"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Relacionamento entre irmãos







Um dos maiores desafios no que diz respeito a relacionamento entre as pessoas, está dentro de nosso círculo familiar, especialmente entre irmãos onde, em meio à unidade e diversidade fraterna, cada um tem a oportunidade única de desenvolver a própria identidade, a autoestima, o valor próprio e o relacionamento com Deus.

Relacionamentos entre irmãos irão influenciar no que eles se tornarão na vida adulta principalmente pela rica oportunidade que o meio fraterno possibilita de forma ampla: desenvolver habilidades de comunicação e compreensão acerca do verdadeiro companheirismo, incluindo tolerância, respeito e apreciação pelo outro, reconhecendo valores e diferenças individuais.

Na bíblia não tem exatamente modelos de perfeição no âmbito familiar, entretanto vemos alguns casos - se não de famílias perfeitas - mas de exemplos que nos apontam princípios sobre relacionamentos saudáveis entre irmãos:

- Respeitar a individualidade; não tolher a liberdade que o irmão tem para desenvolver traços e atributos ao atender o chamado de Deus para sua vida. Marta e Maria tinham personalidades muito diferentes e mesmo assim cada uma se relacionava com o Senhor, conforme suas próprias habilidades (Lc 10:38.42; Jo 11:20.44)

- Procurar resolver as diferenças na privacidade familiar evitando assim uma série de mal entendidos e até de consequências mais graves pela impulsividade e rejeição. Miriã pagou um preço alto por ter criticado o irmão publicamente. (Nm 12:1.15)

- Acreditar na mudança sincera de algum irmão mais teimoso que vacilou e se perdeu no meio do caminho; não perder as esperanças no irmão, por mais diferente que ele seja; alegrar-se quando este recua e dá mostras de querer acertar; agir com humildade e aceitação, sem fazer comparações invejosas como se o próprio comportamento fosse o mais perfeito do mundo. Lembrando sempre que o orgulho é o grande responsável pela maioria dos conflitos entre irmãos (Lc 15:11.32)

- Levar sempre o irmão a conhecer o Senhor, ficar atento quando o irmão precisa de uma força, de uma palavra de fé, desde um simples toque que faz toda a diferença a uma explicação mais detalhada acerca do Evangelho. (Jo 1:40.42)

Em um mundo decaído não existem famílias perfeitas. Mas em um relacionamento onde Deus está em primeiro plano, suprir necessidades básicas sempre será mais leve e mais fácil para manter a família em certo equilíbrio. E a necessidade mais básica e mais urgente que precisa ser suprida na família é a espiritual. É aquela onde Deus está em primeiro plano.

Coloque Deus no topo da sua escala de valores.

Conhecer a Deus, ter com Ele um relacionamento pessoal é determinante para “re-arrumar” a escala de valores de cada um dos irmãos, situando-os dentro da família e fazendo toda a diferença, não como uma família superior, mas buscando o real suporte que a equilibra nas turbulências da vida.


(Adaptado por RF)



domingo, 26 de setembro de 2010

O gosto da surpresa



Nada é melhor do que se surpreender, olhar o mundo com olhos de criança. Por isso as pessoas gostam de viajar. Nem o trânsito, nem a fila no aeroporto, nem o eventual desconforto do hotel são empecilhos neste caso. Só viajar importa, ir de um para outro lugar e se entregar à cena que se descortina.

O turista compra a viagem baseado nas garantias que a agência de turismo oferece, mas se transporta em busca de surpresa. Porque é dela que nós precisamos mais. Isso explica a célebre frase “navegar é preciso, viver não”, erroneamente atribuída a Fernando Pessoa, já que data da Idade Média.

Agora, não é necessário se deslocar no espaço para se surpreender e se renovar. Olha atentamente uma flor, acompanhar o seu desenvolvimento, do botão à pétala caída, pode ser tão enriquecedor quanto visitar um monumento histórico.

Tudo depende do olhar. A gente tanto pode olhar sem ver nada quanto se maravilhar, uma capacidade natural na criança e que o adulto precisa conquistar, suspendendo a agitação da vida cotidiana e não se deixando absorver por preocupações egocêntricas. Como diz um provérbio chinês, a lua só se reflete perfeitamente numa água tranquila.

O que nós vemos e ouvimos depende de nós. A meditação nos afasta do clamor do cotidiano e nos permite, por exemplo, ouvir a nossa respiração. Quem escuta com o espírito e não com o ouvido, percebe os sons mais sutis. Ouve o silêncio, que é o mais profundo de todos os sons, como bem sabem os músicos. Numa de suas músicas, Caetano Veloso diz que “só o João (Gilberto) é melhor do que o silêncio”. Porque o silêncio permite entrar em contato com um outro eu, que só existe quando nos voltamos para nós mesmos.

Há milênios, os asiáticos, que valorizam a longevidade, se exercitam na meditação, enquanto nós, ocidentais, evitamos o desligamento que ela implica. Por imaginarmos que sem estar ligados não é possível existir, ignoramos que o afastamento do circuito habitual propicia uma experiência única de nós mesmos, uma experiência sempre nova.

Desde a Idade Média, muitos séculos se passaram. Mas o lema dos navegadores continua atual. Surpreender-se é preciso. A surpresa é a verdadeira fonte da juventude, promessa de renovação e de vida.

Betty Milan

(Grifos meus - RF)

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Eu discordo!



Discordo dos que desconhecem a Biblia e falam besteira, inventando versões malucas sobre o que não sabem!

Suspeito do hipócrita que bate no peito se chamando de santo, e, sentindo-se justificado, esconde seus pecados por trás de uma denominação religiosa!

Não me conformo com o modo como as mulheres são tratadas, como cidadãs de segunda classe, impedidas de pregar, de tocar instrumentos e alijadas dos atos da administração de igreja machista!

Reclamo do modo infantil como os jovens são tratados, como se fossem crianças sem responsabilidade, ensinados a nunca decidirem nada por si só, mas sempre consultar uma pregação para saber se amam uma pessoa ou não!

Não reconheço a autoridade de homens que se colocam no lugar de Deus, cortam a liberdade, anunciam publicamente a vergonha daqueles que erraram, não têm humildade pra pedir desculpas pelos erros que eles mesmos cometem e escondem os pecados de seus pares.

Protesto contra os que encobrem os CRIMES para proteger o nome de uma denominação, preferindo deixar o câncer percorrer o interior de uma religião a admitir publicamente erros!

Leio por outra cartilha o nome de Deus! Um Deus que nao tem preferência por denominações e cujo poder e amor é tamanho que atinge a todos os seres humanos do mundo!

Separo-me daqueles que, por tanto puritanismo em suas pregações, estimulam a mentira, o aborto e o engano entre jovens amedrontados com receio de descobrirem seu lado humano, fazem-se hipócritas e cometem crimes piores por amor ao nome de uma denominação.

Recuso aplausos aos que gritam e pulam em um púlpito, esperando louvores a si, enquanto fingem louvar a Deus.

Voto contra os que se colocam no lugar de DEUS e recusam a santa ceia aos que amam o mesmo Deus MAS não pertencem à mesma denominação.

Sou ovelha negra, tresmalhada... perante os que conduzem a massa obediente sob o cabresto do engano e do fanatismo.

Desafino da massa que dá glorias para parecer santo perante o pregador e se esquece de ser sincero perante Deus !

Encolero-me face a redução da palavra de Deus a um horóscopo ao qual se busca para mudar de emprego, casar, começar a ser adulto.

Sacudo os ombros aos que não têm decisão própria nem para usar um calção, colocar uma calça comprida, usar uma manga curta... e temem perante a idéia de serem descobertos por um ancião... sendo que maior é a própria consciência !

Abjuro aos que, por não possuírem vida própria, vivem a controlar a vida alheia, fofocar sobre o seu irmão, e alegrar-se na queda do outro, pois na sua pobreza espiritual, precisam da derrocada alheia para ter algum valor.

Abano a cabeça, cismática, perante a ignorância, o preconceito contra o diferente!

Faço pendenga, quizila e vaio aos que preferem reduzir a obra de Deus a uma série de usos e costumes, de formalidades vãs... E se esquecem da essência do amor de Cristo!

