ao mesmo tempo celebrando a vida, se confraternizando, se conhecendo, se comunicando, trocando idéias com as inevitáveis - e super saudáveis - conversas paralelas.

Essa passagem já começava a ter importância na desconstrução que se delineava a partir do que eu havia aprendido, de tudo que eu presenciara/vivenciara, de tudo que me intrigava a respeito de ceia, hóstia, ritos sacramentais, celebração, missa, simbolismos, metáforas. Foi quando a ficha foi caindo acerca da inutilidade de tanta coisa...

Então eu me lembro de algo já postado cabendo uma breve ilustração, que é a do livro  'Maravilhosa Graça', onde Philip Yancey cita o clássico 'A Festa de Babette', numa demonstração clara de que a nossa cura está no outro. "A graça veio àquela vila como sempre vem: livre de pagamento, sem cordas amarradas, como oferta da casa".
Uma comunidade austera que foi se permitindo um distanciamento azedando a própria alma, de repente se vê salva por uma estrangeira com hábitos culinários esquisitos que abdicou de COISAS PESSOAIS e - aproveitando uma data especial - resolveu fazer um banquete para UNIR aquelas pessoas. Sem buscar satisfação própria, ela abdicou de si mesma, desistiu de prêmios e pódios, de um vida confortável em potencial, já que ela havia sido agraciada com um grande prêmio - e,continuando nos bastidores do grande teatro daquela vidinha angustiada e sem sentido, arregaçou as mangas literalmente e SERVIU com perfeição, tirando aquelas pessoas do abismo em que se encontravam suas almas.

Servir é simples mas nada glamouroso. Afinal libertar os oprimidos, quebrar cadeias nos outros, abrir a própria alma com o aflito, transferindo o foco do si-mesmo para o outro, implica acima de tudo em desistir das encenações, dos holofotes e dos aplausos.  Durante doze anos foi o que Babette fez,  enchendo de VIDA os coraçõezinhos dos moradores daquela aldeia, por meio de pequenos banquetes curativos diários culminando com o grande BANQUETE servido com a mesma disposição com que diariamente se prestava no seu papel curativo/gradativo e incrivelmente libertador que INCLUSIVE nada tinha a ver com liderança eclesiástica e/ou manifestações de ritos religiosos.

"Discípulas de Lutero que ouviam sermões a respeito da graça quase todos os domingos e no restante da semana tentavam obter o favor de Deus com a sua piedade e renúncia, a graça veio até elas na forma de uma festa, a festa de Babette, por meio de uma refeição desperdiçando uma vida inteira sobre aqueles que não a haviam merecido, que mal possuíam a faculdade de recebê-la".

Então... A tua cura brotará sem detença! -  Diria o profeta Isaías ao presenciar a mistura dos 'ingredientes'  do verdadeiro banquete que agrada ao Pai.

Essa é a única ceia que interessa a Deus.

O mais é ritualismo.


RF.



quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A Carta - Djavan





Não vá levar tudo tão a sério

Sentindo que dá, deixa correr

Se souber confiar no seu critério

Nada a temer

Não vá levar tudo tão na boa

Brigue para obter o melhor

Se errar por amor Deus abençoa

Seja você



No que sua crença vacilou

A flor da dúvida se abriu

Vou ler a carta que o Biel mandou

Pra você, lá do Brasil:



"Eles me disseram tanta asneira, disseram só besteira

Feito todo mundo diz.

Eles me disseram que a coleira e um prato de ração

Era tudo o que um cão sempre quis

Eles me trouxeram a ratoeira com um queijo de primeira

Que me, que me pegou pelo nariz

Me deram uma gaiola como casa, amarraram minhas asas

E disseram para eu ser feliz



Mas como eu posso ser feliz num poleiro?

Como eu posso ser feliz sem pular ?

Mas como eu posso ser feliz num viveiro,

Se ninguém pode ser feliz sem voar?



Ah, segurei o meu pranto para transformar em canto

E para meu espanto minha voz desfez os nós

Que me apertavam tanto

E já sem a corda no pescoço, sem as grades na janela

E sem o peso das algemas na mão

Eu encontrei a chave dessa cela

Devorei o meu problema e engoli a solução

Ah, se todo o mundo pudesse saber

Como é fácil viver fora dessa prisão

E descobrisse que a tristeza tem fim

E a felicidade pode ser simples como um aperto de mão

Entendeu?


