"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

SER IGREJA - IGREJA SER






“O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés;

que casa me edificareis, diz o Senhor, ou qual é o lugar do meu repouso?”

(Atos 7.49)

No livro de Atos, Lucas relembra a passagem em Isaías, na qual o Senhor alerta para a atitude interior apropriada, onde sacrifícios e cumprimento de rituais não têm valor.

Há um alerta também por meio de Jeremias acerca dessa falsa segurança:

Templo do Senhor, Templo do Senhor, Templo do Senhor!

O profeta chamou a atenção de um povo que colocava sua confiança no espaço físico onde se reuniam em adoração, enquanto lá fora sua conduta com o próximo não agradava a Deus. Para estes, havia lá dentro uma espécie de certificado de garantia em resposta aos seus rituais, suas obrigações, seus cerimonialismos, enquanto o profeta insistia que nada daquilo tinha valor sem o arrependimento e a justiça. (capítulo 7)

"Não habita o Altíssimo em casas feitas por mãos humanas" (Atos 7:48)

E o que é ser Igreja, finalmente?

Ainda hoje em dia tem muita gente sincera, mas totalmente equivocada em relação à igreja, enquanto instituição e espaço físico que dê garantia de salvação.

Há um grande engano envolvendo tudo isso nos dias atuais, principalmente depois dessa febre ativista, onde igrejismos prendem a pessoa cada vez mais a seus espaços físicos e que ironicamente findam por afastar as pessoas, isolando-as, sugerindo uma separação supostamente privilegiada no âmbito espiritual.

Às vezes passamos tanto tempo de nossas vidas em lugares considerados santos, que esquecemos o mais óbvio que Deus requer de nós, que é viver a vida entre outras pessoas. Vida mesmo, no sentido de conviver, co-existir, de estar junto, de compartilhar, de curtir, de dividir bronca e alegria, porque vida cristã é isso: estar com o próximo na vida prática, cotidiana.

Ora, as reuniões semanais no templo são para celebrar em grupo aquilo que fazemos diariamente, seja no trabalho, em casa ou no lazer. Muitos dos que estão adorando a Deus no templo não creem que Deus possa estar em outros espaços, sem revelações, sem visões, sem gritaria, sem anjo descendo, sem línguas estranhas, sem fogo, sem oba-oba, agindo no silêncio, curando, colocando no braço, fazendo maravilhas, independente do credo. Aliás, até acreditam - em parte - entretanto em sua arrogância e/ou meninice espiritual, dizem em seguida: é porque Ele é misericordioso, mas salvação pra aquele lá não tem mesmo! 

Certo dia ouvi de uma pessoa de dentro da "igreja" sem entender um texto cujo título era "Espiritualidade nos Negócios" e aí ela riu e perguntou incrédula: o que é que tem a ver Deus com negócios?

Essa mesma pessoa estranhou quando alguém citou o clássico jargão "Deus é fiel". Com a mesma surpresa no rosto, ela pergunta: como assim, Deus é fiel?!

Ora, fidelidade é um atributo de Deus e a pessoa que vive a vida inteira caminhando para a igreja não sabe algo tão singular?

É aquela velha história: vive na Casa de Deus, mas não conhece o Deus da Casa.

O certo é que adoramos a Deus em espírito e em verdade MESMO é no cotidiano - no respirar, no ser e não no estar- é nas coisas essenciais como bater um papo com um vizinho, sair para um barzinho com um colega de trabalho, dar uma caminhada no fim de tarde com um amigo, que findam por tornarem-se programas sem grande importância e sendo colocados em segundo plano por aqueles que acreditam que só merecem o amor de Deus se estiverem na igreja todos os dias ou então realizando algum trabalho ligado à “igreja”.

O estranho é que se formos de fato sinceros, podemos observar que se a desculpa é porque na igreja encontramos “comunhão” e se a nossa proposta for realmente a de prestar um culto racional - como sugere Paulo - há uma flagrante constatação de que nem sempre lá existe comunhão e sim uma comoção coletiva que está mais para sugestionável do que para aplicável na vida prática.

Fé coletiva não é fé genuína. É mera comoção. É sentimento.

E Jesus não nos conclama a sentir, mas a SER.

Enquanto Jesus simplifica sem ensinar qualquer técnica de ascensão espiritual, o homem acrescenta cansativos ritos numa busca por rituais complicados em jornadas e mais jornadas de sacrifícios.

