Muitas vezes não damos o devido
valor à liberdade que temos nos gestos mais simples do nosso cotidiano como pessoa civil. Também
nem atentamos para o fato de que hoje em dia vivemos livremente em sociedades devido
a conquistas de determinados homens que lutaram pela nossa liberdade. Não, não me refiro a lutas por terras, e sim à luta em prol da liberdade de nossas mentes.
‘A razão é
capaz de evolução e progresso, e o homem é um ser perfectível’ - diria um grande pensador do século dezoito. E, perfectível,
não no sentido de tornar-se perfeito, isso seria mera pretensão. Mas em relação
ao desenvolvimento das suas potencialidades, que ele só consegue ao sair do seu
estado ‘in natura’ e partir para o meio coletivo organizado de maneira
igualitária e justa.
Este pode parecer um pensamento
romântico, mas eu penso que devemos sempre nos reportar ao legado
de grandes pensadores que vem de lá da Antiguidade grega, antes de Cristo, passando pelos marcantes séculos dezoito e dezenove; e
que não cessa nunca, pois que nossa evolução como ser humano – em todos os
sentidos - é um processo constante e inacabado, de modo individual ou coletivo, seja em que âmbito for.
No decorrer da História
observamos que os pensadores - desde os mais destacados aos de menor projeção -
todos eles deram valiosa
contribuição, de maneira que o precedente sempre se beneficiava das ideias do
seu precursor. Os grandes discípulos abraçando a ideia do seu mestre e acrescentando
suas próprias, trazendo-as à realidade do seu povo, que, por sua vez, transmite
naturalmente às gerações posteriores; sempre surgindo pessoas que o faziam de
maneira impactante, influenciando e induzindo a grande massa a pensar. Essa era a ideia...
E, assim, foi-se escrevendo a
história, tendo como elemento marcante, o fato desses grandes pensadores terem
sido muito perseguidos pelo sistema opressor de suas épocas. Isso, porque batiam de frente com os interesses particulares da minoria que trazia o povão em rédea
curta. Muitos pensamentos atuais se alinham exatamente ao pensamento de séculos
atrás. Precisamos viver em grupos sim, mas com o objetivo de nos conservarmos e
jamais de nos deixarmos encabrestar por um dirigente reacionário. Vida em
sociedade não pressupõe privação de liberdade. Os homens se agregam formando um
conjunto de forças - e não para se submeterem à escravidão de um sistema
opressor. O autor de Eclesiastes já dizia que ‘um homem sozinho pode ser
vencido, mas dois conseguem defender-se. Um cordão de três dobras não se rompe
com facilidade’ (4:12)
Ao longo da história, vemos a
relação entre rei e povo, senhor e escravo, guru e fiel, e constatamos que o
interesse de um só homem - individualismo - será sempre o interesse privado. (Atente-se para a diferença entre individualismo e individualidade)
Então alguns
pensadores acreditavam que ambos deveriam fazer um acordo: abrir mão de certos direitos
(individualismo, egoismo) para obter as vantagens do bem
comum; perdendo parte de sua liberdade natural e ganhando liberdade civil.
Tais pensadores eram tão
espantosamente à frente de seu tempo que até aos dias de hoje suas ideias são
aplicadas em todas as áreas, nas quais o bicho homem se ajunta. Afinal, quando
se trata de defender direitos humanos o assunto é antigo e remonta os tempos da
gênesis, sendo revisto ao longo da
história, conforme o contexto histórico e a cultura de cada povo.
Inconformados com a intolerância
teológica e civil e, por isso, muitas vezes rotulados de hereges, eles não se deixavam intimidar e seguiam
abrindo o olho das pessoas em relação à sua liberdade individual em prol de um
bem comum de verdade, no qual o povo é soberano. Alguns mais brilhantes com seu estilo apaixonado e eloquente, e dotados
de grande inteligência e imaginação, ensinavam ao povo (na sua grande maioria, culturalmente analfabeto
e ignorante) que, pela razão, ele
poderia conquistar a liberdade e a felicidade social, política e religiosa. Isso
incomodava aos dirigentes acostumados a manipular as grandes massas.
