"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Em Nome da Justiça




Enquanto o domingo ainda for o nosso dia sagrado...
Não tem jeito, não...

terça-feira, 19 de abril de 2011

Sem SER igreja, como congregar?!

 

Nesse lance de "culto em casa" a grande cilada para quem está engessado e nem aí para uma reconstrução verdadeira - é o risco de aderir a esse modismo porque, de fato, cansou de ver essa coisa mecânica e sem sentido de templo, ENTRETANTO insiste em per-ma-ne-cer no velho hábito religioso.

Sim, porque devido ao costume religioso arraigado no peito, o fato de mudar de lugar não significa, necessariamente, que ele vá mudar de atitude, que vá "ser igreja" enquanto respirar. Ou seja, sempre. No cotidiano. Desde as mais simples situações às mais conflituosas. Apenas por algum motivo pessoal transferiu o culto mecânico de um espaço físico para outro e nunca parou para pensar no sentido real de CULTO que tem a ver com vida prática e qualidade de vida em todos os sentidos. E o grande equívoco é que, quando se fala em "qualidade de vida", imediatamente se associa a conforto material, competitividade, se dar bem... Nunca se associa ao que diz Jesus no "vinde a mim" e no qual se principia a regeneração do ser.

Conheço muitas pessoas que trazem esse "culto" para suas residências e simplesmente nada mudou. Per-ma-ne-cem os hábitos, as regrinhas, a santidade exterior do momento sagrado de "culto no lar", incluindo até grande comoção no decorrer, abraços e beijos mil no fechamento do pacote, enquanto NADA acontece em relação ao verdadeiro culto que se projeta do próprio ser para a (e na) existência. Quer dizer: há um ritual religioso na residência, mas não o verdadeiro e constante "culto no lar" que não tem a ver apenas com determinado momento de reunião de pessoas. Paralelo às regras religiosas, a pessoa cultua também os velhos deuses interiores e segue rancorosa, fofoqueira, maliciosa e cheia de melindres.

Quantas vezes se diz e se ouve dizer: "caramba, passaram-se tantos anos e fulaninha não mudou nadinha..." E a fulaninha lá! Marchando pra igreja todo santo domingo, reunindo-se em oração, vestindo-se adequadamente e até mantendo a vasta cabeleira como passagem garantida para o céu. Mas na hora de encarar um probleminha prático do cotidiano simplesmente DENUNCIA a mentira religiosa que vive. O mundo está LOTADO dessas pessoas. É só olhar pra dentro de si mesmo e para o lado.

Ou seja, faz-se apenas uma transferência de local, quando a mudança urgente precisa ser realizada é no SER. Só que pra isso as pessoas não estão dispostas. Elas têm uma estranha atração pela performance. Adoram dizer do culto que transferiram para o lar, mas não adoram a Deus em espírito e em verdade. Adoram inaugurar uma casa de oração, mas saem de lá do jeito que entraram. Adoram estar entre os "irmãos mais chegados" e com todo aquele ritual do templo, mas nos acontecimentos que põem à prova "o fruto do espírito" só há um enooooorme vazio.

Digo isso com tristeza no coração, pois convivo com pessoas religiosas, denominacionais, que seguem meia dúzia de regras religiosas à risca por estarem bem visíveis, mas que não estão nem um pouquinho dispostas a mudar conceitos e valores que nada têm a ver com a "mente de Cristo". Conceitos e valores que (DES)norteiam suas vidas mas que não lhes dão plenitude de vida. Preferem ser e carregar o rótulo de crentes, evangélicas, religiosas. Porque ser discípulo dá trabalho. Cultuar em tempo integral é cansativo para quem vive de exterioridades. É mais bacana vestir uma bela capa e “ir para o culto”. Desnudar-se é se expor e isso é fraqueza para as tais. Mudar dá trabalho, mexe com o umbigo que vai muito bem, obrigado. Bem?! Sei não...


E assim se segue nessa neurose coletiva, cheirando o ópio impregnado nas paredes de templos transferidos para as residências.