Jogo tomates e rio dos que tem preconceitos contra as demais religiões, dos que idolatram anciões, dos que se acham inteligentes por cursarem uma faculdade MAS concordam e assinam embaixo de pregações mancas de conhecimento e amor.

Pasmo diante do saber de cozinha dos que não leem a Biblia, que não conhecem história e que reduzem uma palavra de amor a uma série de proibições que nenhum proveito espiritual tem ao ser humano.

DESTÔO dos que pretendem inculcar a culpa nas mentes de jovens abalados emocionalmente para mantê-los sob o domínio de uma seita que faz mal.

Enfim, nado contra a corrente, olho de soslaio e declaro-me LIVRE, FELIZ E INDEPENDENTE para vencer o medo e a ignorância dos que usam o nome de Deus para controlar o semelhante !

Autora: Bea Santana.
 
Na íntegra, AQUI
 
(Grifos meus-RF)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Ouvistes o que foi dito




Ouvistes o que foi dito: “irás ao culto às quartas, sábados e domingos”.

Eu, porém, vos digo:
Faça de sua vida um culto a Deus, que sua rotina seja cheia de gentilezas, que sua boca pronuncie sempre a verdade, doa a quem doer, que seus olhos olhem a vida com justiça e não vejam só as aparências, que seus pés pisem em todos os lugares abençoando a todos os ambientes dissipando as trevas por onde andares, que a graça em você vaze a ponto de expurgar espíritos de contendas e disputas vãs, de maledicências e de invejas, que sua palavra se alinhe à vontade de Deus para temperar a vida em volta de ti.

Ouvistes o que foi dito: “os crentes são filhos de Deus, os descrentes são filhos do diabo”.

Eu, porém, vos digo:
Não vos orgulheis por aquilo que de graça lhes foi dado, abençoai a todos, não sereis orgulhosos da posição de bem aventurança recebida de graça, nem lançareis ninguém no inferno, mas orai para que todos os que ainda não alcançaram estado de filhos, sejam agraciados com novo espírito dando-lhes vida para que vejam e ouvidos para que ouçam o que o Espírito diz a TODOS no mundo inteiro.

Ouvistes o que foi dito: “precisamos ir ao monte orar, precisamos de jejum e oração”.

Eu, porém, vos digo:
Deus é Espírito e importa que Seus adoradores o adorem em espírito e em verdade, seja no monte, seja no fundo do mar, seja no ventre do grande peixe, seja no mais profundo abismo ou na geografia que for. O jejum que o Pai aceita é aquele da inanição da iniquidade, da ausência do mau, da desistência do orgulho por nossas boas obras, das muitas justificativas vãs que damos em nossas orações que transformam Deus num idiota cósmico e tenta ludibriá-Lo para fazer a nossa vontade assim na Terra como nos Céus.

Ouvistes o que foi dito: “está escrito na Palavra de Deus”.

Eu, porém, vos digo:
Não façais das Palavras de meu Pai poesia vã, tola e impraticável, mas vive-a sabendo que a pouca obediência a Sua Palavra é mais importante que o muito conhecimento que despreza Sua revelação a tratando como romance, como novela, como ficção ou como sonho de tolos.

Ouvistes o que foi dito: “vamos ter Santa Ceia domingo, preciso ficar atento esta semana”.

Eu, porém, vos digo:
Viva de modo a se auto-examinar diariamente, corrigindo sua vida interior, seus pensamentos, seus desejos, mude seus paradigmas se alinhando dia a dia a vontade de Deus revelada na Palavra.

Ouvistes o que foi dito: “não acusarás, ou julgarás, ou se levantará contra o ungido do Senhor”.

Eu, porém, vos digo:
Se o sujeito, pastor, bispo, apóstolo ou arcanjo, não se alinhar a Palavra revelada, seja anátema! Se não houver bondade, graça e misericórdia em suas palavras, seja anátema! Se falar em nome de Deus e viver em nome dos bens, seja anátema!

Usai de misericórdia para com todos, levai as cargas uns dos outros, não vos priveis do amor, da bondade, da ajuda, do socorro, da solidariedade, das orações, da comunhão constante, da humildade, da edificação mútua, da paz, da esperança...

Sabei que o mesmo Deus que te mantem vivo é aquele que mantem a TODOS igualmente com vida, não faz acepção de pessoas e não separa grupos em pessoas dEle e do diabo, visto que o diabo nada tem e que tudo e todos são dEle.

Glória a Deus!
 
Pesquei no blog da DRI
 
(Grifos meus - RF)
 
 
 

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Marina Morena!





Há pouco, Caetano Veloso descartou do seu horizonte eleitoral o presidente Lula da Silva, justificando: "Lula é analfabeto". Por isso, o cantor baiano aderiu à candidatura da senadora Marina da Silva , que tem diploma universitário.

Agora, vem a roqueira Rita Lee dizendo que nem assim vota em Marina para presidente, "porque ela tem cara de quem está com fome".

Os Silva não têm saída: se correr o Caetano pega, se ficar a Rita come.



Tais declarações são espantosas, porque foram feitas não por pistoleiros truculentos, mas por dois artistas refinados, sensíveis e contestadores, cujas músicas nos embalam e nos ajudam a compreender a aventura da existência humana.
Num país dominado durante cinco séculos por bacharéis cevados, roliços e enxudiosos, eles naturalizaram o canudo de papel e a banha como requisitos indispensáveis ao exercício de governar, para o qual os Silva, por serem iletrados e subnutridos, estariam despreparados.

Caetano Veloso e Rita Lee foram levianos, deselegantes e preconceituosos. Ofenderam o povo brasileiro, que abriga, afinal, uma multidão de silvas famélicos e desescolarizados.

De um lado, reforçam a ideia burra e cartorial de que o saber só existe se for sacramentado pela escola e que tal saber é condição sine qua non para o exercício do poder. De outro, pecam querendo nos fazer acreditar que quem está com fome carece de qualidades para o exercício da representação política.

A rainha do rock, debochada, irreverente e crítica, a quem todos admiramos, dessa vez pisou na bola. Feio."Venenosa! Êh êh êh êh êh!/ Erva venenosa, êh êh êh êh êh!/ É pior do que cobra cascavel/ O seu veneno é cruel.../ Deus do céu!/ Como ela é maldosa!".

Nenhum dos dois - nem Caetano, nem Rita - têm tutano para entender esse Brasil profundo que os Silva representam.

A senadora Marina da Silva tem mesmo cara de quem está com fome? Ou se trata de um preconceito da roqueira, que só vê desnutrição ali onde nós vemos uma beleza frágil e sofrida de Frida Kahlo, com seu cabelo amarrado em um coque, seus vestidos longos e seu inevitável xale? Talvez Rita Lee tenha razão em ver fome na cara de Marina, mas se trata de uma fome plural, cuja geografia precisa ser delineada. Se for fome, é fome de quê?

O mapa da fome

A primeira fome de Marina é, efetivamente, fome de comida, fome que roeu sua infância de menina seringueira, quando comeu a macaxeira que o capiroto ralou. Traz em seu rosto as marcas da pobreza, de uma fome crônica que nasceu com ela na colocação de Breu Velho, dentro do Seringal Bagaço, no Acre.

Órfã da mãe ainda menina, acordava de madrugada, andava quilômetros para cortar seringa, fazia roça, remava, carregava água, pescava e até caçava. Três de seus irmãos não aguentaram e acabaram aumentando o alto índice de mortalidade infantil.

Com seus 53 quilos atuais, a segunda fome de Marina é dos alimentos que, mesmo agora, com salário de senadora, não pode usufruir: carne vermelha, frutos do mar, lactose, condimentos e uma longa lista de uma rigorosa dieta prescrita pelos médicos, em razão de doenças contraídas quando cortava seringa no meio da floresta. Aos seis anos, ela teve o sangue contaminado por mercúrio. Contraiu cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniose.

A fome de conhecimentos é a terceira fome de Marina. Não havia escolas no seringal. Ela adquiriu os saberes da floresta através da experiência e do mundo mágico da oralidade. Quando contraiu hepatite, aos 16 anos, foi para a cidade em busca de tratamento médico e aí mitigou o apetite por novos saberes nas aulas do Mobral e no curso de Educação Integrada, onde aprendeu a ler e escrever.

