Meus dois netinhos amados. |
Já vi muitas pessoas se justificando que não buscam
literatura baseada em escritos bíblicos porque a letra mata e porque Deus não é objeto de estudo. No entanto, eu
vejo algumas dessas mesmas pessoas - que repetem essa frase mecanicamente e sem
muita convicção do que fala - sorvendo livros um tanto estranhos. Por exemplo, para um crente quem se diz tão ascético, literatura como de evangelho espírita me soa
meio contraditório.
Nada contra
qualquer estilo literário. Até porque, independente do teor, geralmente nos
quedamos a determinados estilos em determinadas épocas ou fases da vida. Por
exemplo, houve uma época da minha vida em que eu era fascinada pelo tipo de
literatura do Garcia Marquez (tenho tudo dele!) e do Saramago (quase tudo) e hoje em dia nem tanto... Também já gostei muito mais de suspense com pitadas bem
dramáticas que, atualmente, em nada me apetece. Na minha juventude detestava literatura brasileira por causa da obrigação escolar. Isso trava qualquer criatividade. Mas aí já é outra história...
Sou a favor
de que se leia de tudo: de porcaria à chamada nata literária. Para que se
tenha um conhecimento amplo e abrangente. E, principalmente, porque conhecendo também o que não presta é que, paradoxalmente, se livra de certas boçalidades e preconceitos
culturais e religiosos, à medida, que se vai desenvolvendo uma maturidade, um
bom gosto e um senso crítico bem apurado.
Eu tenho um
neto de cinco anos, que antes de completar quatro, pegou um livro da minha
prateleira e disse: vó, posso ficar com esse livro? Eu achei aquilo muito interessante,
larguei o que estava fazendo e me sentei ao seu lado falando sobre aquele
livro, sobre o autor, sobre um futuro próximo em que ele iria começar a ler aquele livro e tal… Abri
numa página específica e comecei a recitar o clássico amor é fogo que arde sem se ver,
fazendo uma analogia com Coríntios 13. Obviamente, falando em linguagem simples
e acessível à sua idade, sem contudo, subestimá-lo.
O nome do
volumoso livro é ‘Obra Completa de Luís de Camoes’. Fiz uma dedicatória e
entreguei-lhe de forma divertida, mas com leve toque de solenidade, de maneira
que aquilo ficasse em sua memória. Ele não morava aqui mas eu era sempre informada de que,
com frequência, ele dizia: 'me dá o livro do Camoes'. Então se sentava em lugar isolado e fixava a visão em determinada página... E ficava lá
concentrado um tampão como se estivesse lendo. Depois disso, já lhe dei outros
dois do mesmo naipe. Inclusive, um deles, em inglês. Já está virando vício. (Risos)
Alguns podem
pensar que isso é prematuro ou que poucas crianças têm esse talento, mas é
porque não querem enxergar que a tecnologia está ativando o cérebro dessas
criaturinhas de forma cada vez mais admirável e precoce! Ora, se essa gurizada
pega um Ipad ou um Ipod e os manuseiam de forma incrivelmente rápida e
autodidática, porque eles não o fariam com outras informações?
Quanto mais as
nossas adolescentes… Eu tenho uma sobrinha que vai completar 13 anos em agosto
e desde os oito, nove, devora literatura infanto-juvenil e, ultimamente,
alguns bem adultos. Ela até me empresta! Sou meio suspeita por ser sua fã, mas
sua impressionante maturidade a destaca dessas doidinhas fúteis que se vê por
aí. Passando bem longe de ser nerd (nada contra nem a favor rss) nem tampouco pulando etapas. Sendo apenas
uma menina desencanada e gostando de curtir coisas próprias da idade. Eu, que
me considero super moderna e acompanhando sua trajetória de vida
desde o nascimento, fico impressionada com algumas colocações dela frente as
vicissitudes da vida. Bora combinar, com um leque enorme de possibilidades, hoje
em dia quase nenhuma jovem se limita a ler livro apenas do tipo ‘Pollyanna’.
Enfim, me
estendi colocando minha opinião pessoal e abrindo minha vida particular (pra
variar rss) na intenção de ilustrar um pouco a realidade atual que, certamente, é a
de muitos leitores. Não podemos ser ingênuos e querer tapar o sol com a
peneira. A informação está aí batendo na cara dos nossos jovens, instigando-os, desafiando-os. E nenhum pai, nenhuma mãe, nenhum adulto responsável - muito menos um líder
religioso! - consegue controlar isso. A única coisa que se pode – e deve! - fazer
é sentar e conversar, participar efetivamente da vida do garoto e da garota,
dar bons exemplos, exemplos sadios e práticos, quebrando tabus, orientando com
equilíbrio e dentro da realidade atual. E eu falo de orientação na acepção da
palavra, e não da perniciosa repressão notadamente desastrosa realizada nos
meios religiosos.
A proibição
sumária - velada ou explícita - é que incita o jovem, de um lado à
desinformação e limitação, de outro, à busca curiosa bem característica da natureza
humana em qualquer geração. Quero dizer, essa curiosidade nunca foi privilégio da modernidade. E, o pior da proibição: um estímulo à hipocrisia,
e, consequentemente, ao afastamento do meio familiar; ou, no máximo –
igualmente desastroso! – uma relação fingida e dissimulada, que muitos pais
veem como perfeição de família de propaganda de margarina na TV. A História
recente da religiosidade nos tem denunciado isso de forma muito clara. E o ponto
nevrálgico reside justamente nos ensinamentos sistematizados. Sinceramente, eu
não consigo entender como alguns dirigentes religiosos não conseguem atinar
para algo tão óbvio, repetindo os mesmos equívocos doutrinários.
RF.
2 comentários:
Penso beeeem parecido Rê, e creio que quando se possui um coração 'puro', ou mesmo um olhar positivo, somos impulsionados a enxergar positividade em tudo.
Claro que aprendizado não é apenas isso. Aprender é ver o 'bom' e o 'mal'... a ver com bons olhos ou com olhar preconceituoso...
Mas isso é outra história...
Beijos
Então...
Se nossos olhos são bons se extrai beleza da pedra mais bruta. - parafraseando o Mestre rss
besos
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