Ora, ser igreja não é fazer certas coisas ou deixar de fazer certas coisas, mas fazer tudo de certa maneira.

Com o fim de alcançar a Graça de Deus, o homem quer controlar, determinando um pacote de exterioridades de modo que os requisitos que muitos impõem equivocadamente a si mesmos são tantos e tão inúteis que vai sendo formada gradualmente uma espécie de muro invisível mas cheio de falsas convicções entre eles e aqueles que Jesus propõe uma comunhão informal e verdadeira.

E então se estabelece uma inversão de coisas outrora provenientes de Deus que distorce seu mandamento que é o “partir do pão”.

Esse partir do pão que Ele propõe e que é na vida prática, no dia-a-dia, no casual.

E não no programado, no horário definido, na pessoa escolhida, no culto do domingo.

Ser igreja é ser sal fora do saleiro.

É AGIR fora do templo, da instituição, das tradições que invalidam a Palavra de Deus.

É ser luz aqui do lado de fora.

É agitar, transformar, remexer, se misturar.

O orai sem cessar de Paulo ao povo de Tessalônica nos diz dessa consciência na presença de Deus e que não está vinculado a espaço físico. É o ato de nos rendermos a Ele o tempo todo.

Isso é adorar e são esses os adoradores que a Deus importa.

Já ouvi gente impregnada de rigor ascético dizer que não se mistura, porque tem lá na bíblia dizendo que não é pra ficar junto de certas pessoas. Gente que não consegue entender que Jesus diz para não fazer parte desses grupos no sentido de não compartilhar das mesmas ideías, mesmas perversões da alma. Então se o raciocínio fosse assim, ele não nos mandaria ir visitar os presos, sabe-se lá por que razão estão encarcerados. Ora, o mala na Cruz simplesmente ganhou um presentaço  "em dois tempos", só porque reconheceu a autoridade e soberania de Jesus ali do seu lado, recusando-se a compactuar com o escarnecedor que estava do outro lado e na mesma condição "legal" que ele.

Outro dia quando um blogueiro defendia suas teses até sensatas, porém recheadas de linguagem de bom moço, argumentando que não era como outro lá que tinha um linguajar ácido, imediatamente me lembrei de Jesus – o único modelo que devemos seguir – sendo ÁCIDO em suas palavras durante seu ministério em dois momentos específicos: contra as instituições religiosas e contra a hipocrisia.

E não porque ele fosse contra instituições em si, mas porque delas o homem faz seu esteio e ali fincam suas próprias bandeiras, reinventando doutrinas “que são preceitos de homens”, discriminando, seccionando, distanciando, assumindo máscaras de santidade gerando hipocrisia e assim esfriando o amor pelo próximo, entrando em choque com as Escrituras. (Marcos 7: 1.23)

É onde a tradição aprisiona e mata: quando se torna inconsistente com a Palavra distorcendo o Evangelho.

Esta foi uma das vezes em que Jesus falou com acidez e, como depois seus próprios discípulos confessaram não entender a parábola, a eles, Jesus falou com clareza:

“O que sai do homem, isso é o que contamina.
Porque de dentro, do coração dos homens,
é que procedem os maus desígnios,
a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza,
as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura.
Ora, todos esses males vêm de dentro e contaminam o homem”.
(Marcos 7:20.23)







6 comentários:

Regina Farias disse...

É como postei em outro blog que tinha um post sobre os tipos de culto.

Pra mim, é muito fácil distinguir os dois tipos de cultos que há:

1.O dos falsos adoradores, geralmente realizado em grupos (no espaço físico de adoração) onde a comoção geral provocada pelo deus coletivo e imaginário inspira os corações provocando às mais esquisitas e inimagináveis performances. Saindo dali, porém, tudo muda.

(Dias atrás eu estava em uma casa de parentes e chegaram uns "irmãos" pentecostais cheios de cerimonialismos para fazer uma oração com direito a línguas estranhas e tal rss e aí... quando acabou a reunião eu entrei na sala e presenciei a mesma mulher que "orou" em língua estranhíssima rss, afastada conversando em roda menor na varanda, contando indignada um caso de uma colega de trabalho que havia sacaneado com ela. Eu que estava em um dos quartos com as crianças e também porque não compactuo com santidades exteriores, saí intrigada me perguntando: ué, essa era a mulher que orava há poucos minutos?!)