Perdão pelo desabafo que para muitos com a vista embaçada pode parecer simples crítica, mas é que me INCOMODA demais presenciar a falsa perfeição que tenho visto no meio religioso. Dói o peito ver que em templos e em residências lá está a velha igreja. Sem nada de novo no coração.

Parafraseando meu amigo René, a minha pergunta final seria: sem SER igreja, como congregar? E, usando suas palavras, “o Evangelho é 'ser'! O Evangelho é 'relacionamento'! O Evangelho é o Reino de Deus aqui na Terra! Isto implica em amor prático, resultante de uma opção consciente, não de u'a mera paixão emocional e irracional. E o relacionamento em amor é tanto vertical, Deus/Homem/Deus, quanto horizontal, Homem/Homem. Mas, para que seja em amor, é preciso que haja transformação constante no Homem, no 'ser', coisa que os rituais religiosos impedem, escondendo perigosamente a inexistência desse amor e, pior, a impossibilidade de se formar, na pessoa, esse amor”.

Que fique a reflexão para que possamos ser pessoas melhores e mais verdadeiras e, em consequência, para um mundo melhor.

RF.



“Não confieis em palavras falsas, dizendo:
Templo do Senhor, Templo do Senhor, Templo do Senhor é este.
Mas, se deveras emendardes os vossos caminhos e as vossas obras,
se deveras praticardes a justiça, cada um com seu próximo”.
(Jr 7:4.5)

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Toinho do Quinteto



Luiz Gonzaga levou a música lá do seu pé de serra para as grandes capitais do Brasil. Seu QG era entre o Rio e São Paulo, mas foi expulso pelos acordes dissonantes da Bossa Nova e pelo iê-iê-iê da Jovem Guarda. O baião, no entanto, não morreu e foi reintegrado à MPB graças aos baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil. Duas outras pessoas também foram extremamente importantes para a “ressurreição” do forró como um todo: o sanfoneiro Dominguinhos e o contrabaixista Toinho Alves, responsável pela criação do notável conjunto chamado Quinteto Violado.

Antonio Alves, o Toinho, era conterrâneo de Dominguinhos, ambos nascidos em Garanhuns/PE. Toinho aprendeu a cantar com os monges beneditinos e só depois de formado em Engenharia Química pela UFPE e de ter exercido a profissão, tomou gosto de vez pela música a ponto de largar seu antigo ofício. Em 1971, juntamente com Sando (flauta), Fernando Filizola (viola sertaneja), Luciano Pimentel (percussão) e Marcelo Melo (violão), fundaram o famoso quinteto.

Era a música nordestina com novos arranjos e executada por um conjunto que aparentemente abolia a sanfona (instrumento maldito para muitos), elevando-a para um nível de maior sofisticação. Além das composições próprias, o Quinteto ainda recriou a música de Luiz Gonzaga conseguindo levá-la para platéias muito exigentes do Brasil e do exterior.Os arranjos feitos por Toinho Alves para a música Asa Branca (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira), regravada no primeiro LP do grupo, lançado em 1972, lhe deram uma nova e belíssima vestimenta que renderam ao Quinteto o reconhecimento e os aplausos da crítica especializada de todos os cantos do País, notadamente do exigente eixo Rio de Janeiro - São Paulo.

Após trinta e sete anos de estrada, a formação do Quinteto já não era a mesma. Morrera o baterista Luciano Pimentel e se desligaram do grupo o flautista Sando e o violeiro e sanfoneiro Fernando Filizola. Aí o conjunto ganhou novo estilo com a introdução do tecladista Dudu Alves, filho de Toinho Alves, mais o flautista Ciano Alves, sobrinho de Toinho, e Roberto Medeiros na percussão. Continuava em atividade, porém sem aquele mesmo brilho dos anos setenta porque estavam ausentes a viola e os componentes da formação original.

Na manhã de 29/5/08, Toinho Alves, que gozava de relativa saúde (diabetes sob controle), foi encontrado morto pelo filho único Dudu, no seu apartamento em Piedade – Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana do Recife. Estava sereno dentro de uma rede e o rádio que ouvia ainda continuava ligado. Tinha 64 anos e morava só, quem sabe se pra poder morrer em paz. Como coordenador do Quinteto estava cuidando da agenda junina do conjunto para aquele ano. Dizem que um jogo do Sport, time para quem torcia apaixonadamente e que naquele ano sagrou-se campeão da Copa Brasil, o matou de emoção.

