"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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domingo, 26 de setembro de 2010

O gosto da surpresa



Nada é melhor do que se surpreender, olhar o mundo com olhos de criança. Por isso as pessoas gostam de viajar. Nem o trânsito, nem a fila no aeroporto, nem o eventual desconforto do hotel são empecilhos neste caso. Só viajar importa, ir de um para outro lugar e se entregar à cena que se descortina.

O turista compra a viagem baseado nas garantias que a agência de turismo oferece, mas se transporta em busca de surpresa. Porque é dela que nós precisamos mais. Isso explica a célebre frase “navegar é preciso, viver não”, erroneamente atribuída a Fernando Pessoa, já que data da Idade Média.

Agora, não é necessário se deslocar no espaço para se surpreender e se renovar. Olha atentamente uma flor, acompanhar o seu desenvolvimento, do botão à pétala caída, pode ser tão enriquecedor quanto visitar um monumento histórico.

Tudo depende do olhar. A gente tanto pode olhar sem ver nada quanto se maravilhar, uma capacidade natural na criança e que o adulto precisa conquistar, suspendendo a agitação da vida cotidiana e não se deixando absorver por preocupações egocêntricas. Como diz um provérbio chinês, a lua só se reflete perfeitamente numa água tranquila.

O que nós vemos e ouvimos depende de nós. A meditação nos afasta do clamor do cotidiano e nos permite, por exemplo, ouvir a nossa respiração. Quem escuta com o espírito e não com o ouvido, percebe os sons mais sutis. Ouve o silêncio, que é o mais profundo de todos os sons, como bem sabem os músicos. Numa de suas músicas, Caetano Veloso diz que “só o João (Gilberto) é melhor do que o silêncio”. Porque o silêncio permite entrar em contato com um outro eu, que só existe quando nos voltamos para nós mesmos.

Há milênios, os asiáticos, que valorizam a longevidade, se exercitam na meditação, enquanto nós, ocidentais, evitamos o desligamento que ela implica. Por imaginarmos que sem estar ligados não é possível existir, ignoramos que o afastamento do circuito habitual propicia uma experiência única de nós mesmos, uma experiência sempre nova.

Desde a Idade Média, muitos séculos se passaram. Mas o lema dos navegadores continua atual. Surpreender-se é preciso. A surpresa é a verdadeira fonte da juventude, promessa de renovação e de vida.

Betty Milan

(Grifos meus - RF)

5 comentários:

Mariani Lima disse...

É mesmo, Regina. Já vi pessoas que não se encantam com nada, sabem o resultado de tudo.
A vida sempre tem coisa que a gente pode admirar, basta um olhar de boa vontade.
Beijos..

Rô Moreira disse...

É minha linda, as vezes para manter a PAZ no nosso coração, é preciso usar um poderoso aliado chamado silêncio, e nos afastar um pouco do nosso convívio diário e descansar corpo, mente e coração.
Mas não por muito tempo, pelo menos para mim, não dar pra ficar muito tempo sem a conectividade das pessoas que quero bem. Mas é bom sair e sumir um pouco.
bjs!!

Regina Farias disse...

Mariani

O que eu achei bacana foi a atenção dada à simplicidade do realmente belo e que depende só da ótica.

Observe que ela fala em surpreender-se e não em deslumbrar-se.

E foi isso que me atraiu nesse texto...

bj

R.

Regina Farias disse...

Rô,

O lance é silenciar-se vez em quando sem perder a conectividade...

Bora exercitar :)

bj

R.

Lia disse...

O silêncio é necessário em nossas vidas,pois é nele que encontramos o falar de nossas almas!!!