É esse o vírus que eu sugiro que você contraia


Na procura pela cura da loucura,


Quem tiver cabeça dura vai morrer na praia."



(A carta - Djavan/Gabriel, o Pensador)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O Evangelho não é bolo...




A proposta de Jesus NUNCA foi religiosa, Jesus NÃO queria fundar uma religião. O Evangelho é muito claro a respeito do que Jesus ensinou e o que Ele combateu enquanto estava conosco em carne, ossos, ligamentos, tendões e sangue.

Jesus propôs consciência e vida santa, justa, verdadeira.

Propôs extirparmos nossos ritos religiosos trocando-os pela consciência do Pai que temos; consciência do Amor que tudo sofre, tudo crê, tudo suporta; Amor que jamais acaba e que é infinitamente superior a QUALQUER outra coisa que possamos ter ou fazer.

Então não faz sentido algum reformar, dar nova fôrma a algo que Jesus NÃO ensinou como vida, como verdade.

A proposta do Evangelho é radical, é viver em graça e misericórdia, é matar o juiz que há dentro de nós que julga os diferentes e só aceita os iguais; é renovar a fraternidade, o respeito mútuo, o amor sem medidas; é perdoar, é nos doarmos, é lançarmos mão dos nossos direitos; é confiarmos na justiça de Deus; é acreditarmos na bondade do Pai; é sofrermos o dano do furto, das agressões físicas e verbais depositando-as no altar celeste mediante oração.

As distinções que as religiões fazem entre o santo e o profano, entre filhos de Deus e filhos do diabo, entre locais consagrados e locais prostituídos; entre aqueles que são fiéis e aqueles que são infiéis; entre a ortodoxia e a heterodoxia, simplesmente não são ensinadas por Jesus. Nunca foi meta, nunca foi proposto esse tipo de coisa por Ele, pois Ele que é o Mestre e o Senhor, nunca esteve nem aí para a religião oficial, para os ritos, para a interpretação que os teólogos faziam de pessoas de Deus e pessoas do diabo, visto que TUDO é dEle e para Ele e o infeliz do diabo nada tem.
 
Pesquei lá na DRI (Grifos meus)

domingo, 15 de agosto de 2010

Performance



Acaba sendo tema recorrente mas quem me conhece sabe que eu - emocionalmente falando - não tenho sentimento nenhum em relação a denominação alguma. Nem de amor nem de paixão, aversão ou mesmo indiferença. Digo isso por estranhar atitudes exacerbadas em relações a fiéis em defesa de suas escolhas religiosas entendendo esse apego como idolatria pura e simples. De repente tem a ver com a minha história particular de ser muito pé no chão (Pé no chão, leia-se transgressora mesmo) nesse lance de tradição, de igrejismo, de instituição religiosa. Ironicamente - por questões de origem cultural - passei uma vida inteira sendo católica PORÉM ainda que em época mais rígida na qual havia distância hierárquica entre os pobres mortais e o "Santo dos Santos" sempre desenvolvi senso crítico em relação à linha católica, tanto no seu sentido mais teológico quanto empresarial , digo, eclesiástico. Ou seja, nunca cultivei apegos, mesmo vivendo e respirando cada espaço físico religioso, sendo criada circulando dentro de conventos, de diocese, de colégio de freiras, transitando entre padres, freiras e bispos com muita desenvoltura e talvez seja por isso que eu estranhe esse apego que vejo nas pessoas religiosas, essa defesa com unhas e dentes, essa luta a ferro e fogo para guardar a tradição dos homens de alguns pentecostais.  (Hoje eu sei perfeitamente porque Jesus foi duro com os pretensos pastores do povo, alertando o quanto tradições podem ser perigosas, quando regras criadas pelas pessoas entram em choque com a Palavra de Deus).

Retorno a esse assunto sempre inesgotável, porque, comentando ontem em blog de um amigo findei por reafirmar por escrito meu sentimento de indignação com certas pessoas que se fazem de certinhas, de escolhidas, de especiais, de servas de Deus só porque seguem uma meia dúzia de regrinhas ligadas a usos e costumes denominacionais. Manipulando a Palavra de Deus, racionalizando, fazendo justificativas e proselitismo. Daí findar por repetir tudo aquilo que nos intriga e nos incomoda nas performances por aí em detrimento de uma real mudança no coração, e, consequentemente nas ações, no modo de ser/agir dentro do contexto social em que vive.