Apesar de não ser o vocalista do grupo, muitas vezes Toinho Alves emprestava a sua bela voz em apresentações e gravações musicais. E uma das músicas mais bonitas de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira - "Juazeiro" - ganhou interpretação definitiva na voz cortante de Toinho, acompanhado do belo instrumental do Quinteto, auxiliado pela magistral sanfona de Sivuca com quem dividiu os arranjos. "Juazeiro" tem uma das mais tocantes melodias de Gonzaga para a qual o advogado, poeta e músico Humberto Teixeira colocou uma letra primorosa. Fala do primeiro amor do Rei do Baião pela filha de um fazendeiro de Exu (PE) que era contrário ao romance e o proibira. Mesmo assim a moça apelidada de Nazinha dava um jeito de se encontrar com Luiz à sombra de um juazeiro nas tardes quentes nordestinas. Foi a segunda música da dupla e uma das que até hoje são muito relembradas.

Na época com 17 anos, Gonzaga “peitou” o pai da moça, levou uma surra dos pais, fugiu pra Fortaleza e ingressou nas fileiras do Exército brasileiro onde passou nove anos como soldado corneteiro. Ganhou em Minas Gerais, onde também serviu, o apelido de “bico de aço” porque dizem que além de tirar notas impressionantes do seu instrumento, o sopro de Luiz Gonzaga se fazia ouvir por todo o batalhão, principalmente quando tocava o toque de silêncio. Mas o toque que ele gostava mais era o do rancho (chamado pra comida), pois sempre pegava arrego no cassino dos oficiais onde o rango era melhor. Gonzaga sempre foi um malandro sertanejo! Da saudade dessa moça veio a inspiração pra melodia de Juazeiro (que a própria família reivindicou tempos depois os direitos autorais pra Januário), cuja letra ficou da maneira que Gonzaga queria, mas não tinha capacidade de fazer. É um baião sofrido, uma canção de amor à maneira nordestina. Foge daquela temática de seca e sofrimento.

Com esse canto de dor de Toinho Alves, fica registrada a nossa modesta homenagem a esse magnífico músico, cantor, compositor, poeta, arranjador e produtor musical, que será sempre lembrado como um dos mais importantes nomes da música popular brasileira.

FONTE (Negritos meus - RF)
Essa postagem de hoje foi devido à forte lembrança que me veio ao coração ao visitar o RECORTES.


sexta-feira, 15 de abril de 2011

Compaixão, sim. Envolvimento... Nem sempre!


Quem me acusa de não amar e de não viver o que eu prego pelo simples fato de que eu não assino embaixo dos egocentrismos e neuroses com capa de corrente do bem, nunca me ouviu pregando de verdade apenas ouviu o que queria, tentou me colocar na caixa. Quem sabe ouviu um discurso religioso vazio, com vãs repetiçoes sobre um tal amor etéreo que deixa alguns descerebrados.Quem sabe projetou em mim a imagem da pastora que não erra e é um semi deus.
          Desculpe, estas roupas não me servem mais.
         
          Convido aos tais que andem comigo um dia, apenas isso.
Ficará clarísimo que sou a pior de todos os pecadores e o amor nunca foi e nunca será adulação, condescendência e atitude pusilânime frente surtos de qualquer natureza.

Contudo, também saberão que entre todos, também sou aquela que mais precisa aprender sobre o amor e ponto final.

Fazer parte do movimento Caminho da Graça não faz de mim um BoB, aquele boneco que serve pra levar pancada. As vezes tenho a impressão que falar de amor dá carta de permissão para que os malucos de plantão abusem e ainda cobrem atitude de crente. Erraram de endereço.

Compaixão sim, envolvimento nem sempre. Ele me manda amar até o inimigos, suportar os irmãos, agora bater continência e fazer carinho no louco em pleno surto, é por conta nossa.

