Nada é melhor do que se surpreender, olhar o mundo com olhos de criança. Por isso as pessoas gostam de viajar. Nem o trânsito, nem a fila no aeroporto, nem o eventual desconforto do hotel são empecilhos neste caso. Só viajar importa, ir de um para outro lugar e se entregar à cena que se descortina.
O turista compra a viagem baseado nas garantias que a agência de turismo oferece, mas se transporta em busca de surpresa. Porque é dela que nós precisamos mais. Isso explica a célebre frase “navegar é preciso, viver não”, erroneamente atribuída a Fernando Pessoa, já que data da Idade Média.
Agora, não é necessário se deslocar no espaço para se surpreender e se renovar. Olha atentamente uma flor, acompanhar o seu desenvolvimento, do botão à pétala caída, pode ser tão enriquecedor quanto visitar um monumento histórico.
Tudo depende do olhar. A gente tanto pode olhar sem ver nada quanto se maravilhar, uma capacidade natural na criança e que o adulto precisa conquistar, suspendendo a agitação da vida cotidiana e não se deixando absorver por preocupações egocêntricas. Como diz um provérbio chinês, a lua só se reflete perfeitamente numa água tranquila.
O que nós vemos e ouvimos depende de nós. A meditação nos afasta do clamor do cotidiano e nos permite, por exemplo, ouvir a nossa respiração. Quem escuta com o espírito e não com o ouvido, percebe os sons mais sutis. Ouve o silêncio, que é o mais profundo de todos os sons, como bem sabem os músicos. Numa de suas músicas, Caetano Veloso diz que “só o João (Gilberto) é melhor do que o silêncio”. Porque o silêncio permite entrar em contato com um outro eu, que só existe quando nos voltamos para nós mesmos.
Há milênios, os asiáticos, que valorizam a longevidade, se exercitam na meditação, enquanto nós, ocidentais, evitamos o desligamento que ela implica. Por imaginarmos que sem estar ligados não é possível existir, ignoramos que o afastamento do circuito habitual propicia uma experiência única de nós mesmos, uma experiência sempre nova.
Desde a Idade Média, muitos séculos se passaram. Mas o lema dos navegadores continua atual. Surpreender-se é preciso. A surpresa é a verdadeira fonte da juventude, promessa de renovação e de vida.
Betty Milan
(Grifos meus - RF)
'Para cada glória e revelação, tem que haver uma correspondente experiência de impotência. É daí que vem o equilíbrio da nossa salvação, da saúde do nosso caminhar e do nosso andar como discípulos de Jesus'.
"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"
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domingo, 26 de setembro de 2010
O gosto da surpresa
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5 comentários:
É mesmo, Regina. Já vi pessoas que não se encantam com nada, sabem o resultado de tudo.
A vida sempre tem coisa que a gente pode admirar, basta um olhar de boa vontade.
Beijos..
É minha linda, as vezes para manter a PAZ no nosso coração, é preciso usar um poderoso aliado chamado silêncio, e nos afastar um pouco do nosso convívio diário e descansar corpo, mente e coração.
Mas não por muito tempo, pelo menos para mim, não dar pra ficar muito tempo sem a conectividade das pessoas que quero bem. Mas é bom sair e sumir um pouco.
bjs!!
Mariani
O que eu achei bacana foi a atenção dada à simplicidade do realmente belo e que depende só da ótica.
Observe que ela fala em surpreender-se e não em deslumbrar-se.
E foi isso que me atraiu nesse texto...
bj
R.
Rô,
O lance é silenciar-se vez em quando sem perder a conectividade...
Bora exercitar :)
bj
R.
O silêncio é necessário em nossas vidas,pois é nele que encontramos o falar de nossas almas!!!
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