Minha maior indignação é ver líderes usando suas ideias para manipular outros em nome de seus deuses-denominações. E aí estão incluídas as tais profecias que acabam sendo profetadas, palavras vãs, tanto em relação a quem se acha no direito de incorporar uma entidade como se estivesse em plena sessão espírita, quanto aos que as ouvem. São as "profecias" que muitos dizem ouvir/haver apenas em seus átrios religiosos.

Tem de tudo! É um verdadeiro mercado onde o pregador diz que Deus disse isso e aquilo, que não vai faltar comida na panela, que o filho vai ser curado, que pode viajar pra Cochinchina que vai dar tudo certo.  Falando como se fosse Deus e os 'fiéis' como se tivessem ido a uma consulta à cartomante-igreja. Ambos seguindo em linha exatamente contrária ao que Deus nos diz sem que nem seja preciso marchar para a igreja-consultório, por ser uma questão de consciência, discernimento, bom senso. 

Falo de cátedra, por assistir de camarote e presenciando durante anos e anos  tanta encenação. E confesso que existe um incômodo maior em alguns casos específicos nos quais eu focalizo a minha indignação pela capacidade de tanto fingimento, tanto teatro em nome de Jesus; gente que vive dentro da igreja, que jura de pés juntos que é melhor que qualquer um, só porque está lá dentro e no entanto não faz qualquer esforço para quebrar as próprias resistências e simplesmente aprender a amar.

Pessoas tolas e arrogantes que acreditam piamente que é lá dentro que Deus está, somente lá, gente que vive lá dentro onde "Deus está falando"; gente que vive orando e 'louvando' durante décadas e não há nenhuma mudança em seu coração/ser/agir continuando sendo uma pessoa ciumenta, competitiva, cruel, maldosa, invejosa, facciosa, anti-ética, ressentida, mentirosa, bajuladora, enfim, tudo aquilo que Deus diz pra não ser. E "crente e abafando" que está salva, que está na listinha dos escolhidos PORQUE está em determinada denominação.

E eu não iria nunca a certos cultos e não somente por não concordar com gente falando na primeira pessoa como se fosse Deus ou não ter/aceitar pra mim o kit indumentária/véu, cabelo grande/aparência de piedosa. Mas, principalmente, porque me incomoda aquela gritaria imperativa, impositiva. Não faz muito tempo, na "minha" igreja, havia um pastor de outra localidade e um belo dia que eu lá estava ele "se empolgou" e começou a gritar (Eu disse GRITAR) no meio da pregação, instigando o público a fazer o mesmo. Eu simplesmente fui embora. Nunca mais apareci por lá, depois soube que ele tinha ido embora da cidade. (Já falei sobre isso aqui)

Sei que choco algumas pessoas robotizadas (Seria até grande progresso um robô se chocar) e já teve gente amiga e até da família que se ofendeu comigo por essa minha lucidez, inclusive sei de gente que a carapuça cai muito bem, mas que é mais cômodo não ler mais o que escrevo e continuar fingindo que é serva de Deus. Sei perfeitamente o que causa nas pessoas resistentes essa minha clareza em dar nomes aos bois, mas eu não vou deixar de ser fiel à Palavra para agradar pessoas.

Se, cada um de nós que enche os templos - pra cantar, tocar, orar, gritar, se exibir, orar em línguas, clamar, enfim, realizar seu teatrinho pessoal e coletivo - o fizéssemos sem nenhum fingimento, empolgação externa ou emocionalismo choroso, mas de coração sincero, despido de sacrifícios tolos e pretensiosos, determinados a nos livrarmos dessa casca grossa, estaríamos sim, no caminho da santificação onde tudo começa no PERDÃO tão bem colocado pelo amigo do texto comentado por mim.

É no perdão que somos reconciliados com Deus, com nós mesmos e com o semelhante. Semelhante este, que não é necessariamente meu irmão de irmandade. (Vixe, detesto esse termo "irmandade" que por si só já é FACCIOSO) E, havendo dentro da própria irmandade, irmãos facciosos, ressentidos, invejosos, maldosos, bajuladores- que nós sabemos que há, intrigando "aos de fora" acerca dessa relação neurótica, doentia e mal resolvida em sua grande maioria das vezes com os próprios irmãos da irmandade... Imagine com os "estranhos" e principalmente com Deus!