Feito Pedrão que demorou 40 anos para ser (na completude) o que o Mestre via nele desde o primeiro encontro, eu estou na caminhada, ombro a ombro com quem pode me dar ombro. Hoje tá ruim, amanhã melhora.

Só não esperem de mim máscara de crente. Hoje o que tenho é isto.



Comentário da DRI lá na Igreja Invisível
 
Negritos meus-RF
 

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Cheiros da memória





O pintor José Cláudio ligou sugerindo que eu escrevesse uma sobre os cheiros do Recife, “dando sequência”. Pautou e sugeriu logo dois cheiros. “O de biscoito Pilar, no Cais do Apolo, e o das macaibeiras em flor na Av. Agamenon Magalhães”. (Segundo ele, para o pintor Roberto Ploeg, que é holandês, o cheiro do Recife nessa época do ano é de flor de macaíba, muito mais intenso do que qualquer outro, bom ou mau).

Moro a trinta metros da Agamenon há mais de vinte anos. Sempre vi as macaibeiras lá. Só não sabia que eram macaibeiras. Agora sei. Mas foi preciso que Ploeg viesse da Holanda para que eu, via Zé Cláudio, ficasse sabendo. Sentisse o cheiro da flor e, pela primeira vez, comesse macaíba.

Duvido que alguém da minha geração (e de gerações pra trás) não se lembre do cheiro de chocolate da Renda & Priori na Rua da Aurora (foto); do cheiro do Café São Paulo na Rua Imperial e do Café Continental na Torre; cheiro de açúcar dos armazéns do IAA no Cais José Estelita; de farinha de trigo no Cais do Porto; de vacaria e de mato na Várzea (aliás, o cheiro já começava desde o Cordeiro – ou Iputinga?); dependendo da safra, os cheiros dos quintais das casas eram de cajá, manga, caju, banana, graviola, sapoti, goiaba, pitanga, pinha, carambola... Poucos moravam em apartamento. E toda casa, rica, remediada ou pobre, tinha quintal, nem que fosse um quintalzinho.

Cheiro de mangue, melhor dizendo, cheiro de maré, como se dizia antigamente, em toda a extensão do que é hoje a Agamenon Magalhães, até Olinda. Cheiro de maré, na minha memória, era uma mistura de cheiros: vegetação de mangue, maresia, lama e caranguejo. (Não vá, por favor, confundir com o mau cheiro do Canal Derby-Tacaruna; nada a ver!).

As ruas também tinham cheiros próprios, cada uma com o seu. A Rua das Creoulas (e não crioulas) tinha cheiro de jambo do Pará e ficava com um “tapete” vermelho na temporada. A Visconde de Suassuna, cheiro de oiti. A da Saudade, do lado do cemitério, de sapoti. A Nicarágua, de vagem de acácia. A Praça do Derby, de jasmim vapor. A do Entroncamento, de manga. Na Rua das Florentinas (hoje trecho da Dantas Barreto), cheiro dos armazéns de estiva, bacalhau e charque. Na Rua da Palma, dependendo do trecho, cheiro de tinta, borracha ou material elétrico.

Boa Viagem era só pra veraneio. Quase ninguém morava lá. Que maravilha era chegar no Pina e já sentir aquele cheiro de mar! Cheiro salgado, molhado. Como eu sabia que a África ficava do outro lado, achava que era o vento que trazia aquele cheiro. Cheiro da África.

E o cheiro de Deus? Seguinte. Ajudei a fazer hóstia na sacristia da igreja do Colégio Nóbrega. E pensava (pensava não, tinha certeza) que aquele cheiro de farinha de trigo na chapa de metal quente era o cheiro de Deus. “Não!”, clamou o padre. “Ainda não estão consagradas.” “Graças a Deus!”, exclamei aliviado. Pois aquele cheiro me dava náuseas. E pensar que Deus me fazia mal seria, por certo, pecado grave, mortal.

Cada casa tinha os seus cheiros. A de um amigo de infância, mesmo, tinha cheiro de Espiral Sentinela (pra espantar muriçoca) e de Vick Vaporub. A de outro, tinha cheiro de xixi (como eram muitos meninos na casa, acho que não dava tempo de lavar e secar tantos colchões e lençóis).