Fez os supletivos de 1º e 2º graus e depois o vestibular para o Curso de História da Universidade Federal do Acre, trabalhando como empregada doméstica, lavando roupa, cozinhando, faxinando.

Fome e sede de justiça: essa é sua quarta fome. Para saciá-la, militou nas Comunidades Eclesiais de Base, na associação de moradores de seu bairro, no movimento estudantil e sindical. Junto com Chico Mendes, fundou a CUT no Acre e depois ajudou a construir o PT.

Exerceu dois mandatos de vereadora em Rio Branco , quando devolveu o dinheiro das mordomias legais, mas escandalosas, forçando os demais vereadores a fazerem o mesmo. Elegeu-se deputada estadual e depois senadora, também por dois mandatos, defendendo os índios, os trabalhadores rurais e os povos da floresta.

Quem viveu da floresta, não quer que a floresta morra. A cidadania ambiental faz parte da sua quinta fome. Ministra do Meio Ambiente, ela criou o Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo de Desenvolvimento para gerir as florestas e estimular o manejo florestal.

Combateu, através do Ibama, as atividades predatórias. Reduziu, em três anos, o desmatamento da Amazônia de 57%, com a apreensão de um milhão de metros cúbicos de madeira, prisão de mais 700 criminosos ambientais, desmonte de mais de 1,5 mil empresas ilegais e inibição de 37 mil propriedades de grilagem.

"Tudo vira bosta"

Esse é o retrato das fomes de Marina da Silva que - na voz de Rita Lee - a descredencia para o exercício da presidência da República porque, no frigir dos ovos, "o ovo frito, o caviar e o cozido/ a buchada e o cabrito/ o cinzento e o colorido/ a ditadura e o oprimido/ o prometido e não cumprido/ e o programa do partido: tudo vira bosta".

Lendo a declaração da roqueira, é o caso de devolver-lhe a letra de outra música - 'Se Manca' - dizendo a ela: "Nem sou Lacan/ pra te botar no divã/ e ouvir sua merda/ Se manca, neném!/ Gente mala a gente trata com desdém/ Se manca, neném/ Não vem se achando bacana/ você é babaca".

Rita Lee é babaca? Claro que não, mas certamente cometeu uma babaquice. Numa de suas músicas - 'Você vem' - ela faz autocrítica antecipada, confessando: "Não entendo de política/ Juro que o Brasil não é mais chanchada/ Você vem... e faz piada". Como ela é mutante, esperamos que faça um gesto grandioso, um pedido de desculpas dirigido ao povo brasileiro, cantando: "Desculpe o auê/ Eu não queria magoar você".

A mesma bala do preconceito disparada contra Marina atingiu também a ministra Dilma Rousseff, em quem Rita Lee também não vota porque, "ela tem cara de professora de matemática e mete medo". Ah, Rita Lee conseguiu o milagre de tornar a ministra Dilma menos antipática! Não usaria essa imagem, se tivesse aprendido elevar uma fração a uma potência, em Manaus, com a professora Mercedes Ponce de Leão, tão fofinha, ou com a nega Nathércia Menezes, tão altaneira.

Deixa ver se eu entendi direito: Marina não serve porque tem cara de fome. Dilma, porque mete mais medo que um exército de logaritmos, catetos, hipotenusas, senos e co-senos. Serra, todos nós sabemos, tem cara de vampiro. Sobra quem?

Se for para votar em quem tem cara de quem comeu (e gostou), vamos ressuscitar, então, Paulo Salim Maluf ou Collor de Mello, que exalam saúde por todos os dentes. Ou o Sarney, untuoso, com sua cara de ratazana bigoduda. Por que não chamar o José Roberto Arruda, dono de um apetite voraz e de cuecões multi-bolsos? Como diriam os franceses, "il péte de santé".

O banqueiro Daniel Dantas, bem escanhoado e já desalgemado, tem cara de quem se alimenta bem. Essa é a elite bem nutrida do Brasil...

Rita Lee não se enganou: Marina tem a cara de fome do Brasil, mas isso não é motivo para deixar de votar nela, porque essa é também a cara da resistência, da luta da inteligência contra a brutalidade, do milagre da sobrevivência, o que lhe dá autoridade e a credencia para o exercício de liderança em nosso país.

Marina Silva, a cara da fome? Esse é um argumento convincente para votar nela. Se eu tinha alguma dúvida, Rita Lee me convenceu definitivamente.

(Título original - A Fome de Marina - Por José Ribamar Bessa Freire - Grifos meus RF)

Vi lá no Blog da Rô onde dei o meu pitaco:

Pois é, minha amiga!

Taí um texto lúcido que bota no chinelo esses artistas que se acham acima do bem e do mal.
Aliás, fazia tempo que não lia um texto longo sem me cansar ou desistindo antes da metade, justamente porque prende, tem conteúdo, é sério, é corajoso e acima de tudo, pela VERDADE destituída de qualquer apelo emocional.
Ah, e vou aproveitar pra divulgar na minha lista de e-mail e nos meus blogs. É o mínimo que posso fazer e até sugiro a todos que o façam, não silenciemos diante dessa agressividade gratuita travestida de irreverência.
Parabéns ao autor- que já ganhou uma admiradora - a você e a cada um que repudia toda forma de preconceito!!!
bj
R.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Independência





Estamos hoje comemorando um dos acontecimentos mais importantes da nossa História - a partir do qual grandes transformações sociopolíticas aconteceram. Porém, ainda que seja inegável que essa data nos tenha proporcionado inúmeras conquistas, haverá sempre uma incessante busca por liberdade e, conforme as fases que vivenciamos ao longo da existência, sonhamos alcançar vários tipos de independência. A liberdade que conquistamos com a maioridade talvez seja a independência mais almejada. Já a independência – ou liberdade – de expressarmos livremente as nossas ideias, embora também seja igualmente constitucional, é algo pessoal pelo qual lutamos intimamente durante toda a vida, aprendendo, reaprendendo, construindo e desconstruindo formas e conceitos, uma vez que tal liberdade compromete, determina, fere e influencia diretamente as nossas relações socioafetivas. É onde lançamos mão de uma preciosa ferramenta chamada bom senso. Quero dizer, pelo menos deveríamos usar tal ferramenta.

Aí fico eu aqui com as minhas elucubrações... Sim, pois quantas vezes deixamos de nos expressar com sinceridade por temermos magoar alguém? Por outro lado, quantas vezes confundimos sinceridade com ofensa? Quantas vezes, por temermos uma reação emocional negativa, deixamos de levar uma palavra de libertação, ainda que aparente ser dura. E é claro que eu não estou fazendo nenhuma apologia ao sincericídio indiscriminado, mas não são poucas as vezes em que os melindres se tornam sérios empecilhos para uma comunicação clara e transparente; e há ainda outras vezes em que se quer simplesmente usar da liberdade de expressão sem demonstrar algo pessoal e muito menos de teor ofensivo.

É da utilização dessa liberdade que estou falando. Essa liberdade que, longe de se poder usar ao bel prazer, na verdade carrega em si inúmeras facetas aparentemente contraditórias sem regras específicas, a não ser a do Amor. O Amor impresso em nossos corações e que nos dá ousadia para usar dessa liberdade com atitude, expressando um cuidado com o bem-estar do outro, acima de qualquer ato pessoal ou provocativo. Precisamos estar muito atentos, porque muitas vezes temos dificuldade em lidar com a liberdade de não calarmos quando precisamos falar, quando na verdade, agir assim, no momento certo, é ser responsável e fugir quilômetros da hipocrisia. Por outro lado, há de se desenvolver a habilidade de calar-se no momento certo; e, ainda, discernir silêncio de omissão.

É quando percebo então uma liberdade à qual damos o nome de liberdade espiritual onde somos libertos da escravidão para nos tornarmos servos de Deus. É nessa liberdade responsável, nessa aparente contraditória liberdade onde se governa a si próprio, onde se governa o próprio espírito que atuamos de maneira saudável e principalmente agradável a Deus; pois que acima de tudo, é uma liberdade que não permite mais que a velha escravidão cale a nossa boca diante das maravilhas prometidas em oposição às opressões.

