"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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domingo, 18 de abril de 2010

QUERES SER CURADO?




De vez em quando – e conforme o que eu vivencio no cotidiano -  me vêm à lembrança, de maneira muito forte, certas passagens bíblicas. Hoje se trata de uma passagem que eu desconfio até que já escrevi algo relacionado a ela, mas esse é um assunto tão incrível, tão denso, tão rico, que eu insisto em repetir.

Conta-nos a história que em Jerusalém, havia uma das entradas cujo nome era Porta das Ovelhas, onde se localizavam imensos reservatórios de água escavados na rocha e coletados também da chuva para o consumo. Um deles - o tanque de Betesda - era conhecido por ter uma água milagrosa, curando aquele que ali estivesse no exato instante em que a água era chacoalhada por um anjo que surgia periodicamente justamente para esse fim. (João 5.4)

A história diz que qualquer doença era curada imediatamente e por isso ali se reuniam aos milhares não só os aleijados como todo tipo de doente que havia. E foi ali que um homem enfermo havia 38 anos (Eu disse trinta e oito!) travou um breve e contundente diálogo com alguém que ele jamais imaginaria quem fosse. Afinal, este não portava nenhum crachá nem plaquinha de nome de igreja nem chegou dizendo que pertencia a essa ou aquela denominação religiosa, primeiro porque ele não possuía tais “referenciais” e depois por estar/ser focado única e exclusivamente na necessidade do outro.

Impressiona-me porque ali mesmo, em poucas palavras, o homem foi curado. E, particularmente, essa história de cura simplesmente me fascina, porque ela se dá na alma, vai ao cerne da questão, na raiz do mal que consumia aquele homem que, de tão minadas as energias, já vivia em cima de uma cama há muito tempo.

E aí... É curado “milagrosamente”!

Então eu me lembro de que disse uma vez um psicólogo que quando estamos com uma tristeza muito grande, no limiar de uma depressão, o primeiro impulso é o de não sair mais da cama. As forças vão se esvaindo e a pessoa se deixa levar por um desânimo que gradativamente vai tomando posse do ser. E é nessa hora que o outro entra em cena. (Ou deveria...) Nesse momento percebemos como precisamos do outro.

“Melhor é serem dois do que um”. - diria o pregador de Eclesiastes.

Às vezes, munida de compaixão, uma única pessoa para dar injetada de ânimo é suficiente. Outras vezes somos mais sortudos e o grupo à nossa disposição é maior. E às vezes também esse grupo pode se colocar à disposição, MAS se não quisermos de nada adianta tanto empenho. Por isso eu vejo que mesmo tendo pessoas ao nosso redor, em alguns momentos na vida as mudanças só acontecem pela nossa própria decisão, nossa escolha, nossa vontade; que as pessoas são usadas como instrumento de Deus para nos encorajar, mas que precisamos ter vontade para mudar o rumo da situação em que nos encontramos.

E compaixão é justamente sentir com, ter a mesma paixão, o mesmo sentimento, tipo “tô contigo nessa parada”! Porém, tem hora que mesmo estando cercados por um staff  não conseguimos enxergar de tanto que estamos atolados em autopiedade, puxando o velho freio de mão que nos impede de aceitar de bom grado a ajuda que precisamos, simplesmente porque nos acostumamos a ter pena de nós mesmos. Ficamos calejados e então perdemos a sensibilidade, anestesiados pela força do hábito, muitas vezes traduzida como cinismo. Quantos conhecemos que no meio do processo de um novo aprendizado dizem ah eu vou voltar pra tal condição, vou voltar pra tal lugar, porque lá eu era livre... (Na ilusão de que aquele rei da Passárgada do seu passado era seu amigo fiel e verdadeiro).

A história daquele paralítico eu não sei qual era, mas sei que ele também não fazia nenhum esforço para alcançar (vontade -> ação) a água que curava, porque estava desesperançoso. Permanecia junto aos demais, sabia que a água curava, via os outros sendo curados por aquela água remexida ali tão próxima, mas sua letargia o impedia de alcançá-la, de tão paralizada que estava sua alma.

Até que um dia, esse Alguém que o observava aproximou-se e indagou-lhe:

- QUERES ser curado?

Ele perguntou em outras palavras:

- Você se importa com o seu problema o suficiente para fazer alguma coisa a respeito, ainda que isso exija certo esforço, alguma ação?

- “Levanta-te, toma o teu leito e anda"

E ele se foi...
E eu imagino que essa abordagem teve efeito imediato, tipo um tratamento de choque, por causa do AMOR como aquele homem falara com ele. E funcionou não por ser uma demonstração de “amor” pseudo-piedoso, complacente, lerdo, mas pela maneira bem especial de demonstrar real interesse pelo problema sem sentir aquela peninha inútil que certamente o doente capta e que, em círculo vicioso, só realimenta o mal.

Eu não tenho nenhuma dúvida: o paralítico foi curado pelo amor.

A fé e a esperança são importantes, mas o mais importante é o AMOR.

Ora, esperança ele não tinha: “-Não tenho ninguém...”

Em outras palavras:

- Ninguém me ama ninguém me quer, ninguém me chama de meu amor, a vida passa e eu sem ninguém, ninguém me abraça nem me quer bem...

Fé... Menos ainda! O próprio tempo denuncia isso. E mais: para o paralítico ali estava certamente a única pessoa  que dele se compadeceu dando-lhe a atenção e as palavras que ele precisava.

E mais tarde quando Jesus se encontra com ele no templo, ainda o adverte, pois sabendo que seu pecado era a desesperança que o havia deixado preso na alma durante 38 anos, esse era seu cuidado: que ele não perdesse mais a esperança!

E sem qualquer plaquinha de identificação ou currículo religioso à mão, deu o toque:

- Olha que já estás curado; não peques mais para que não te suceda coisa pior. (E ainda tem gente que acha que isso era Jesus ameaçando). Aos que pensam assim, Jesus diz: - Eu vim para curar e não para julgar ou condenar.

Jesus sabe que o paralítico na alma racionaliza tudo, é teimoso e resiste em romper seus limites, e ainda tenta se justificar, tendo explicações na ponta da língua para o seu caso “sem solução”. Uns são reclamões, outros são mais sutis, e há ainda os silenciosos.

Em alguns, a autocomiseração é inteligente e a chantagem, explícita:

-Ninguém me entende... -

Mas Jesus ignora todas essas nossas emoções negativas porque conhece as nossas potencialidades e espera que as usemos, numa sequência que nos leva a atitudes práticas. A interação entre os aspectos mental, espiritual e físico é algo puramente bíblico e essa visão holística do homem não é creditada a nenhum outro psicoterapeuta senão ao maior psicólogo de todos os tempos cuja proposta é que tenhamos uma vida saudável em todos os aspectos de modo que possamos viver com plenitude, uma vida em constante transformação e que começa pela saúde da mente.

Daí quando Ele diz para termos bom ânimo perante as aflições que certamente enfrentaríamos, ele nos incentiva a superar as adversidades, sejam quais forem, para experimentarmos, aqui mesmo, as Suas bênçãos! Porque, afinal, somos peregrinos que almejamos felicidade eterna, mas também felicidade aqui e agora!

Portanto, paremos de choramingar, de nos lamentarmos, poupemo-nos de filosofias vãs, de tanto blá blá blá.

- Pega tua cama e segue em frente! Sem medo de ser feliz!




"Perguntaram-lhe eles:
Quem é o homem que te disse:
Toma o teu leito e anda?
Mas o que fora curado não sabia quem era."
(João 5: 12.13a)





RF

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