Ora, Jesus é claro: vai primeiro reconciliar-te com teu irmão. E isso porque Jesus sabia que é nesse acordo sem demora que reside a nossa saúde emocional e espiritual. A essa obediência quase ninguém quer saber de cumprir porque dá o maior trabalhão sair do si-mesmo, das próprias teimosias, das próprias resistências, dos próprios conceitos equivocados. É mais fácil seguir uma linha tradicionalista que dá respaldo "eterno" e manter a performance de piedosa. Enganando a si mesma, aos "de fora", à irmandade e ao deus-denominação. Menos ao Deus que nos ESQUADRINHA e conhece todos os caminhos do nosso coração.


domingo, 8 de agosto de 2010

SACRIFICAR PARA QUÊ?



Perguntaram ao rabi Bunam:

O que quer dizer a expressão “sacrificar para ídolos? É impensável que alguém realmente venha a fazer sacrifícios para algo que entenda como um ídolo!”

O rabino respondeu:

Vou lhe dar um exemplo. Quando uma pessoa religiosa ou um justo se senta à mesa junto com outras pessoas e tem o desejo de comer um pouco mais, mas se restringe por conta do que os outros podem vir a pensar dele – isto é sacrificar para ídolos!”.

(Buber, Late Masters, p.256)



O ensinamento começa com o questionamento da lógica da expressão “sacrificar para ídolos”.

Se percebemos que são ídolos, ou seja, vazios e ilusórios e sem qualquer significado real, como é possível fazer “sacrifícios para ídolos”?

A resposta do rabi é de que fazemos isso com mais frequência do que imaginamos em situações em que acreditamos existir qualquer virtude ou ganho possível por conta de condutas ou posturas que representem sacrifícios ao nada.

E quantos de nossos esforços e sacrifícios são, na verdade, “oferendas” ao nada?

Quem precisa de nossas restrições ou de nossas abstinências?

Por acaso Deus precisa de nossos atos morais que visam a ocultar nossa nudez?

Por acaso Deus não percebeu de imediato que Adão havia comido da árvore justamente porque se vestiu e quis ocultar sua nudez?

Ao vestir-se, fez oferendas ao deus do nada ou ao deus de seu animal moral.

Quantas pessoas poderíamos ter tirado para dançar na vida e não o fizemos por ofertar sacrifícios ao nada?

Sacrifício ao deus da timidez, ao deus da vergonha, ao deus do medo de ser rechaçado.

Quantas vezes deveríamos ter dito não em vez de nos desgastarmos para dissimular virtudes que são oferendas idólatras.

Oferendas ao deus expectativa, ao deus cobrança, ao deus culpa.

Quantas oportunidades não deixamos de aproveitar pois “não era conveniente” fazer isto ou aquilo?

Nossa auto-imagem – altar de primeira grandeza aos sacrifícios idólatras – tal como nossa moral, é um instrumento do corpo que não aceita se ver em outro corpo.

O corpo é o responsável por uma intrincada rede de negociações psíquicas para que possamos nos preservar tal como somos. No entanto, fizeram com que acreditássemos que ele nos tenta constantemente com seus desejos.

É a alma que fica inconformada com os sacrifícios vazios do corpo e é ela a responsável pelos atrevimentos, ousadias, riscos e transgressões.

O rabi alerta para o cuidado que se deve ter com abstinências e privações pois, muito mais que demonstrar respeito à vida, elas cultuam deuses menores...

(Fragmento adaptado de “A alma imoral” de autoria do rabino Nilton Bonder – pag.59)



sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Uma mente brilhante


Postei esse texto do CF  (negritos meus) por ter tudo a ver com o anterior (e com algumas equívocos que andei lendo sobre "brilhar"...)

No filme “Uma Mente Brilhante” (“A Beatiful Mind”) sobre a vida do Matemático Americano John Forbes Nash, Russell Crowe interpreta o papel de um homem acometido por esquizofrenia, e que apenas sobreviveu em condições mínimas de trabalho e produtividade em razão de ter confiado no amor de sua mulher Alicia Nash.

Entretanto, o que me leva a evocar a memória do filme (2001) é o fato simples e poderoso que ele apresenta: a mente precisa de aferidores externos a fim de encontrar sua saúde e equilíbrio.

