"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Querido diário...




Todos nós sabemos que blog é um tipo de diário, porém um diário às avessas, pois sendo virtual ele perde suas principais características como a privacidade e o sentido de confessionário particular de si para si mesmo. E, apesar da exposição consentida, só conseguimos compartilhar os anseios e as desilusões do nosso cotidiano em parte. Pois na mesma proporção que se escancara a alma para o mundo, há uma tentativa quase inconsciente de se mascarar a realidade, por vezes dourando a pílula ao ousar dissertar sobre infortúnios pessoais, chegando-se outras vezes ao extremo de encarnar o papel de “Poliana” onde o tom da cor é puxado para o rosa. Tudo bem, até aí nada contra, afinal é o olhar que dá o tom; e depois, uma pitada de reserva aqui e ali é sempre bom para a autopreservação.

Entretanto - e talvez devido a um receio de passar a ideia de que estamos murmurando, de que somos complicados e até de não sermos “abençoados” - incorremos no erro de aderir a uma filosofia bastante sutil e cada vez mais usual, cujos princípios dizem que está todo mundo muito bem, que todo mundo é feliz e realizado. E, principalmente pelo medo de ser julgado, criamos uma capa protetora. Inclusive o próprio escritor nato já traz em si essa marca. Ele é um poeta da prosa e, como todo poeta, sonha sempre com dias melhores atenuando as dores do mundo em meio a um jogo de palavras muito bem elaborado, embalando corações ávidos pela realização desse mesmo sonho coletivo.

Na verdade, convenhamos... Quem acessa a net pra se lamentar, desabafar ou contar uma bronca que está passando? E quem quer saber? - É um saco, isso! – diriam os mais insensíveis. Ninguém acessa MSN e vendo que um fulaninho querido está conectado aproveita pra dizer que se desentendeu feio com o pai, a mãe, a tia, a avó, a irmã, o cunhado, o vizinho, o porteiro do prédio, o colega de trabalho. Em relação ao bate papo informal, ainda que se pertença à mesma tribo, via de regra o assunto é à base da trivialidade, da abobrinha, enfim, só jogando conversa fora. Pedir um conselho? Nem pensar! É todo mundo muito bem resolvido e auto afirmado. É só alegria, do tipo “então não me conte os seus problemas, hoje eu quero paz, eu quero amor” em um compartilhar veladamente autoritário e egoísta no qual o sentido de paz e de amor é totalmente distorcido. Sem falar da briga silenciosa de egos cada vez mais acirrada na “blogosfera cristã”. Não é necessário muita perspicácia para se perceber essa frequência nas estratégias usadas pela supervalorização do número de seguidores, nos textos escolhidos e nos comentários de blogs.

E tudo isso se reflete nas relações fora da web de forma cada vez mais assustadora. E vice versa.

Falo isso sem medo de ser julgada e confesso que o que me estimulou a expor essa minha ânsia foi uma conversa informal aqui e ali com algumas pessoas que captaram o mesmo que eu. Pessoas tão normais quanto eu; pois, longe de sermos amargurados, somos gente que ri, que brinca, que até não leva os dramas da vida tão a sério, que se assume como gente falha e cheia de defeitos, porém gente valente que batalha. E não em uma batalha a ferro e fogo, com unhas e dentes, mas a velha batalha para a qual se vê preparada diariamente e na qual se rema contra a maré, paradoxalmente serena e na paz que excede o entendimento. É como muitas vezes se encontra nossa alma: na paz, embora triste e perplexa. Triste e perplexa, porém jamais angustiada e desanimada. Posto que na luta!

O certo é que, devido a vícios e crendices culturais e religiosos, demora um pouco para se entender que não se trata de uma luta mística e que não há setas ou escudo invisíveis; que é uma luta bem real do nosso cotidiano e sua base reside nos pensamentos que impulsionam as ações de todos à nossa volta. E, claro, que tem “alguém” minando tais pensamentos. Usando de mentiras sórdidas e de falsas verdades, nosso adversário nos coloca em conflito tentando sugar nossas forças e, assim, nos abater com pensamentos que nos enfraquecem a fé.

Com argumentos que semeiam o mal entendido que vai gerar a dúvida, a discórdia e até grandes rupturas, o inimigo de nossas vidas quer nos afastar de Deus e das pessoas. Essa é sua missão em oposição ferrenha ao plano de Deus. Essas são as “forças espirituais do mal”. Daí ser uma batalha espiritual. E a batalha é espiritual, porém todo o conflito é no campo das ideias, do intelecto, da mente; com seus conceitos, princípios e valores, e todo um fascínio dirigido aos projetos e realizações pessoais.

Enfim, é claro que é importante saber acerca do caráter e da obra do nosso adversário, mas acima de tudo, devemos guardar em mente que ele está debaixo do controle soberano de Deus e que ele pode ser um meio pelo qual Deus realize alguns dos Seus propósitos, aniquilando suas investidas em momento oportuno.

