Acho que o autor não foi muito feliz
na sua analogia AQUI, embora eu assine embaixo da primeira parte do primeiro
parágrafo dele. E não que sejamos gratos pela dor que estamos passando, mas por
termos Deus na dor que estamos passando. E mais: ser evangélica não significa ter essa percepção. Essa evangélica (com todo respeito pela sua dor) é só um exemplo de
milhares delas que conhecem apenas a soberania da doutrina do Deus aprisionado e não
conhecem o Deus Soberano da doutrina que lhe foi ensinada.
Aí está todo o drama interior do cristão, como aconteceu com outro dias atrás que fala,
fala, fala e no fim se denuncia um pobre coitado que CONFESSA preferir
não arriscar; e então se agarra com unhas e dentes às crenças da doutrina com a qual foi
acostumado e viciado durante toda a vida; doutrina essa, tendo-lhe sido
repassada e sendo repassada a todos os familiares, e todos viveram felizes e
equivocados para sempre. Gratidão EM TROCA? Ser grato, sim, mas refém dessa gratidão? Ter que ralar e
dar um duro danado sem o menor sentido para mim apenas PORQUE fui resgatada? É esse o preço? E tem preço?!
Tudo bem que a vida plena, a vida em abundância que Jesus nos propõe - e que já
se inicia aqui na terra - não significa simplesmente uma rede, uma sombra e a
água bem fresquinha. Bem como, ralar e ralar dia e noite, sem qualquer
motivação interior e só em função da gratidão de quem me resgatou, é algo meio
vazio e superficial, que finda por gerar em meu ser apenas sentimentos ruins, não me parecendo exatamente uma proposta de vida plena. Jesus disse no mundo tereis aflições. Ele não disse: no mundo só tereis
aflições. Eu conheço uma irmãzinha (essa já se tornou foi cínica!) que, para
justificar as porradas frequentes que leva do marido, adora citar essa fala de
Jesus. Há de haver gratidão eterna? Sem dúvida! Mas também um sentido maior e que está
além de uma troca de favores.Acho assim: por tudo dar graças. Ponto! O problema todo é que as pessoas religiosas APRENDERAM que dar graças só está
ligado a coisas boas.
Tenho um exemplo bem recente:
Dias atrás, na recepção da UTI em que minha mãe estava internada, ouvi uma
pessoa (um crente confesso!) dizer ao telefone: 'pode começar a dar graças a
Deus porque ela já está fora de perigo, se recuperando'. Confesso que me controlei para não entrar naquele diálogo. Ou então eu entendi muito mal aquilo que ouvi. Vai saber... Mas, sem querer julgar a pessoa em questão, não posso negar que a frase em si me chamou à atenção.
Quer dizer que no momento do 'perigo' a gente pára tudo?! E ninguém dá graças a
Deus nesse meio tempo?! Eis aí um dos maiores equívocos dos religiosos. Porque dar graças a Deus não
se resume a um costume cristão de ir lá no templo, se ajoelhar e agradecer a
Deus por determinada situação acontecer batendo exatamente com o
que eu queria, com o que eu estava desejando.
Dar graças a Deus é reconhecer que Ele está no controle de tudo. Daí o mote:
'por TUDO dai graças'. É ter planos, ser disciplinado nos intentos, no que se almeja pra sim, mas por mais que se emaranhe nas próprias racionalizações, ter a certeza, lá no âmago do ser, de que será como Deus quiser. Que bom quando o sonho da gente se
alinha ao sonho d'Ele! Mas isso não pode nos remeter ao extremo do nosso
espírito pagão de que o mérito é nosso e que Deus reconheceu; nem tampouco o
outro extremo, igualmente pagão, de que vou ter que me sacrificar e me sujeitar à doutrina porque Deus me atendeu. Isso me lembra do espírito pagão da
troca que havia em Naamã quando restaurado de sua lepra (2Reis 5) pelo profeta
Eliseu, e que, mesmo reconhecendo que em toda terra não havia outro Deus senão o de Israel (5.15)
queria, insistentemente, dar um presente ao profeta que o recusou. E quantas
variedades de Naamãs existem no mundo evangélico por aí...
Há uns anos eu dei certo suporte a um casal de crentes (batistas) que veio
do interior pra daqui seguir pra os EUA onde o filho estava para ser operado de
várias cirurgias delicadíssimas em função de grave acidente de carro que
colocou sua vida em alto risco. A primeira foi de amputar a perna, antes mesmo
de eles lá chegarem. E as outras cirurgias, não menos delicadas porque várias
costelas estavam quebradas comprometendo (e perfurando com hemorragias) os
órgãos vitais que elas protegem. E os pais, enquanto resolviam questões
burocráticas de renovação de visto e tal, passando ainda aqui alguns dias,
deram uma lição do que seja vida com Deus, verdadeiramente. Em nenhum momento
eles se desanimaram ou deixaram de dar graças a Deus por tudo. E eu, que imaginei estar-lhes dando suporte,
entendi que eles me deram outro tipo de suporte ensinando-me o que é necessário e na
exata medida. Era impressionante constatar tamanha fé
mesclada com imensurável dor. Mais
impressionante era testemunhar em seus espíritos a certeza de que Deus estava no
controle de tudo e captar aquela estranha paz que está além de qualquer
entendimento. E, embora ainda esteja no Jardim da Infância desse aprendizado para uma vida prática genuinamente cristã, para mim isso é dar graças a Deus! O resto é vício religioso.
RF.
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