É assim que eu vejo e vivo esse ministério. Ministério delegado aos que, paradoxalmente, estão livres em Cristo para servir somente a Deus. Livres para interceder e apresentar a todos o acesso ilimitado a Deus através do próprio testemunho de vida; um testemunho pessoal onde situações peculiares atingidas no mais íntimo do ser culminaram por reorganizar valores, promovendo transformações radicais nos velhos e mofados conceitos, abrindo-nos os olhos para a VERDADE.

Isso, para mim, é independência. E, consequentemente, VIDA. Vida plena, vida em abundância.



“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.

João 8.32

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Mágoas em família



No livro de Números lê-se uma irônica história que se vê corriqueiramente nos corredores da própria casa, da própria família, entre irmãos e parentes próximos. E eu não me refiro a intriguinha de adolescente disputando coisas banais. Falo de competição entre adultos, membros da mesma família que se dizem servos de Deus, ENTRETANTO têm dificuldade em se libertar nessa área do seu teimoso coração de modo que possam conviver coerentes com o que professam lá fora, e principalmente de maneira saudável no nível mental e espiritual, podendo enfim colocar a cabeça no travesseiro com a consciência tranquila de servo realmente obediente. Ou melhor, de servo. Simplesmente servo. Servo que erra, que vacila, que peca, mas que dá o braço a torcer e volta atrás nas burradas que comete. Ou seja: arrepende-se, muda de comportamento.

Desde que me entendo por gente ouço o sábio ditado “errar é humano, permanecer no erro é diabólico”. E quantos de nós conhecemos esse ditado e permanecemos nos mesmos erros... Nossa consciência nos diz que estamos errados, pessoas nos dão toques sutis e, no entanto, insistimos neles durante dias, meses, anos, décadas e até a existência inteirinha, só por orgulho e raiva alimentada e realimentada. Sentimento ruim re-re-re-alimentado, distorcido e valorizado demais que rapidamente se transforma em ressentimento, ocupando grande parte do ser, determinando pensamentos, palavras e ações.

Miriã e Arão, os irmãos de Moisés apontados por Deus para ajudá-lo na retirada dos israelitas da escravidão, em vez de serem seus mais fiéis defensores, falavam contra ele usando como argumento o tipo de esposa que ele escolheu, porém em clara demonstração de irritação e inconformismo pela autoridade dada por Deus, gerando uma briga familiar, provocando séria divisão e profunda tristeza no servo escolhido. Curiosamente, não existe relato de qualquer sinal de ressentimento da parte de Moisés. Pelo contrário, ele orou pela irmã que se viu forçada a distanciar-se do seu povo ao prostrar-se de doença terrivelmente contagiosa. Foi então que Arão, percebendo que aquilo tudo era resultado de uma silenciosa briga pelo pódio, apressou-se em pedir perdão a Moisés pela insensatez de ambos. Este, logo clamou a Deus pela cura da irmã sem considerar nada do que ambos haviam falado de ruim a seu respeito.

Moisés recebeu enorme responsabilidade sem sequer imaginar o que aquilo iria causar nos corações dos irmãos que se apresentavam ciumentos, despeitados, invejosos. O curioso nessa história – e que me prende a atenção - é que dois irmãos ressentidos ficaram com raiva de outro como se este os tivesse magoado... E foi exatamente o oposto! Eles sim, que se deixaram cegar pela competição. Ora, o único “mal” que Moisés causou foi ter obedecido ao aceitar a incumbência para a qual, inclusive, nem se sentia apto.

Esse caso específico nos faz refletir que há, com bastante frequência, situações em que nenhuma ofensa nos foi feita e ainda assim nos sentimos magoados e ofendidos, responsabilizando alguém por um descontentamento interior, algo mal resolvido. Quantos de nós desempenhamos funções de destaque na sociedade, uma responsabilidade maior no meio social em que vivemos e até certa posição de liderança na própria família que podem despertar os mais mesquinhos sentimentos em pessoas próximas e dedicadas. E quantas vezes falamos mal do próprio irmão, queimando o filme dele até para quem não nos é muito íntimo, descarregando boa dose de maldade nas palavras e tudo isso porque estamos descontentes com a nossa vida, posto que a inveja nos prega a velha peça da ilusão ao projetarmos nossa felicidade no estilo de vida daquele outro que parece brilhar mais do que nós. Então, soltamos o verbo e, muitas vezes de maneira fútil e inconsequente, não percebemos que nossa língua é responsável pela imagem ruim que espalhamos de alguém. O autor de Hebreus nos alerta para que não deixemos que brote em nossos corações qualquer raiz de amargura para que não nos perturbe a alma nem contaminemos a outrem. E não é à toa que na Carta de Tiago há um capítulo inteiro alertando sobre a língua solta que nos contamina por inteiro destruindo a vida de alguém.

E será que não nos damos conta que, caindo nessa armadilha, instala-se um clima de raiva e animosidade extremamente perigoso capaz de gerar as mais desagradáveis situações? Será que não é hora de dar uma parada e pensar que a amargura que se guarda finda por gerar doenças, muitas delas irreversíveis? Sim, porque também tem um ditado que ouço desde a infância, que é “quando o coração não pensa o corpo padece” e que tem tudo a ver com muito do que se lê em Provérbios. Isso é muito sério e pode sim, acarretar males terríveis.

Mas eu vejo uma saída! E o nome dessa saída é ORAÇÃO. Eu creio que a oração restaura laços familiares. Não importa quando nem de que forma foram rompidos. Portanto... Simplesmente oremos! Oremos pelas pessoas que nos magoaram, oremos pelas pessoas que achamos que são responsáveis por nossos infortúnios, oremos por aqueles que fazem a nossa caveira espalhando notícias mentirosas a nosso respeito, oremos por quem nos feriu profundamente.

Então descobriremos maravilhados que à medida que oramos vamos liberando perdão e nos esvaziando de todo aquele peso da amargura que nos escravizava e que uma enorme compaixão vai tomando conta do nosso ser...

É o início da Cura!

RF. 

“Seis coisas o SENHOR aborrece, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos”.

sábado, 28 de agosto de 2010

No partir do pão...




Ao longo da história da humanidade, e beeeem antes do Jesus histórico/messiânico, o ser humano sempre foi louco por performance, amando/adorando/curtindo as celebrações formais e os rituais em si, apaixonando-se loucamente pelos mesmos, deslumbrado com o oba-oba dos aplausos e aí não se conforma em descer do palco e conviver de fato com a simplicidade do "partir o pão" cotidiano - ou certamente não consegue enxergar, posto que a visão se restringe ao sensacionalismo religioso - transformando A CELEBRAÇÃO DIÁRIA nas mais diversas encenações e exigências doutrinárias que não passam de meras demonstrações externas vazias e repetitivas. 

E o coração, onde fica? Bem distante das pessoas que estão ali mesmo "no templo" e, consequentemente, distante de Deus. E todos lá... Ironicamente, dentro do templo! Afinal, comer e beber o pão e o vinho em reverência cerimoniosa em meio à platéia é muito fácil; despir-se dessas vestes e SE DAR como pão e vinho, NA PRÁTICA é o que se torna difícil para muitos religiosos.

Esse povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim - repetiria mais tarde o próprio Jesus, em contestação ao sistema de interpretação elaborado/preservado em desacordo com Ele - invalidando a palavra de Deus, negligenciando o mandamento e guardando a tradição.

Como ouvi certa vez, dividir o pão é fundir a alma, mas acontece que o homem tem sede de pódio e no pódio só cabe um!  De fato, o pódio é deslumbrante, altivo... Mas solitário. Ora, o homem não se incomoda com isso, ele quer brilhar sozinho ainda assim. E como são muitos, então segue-se a encenação onde cada um bate no próprio peito e ATUA com a sua reverência pessoal, sua formalidade, enfim um sem número de formas de pseudo-devoção que transformam esse ato em uma brincadeira fútil, egoista e perigosa, posto que vazia, mecânica e impessoal e que nada diz acerca de CELEBRAÇÃO DA VIDA.