Na minha casa, os cheiros dependiam do dia e da hora, da panela que tava no fogo e do sabonete que tava na pia (Phebo, só quando tinha visita). Cheiro de roupa lavada com sabão, quarada com anil, engomada e passada com ferro a carvão. Às sextas-feiras, os cheiros da faxina: Kaol (pra deixar pratas e metais tinindo), cera Parquetina (pro assoalho ficar quiném espelho), sabão em barra derretido (pros pisos de cerâmica e ladrilho), pasta rosa (pra vasos, banheiros e balcões), óleo de peroba (pra móveis e portas), Varsol (pras poltronas) e álcool (pros vidros). Nos guarda-roupas, o cheirinho da própria madeira, de naftalina e dos sachês (de diferentes aromas, mas sempre em saquinhos de linho e bordados).

As meninas cheiravam a sabonete e água de colônia. As mulheres, à noite, cheiravam a perfume (Chanel Nº 5 e Fleur de Rocaille). Os bebês, a lavanda Johnson.

Certa vez, eu já bem grandinho, dei umas borrifadas de lavanda Johnson na cara. Peguei o elevador. Alguns andares abaixo, entrou uma senhora: “Um bebê desceu há pouco no elevador. O senhor tá sentindo o cheiro?”

“Tô!”, respondi. E dei o fora dali logo, antes que ela descobrisse quem era o bebê.




quarta-feira, 13 de abril de 2011

Esperança...




O que há por trás de tanta barbárie? Nós: Seres humanos. Nós!

Só os seres humanos fazem isso com a sua própria espécie: franco-atiradores, homens-bomba, Treblinka, Auschiwitz, Guantanamo, Sistema Presidenciário Brasileiro, Carandiru, Torres Gêmeas, Revolução Cultural Chinesa, Política Stalinista, Hiroshima, Nagasaki, Ruanda, Serra Leoa, Kosovo, incêndio de ônibus com passageiros ou fuzilamento de seres humanos colocados dentro de um ônibus!

E mais quantas guerras e atrocidades poderiam ser enumeradas? Só seres humanos fazem isso!

Só os seres humanos se sentem seguros quando podem matar o próximo. Só os seres humanos chamam a isso de paz.
Quantas doenças ou religiões ou ismos teremos de evocar para dar sentido às barbáries humanas?

Precisamos perceber que nosso grande desafio somos nós mesmos. Perceber que há maldade em nós. Precisamos cuidar melhor de nós. Precisamos de zelo pela dignidade humana; de acesso à saúde em todos os sentidos, desde sempre: de uma escola onde um garoto estranhamente diferente possa ser ajudado enquanto é tempo. Precisamos que todo o esforço não seja apenas para melhorarmos na vida, mas, para que a vida melhore em nós.

O que me consola é saber que Deus, segundo Jesus de Nazaré, está lutando por nós, o gênero humano.

Que o luto não mate a esperança.




Em homenagem a Fernanda Veras

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Pequeno desabafo sobre grandes fraquezas



A vida cristã é uma caminhada longa, permeada de espinhos, uma trilha quase inacessível. Por vezes nos alegramos ao imaginar que a trilhamos bem, outras vezes, sequer acreditamos que ainda permanecemos nela, mais parecendo que pegamos o "atalho" que nos leva à via larga e bem pavimentada.

É doloroso, pelo menos comigo, observar que ainda estou a cometer velhos erros quase relegados ao esquecimento, conquanto pensasse que já havia ultrapassado essa "fase". Por quê? Por que ainda os cometo se tenho Cristo na minha vida e sinto-o constantemente a "acordar" a minha consciência outrora entorpecida?

E então me dou conta que a velha natureza está aqui latente, bastando um pequeno "cochilo" para que ela volte com a sua antiga sanha. Sinto claramente a batalha travada constantemente com esse "eu" teimoso, essa carne maldita, contaminada pelo pecado. Os erros de outrora aflloram, o "espinho" começa a latejar na carne, a fúria e a ira vencendo o equilíbrio e a temperança... E então penso, logo após a descarga, o rompimento do dique de emoções que escoam (e ecoam) pela boca em duras palavras: miserável homem sou!

