"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Dia de Culto



Mais um ‘Dia de Culto’.

Cheguei cedo, abri o prédio e, como de costume, fui recebendo os primeiros irmãos que iam chegando. Em seguida, me acomodei logo à frente. Fiz uma oração e abri a Bíblia para ler. Folheei algumas páginas e me detive em Lucas 10, na passagem do Bom Samaritano. Pensei:  seria uma boa pregação para hoje.

O culto iniciou bem leve e gostoso. Cantamos hinos que há tempos não cantávamos, oramos, e, na hora da leitura da Palavra, eu senti de ler a parte do Bom Samaritano mesmo.

Preguei sobre a arrogância do doutor da Lei em tentar a Cristo, em dizer entre as palavras dele que “Ele amava ao Senhor sobre todas as coisas, com toda a força, toda a alma, conhecimento e coração.”

Expliquei e fiz a igreja refletir que deveríamos amar ao Senhor assim, mas que nenhum de nós consegue fazer isso e nenhum de nós jamais conseguiremos. O único que assim fez foi Cristo.

Mas o doutorzinho era arrogante, e ele, implicitamente, disse que amava a Deus desta forma ao afirmar: Mas quem é meu próximo?

Daí Jesus propôs a parábola do desafortunado que foi assaltado e deixado meio morto no meio do caminho, ensanguentado, braço quebrado, rosto desfigurado… Logo, um sacerdote passa por aquelas bandas e, ao vê-lo, dá uns passos para o lado e finge que não o vê. O levita fez o mesmo. Mas quando um samaritano o vê, se move de compaixão, faz os primeiros socorros nele, o leva a um hotelzinho, cuida dele a noite inteira, só partindo no dia seguinte. Deixa ainda dois dinheiros adiantados e pede pra cuidar dele o tempo necessário, que ele paga quando voltar da viagem.

Cristo conclui, perguntando: Quem foi o próximo?
E o doutorzinho responde: O que usou de misericórdia.
Vai e faz o mesmo - finaliza o Mestre sem mais delongas
Fiz saber à irmandade quem eram o Sacerdote e o Levita. Homens de Deus, conhecedores das Escrituras. Viram a necessidade e passaram de longe.
Quem era o samaritano? O povo rejeitado pelos judeus.
Lembrei à igreja sobre a mulher samaritana no poço.
- Você é judeu e me pede água? Judeus não conversam com samaritanos!

Samaritanos eram um povo que os judeus ignoravam totalmente, não queriam contato.
Perguntei a irmandade:
- Quem na nossa sociedade você não quer contato? Uma prostituta, um assassino, um ladrão? Confesso que quis até dizer um travesti, mas achei que ia ser forte demais.
Foi o rejeitado, o excluído da sociedade, o ignorado que tomou uma atitude, que os “homens de Deus” não tomaram.

Quando Cristo perguntou “quem foi o próximo”, o doutorzinho até teve nojo de dizer “O Samaritano”, preferindo dizer “O que usou de misericórdia”.
Cristo disse: “Vai e faz o mesmo”.

O doutorzinho saiu pisando duro com raiva: “Que ousadia! Comparou-me a um samaritano!” Enquanto isso, na outra parte da Palavra, a samaritana do poço de Jacó ganhou “Água da vida eterna”.  E nos diz a Bíblia que Cristo ficou entre eles vários dias…

Tratar bem um ancião todos querem. Tratar bem um rejeitado pela sociedade e até pela igreja ninguém quer. Ter humildade para sermos um “Samaritano”, um rejeitado, ninguém quer. Ser um “Sacerdote, um levita” socialmente falando, com o mesmo status, todos querem.

Ao final do culto um irmão de uma outra localidade me saudou e me perguntou se lembrava de um irmão chamado Lucas (nome fictício). Disse que sim, daí ele explicou que a vida dele é complicada, aprontou muito antes de batizar e ainda hoje se viu numas encrencas, precisando ir pra corte judicial algumas vezes.
Este irmão sempre aconselhava o Lucas a pedir a Deus perdão a Deus e a família, e consertar a vida dele. Por fazer isto, muitos irmãos diziam a ele: “Deixa o Lucas pra lá. Você tá arranjando problema com a tua mão.”, mas ele sempre insistia em ir lá, aconselhar o Lucas.

Neste final de semana passada, o Lucas numa besteira que fez, acabou sendo preso. Daí este irmão disse: “Vou largar de aconselhá-lo, mas vou hoje no culto pra congregar e ver se na Palavra sinto algo a respeito.”
Daí ele me confessou: “Mediante o conselho da Palavra eu vou continuar a aconselhar o Lucas, vou ajudar naquilo que eu puder, mesmo que todo mundo diga pra eu deixar ele pra lá, vou pedir a Deus pra que eu seja Samaritano e não doutor de Lei”.

Voltei pra casa com o coração cheio de alegria.

(Grifos meus-RF)




quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A parábola da bola



Os dez homens importantes sentados ao redor da bola discutiam acaloradamente:

– A bola é grená, disse um.
– Claro que não, a bola é bordô, retrucou outro em tom raivoso.

Todos estavam fascinados pela beleza da bola e tentavam discernir a cor da bola. Cada um apresentava seu argumento tentando convencer os demais, acreditando que sabia qual era a cor da bola. A bola, no centro da sala, calada sob um raio de sol que entrava pela janela, enchia a sala de uma luminosidade agradável que deixava o ambiente ainda mais aconchegante, exceto para aqueles dez homens importantes, que se ocupavam em defender seus pontos de vista.

– Você é cego?, ecoou pela sala gerando um silêncio que parecia ter sido combinado entre os outros nove homens importantes. Era até engraçado de observar a discussão – na verdade era trágico, mas parecia cômico. Todos os dez homens importantes usavam óculos escuros, cada um com uma lente diferente. Talvez por causa dos óculos pesados que usavam, um deles gritou “você é cego?”, pois pareciam mesmo cegos.

Depois do susto, a discussão recomeçou. O sujeito que acreditava que a bola era cor de vinho debatia com o que enxergava a bola alaranjada, mas um não ouvia o que o outro dizia, pois cada um usava o tempo em que o outro estava falando para pensar em novos argumentos para justificar sua verdade. Aos poucos, a discussão deixou de ser a respeito da cor da bola, e passou a ser uma troca de opiniões e afirmações contundentes a respeito das supostas cores da bola. A partir de um determinado momento que ninguém saberia dizer ao certo quando, os dez homens tiraram os olhos da bola e passaram a refutar uns ao outros. Em vez de sugestões do tipo: – A bola é vermelha, todos se precipitavam em listar razões porque a bola não era grená, nem cor de vinho, nem mesmo alaranjada.

De repente, alguém gritou: – Ei pessoal, onde está a bola? Todos pararam de falar – estavam todos falando ao mesmo tempo, e foi então que perceberam um alarido parecido com aquelas gargalhadas gostosas que as crianças dão quando sentem cócegas. Correram para a janela e viram uma criançada brincando com a bola, que parecia feliz sendo jogada de mão em mão. Ficaram enfurecidos com tamanho desrespeito com a bola. Ficaram também muito contrariados com a bola, que parecia tão feliz, mas não tiveram coragem de admitir, afinal, a bola, era a bola.

Lá fora, sem dar a mínima para os dez homens importantes, estavam as crianças brincando e se divertindo a valer com a bola que os dez homens importantes pensavam que era deles. E nenhuma das crianças sabia qual era a cor da bola.

Ed René Kivitz