Vejo que é aí que entra o repúdio de Jesus ao contestar e transgredir normas culturais e religiosas do seu próprio povo! Pois Ele bem sabia das doenças emocionais, psicológicas e espirituais que surgem dessa coisa toda chamada HIPOCRISIA que só gera mais doença, mais distanciamentos, preconceitos, perversões e os mais agressivos comportamentos, reinfestando e contaminando a todos. Então Ele propôs A CURA - Se propôs como a própria Cura! - e as pessoas não sacaram! Até aos dias de  hoje...

Me chama à atenção uma passagem registrada nos 4 Evangelhos que nos conta sobre a preocupação dos discípulos querendo despedir uma multidão devido ao cair da tarde, sem ter alimento para tanta gente.  Porém, sabendo da importância em estarem ali reunidos, Jesus os demove da idéia, partindo o pão de forma milagrosa e distribuindo com todos ali presentes que comeram e se fartaram. E imagino que lá eles permaneceram, ouvindo o Mestre e ao mesmo tempo celebrando a vida, se confraternizando, se conhecendo, se comunicando, trocando idéias com as inevitáveis - e super saudáveis - conversas paralelas.

Essa passagem já começava a ter importância na desconstrução que se delineava a partir do que eu havia aprendido, de tudo que eu presenciara/vivenciara, de tudo que me intrigava a respeito de ceia, hóstia, ritos sacramentais, celebração, missa, simbolismos, metáforas. Foi quando a ficha foi caindo acerca da inutilidade de tanta coisa...

Então eu me lembro de algo já postado cabendo uma breve ilustração, que é a do livro  'Maravilhosa Graça', onde Philip Yancey cita o clássico 'A Festa de Babette', numa demonstração clara de que a nossa cura está no outro. "A graça veio àquela vila como sempre vem: livre de pagamento, sem cordas amarradas, como oferta da casa".
Uma comunidade austera que foi se permitindo um distanciamento azedando a própria alma, de repente se vê salva por uma estrangeira com hábitos culinários esquisitos que abdicou de COISAS PESSOAIS e - aproveitando uma data especial - resolveu fazer um banquete para UNIR aquelas pessoas. Sem buscar satisfação própria, ela abdicou de si mesma, desistiu de prêmios e pódios, de um vida confortável em potencial, já que ela havia sido agraciada com um grande prêmio - e,continuando nos bastidores do grande teatro daquela vidinha angustiada e sem sentido, arregaçou as mangas literalmente e SERVIU com perfeição, tirando aquelas pessoas do abismo em que se encontravam suas almas.

Servir é simples mas nada glamouroso. Afinal libertar os oprimidos, quebrar cadeias nos outros, abrir a própria alma com o aflito, transferindo o foco do si-mesmo para o outro, implica acima de tudo em desistir das encenações, dos holofotes e dos aplausos.  Durante doze anos foi o que Babette fez,  enchendo de VIDA os coraçõezinhos dos moradores daquela aldeia, por meio de pequenos banquetes curativos diários culminando com o grande BANQUETE servido com a mesma disposição com que diariamente se prestava no seu papel curativo/gradativo e incrivelmente libertador que INCLUSIVE nada tinha a ver com liderança eclesiástica e/ou manifestações de ritos religiosos.

"Discípulas de Lutero que ouviam sermões a respeito da graça quase todos os domingos e no restante da semana tentavam obter o favor de Deus com a sua piedade e renúncia, a graça veio até elas na forma de uma festa, a festa de Babette, por meio de uma refeição desperdiçando uma vida inteira sobre aqueles que não a haviam merecido, que mal possuíam a faculdade de recebê-la".

Então... A tua cura brotará sem detença! -  Diria o profeta Isaías ao presenciar a mistura dos 'ingredientes'  do verdadeiro banquete que agrada ao Pai.

Essa é a única ceia que interessa a Deus.

O mais é ritualismo.


RF.



quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A Carta - Djavan





Não vá levar tudo tão a sério

Sentindo que dá, deixa correr

Se souber confiar no seu critério

Nada a temer

Não vá levar tudo tão na boa

Brigue para obter o melhor

Se errar por amor Deus abençoa

Seja você



No que sua crença vacilou

A flor da dúvida se abriu

Vou ler a carta que o Biel mandou

Pra você, lá do Brasil:



"Eles me disseram tanta asneira, disseram só besteira

Feito todo mundo diz.

Eles me disseram que a coleira e um prato de ração

Era tudo o que um cão sempre quis

Eles me trouxeram a ratoeira com um queijo de primeira

Que me, que me pegou pelo nariz

Me deram uma gaiola como casa, amarraram minhas asas

E disseram para eu ser feliz



Mas como eu posso ser feliz num poleiro?

Como eu posso ser feliz sem pular ?

Mas como eu posso ser feliz num viveiro,

Se ninguém pode ser feliz sem voar?



Ah, segurei o meu pranto para transformar em canto

E para meu espanto minha voz desfez os nós

Que me apertavam tanto

E já sem a corda no pescoço, sem as grades na janela

E sem o peso das algemas na mão

Eu encontrei a chave dessa cela

Devorei o meu problema e engoli a solução

Ah, se todo o mundo pudesse saber

Como é fácil viver fora dessa prisão

E descobrisse que a tristeza tem fim

E a felicidade pode ser simples como um aperto de mão

Entendeu?


É esse o vírus que eu sugiro que você contraia


Na procura pela cura da loucura,


Quem tiver cabeça dura vai morrer na praia."



(A carta - Djavan/Gabriel, o Pensador)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O Evangelho não é bolo...




A proposta de Jesus NUNCA foi religiosa, Jesus NÃO queria fundar uma religião. O Evangelho é muito claro a respeito do que Jesus ensinou e o que Ele combateu enquanto estava conosco em carne, ossos, ligamentos, tendões e sangue.

Jesus propôs consciência e vida santa, justa, verdadeira.

Propôs extirparmos nossos ritos religiosos trocando-os pela consciência do Pai que temos; consciência do Amor que tudo sofre, tudo crê, tudo suporta; Amor que jamais acaba e que é infinitamente superior a QUALQUER outra coisa que possamos ter ou fazer.

Então não faz sentido algum reformar, dar nova fôrma a algo que Jesus NÃO ensinou como vida, como verdade.

A proposta do Evangelho é radical, é viver em graça e misericórdia, é matar o juiz que há dentro de nós que julga os diferentes e só aceita os iguais; é renovar a fraternidade, o respeito mútuo, o amor sem medidas; é perdoar, é nos doarmos, é lançarmos mão dos nossos direitos; é confiarmos na justiça de Deus; é acreditarmos na bondade do Pai; é sofrermos o dano do furto, das agressões físicas e verbais depositando-as no altar celeste mediante oração.

As distinções que as religiões fazem entre o santo e o profano, entre filhos de Deus e filhos do diabo, entre locais consagrados e locais prostituídos; entre aqueles que são fiéis e aqueles que são infiéis; entre a ortodoxia e a heterodoxia, simplesmente não são ensinadas por Jesus. Nunca foi meta, nunca foi proposto esse tipo de coisa por Ele, pois Ele que é o Mestre e o Senhor, nunca esteve nem aí para a religião oficial, para os ritos, para a interpretação que os teólogos faziam de pessoas de Deus e pessoas do diabo, visto que TUDO é dEle e para Ele e o infeliz do diabo nada tem.
 
Pesquei lá na DRI (Grifos meus)

domingo, 15 de agosto de 2010

Performance



Acaba sendo tema recorrente mas quem me conhece sabe que eu - emocionalmente falando - não tenho sentimento nenhum em relação a denominação alguma. Nem de amor nem de paixão, aversão ou mesmo indiferença. Digo isso por estranhar atitudes exacerbadas em relações a fiéis em defesa de suas escolhas religiosas entendendo esse apego como idolatria pura e simples. De repente tem a ver com a minha história particular de ser muito pé no chão (Pé no chão, leia-se transgressora mesmo) nesse lance de tradição, de igrejismo, de instituição religiosa. Ironicamente - por questões de origem cultural - passei uma vida inteira sendo católica PORÉM ainda que em época mais rígida na qual havia distância hierárquica entre os pobres mortais e o "Santo dos Santos" sempre desenvolvi senso crítico em relação à linha católica, tanto no seu sentido mais teológico quanto empresarial , digo, eclesiástico. Ou seja, nunca cultivei apegos, mesmo vivendo e respirando cada espaço físico religioso, sendo criada circulando dentro de conventos, de diocese, de colégio de freiras, transitando entre padres, freiras e bispos com muita desenvoltura e talvez seja por isso que eu estranhe esse apego que vejo nas pessoas religiosas, essa defesa com unhas e dentes, essa luta a ferro e fogo para guardar a tradição dos homens de alguns pentecostais.  (Hoje eu sei perfeitamente porque Jesus foi duro com os pretensos pastores do povo, alertando o quanto tradições podem ser perigosas, quando regras criadas pelas pessoas entram em choque com a Palavra de Deus).