Não é preciso que me digam nada nem que seja confrontado com o pecado, passada a fúria, pois eu mesmo me encarrego de esbofetear-me, rugindo intimamente contra a intemperança. E não há tapa que doa mais do que aquele que damos em nós mesmos.

O pior de tudo é sentir que se retrocedeu na vida cristã, um sentimento de retorno à estaca zero que nos faz duvidar do caminho que antes seguíamos: - por onde sigo, é esta mesmo a estrada ou me embrenhei por estrada errada?

Por que não resisto ao latejar da ira se sei previamente que o resultado será amargo?

Por que sentimentos sepultados, condutas dessarraigadas teimam em brotar dando ensejo ao antigo homem?

Novamente me dou conta que sou nada! Vejo claramente que o controle que pensava ter cai por terra diante da mínima provocação, quando abandono a dependência necessária, quando imagino que sou autossuficiente, esquecendo-me de recorrer à bondade e misericórdia do Criador. Nesses momentos, passada a tempestade - como agora - eu me envergonho profundamente de me declarar cristão. Aliás, quase chego mesmo a duvidar disso...

Quando busco o bem por minhas próprias capacidades, quando tento caminhar sozinho, tropeço, retornando à certeza de que a minha justiça não passa de trapo de imundície. E torno a me enxergar pequeno e miserável, e a imagem que vejo refletida no espelho da minha mente é feia , quase horripilante. Sou nada! Parece que todo o caminho longamente percorrido não passa de alguns insignificantes metros. Em alguns momentos, sinto como se tivesse andado em círculos, voltando ao ponto inicial...

O bem que quero não faço, mas o mal que não quero...

Há pouco li num blog de um amigo que é muito fácil debater aqui neste mundo virtual, pois, ainda que os ânimos se exaltem, há uma linha imaginária demarcada, que as pessoas não querem e sabem que não devem ultrapassar, salvo raras excecões. Na vida cotidiana é que o "fruto" será percebido ou não. É lá que os espinhos serão mais certeiros. E a resistência duramente conseguida pode ser, em um momento, destruída. Cedem os diques, prorrompem as águas a levar consigo tudo o que vem pela frente. E basta um único momento assim para nos trazer desânimo e incertezas

Passada a tormenta, ainda que desesperados, desanimados, desvanecidos, faz-se necessária a reconstrução.

Nesses momentos, o melhor é lembrar novamente dos conselhos do apóstolo: quando sou fraco é que sou forte, pois é na fraqueza que sou aperfeiçoado - ainda que duvidemos disso.

Quando a minha segurança está alicerçada nas minhas próprias forças, mesmo que inadvertida ou involuntariamente, Deus me faz lembrar que fora dEle tudo é efêmero, fugaz, etéreo. Eis que me volto para Ele pedindo misericórdia: tenha misericórdia de mim SENHOR!



(Grifos meus-RF)


sábado, 9 de abril de 2011

Religioso ou discípulo de Jesus?



"O Evangelho só está crescendo se está dando fruto na vida de alguém. Se não gerar conversão genuína, misericórdia, graça, um novo caminho, só tem templo cheio".

Pesquei lá no SUSTO DE AMOR

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O Nariz


Era um dentista, respeitadíssimo. Com seus quarenta e poucos anos, uma filha quase na faculdade. Um homem sério, sóbrio, sem opiniões surpreendentes mas uma sólida reputação como profissional e cidadão. Um dia, apareceu em casa com um nariz postiço. Passado o susto, a mulher e a filha sorriram com fingida tolerância. Era um daqueles narizes de borracha com óculos de aros pretos, sobrancelhas e bigodes que fazem a pessoa ficar parecida com o Groucho Marx. Mas o nosso dentista não estava imitando o Groucho Marx. Sentou-se à mesa do almoço – sempre almoçava em casa – com a retidão costumeira, quieto e algo distraído. Mas com um nariz postiço.

- O que é isso? – perguntou a mulher depois da salada, sorrindo menos.

- Isso o quê?

- Esse nariz.

- Ah. Vi numa vitrina, entrei e comprei.