Portanto, por mais que estejamos nos desentendendo, nos afastando uns dos outros, caindo nas armadilhas sórdidas daquele que é repulsivo e essencialmente mau, sabemos que temos a Quem recorrer. E, quando nos humilhamos em Sua presença, em demonstração de completa dependência Ele nos exalta, concedendo Sua GRAÇA.


“Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”.
(Tg 4.7)

12 comentários:

Elídia :) disse...

amei Regina, q texto sincero e tocante...me fez pensar, bjs amiga!

Priscila Gonçalves disse...

Oi Regina...
Primeiramente quero agradecer por seguir meu blog...
Em segundo lugar, reconheço que esses relacionamentos virtuais, são cada vez mais virtuais mesmo... no sentido que há pessoas que pintam uma paisagem romântica de que está tudo bem, enquanto na verdade a realidade não é essa.
os relacionamentos são fúteis e superficiais...
mas com o passar do tempo, dá sim pra fazer amigos do tipo "real" rs...
com quem possa conversar, se for o caso até compartilhar situações, desabafar, pedir conselhos e aconselhar...
Sei disso porque tenho amigos assim... que são uma benção mesmo!
O verdadeiro problema é que há pessoas que fazem do mundo virtual, o seu ideal, e é aí que a mente, se não estiver em Deus, corre sério risco, pois recebe várias influências malignas a ponto de fazer com que a fé seja enfraquecida.
Concordo com o seu ponto de vista!
Mas também acredito que possa haver um relacionamento virtual saudável pautado na verdade de Deus
Tenha um boa Quinta!
Bjos
Pris

http://cantinhodapris.blogspot.com/

Wendel Bernardes disse...

Sim Regina.
É mais fácil assim...
mais fácil mascarar nossas fraquezas com um linguajar culto, com um espelho distorcido de irrealidades eclesiásticas ou mesmo uma boa mentira descarada!

Isso nos faz cada vez mais nobres e 'seguíveis' na blogosfera, twitter, orkut ou o que valha... mas nosso vazio é inexoravelmente comprovado pela nossa vida sedentária (espiritualmente falando) e virtual!

Não virtual segundo a ótica de quem enxerga o mundo com uma LCD plana com 17 polegadas, mas virtual de quem finge ser o que não é.

Curioso você citar o nosso inimigo, afinal foi ele quem criou o conceito da 'virtualidade mentirosa' quando pra ingênua Eva, se mostrou alguém muito descolado e profundo conhecedor de Deus e Seus conceitos de bem e mal...

Estamos onde?
Estamos ainda ouvindo as falácias da serpente. Comendo frutos de conhecimento, que não nos levam a lugar algum, senão no começo de tudo, como no pecado de Gênesis, ou seria no final de tudo?

Não existem megagospelstars da web.
Não existem supercrentes na 'vida real'. O que existe é gente que peca, mas quer mudança.
Que cai, mas quer prosseguir. Que "porfia por entrar na porta estreita" e rejeita a "porta larga".

Ótima postagem, viu?
Grande meditação!

Abraço, querida!

Ricardo Mamedes disse...

Cara Regina,

Um texto irrepreensível, maduro, equilibrado. Gostei muito.

A maior certeza nesse mundo tão conturbado, às vezes belo, outras vezes hostil, é que Ele nos sustenta e nos preserva. E então nos lembramos que a "sua graça nos basta".

Grande abraço!

Ricardo.

Regina Farias disse...

Elídia,

Fico feliz que vc tenha gostado e captado algo para reflexão. Essa é a ideia... :)
Volte sempre!
bj

Pri
Observe que a abordagem é em relação à nossa natureza humana(seja onde for)não há crítica ao mundo virtual EM SI e eu não apenas creio em amizades verdadeiras assim, como tenho uma experiência saudável nesse sentido há 15 anos.
Experiência beeeeem mais recente é o "Café com Leite Crente", blog feito a partir de amizade "virtual" entre três pessoas de lugares diferentes e que têm em comum o Amor de Cristo.
Enfim, dou graças a Deus pela web, net, blog, enfim por todas as redes sociais rss (A propósito, estou acompanhando a monografia de um filhote sobre redes sociais e estou amando)
Boa quinta pra ti tb
bj

Wendel,
Exatamente! A questão é o fingimento pois não existe supercrente em lugar nenhum do mundo. Desconfio desses "abençoados" embora corra risco de ser julgada turrona.
Mas eu prefiro confiar em quem admite que "caiu" mas quer seguir em frente.
Valeu!
R.

Regina Farias disse...

Ricardo,

Muito me alegra que você tenha captado a mensagem...

Vejo que tal inquietação não é apenas minha.