Retorno a esse assunto sempre inesgotável, porque, comentando ontem em blog de um amigo findei por reafirmar por escrito meu sentimento de indignação com certas pessoas que se fazem de certinhas, de escolhidas, de especiais, de servas de Deus só porque seguem uma meia dúzia de regrinhas ligadas a usos e costumes denominacionais. Manipulando a Palavra de Deus, racionalizando, fazendo justificativas e proselitismo. Daí findar por repetir tudo aquilo que nos intriga e nos incomoda nas performances por aí em detrimento de uma real mudança no coração, e, consequentemente nas ações, no modo de ser/agir dentro do contexto social em que vive.

Minha maior indignação é ver líderes usando suas ideias para manipular outros em nome de seus deuses-denominações. E aí estão incluídas as tais profecias que acabam sendo profetadas, palavras vãs, tanto em relação a quem se acha no direito de incorporar uma entidade como se estivesse em plena sessão espírita, quanto aos que as ouvem. São as "profecias" que muitos dizem ouvir/haver apenas em seus átrios religiosos.

Tem de tudo! É um verdadeiro mercado onde o pregador diz que Deus disse isso e aquilo, que não vai faltar comida na panela, que o filho vai ser curado, que pode viajar pra Cochinchina que vai dar tudo certo.  Falando como se fosse Deus e os 'fiéis' como se tivessem ido a uma consulta à cartomante-igreja. Ambos seguindo em linha exatamente contrária ao que Deus nos diz sem que nem seja preciso marchar para a igreja-consultório, por ser uma questão de consciência, discernimento, bom senso. 

Falo de cátedra, por assistir de camarote e presenciando durante anos e anos  tanta encenação. E confesso que existe um incômodo maior em alguns casos específicos nos quais eu focalizo a minha indignação pela capacidade de tanto fingimento, tanto teatro em nome de Jesus; gente que vive dentro da igreja, que jura de pés juntos que é melhor que qualquer um, só porque está lá dentro e no entanto não faz qualquer esforço para quebrar as próprias resistências e simplesmente aprender a amar.

Pessoas tolas e arrogantes que acreditam piamente que é lá dentro que Deus está, somente lá, gente que vive lá dentro onde "Deus está falando"; gente que vive orando e 'louvando' durante décadas e não há nenhuma mudança em seu coração/ser/agir continuando sendo uma pessoa ciumenta, competitiva, cruel, maldosa, invejosa, facciosa, anti-ética, ressentida, mentirosa, bajuladora, enfim, tudo aquilo que Deus diz pra não ser. E "crente e abafando" que está salva, que está na listinha dos escolhidos PORQUE está em determinada denominação.

E eu não iria nunca a certos cultos e não somente por não concordar com gente falando na primeira pessoa como se fosse Deus ou não ter/aceitar pra mim o kit indumentária/véu, cabelo grande/aparência de piedosa. Mas, principalmente, porque me incomoda aquela gritaria imperativa, impositiva. Não faz muito tempo, na "minha" igreja, havia um pastor de outra localidade e um belo dia que eu lá estava ele "se empolgou" e começou a gritar (Eu disse GRITAR) no meio da pregação, instigando o público a fazer o mesmo. Eu simplesmente fui embora. Nunca mais apareci por lá, depois soube que ele tinha ido embora da cidade. (Já falei sobre isso aqui)

Sei que choco algumas pessoas robotizadas (Seria até grande progresso um robô se chocar) e já teve gente amiga e até da família que se ofendeu comigo por essa minha lucidez, inclusive sei de gente que a carapuça cai muito bem, mas que é mais cômodo não ler mais o que escrevo e continuar fingindo que é serva de Deus. Sei perfeitamente o que causa nas pessoas resistentes essa minha clareza em dar nomes aos bois, mas eu não vou deixar de ser fiel à Palavra para agradar pessoas.

Se, cada um de nós que enche os templos - pra cantar, tocar, orar, gritar, se exibir, orar em línguas, clamar, enfim, realizar seu teatrinho pessoal e coletivo - o fizéssemos sem nenhum fingimento, empolgação externa ou emocionalismo choroso, mas de coração sincero, despido de sacrifícios tolos e pretensiosos, determinados a nos livrarmos dessa casca grossa, estaríamos sim, no caminho da santificação onde tudo começa no PERDÃO tão bem colocado pelo amigo do texto comentado por mim.

É no perdão que somos reconciliados com Deus, com nós mesmos e com o semelhante. Semelhante este, que não é necessariamente meu irmão de irmandade. (Vixe, detesto esse termo "irmandade" que por si só já é FACCIOSO) E, havendo dentro da própria irmandade, irmãos facciosos, ressentidos, invejosos, maldosos, bajuladores- que nós sabemos que há, intrigando "aos de fora" acerca dessa relação neurótica, doentia e mal resolvida em sua grande maioria das vezes com os próprios irmãos da irmandade... Imagine com os "estranhos" e principalmente com Deus!

Ora, Jesus é claro: vai primeiro reconciliar-te com teu irmão. E isso porque Jesus sabia que é nesse acordo sem demora que reside a nossa saúde emocional e espiritual. A essa obediência quase ninguém quer saber de cumprir porque dá o maior trabalhão sair do si-mesmo, das próprias teimosias, das próprias resistências, dos próprios conceitos equivocados. É mais fácil seguir uma linha tradicionalista que dá respaldo "eterno" e manter a performance de piedosa. Enganando a si mesma, aos "de fora", à irmandade e ao deus-denominação. Menos ao Deus que nos ESQUADRINHA e conhece todos os caminhos do nosso coração.


domingo, 8 de agosto de 2010

SACRIFICAR PARA QUÊ?



Perguntaram ao rabi Bunam:

O que quer dizer a expressão “sacrificar para ídolos? É impensável que alguém realmente venha a fazer sacrifícios para algo que entenda como um ídolo!”

O rabino respondeu:

Vou lhe dar um exemplo. Quando uma pessoa religiosa ou um justo se senta à mesa junto com outras pessoas e tem o desejo de comer um pouco mais, mas se restringe por conta do que os outros podem vir a pensar dele – isto é sacrificar para ídolos!”.

(Buber, Late Masters, p.256)



O ensinamento começa com o questionamento da lógica da expressão “sacrificar para ídolos”.

Se percebemos que são ídolos, ou seja, vazios e ilusórios e sem qualquer significado real, como é possível fazer “sacrifícios para ídolos”?

A resposta do rabi é de que fazemos isso com mais frequência do que imaginamos em situações em que acreditamos existir qualquer virtude ou ganho possível por conta de condutas ou posturas que representem sacrifícios ao nada.

E quantos de nossos esforços e sacrifícios são, na verdade, “oferendas” ao nada?

Quem precisa de nossas restrições ou de nossas abstinências?

Por acaso Deus precisa de nossos atos morais que visam a ocultar nossa nudez?

Por acaso Deus não percebeu de imediato que Adão havia comido da árvore justamente porque se vestiu e quis ocultar sua nudez?

Ao vestir-se, fez oferendas ao deus do nada ou ao deus de seu animal moral.

Quantas pessoas poderíamos ter tirado para dançar na vida e não o fizemos por ofertar sacrifícios ao nada?

Sacrifício ao deus da timidez, ao deus da vergonha, ao deus do medo de ser rechaçado.

Quantas vezes deveríamos ter dito não em vez de nos desgastarmos para dissimular virtudes que são oferendas idólatras.

Oferendas ao deus expectativa, ao deus cobrança, ao deus culpa.