- Logo você, papai…

Depois do almoço, ele foi recostar-se no sofá da sala, como fazia todos os dias. A mulher impacientou-se.

- Tire esse negócio.

- Por quê?

- Brincadeira tem hora.

- Mas isto não é brincadeira.

Sesteou com o nariz de borracha para o alto. Depois de meia hora, levantou-se e dirigiu-se para a porta. A mulher o interpelou.

- Aonde é que você vai?

- Como, aonde é que eu vou? Vou voltar para o consultório.

- Mas com esse nariz?

- Eu não compreendo você – disse ele, olhando-a com censura através dos aros sem lentes. – Se fosse uma gravata nova você não diria nada. Só porque é um nariz…

- Pense nos vizinhos. Pense nos cliente.

Os clientes, realmente, não compreenderam o nariz de borracha. Deram risadas (“Logo o senhor, doutor…”) fizeram perguntas, mas terminaram a consulta intrigados e saíram do consultório com dúvidas.

- Ele enlouqueceu?

- Não sei – respondia a recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos. – Nunca vi ele assim. Naquela noite ele tomou seu chuveiro, como fazia sempre antes de dormir. Depois vestiu o pijama e o nariz postiço e foi se deitar.

- Você vai usar esse nariz na cama? – perguntou a mulher.

- Vou. Aliás, não vou mais tirar esse nariz.

- Mas, por quê?

- Por quê não?

Dormiu logo. A mulher passou metade da noite olhando para o nariz de borracha. De madrugada começou a chorar baixinho. Ele enlouquecera. Era isto. Tudo estava acabado. Uma carreira brilhante, uma reputação, um nome, uma família perfeita, tudo trocado por um nariz postiço.

- Papai…

- Sim, minha filha.

- Podemos conversar?

- Claro que podemos.

- É sobre esse nariz…

- O meu nariz outra vez? Mas vocês só pensam nisso?

- Papai, como é que nós não vamos pensar? De uma hora para outra um homem como você resolve andar de nariz postiço e não quer que ninguém note?

- O nariz é meu e vou continuar a usar.

- Mas, por que, papai? Você não se dá conta de que se transformou no palhaço do prédio? Eu não posso mais encarar os vizinhos, de vergonha. A mamãe não tem mais vida social.

- Não tem porque não quer…

- Como é que ela vai sair na rua com um homem de nariz postiço?

- Mas não sou “um homem”. Sou eu. O marido dela. O seu pai. Continuo o mesmo homem. Um nariz de borracha não faz nenhuma diferença.

- Se não faz nenhuma diferença, então por que usar?

- Se não faz diferença, porque não usar?

- Mas, mas…

- Minha filha…

- Chega! Não quero mais conversar. Você não é mais meu pai!

A mulher e a filha saíram de casa. Ele perdeu todos os clientes. A recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos, pediu demissão. Não sabia o que esperar de um homem que usava nariz postiço. Evitava aproximar-se dele. Mandou o pedido de demissão pelo correio. Os amigos mais chegados, numa última tentativa de salvar sua reputação, o convenceram a consultar um psiquiatra.

- Você vai concordar – disse o psiquiatra, depois de concluir que não havia nada de errado com ele – que seu comportamento é um pouco estranho

- Estranho é o comportamento dos outros! – disse ele. – Eu continuo o mesmo. Noventa e dois por cento de meu corpo continua o que era antes. Não mudei a maneira de vestir, nem de pensar, nem de me comportar, Continuo sendo um ótimo dentista, um bom marido, bom pai, contribuinte, sócio do Fluminense, tudo como era antes.

- Mas as pessoas repudiam todo o resto por causa deste nariz. Um simples nariz de borracha. Quer dizer que eu não sou eu, eu sou o meu nariz?

- É… – disse o psiquiatra. – Talvez você tenha razão…

O que é que você acha, leitor? Ele tem razão? Seja como for, não se entregou. Continua a usar nariz postiço. Porque agora não é mais uma questão de nariz. Agora é uma questão de princípios.

Este  (rss) texto é de Luís Fernando Veríssimo :)

Copiei DAQUI (Negritos meus- RF)