"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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sexta-feira, 23 de abril de 2010

Justa Homenagem




No Dia Internacional do Livro eu gostaria de render uma justa homenagem a uma pessoa muito querida: minha irmã mais velha, Auri - como chamamos na intimidade.

Hoje, já no final do dia quando fui lembrada da importância dessa data, ela foi a primeira pessoa que me veio à mente. Não conheço uma pessoa que devore mais livro do que ela! Se alguém chegar à casa dela, seja em que horário for, verá que em seu quarto as mesinhas de cabeceira - e outras mais que estiverem ao redor – estão cheias de livros empilhados. E não pense que são livros velhos e empoeirados, pois o interessante é que são novinhos em folha e ela lê vários, simultaneamente. Isso com uma graciosidade e leveza incríveis sem qualquer ar de intelectualóide!

E esse hábito é antigo...

Vem lá da pré-adolescência. Pois não é que ela já lia de tudo quando ainda cheirava a leite? Se bem que todos nós fomos criados lendo por obrigação, já que nossos pais eram educadores/donos de escola primária, numa época em que o ato de ser professor não era apenas “ensinar” e sim educar de forma bastante ampla. Inclusive já falei um pouco a esse respeito quando postei um texto no dia do aniversário do meu pai.

Mas ela se destacava. Se bem que, em se falando desse tipo de recorde na precocidade, eu tenho outra irmã, a Duda, que aos nove anos de idade já tinha lido toda a literatura infanto-juvenil da biblioteca do meu pai, sendo que esse seu afã foi mais nessa fase da vida mesmo. O certo é que hoje em dia, uns em mais intensidade e outros em menos, todos nós ainda conservamos o velho hábito de uma boa leitura.

Lembro-me que quando minha mãe “alugava” a mim e às outras mais novas em alguma eventual tarefa doméstica, eu sempre questionava (Sempre fui questionadora he he he) porque ela nunca era solicitada e a resposta era sempre a mesma: deixa Auricélia em paz, ela está lendo. Eu, cá com os meus botões, achava que era porque ela era a mais velha. Essa suspeita rola até os dias de hoje... Mas eu já fiz terapia rss

À época, final dos anos 70, ainda morávamos no interior, mas os mais velhos (euzinha incluída, saí de casa aos 15!) estudávamos fora e sempre que voltávamos nas férias ou feriado mais prolongado, o prazer dela era fazer a busca por novos livros e eu me lembro de um episódio interessante em que meu pai não tinha um só que ela não tivesse lido e ele logo tratou de se empenhar para encontrar alguém que tivesse bilbioteca, já que naquele tempo poucas pessoas dispunham de biblioteca vasta em casa. Foram em alguns lugares, inclusive na bilbioteca pública, mas não havia um que ela não tivesse lido! Foi então que ele lembrou-se de levá-la à casa de um amigo também forasteiro, gerente do Banco do Brasil, ainda lembro o seu nome incomum, João de Deus. Lá, não tinha erro!  - Imagino que meu pai assim pensou.

Reza a lenda rs que, chegando lá, enquanto os dois trocavam figurinhas ela já foi adentrando naquele ambiente cheio de prateleiras enormes que lhe eram tão familiares, não pelo espaço físico, mas pelo que ele comportava: livros e mais livros. E pasme: não havia um só que ela não tivesse lido! Havia um tal de A.J.Cronin que ela já tinha passado tudo dele! Era uma coleção imensa, mas ela simplesmente a esnobou assim como o fez com tantas outras. Só fazia abaixar a cabeça e dizer: esse eu já li , esse eu já li, aquele também - à medida que discorria a vista e os dedos em cada uma daquelas luxuosas coleções. Ela tinha seus dezoito anos, se não me falha a memória, mas aos 14, 15, já se definia como leitora voraz, tanto que ninguém nem ousasse chamá-la para nada, como falei antes. Por isso, ainda hoje, ninguém conte com ela nem pra coar um café porque ela não sabe ( Ui, ela vai comer meu fígado, tô ferrada!) Ora, a espaçosa  dispõe de empregada doméstica até para o domingo! Pronto, falei! Vingança maligna! :)

Ultimamente até que tem sido menos frequente, mas quando ela vem de Maceió pra Recife (ela reside lá já tem uns vinte anos, creio eu) logo me telefona e eu já penso: Já sei, Livraria Cultura, bora rss

Minha irmã, amo você. Do fundo do meu coração!

RF

6 comentários:

Eder Barbosa de Melo disse...

Sua irmã é um exemplo, aliás seus pais também são a prova de que quando se investe na educação de um filho, ele pode trilhar um caminho incrivel. Infelizmente a nossa geração pode até ter acesso a tanta informação, mas falta essa boa formação, geralmente advinda dos pais. Parabéns!

Regina Farias disse...

"Regina Maria, como tu escreves bem, menina... Sempre me espanto.
E fiquei emocionada.
Mas meu hábito de ler é um vício, não é virtude.
Também te amo muito.
Um abraço apertado com amor e carinho".


Comentário da "dita-cuja" recebido por e-mail em tempo recorde rss Não tem Maria em meu nome, mas ela adiciona ao nome de qualquer pessoa só pra bancar a engraçadinha. E ao homem, acrescenta Francisco, não sei porque e acho até que "nenfroidisplica".
E a parte de "escrever bem" fica por conta do amor, num vale!

Regina Farias disse...

Éder

Eu não tenho dúvida de que essa dobradinha formação/informação é o maior legado que um pai deixa para o filho.

Formação é a base forte que nos mantém nos trilhos, na linha; e
informação é a ferramenta mais preciosa pra nos livrar das amarras advindas das convenções, dos hábitos e dos costumes de uma sociedade religiosa repressora.

Isso pra mim é liberdade verdadeira: Estar "na linha" mas por escolha criteriosa, consciente, crítica, lúcida.

Valeu pelo carinho,

R.

Eduardo Medeiros disse...

Regina, muito bem lembrado. Para mim, que sou um devorador de livros também, com livros em todos os cômodos da casa...aliás, no banheiro ainda não tem, fico feliz em ler seu texto. rssss

abraços

Regina Farias disse...

Eduardo,

Então...

Eu também não dispenso uma boa leitura.

Mas confesso que ando meio preguiçosa pra ler como fazia antes, tipo compulsão, sabe?

De uns seis, sete anos pra cá, com a minha verdadeira conversão, eu não tenho tido muita paciência pra encarar certos tipos de literatura e não é frescura ou esnobismo, é saco cheio mesmo rss

Mas não fiquei turrona não rss tem muita coisa legal de se ler ainda :) "Até" mesmo em blogs rss

Bora ler, né?

Valeu pela atenção e pelo carinho,

R.

Casal 20 disse...

Regina, linda homenagem...

Eu estou para te dizer uma coisa, que eu não sei bem como você vai receber. Mas, desde a primeira vez que eu vi aquela sua foto meio que olhando de lado e para trás, bem... Aliás, sempre que eu te vejo, claro, eu vejo é aquela foto. Mas, Regina, naquela foto, você é assombrosamente a cara da minha irmã!

Eu não falei nisso antes, porque minha irmã faleceu tem uns três anos, foi uma morte triste. Nem vou contar por agora.

Mas, já que vc falou da sua irmã...

Entrei no assunto.

Abraços sempre afetuosos.

PS- Gostei muito dessa viagem pelo seu blog!