"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A velha máscara







Não adianta fugir nem mentir pra si mesmo agora


Há tanta vida lá fora


Aqui dentro sempre como uma onda no mar...





Quantas vezes nos deparamos com pessoas exercendo cargos públicos de forma louvável e nem sequer imaginamos como foi a trajetória de vida delas em sua vida íntima, sua vida familiar.

Dias atrás, estava procurando na net um endereço de um órgão público aqui da minha cidade, e me chamou à atenção os nomes dos que compunham a pasta do citado órgão.

Abaixo de cada nome em destaque, a respectiva função e caso fosse “clicando” onde havia foto e currículo, teria mais detalhe ainda acerca da pessoa. (Eita net bisbilhoteira. E eu, não?!)

Então, de repente, não mais que de repente...
Desocupada rss e aguçada a curiosidade, me pego clicando em cada um deles, começando – claro! – pelos conhecidos, e em seguida pelos nomes que me pareciam familiar.

E depois de ler e reler, atenta ao nível de qualificação do sujeito, avaliação de inteligência social, emocional, o escambal, enfim, os múltiplos requisitos, as exigências de praxe e - sejamos realistas - o clássico “Q.I.” poderoso até para dispensar algumas das alternativas anteriores, comecei a imaginar como seria a vida pessoal de cada uma daquelas pessoas.

Foi daí que eu me detive em determinada foto olhando para aquela expressão tão conhecida minha e então dei uma brecada reflexiva até chegar a algumas elocubrações (afe, que vocábulo feio e antiquado rss) simplesmente a partir de um único termo que ficou a martelar na minha mente desde então: gestão pública.

Gestão... Pública? Sim, gestão, ato de gerir, de reger...

Ora... penso euzinha cá comigo.

Se o sujeito está capacitado a lidar com o ser humano individual e coletivamente, pressupõe-se ter ele um grau de doutor muito mais elevado no âmbito familiar. Ou seja: Passa pela minha mente, que em um bom currículo acadêmico necessariamente está imbuído um excelente currículo de vida familiar.

Não consigo desvincular uma coisa da outra.
Não há como isolar, afinal o ser humano é o mesmo, cá dentro e lá fora, com seus próprios princípios, valores e conceitos e inevitavelmente irá impregnar ambientes com seu pozinho existencial onde quer que esteja.

E como posso contribuir para um mundo lá fora mais igual, mais fraterno, mais justo, se cá dentro de mim e dos meus mais íntimos eu não sou igualitária, justa e fraterna?

O que eu entendo é que assim como ninguém deve apenas cultuar o corpo em detrimento da mente e do espírito, também ninguém é apenas conhecimento técnico.
Há uma amplitude que deve ser vista, revista e revisitada para que os relacionamentos humanos funcionem da maneira mais COERENTE possível.

Do contrário, veste-se uma exterioridade que difere do que se é realmente.
Esse contraste dá um tom meio furta-cor que carregamos no próprio coração pela vida inteira.

Uma farsa que de tão contundente, de tão vivenciada finda por ocupar o lugar do que deveria ser verdadeiro em um estranho e perigoso jogo de troca de valores.
Pois que o fascínio exposto aqui fora é bem maior, enche a vista em forma de um convite/cilada que toma o ego, usurpando o espaço de uma essência que espremida e rejeitada vai definhando, vai murchando, vai se esvaindo...


Eis um flagrante em poema:


Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime
.
(Fernando Pessoa- Tabacaria)

2 comentários:

Regina Farias disse...

"Então, vi que todo trabalho e toda destreza em obras provêm da inveja do homem contra o seu próximo. Também isso é vaidade e correr atrás do vento". (Eclesiastes 4.4)

Ricardo Mamedes disse...

Vaidade de vaidades, tudo é vaidade...

Mas mudando um pouquinho e voltando à poesia: danado de bom o Pessoa!

E falando de máscaras, quantas vestimos ao longo da vida? E quantos jamais as tiram, nunca se dando a conhecer por inteiro?

Mas acontece, minha cara, que Ele pode ver além das máscaras, pois enxerga o recôndito, vê além do "eu" mais profundo (o que novamente me faz lembrar o Pessoa). Como esconder dEle e quem pode lhe adivinhar os pensamentos?

Sabe de uma coisa, o melhor é nos despirmos logo dessas nossas máscaras, uma vez que elas apenas parecem cobrir, como uma névoa, como etéreo manto... Porém a nossa essência é e sempre será por Ele conhecida.

Em Cristo.

Ricardo