"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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terça-feira, 20 de abril de 2010

Vai e procede tu de igual modo


Um crente, daqueles de terno e gravata, em dia quente, bíblia surrada debaixo do braço, sujeito sincero em sua fé, temente a Deus, buscando cumprir a risca sua cartilha. Sempre na busca de não dar um mau testemunho, de não fazer tropeçar os que, por exemplo, tem sua vida reta como referencial de cristão.

O percurso de sua casa até a igreja passava por um prostíbulo, também conhecida como zona.

Se tem uma coisa que este crente não pode ser acusado era ser fraco nesta área. Jamais cedeu ao apelo sexual das meninas que expunham seus corpos para a prostituição de sua forma mais tradicional.

Tão firme era ele que, um dia, duas prostitutas o cercaram. Queriam a todo custo se aproximar do crente. Elas, não tão novas, estavam cobertas de maquiagem e um forte perfume. No interesse de detê-lo em seu caminho, tentaram até pegá-lo pelo braço, mas ele se esquivou. Faltou pouco para que ele voltasse de sua fuga, e com o dedo em riste, repreender aquela tentativa – desagradável, inapropriada, não condizente, inoportuna.

Mas ainda era sábado: Havia um domingo pela frente. O culto daquele sábado trouxe um crente orgulhoso em sua postura correta. O de domingo traria outra história.
Na ida do culto, o velho puteiro já estava em pleno funcionamento. O crente, como sempre, fez seu trajeto obrigatório, mas agora só uma das prostitutas do dia anterior estava ali. Vestida com o mesmo shorts curtíssimo, chorava sentada a calçada, o que chamou a atenção daquele cidadão tão devoto:

- O que acontece? Por que chora tanto?

- Minha amiga... - falou a puta, só então olhando no rosto de quem a questionava.

Os olhos inchados e vermelhos não iam ajudar a ter muitos clientes naquela noite. Após uma breve pausa, questionou:

- Não foi você que passou por aqui ontem?

- Sim... - recuou ele.

- Minha amiga estava desesperada, ela queria sair desta vida. Nessa vida de prostituta, só crente não põe o pé. Ela acreditava que os crentes poderiam ter a resposta...
O homem ouvia aquilo e um sentimento de vergonha e orgulho se confundiam.

- Onde está ela? - perguntou ele, se preparando para dar as respostas necessárias.

- Ela se matou...


História verídica - Texto original ---> O CRENTE E A ZONA
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Estabelecendo o paralelo entre as histórias de "passar ao largo" lamentavelmente o fato se repete e esses políticos espirituais de colarinho branco roubam o que há de mais precioso: a vida.


E a mesma história se repete ironicamente todos os dias e das mais diversas maneiras, na mesma proporção em que cresce o número de templos (dos mais suntuosos aos clubinhos particulares) porque somos vaidosos, pretensiosos, e, acima de tudo, resistentes em não obedecermos ao mandamento "Vai e procede tu de igual modo"(Lc 10:25.37) determinado pelo próprio Redentor.

Vai tu <- modo imperativo- A gente quer o Redentor 100% mas não quer o Senhor na íntegra, parafraseando meu amigo João Carlos.

Ora, Jesus não perguntou se a gente acha boa essa idéia de dar a mão ao necessitado, até porque ao propôr a parábola, Ele revigora a memória do intérprete da Lei, que tem o mandamento só no papel e NÃO APLICA na vida real. O mandamento que, no final das contas, engloba TODOS os outros:

"Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento;

e:

Amarás o teu próximo COMO A TI MESMO".

Simples assim!

Mas é justamente aí que o bicho pega, pois é simples mas não é fácil, já que ele teria que sair do mundinho pré-estabelecido, acomodado, egoista, perniciosamente religioso, e que gira em volta do próprio umbigo, digo, da própria "igreja".

Então, é mais fácil colocar um terno (e comprar uma bíblinha melhorzinha rss <--riso amarelo) pra poder sair bem na fita lá na igreja do meu pastor Sr fulano de tal, que me deu uma cartilha pra eu seguir. Seguir feito rolo compressor, passando por cima do irmãozinho.

Ou da irmãzinha... :(

E assim caminha a humanidade...

RF.


Um comentário:

João Carlos disse...

Domingo passado foi aniversário da CBRio, onde congrego feliz da vida, igreja indicada pelo Danilo do Genizah.

Pregou o Pastor Levi (coloquei um link do blog dele no meu blog, o "Na Jornada"). Disse que somos Eclesia no sentido pleno, não apenas dentro do templo, em tempo integral.

Queria conseguir resumir o que ele falou, mas não consigo. Sei que foi um santo tapa na cara de todos.

O resumão de tudo pra bom entendedor está sintetizado no título do seu post.

Em tempo: A frase creditada a mim na verdade é do André do Cristão Confuso...

Beijo!

JC