Quantas oportunidades não deixamos de aproveitar pois “não era conveniente” fazer isto ou aquilo?

Nossa auto-imagem – altar de primeira grandeza aos sacrifícios idólatras – tal como nossa moral, é um instrumento do corpo que não aceita se ver em outro corpo.

O corpo é o responsável por uma intrincada rede de negociações psíquicas para que possamos nos preservar tal como somos. No entanto, fizeram com que acreditássemos que ele nos tenta constantemente com seus desejos.

É a alma que fica inconformada com os sacrifícios vazios do corpo e é ela a responsável pelos atrevimentos, ousadias, riscos e transgressões.

O rabi alerta para o cuidado que se deve ter com abstinências e privações pois, muito mais que demonstrar respeito à vida, elas cultuam deuses menores...

(Fragmento adaptado de “A alma imoral” de autoria do rabino Nilton Bonder – pag.59)



sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Uma mente brilhante


Postei esse texto do CF  (negritos meus) por ter tudo a ver com o anterior (e com algumas equívocos que andei lendo sobre "brilhar"...)

No filme “Uma Mente Brilhante” (“A Beatiful Mind”) sobre a vida do Matemático Americano John Forbes Nash, Russell Crowe interpreta o papel de um homem acometido por esquizofrenia, e que apenas sobreviveu em condições mínimas de trabalho e produtividade em razão de ter confiado no amor de sua mulher Alicia Nash.

Entretanto, o que me leva a evocar a memória do filme (2001) é o fato simples e poderoso que ele apresenta: a mente precisa de aferidores externos a fim de encontrar sua saúde e equilíbrio.

John Nash, brilhante, superdotado, venturoso em tudo o que fazia, subitamente começou a entrar num mundo paralelo tão real quanto tudo o mais que ele chamasse de real, com a diferença de que somente ele via o que via, e, portanto, tratava-se de algo subjetivo e não real para o resto do mundo.

Sua salvação não da esquizofrenia, mas sim da “loucura”, só foi possível porque ele admitiu a esquizofrenia, entregando ao julgamento de sua esposa suas decisões sobre o que era ou não real entre as coisas que via.

Assim, confiando no juízo e no discernimento da esposa, e, sobretudo no seu amor por ele, foi que Nash conseguiu viver com a esquizofrenia sem enlouquecer.

De vez em quando ele tinha de perguntar à sua mulher se as pessoas que estavam diante dele eram reais ou apenas subjetivas em sua percepção, e, assim, conseguiu, mediante a fé no amor de sua mulher, encontrar o termo de aferimento de sua própria realidade.

Esquizofrênicos de um grau ou outro, todos nós somos. Pode-se até não ver coisas ou ouvir vozes, porém, o elemento de falsificação do real habita as mentes de todos nós.
Sim! Nossas mentes são desconfiadas e cheias de impressões falsificadas.

Pensamos coisas sobre os outros que não são reais e interpretamos a vida com critérios de uma subjetividade que raramente casa com os fatos reais da existência.

É assim que o tímido é visto como arrogante silencioso, o falante é percebido como metido, o quieto é olhado como fraco, o prestativo enxergado como interesseiro, o recluso como anti-social, o triste como infeliz, o belo como bom, o feio como mau e o simples como tolo.

De fato quem se entrega à sua própria “disposição mental”, diz Paulo, acaba enlouquecendo dentro do padrão social aceitável da loucura, mas nem por isto fica livre de ver, ouvir, pensar e interpretar de modo equivocado a vida e o próximo.

Para Paulo, entretanto, o aferimento da realidade deveria ser feito de modo existencial pela Palavra.

Isto porque sem a Rocha da Realidade que é a Palavra Revelada, todos nós de um modo ou outro vivemos em “viagens”.

O outro está louco e viajante em suas percepções sobre nós; e nos vê, ouve e julga por tais subjetividades; e, assim, provoca em nós uma outra falsificação: a do modo como o outro no vê; e a cuja percepção equivocada nós determinamos enfrentar, fazendo com que nossa própria mente caia imediatamente em outro terreno de subjetividade que afetará daí em diante a nossa própria percepção do outro e de nós mesmos, pondo-nos numa vereda de ilusão.

Quando Jesus mandou que não julgássemos Ele estava dizendo que o juízo equivocado - como quase sempre é em parte ou no todo - passa a ser o critério de nossa mente. Por isso é que com a medida com a qual medimos somos também medidos.

Todos os dias vejo como tais estados se tornam padrões inquestionáveis e fixos. E como a maioria não tem uma Alicia Nash a fim de confiar e encontrar o termo da realidade, as pessoas vão engessando o padrão da interpretação enganada como realidade.

A salvação de John Nash esteve e está no fato de ele confiar no amor de sua mulher por ele, e, assim, conferir com ela o que era ou não real.

Ora, no que tange a Palavra como referenciadora do que seja ou não real conforme Deus para nós, seu poder de cura e equilíbrio para a mente vem da fé, assim como aconteceu com Nesh.

Sim! Se eu não me disponho a crer no amor de Deus por mim, e se não me ponho na estrada da fé que confia em Seu amor revelado em Cristo, conforme o Evangelho, e se não me entrego a tal realidade pela fé, fazendo aquietarem-se as minhas próprias impressões e juízos — sem dúvida eu e você ficamos loucos ou com a mente falsificada em suas apreensões da realidade.

Portanto, hoje, verifique quais são suas certezas sobre a vida e as pessoas, e veja se elas conferem com o que a Palavra diz.

É a fé na Palavra aquilo que pode me salvar de minhas próprias construções e miragens.

No entanto, ter gente de bom senso e de confiança, e que nos ame, sempre sendo consultados sobre nossas próprias impressões, é algo vital para a saúde de nossas mentes.

Fé e amor continuam a ser os únicos elementos capazes de preservar a integridade de nossas mentes num mundo de falsificações e de construções alucinadas.



sábado, 31 de julho de 2010

Conselho só adianta quando...



Tendo como ofício andar pelo mundo combatendo o mal, Dom Quixote o encontra aonde quer que vá. Embora Sancho Pança se valha de argumentos fundados na realidade para convencer o amo de que o mal é imaginário, o fiel escudeiro nada consegue.

Exemplo disso é o célebre episódio em que, pelo fato de só imaginar batalhas e desafios, o Quixote toma um rebanho de ovelhas por um “copiosíssimo esquadrão”.

Quando Sancho lhe diz que se trata de uma ilusão, ele clama:

- Pois então não ouves o relinchar dos cavalos, o tocar dos clarins, o rufar dos tambores?

E avança de lança em riste sem dar atenção ao conselho do escudeiro:

- Volte, vosmecê... Juro por Deus que são carneiros e ovelhas o que vai atacar.

Nem morto, ou quase morto pelas pedras que os pastores atiram, o Quixote desiste de acreditar que lutou contra um esquadrão inimigo. Alega que, por invejar a sua glória, o Maligno o persegue, faz desaparecer as coisas, transformando até um exército num rebanho.

O Quixote é louco, claro, porque não leva em conta a realidade, mas não é por acaso que nós nos reconhecemos nele. Assim é, porque privilegiamos nosso imaginário. Também nós ouvimos sem escutar e enxergamos sem ver para impedir que o nosso desejo seja contrariado.

Diz o provérbio que, se conselho adiantasse, a gente venderia em vez de dar.

Conselho só adianta quando não contraria O DESEJO de quem é aconselhado.

Segundo Freud, não é possível acabar com uma fantasia mostrando que a realidade é contrária a ela. A fantasia resiste aos argumentos e só se transforma quando o próprio sujeito descobre a sua origem.

Daí a razão pela qual a cura analítica se apóia na rememoração. O analista que se vale da realidade para convencer o analisando a abrir mão do que imagina é quixotesco no mau sentido.

Só é possível agir sobre o desejo fazendo emergir o desejo do outro.

Isso é o que faz o analista se o analisando – ao contrário do Quixote - for capaz de escutar. E, mais ainda, se ele for capaz de se escutar.

Como isso raramente acontece no começo de uma análise, ambos têm de saber esperar.