2.E o dos verdadeiros adoradores cujo coração quebrantado é refletido NATURALMENTE no agir, no ser, no viver, no respirar, em constante transformação interior, sem oba-oba, sem estardalhaço, independente do espaço físico em que se encontrem.
E pra mim, o "teste" de que colocamos mesmo Deus no centro da nossa vida, é quando a coisa não está do jeito que queremos.
Enfim...
Pra mim, esse é o culto que agrada a Deus.
O mais é invenção presunçosa do homem.

R.

Anônimo disse...

Graça e paz Regina,

Não quero constranger o seu coração, nem tão pouco te ofender.
Li seu comentário e também não tiro sua razão. Unção é algo intuitivo vinda da particularidade de DEUS. Observamos que o nosso Senhor é misericordioso e profundo no seu grande amor.
O homem pode estar vivendo em grandes pecados e não deixar de falar em línguas extranhas, pode até mesmo ter acabado de matar uma pessoa e falar em línguas, mesmo matando ele fala em línguas.
O falar em línguas é independente de falar através da carne e sim falamos no espírito. Quando aceitamos a Cristo como o único e suficiente salvador, aí sim recebemos o Espírito Santo de Deus em nós.
A diferença do homem que tem o Espírito Santo que não fala em línguas e o que fala, está no relacionamento com o Espírito Santo. Existem muitas pessoas que tem o Espírito Santo de Deus e não falam em Línguas por que não procuram ter um relacionamento com Deus.
Só falamos em línguas estranhas por mantermos um relacionamento com o Espírito Santo.
Como está o seu relacionamento com o Espírito Santo? Se ainda você não fala em línguas, pois, procure um relacionamento mais intimo com o Espírito Santo.
Quanto as queixas e falhas daquela mulher que você presenciou, apague, esqueça, tenhamos paciência com o nosso próximo, pois eu disse; Deus é misericordioso. A vereda do justo é como a luz da aurora que vai brilhando dia a pós dia até ser um dia totalmente perfeito.
Quantas vezes nós matamos pessoas?
Todos os dias! Eu acho!
Pois, todos os dias matamos o que é de mais importante na vida de um homem e aos olhos do Pai. Contaminados de soberba e orgulho, enriquecidos de vaidades, aniquilamos a fé e a comunhão dentre os irmãos.
Tão fácil matarmos uma pessoa com pedradas, ao invéz de amarmos.
Deixamos de amar por tantas coisas mesquinhas. Se você não ama, também não ama a Deus; e se não amamos a Deus, matamos a nós mesmos. Se estamos mortos, como podemos tolerar o pecado dos outros se não toleramos a nós mesmos?
Ser adorador não tem nada a ver com o falar em línguas.
Adorar ao Senhor é você dar a Ele motivos de honra e alegria onde quer que você esteja.
Falar em mistério é apenas um relacionamento com o Espírito Santo, já que Ele está sobre nós.
É o mesmo Espírito que Jesus recebeu quando foi batizado por João Batista.

Paz

Michel França
michelfranca@oi.com.br

Regina Farias disse...

Caro Michel

Não se preocupe, pois comentário contrário ao meu não me constrange, afinal não tenho mais oito anos de idade.
Não constrange, mas não concordo em nada do que você diz em relação ao “falar em línguas estranhas”. Não por mera discordância, mas pela coerência que me é concedida pela simplicidade do Evangelho.

Primeiro:
Claro que somos falhos, cometemos erros e vivemos da misericórdia de um Pai que conhece a natureza humana.

O meu questionamento sobre a reação da mulher, foi que em um momento ela fazia uma oração de certa maneira e, ao findar aquele momento “mágico”, ela se mostrava completamente diferente. O que eu entendo por vida cristã tem a ver com vida prática e não com um momento mágico e fugaz. É dia a dia, é batente, é cotidiano. Isso é exercício de vida “no espírito”.

De que me adianta falar línguas estranhas se não trago para a prática o mandamento principal que é buscar viver em harmonia com o próximo? (No caso, aquela colega de trabalho lá citada)

Isso é coerente? Vida com Jesus é, acima de tudo, vida COERENTE.
Você diz que ao falarmos em línguas, falamos “no espírito”, claro, óbvio, até aí tudo bem, mas quando Deus diz que procura novos adoradores que o adorem em espírito e em verdade, ele deixa claro que não quer um adorador alienado que diz uma coisa nos lábios e que no coração diz outra. Tem que ser “em espírito e EM VERDADE. E, a Verdade é a nova vida que experimentamos “Em Cristo”, abrindo mão da nossa soberba, do nosso orgulho, do nosso “Eu”. Como você bem diz, tendo paciência.