Sim, acostumados, pois esse terrível hábito é uma coisa cultural. Afinal, no início de tudo, os reis eram os deuses
e o governo era teocrático. Cada povo tinha que se submeter ao sistema conforme a crença local.
E esse politeísmo gerou a intolerância teológica e
civil.
Os reis eram os chefes da Igreja e o clero era senhor e legislador da
Pátria. O interesse do clero era mais forte do que o interesse do Estado.
Assim, a lei ‘cristã’ era mais prejudicial do que útil à forte constituição do
Estado.
Naqueles tempos, sem leis para proteger-lhes
de perseguições por abrirem o bocão, os grandes filósofos já rejeitavam abertamente a religião alicerçada
nos deuses, patronos próprios e tutelares que determinado país impunha a seu
povo; com seus dogmas, rituais, e culto exterior prescrito por leis, os direitos
e deveres dos homens não podiam ir além dos seus altares. E quem não os
cultuavam era considerado infiel e punido conforme decisão dos juízes que brincavam de pequenos deuses. Não se tratava de conversão, mas de submissão
às leis religiosas.
E, ainda, considerando como bizarro, alguns pensadores repudiavam o
sistema que dava ao homem duas legislações, dois chefes e duas pátrias, submetendo-o
a deveres contraditórios, impedindo-o, a um só tempo, de ser devoto e cidadão. É
bem o que acontece hoje em dia nas denominações fundamentalistas. E eu não me refiro a extremistas de outros países...
Rousseau (chamado de herege pela
cúpula eclesiástica à época) defendia a religião do homem natural - desprovida de templos, altares
e ritos, limitada unicamente ao culto interior do Deus Supremo e aos eternos
deveres da moral - como sendo a forma mais pura e simples; sendo, portanto, a
única maneira saudável de se viver o evangelho, por ser verdadeira e os homens
filhos do mesmo Deus se reconhecerem todos como irmãos, e a sociedade que os
une não se dissolve nem mesmo na morte.
Pensemos nisso...
RF.
Pensemos nisso...
RF.
2 comentários:
Perfeito texto.
É engraçado que hoje, dada a liberdade que temos, sejamos tão opressos em nossos pensamentos, em nossas individualidades, simplesmente por crermos em Deus, e precisarmos de estar sob uma doutrina, uma denominação religiosa, sob a cunha de sermos desmerecidos se lá estamos e não concordamos com tudo.
Ainda me disseram para sair de onde estou, porque seria melhor ir para um lugar onde eu concordasse com tudo. Bem, algum destes poderia encomendar a minha passagem desta para outra vida - creio que só lá, aos pés de Jesus, e louvando a Deus, é que não haveria homem que se sobrepujasse em pensamento ao que Ele nos deixou aqui - e aí, eu concordaria com tudo. *.*
Erica,
Já faz muito tempo, uns 30 anos ou mais, que conheço essa doutrina que vc fala, e fico sempre impressionada com as repetições mecânicas (e cruéis) que a grande maioria faz em relação ao achismo doutrinário deles.
É como se Deus tivesse determinado que uma minoria dentro de determinada denominação dita cristã, fosse seu povo aqui na Terra. E, os que lá dentro estando insatisfeitos é porque não pertencem a essa casta supostamente escolhida por Deus. São muitas e gritantes as contradições com o Evangelho da Graça, mas eu confesso que eu me assusto mesmo é com o uso indiscriminado com o nome de Jesus.
Enfim, coisa pior fizeram com Ele e no entanto Ele apenas pediu clemência ao Pai, pois 'aqueles' não sabiam o que faziam. Rogo para que 'estes' também não saibam o que estão fazendo...
Beijo grande!
R.
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