John Nash, brilhante, superdotado, venturoso em tudo o que fazia, subitamente começou a entrar num mundo paralelo tão real quanto tudo o mais que ele chamasse de real, com a diferença de que somente ele via o que via, e, portanto, tratava-se de algo subjetivo e não real para o resto do mundo.

Sua salvação não da esquizofrenia, mas sim da “loucura”, só foi possível porque ele admitiu a esquizofrenia, entregando ao julgamento de sua esposa suas decisões sobre o que era ou não real entre as coisas que via.

Assim, confiando no juízo e no discernimento da esposa, e, sobretudo no seu amor por ele, foi que Nash conseguiu viver com a esquizofrenia sem enlouquecer.

De vez em quando ele tinha de perguntar à sua mulher se as pessoas que estavam diante dele eram reais ou apenas subjetivas em sua percepção, e, assim, conseguiu, mediante a fé no amor de sua mulher, encontrar o termo de aferimento de sua própria realidade.

Esquizofrênicos de um grau ou outro, todos nós somos. Pode-se até não ver coisas ou ouvir vozes, porém, o elemento de falsificação do real habita as mentes de todos nós.
Sim! Nossas mentes são desconfiadas e cheias de impressões falsificadas.

Pensamos coisas sobre os outros que não são reais e interpretamos a vida com critérios de uma subjetividade que raramente casa com os fatos reais da existência.

É assim que o tímido é visto como arrogante silencioso, o falante é percebido como metido, o quieto é olhado como fraco, o prestativo enxergado como interesseiro, o recluso como anti-social, o triste como infeliz, o belo como bom, o feio como mau e o simples como tolo.

De fato quem se entrega à sua própria “disposição mental”, diz Paulo, acaba enlouquecendo dentro do padrão social aceitável da loucura, mas nem por isto fica livre de ver, ouvir, pensar e interpretar de modo equivocado a vida e o próximo.

Para Paulo, entretanto, o aferimento da realidade deveria ser feito de modo existencial pela Palavra.

Isto porque sem a Rocha da Realidade que é a Palavra Revelada, todos nós de um modo ou outro vivemos em “viagens”.

O outro está louco e viajante em suas percepções sobre nós; e nos vê, ouve e julga por tais subjetividades; e, assim, provoca em nós uma outra falsificação: a do modo como o outro no vê; e a cuja percepção equivocada nós determinamos enfrentar, fazendo com que nossa própria mente caia imediatamente em outro terreno de subjetividade que afetará daí em diante a nossa própria percepção do outro e de nós mesmos, pondo-nos numa vereda de ilusão.

Quando Jesus mandou que não julgássemos Ele estava dizendo que o juízo equivocado - como quase sempre é em parte ou no todo - passa a ser o critério de nossa mente. Por isso é que com a medida com a qual medimos somos também medidos.

Todos os dias vejo como tais estados se tornam padrões inquestionáveis e fixos. E como a maioria não tem uma Alicia Nash a fim de confiar e encontrar o termo da realidade, as pessoas vão engessando o padrão da interpretação enganada como realidade.

A salvação de John Nash esteve e está no fato de ele confiar no amor de sua mulher por ele, e, assim, conferir com ela o que era ou não real.

Ora, no que tange a Palavra como referenciadora do que seja ou não real conforme Deus para nós, seu poder de cura e equilíbrio para a mente vem da fé, assim como aconteceu com Nesh.

Sim! Se eu não me disponho a crer no amor de Deus por mim, e se não me ponho na estrada da fé que confia em Seu amor revelado em Cristo, conforme o Evangelho, e se não me entrego a tal realidade pela fé, fazendo aquietarem-se as minhas próprias impressões e juízos — sem dúvida eu e você ficamos loucos ou com a mente falsificada em suas apreensões da realidade.

Portanto, hoje, verifique quais são suas certezas sobre a vida e as pessoas, e veja se elas conferem com o que a Palavra diz.

É a fé na Palavra aquilo que pode me salvar de minhas próprias construções e miragens.

No entanto, ter gente de bom senso e de confiança, e que nos ame, sempre sendo consultados sobre nossas próprias impressões, é algo vital para a saúde de nossas mentes.

Fé e amor continuam a ser os únicos elementos capazes de preservar a integridade de nossas mentes num mundo de falsificações e de construções alucinadas.