Inclusive tem algo curioso nessa suas breves e contundentes palavras. Você disse algo valioso que eu quis colocar mas aí eu findei optando por não usar versículo explícito. Até escrevi e tirei mais de uma vez rss

"A minha graça te basta" - nos diz um Deus amoroso quando Lhe pedimos para afastar de nossa vida aquilo que tanto nos incomoda e que achamos que é empecilho para nossa vida quando muitas vezes é ferramenta divina para nos moldar.

Abs,

R.

João Carlos disse...

Minha bispa preferida,

Demorei em ler e comentar pois queria fazê-lo com a atenção necessária.

Você bem sabe que eu exponho minhas entranhas nas minhas postagens. Quem me conhece, mas de alguma forma está distante de mim fisicamente, pode saber exatamente como estou através do que posto no meu blog.

Minha intenção primeira é escrever para mim mesmo, como você bem comparou com um diário. Lá eu choro, dou risada, dou a dica do que estou ouvindo, vivendo.

Em segundo lugar escrevo para todos os que se dispuserem a perder seu precioso tempo comigo, sem contudo ter preocupação nenhuma do que vão achar de mim, de meus pontos de vista, de minha história.

Quero com isso mostrar que para ser um cristão verdadeiro não há necessidade de viver "de glória em glória", nem como "cabeça e não cauda" 24 horas por dia, 7 dias por semana. Quero mais é que saibam que um cristão maduro também tem suas dúvidas, fraquezas, questionamentos, momentos de ira etecétera e tal.

Pode parecer contraditório, mas é assim que eu creio, é isso que tenho visto na vida de quem realmente está no campo de jogo, caindo, levantando, se contundindo e se recuperando. ODEIO a postura de quem assiste a vida da arquibancada, a tal da "turma do amendoim" que só sabe criticar, dar pitacos, parecer os "supercrentes", as "quartas pessoas da Trindade".

Eu sou o que sou: O esboço de uma obra inacabada, mas andando firmemente na direção certa, pelo CAMINHO. Quanto ao resto, tomei Actívia com Johnnie Walker: Tô cagando e andando!

Estou assim pra quem critica por criticar, sem contudo ter conteúdo para manter seus argumentos por mais que três ou quatro "réplicas, tréplicas, etc".

Também estou assim para quem bate e sai correndo, coisa muito vista nos comentários de alguns, que polemizam por polemizar, sem contudo chegar a lugar nenhum.

Estes me lembram aqueles que Jesus comenta no Evangelho de Mateus, capítulo 11, versos 16 a 19:

“Mas, a quem compararei esta geração? É semelhante aos meninos que, sentados nas praças, clamam aos seus companheiros: Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamos lamentações, e não pranteastes. Porquanto veio João, não comendo nem bebendo, e dizem: Tem demônio. Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores. Entretanto a sabedoria é justificada pelas suas obras”.

Para gente assim, nada está bom. E eu quero que se lixem!!!

Até e também por isso, parei de comentar em “blogões”, usando-os como “trampolim” para tentar ganhar “sucesso e notoriedade” em suas carreiras como “escritores”.

“Quero” poucos e bons seguidores. Mesmo porquê me considero altamente periculoso. Não sou para qualquer um seguir. Quem garante que eu não “estou perdido” (risos!!)

É isso ai! Era para ser um comentário e virou um post!!!!

Beijos em minha bispa preferida!

João Carlos disse...

Wendel meu querido irmão...

Havia lido apenas o texto da bispa. Só agora comecei a ler os comentários...

Caraca! Como a gente pensa parecido!!! Acredite: Escrevi meu comentário sem ter lido o que você escreveu!

Forte abraço e, se tiver um tempo, passa lá no meu humilde blog!

JC

Regina Farias disse...

Pastor:

“Quero” poucos e bons seguidores. Mesmo porquê me considero altamente periculoso. Não sou para qualquer um seguir. Quem garante que eu não “estou perdido” (risos!!)

Assino embaixo

he he

Regina Farias disse...

Caraaaaaaaca, pastor

Dava um post e meio afe!

Ou melhor: parte um e parte dois :)

Anselmo Melo disse...

Que coisa maravilhosa!!! Já tinha uma "Rô" lá no meu "roll da fama" rs, no meu blog, agora vem uma "Rê"... Que maravilha...Mas a verdade é uma só minha irmã, o tal orgulho mexe mesmo com nossa cabeça, é preciso estar atento para não cairmos nestas ciladas. Que Deus abençoe ricamente a sua vida. Abração. paz!!!

Regina Farias disse...

Pastor Anselmo,

É uma honra tê-lo aqui também :)

Quanto aos textos (lá e cá), bem que o autor de Eclesiastes já nos alerta sobre essa coisa da competitividade no palanque e o que a move: vaidade da vaidades...

Obrigada pelo carinho,

Rê.