Adaptado RF

(Texto original: "O risco do conselho" da psicanalista e escritora Betty Millan em Veja de 26 de maio de 2010, pag 159)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Dá-me um novo coração





Existe uma passagem bíblica no Evangelho de Lucas, pela qual sou apaixonada e sempre que possível eu estou lendo e comentando com alguém, como na semana passada por ocasião de um bate-papo informal aqui em casa com algumas pessoas amigas e familiares. (Cf Lucas 19:1.10)

Refiro-me à história de Zaqueu, esse homem poderoso que carregava em si uma história sinistra de exploração financeira e que, mesmo sendo uma pessoa assim de caráter tão repulsivo, teve curiosidade para saber acerca de Jesus a ponto de se expor diante dos mesmos que roubava descaradamente, só para ver Jesus de perto. Sabe-se lá a ânsia que havia em seu peito que o levara a adiantar-se e subir numa árvore (lugares mais altos) de modo que tivesse uma visão mais ampla. E Jesus - que não se impressionava com multidões posto que veio para salvar o perdido - vendo aquele esforço e conhecendo a ânsia do seu coração, escolheu estar em sua casa, escandalizando a todos que estavam à Sua volta. (19.7)

Ora, esses murmuradores que viviam à sua volta são no mínimo suspeitos, pois se seguiam mesmo a Jesus, deveriam saber que Ele não era propriedade exclusiva do capricho milagreiro deles; que Jesus não só entra e come na mesa dos pecadores, como lá se hospeda! Entretanto eles não sabem. E nunca vão saber. Pelo menos enquanto não se converterem como fez Zaqueu. Pelo menos enquanto continuarem apenas como mais um no meio de uma multidão que adora as maravilhas feitas por Aquele homem, que quer os benefícios dessas maravilhas, mas a Ele não se entrega para que maravilhas sejam realizadas em seu próprio coração.

Imagino a mudança radical na vida daquele homem podre de rico. Mudança que tem sua marca no arrependimento vez que ele caiu na real e teve a consciência de dar METADE de seus bens aos pobres e ainda de RESTITUIR quatro vezes mais a quem roubou, explorou, saqueou, sacaneou sabe-se lá como, já que ele era “o maioral dos publicanos”.

É dessa consciência que eu falo e nada tem a ver com cartilhas denominacionais. É desse novo nascimento a partir da REGENERAÇÃO provocando na pessoa algo “diferente” que vai preenchendo o seu coração em processo contínuo que o acompanha pelo resto de sua vida, de glória em glória...

O nome disso é GRAÇA e não há como confundir, pois por meio dela passamos a agir com o amor que não tem a ver com mera complacência e passar a mão na cabeça do mala e sim com atitudes justas, tolerantes e cheias de misericórdia.

Ainda hoje continuamos em meio às multidões que seguem diariamente às igrejas para, cumprimentando irmãos com ósculo santo, entoar cânticos de louvor e “buscar a palavra” que inclusive nem cumprimos posto que os nossos corações estão pedrados; ainda hoje somos parte dos templos lotados com nossas indumentárias e regrinhas religiosas como meios de salvação, enganando aos outros e a nós mesmos com abominável aspecto falso-piedoso, enquanto nossos corações estão repletos dos lixos detestáveis à vista d` Aquele que sonda todos os corações.

Olhando para nós, Jesus certamente diria: já vi esse filme...

E ainda hoje, em meio a essas pessoas religiosas que juram de pés juntos que O seguem, Ele continua o mesmo, sem impressionar-se com suas performances, suas ofertas, suas promessas enganosas, procurando simplesmente jantar na casa de quem não quer fazer parte de um grupo numeroso de oba-oba, mas O quer no comando de sua própria vida, implodindo, desconstruindo e reconstruindo seu coração.

É quando Ele diz:

Hoje, houve salvação nesta casa!

domingo, 18 de julho de 2010

Língua venenosa


(O texto abaixo é reflexo da minha veia de advogada de defesa dos fracos e oprimidos sinceramente arrependidos e da minha indignação grrrrrr com pessoas que se dizem discípulas de Jesus mas que não hesitam em atirar pedras. Que sirva de reflexão para todos nós! "Porque todos tropeçamos em muitas coisas" (Tiago 3:2a)

Embora tendo vivenciado inúmeras situações decepcionantes em relação ao ser humano ao longo da minha existência, jamais perdi a esperança e continuo acreditando nas pessoas, talvez pela consciência da responsabilidade na área do ensino que sempre atuei, ainda que sabendo o quanto é desgastante mexer com conceitos equivocados quase sempre associados a uma forte carga preconceituosa; carga essa instalada justamente pela carência da informação adequada que permite viver melhor, mais leve, mais tolerante, mais livre e mais distante da desinformação e/ou falta de envolvimento real em determinadas situações que alimentam os conceitos pré-estabelecidos e que impedem uma boa comunicação.

Entretanto, não posso deixar de externar a  minha perplexidade em constatar que em meio a tanta informação dinâmica e perfeitamente à mão, há gente preguiçosa, inerte, desinteressada e/ou incapaz de RE-organizar, RE-arrumar, RE-ver, enfim dar uma CONSTANTE checada em seus conceitos, muitos deles confusos, distorcidos, velhos e mofados, preferindo viver na perniciosa contramão da comunicação saudável e transparente.

O grande perigo é quando isso acontece no âmbito das relações onde a desinformação provoca o poder de manipular a verdade e estabelecer situações injustas ao se espalhar uma notícia apimentando seu teor com emoção negativista e pessoal. A pessoa não se dá conta de que tal notícia disseminada dessa forma assume dimensões terríveis tornando-se MENTIRA posto que fora do contexto, generalizada, demonizada. (E será mesmo que não se dá conta? Há casos em que se percebe claramente uma mistura bem dosada de malícia e perversidade).

E, na medida em que se explora determinado fato sem a clareza acerca do mesmo e ainda com fortes pitadas de sentimentos tais como antipatias pessoais, intolerâncias, fragmentos de fatos antigos e pressuposições, vão sendo geradas novas cargas emotivas que findam por prejudicar uma vida inteirinha.

É onde a língua solta contamina a tudo e a todos pondo em chamas toda a carreira de uma vida humana. Com a língua, esse órgão tão pequeno, (Ler Tiago caps 3 e 4) somos capazes de destruir vidas, de queimar o filme do outro, de fazer a caveira literalmente, posto que mata; de manchar para sempre a reputação de alguém com a maldade gerada de nossas próprias racionalizações, nossos auto-enganos, nossa visão limitada da realidade; onde pegamos esses ingredientes no armário do nosso próprio coração enganoso e desesperadamente corrupto (Cf. Jr. 17.9) e colocamos tudo no caldeirão medieval e assustadoramente atual saindo em desenfreada caça às bruxas.

E o mais esquisito, contraditório e repulsivo é que da mesma boca que se amaldiçoa pessoas, como um mal incontido e carregando veneno mortífero, dessa mesma boca e com a mesma língua são ditas palavras doces.

É aí então que eu questiono essa contradição, essa hipocrisia, essa falsa-piedade.

"Acaso, pode a fonte jorrar do mesmo lugar
o que é doce e o que é amargoso?
Acaso, meus irmãos,
pode a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos?
Tampouco fonte de água salgada
pode dar água doce."

Na carta de Tiago esse tema é abordado por meio de conselhos práticos a um povo que tinha suas relações estremecidas pela falta de amor, pelo discurso não-cristão, pelas palavras amargas e ressentidas e pelas atitudes sem compaixão.

E assim, inevitavelmente, eu volto a bater na tecla da maledicência quando ele diz que inveja amargurada e sentimento FACCIOSO nada têm a ver com a sabedoria lá do alto e que antes é terrena, animal e demoníaca.

E complementa que onde há inveja e sentimento faccioso, instala-se a confusão E TODA ESPÉCIE DE COISAS RUINS. E que isso acontece porque a nossa sabedoria é egoísta e revela amargura.

Enquanto que, ao buscarmos a sabedoria lá do Alto, a relação com o próximo passa a ser:

Pura, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sem fingimento.

RF.

" Segui a paz com todos e a santificação,
sem a qual ninguém verá o Senhor, atentando diligentemente,
por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus;
nem haja alguma raiz de amargura que,
brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados".
(Hebreus 12.15) Grifos meus- RF