Se aquela mulher que falava línguas estranhas pra dizer que tinha uma relação especial com Deus, tivesse paciência com a colega de trabalho e não esbravejasse o que falou, ela demonstraria muito mais essa intimidade que ela quer demonstrar (IMPRESSIONAR) por meio de línguas estranhas.

Sem falar o que Paulo alertou sobre falar em línguas estranhas a um povo que supervalorizava esse hábito em detrimento do dom maior: O AMOR.

“... prefiro falar CINCO palavras com meu entendimento, para INSTRUIR outros, a falar DEZ MIL PALAVRAS em outra língua”. (cf 1Co14.19)

“No caso de alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois ou três, e isso sucessivamente, E HAJA QUEM INTERPRETE. Mas, NÃO HAVENDO INTÉRPRETE, fique CALADO na igreja, falando consigo mesmo e COM DEUS”. (ver em 1Co 14:27.28)

Regina Farias disse...

Ora, se a congregação não entende absolutamente NADA do que está sendo dito “em espírito”, qual a UTILIDADE então? Só posso crer que para EXIBICIONISMO. E pra mim, isso sim é que é falar “pela carne”.

Veja você a contradição! E falar “pelo espírito” - PARA MIM - é falar coisas que deem ânimo, que nos console, que sirva de bálsamo, que nos encha o coração de esperança, de alegria, de paz.

É assim que entendo o Evangelho, é assim que procuro trazer o Evangelho para a minha vida de pecadora que se sabe FALHA mas que não busca impressionar com frases de efeito meia hora no dia e que no resto do dia não sabe como aplicar os ensinamentos de Jesus para que se tenha uma vida saudável, um relacionamento harmonioso com o próximo. Sim, pois Evangelho é isso, é aprendizagem, é processo pra vida inteira, de glória em glória.

E, minha atenção para isso, a ponto de ocupar uns minutinhos em te responder, reside no fato de que eu tenho PAVOR de performances, daí a minha ênfase para isso.

Não deixo de amar a irmãzinha em questão, deixo de amar - aliás, abomino - ATITUDES como essa. Quem estava com o coração cheio de ódio ao se expressar era ela, não eu. O que eu fiz – e que infelizmente percebo que você não entendeu - foi justamente colocar esse exemplo, para mostrar a contradição entre o que ela dizia DA BOCA PRA FORA, com o que havia, de fato, em sua alma.

Inclusive, diga-se de passagem, não se tem registro de que Jesus saiu por aí impressionando as pessoas com “outras línguas” nem quando do seu batismo que você cita, nem durante o seu ministério. E olhe que Ele tinha pano pras mangas pra impressionar multidões...

Afinal, bora combinar. Adoração coletiva é para edificação coletiva. E não exibicionismo e alienação.
É isso que entendo de Evangelho.
Abs,
R.

Alan Capriles disse...

Ótimo texto!

Cheguei até ele por meio do blog de nosso amigo René, que colocou seu artigo em destaque.

Não tenho ideia se você sabe, mas, após ter despertado para verdades como essa do seu texto, tenho enfrentado o desafio de despertar os irmãos que pastoreio e promover as reformas necessárias para nos libertarmos do sistema.

Por isso, peço por sua ajuda em oração, pois, além das pregações e artigos em meu blog, estou escrevendo um livro bastante simples e direto, no qual destaco verdades que todo cristão deveria saber, mas que o sistema esconde. O livro estará disponível gratuitamente para e-book, à semelhança do que fez nosso amigo Cláudio, que aliás está me dando algumas dicas importantes.

Graça e paz!

Regina Farias disse...

Pastor,

Pelo que tenho lido em sem blog e comentários, tenho acompanhado sim esse processo pelo qual vc passa e, consequentemente, leva sua comunidade a repensar também.

E muito me alegra essa abordagem assim simples e direta que vc se propõe a fazer em contraste com o pedantismo das teologias acadêmicas que já esgotaram a paciência até dos mais serenos.(risos)

Oremos e aguardemos pela edição de sua obra que, tenho certeza, ajudará a muitos.

Graça e Paz!