Estava pensando cá com os meus botões nas nossas exposições diárias e em como somos frágeis na nossa necessidade de nos agarrarmos a determinadas referências. Há uma exigência pessoal silenciosa de se pertencer a algo bom, de se estar ligado a algo de alguma forma. Algo que nos dê destaque, que nos coloque bem na fita, definindo as nossas preferências. E isso se reflete no mundo virtual, particularmente no meio blogueiro, através das colocações, dos comentários, linhas e entrelinhas. A apresentação visual escolhida do blog, por exemplo, diz muito da nossa personalidade: de cara, percebe-se ética e estética pessoal; nos textos e comentários, a alma se revela; expomos nossos gostos pessoais ligados ao corpo e aos prazeres básicos como sexo, comida, bebidas, leituras, viagens que evidenciam nosso jeito de ser e de viver, nosso caráter, nossa personalidade.
Precisamos de referências como uma espécie de informação de como somos capacitados e por isso devemos ser amados e respeitados. Até a mulher fútil e abastada precisa se auto afirmar. Ela quer ser adorada pelos adereços que carrega na bolsa, nos óculos, no sapato e na correntinha reluzente que arrasta seu filhote canino. Há ainda quem se esmere quase que exclusivamente no culto ao próprio corpo onde cada músculo definido diz: eu sou respeitado e valorizado porque faço academia, me cuido, me alimento bem. Todos querem se sobressair, chamar a atenção para si de alguma forma em apelo gritante como que dizendo “me ame, por favor”. Ou, no mínimo: “exijo respeito”. É como disse muitos anos atrás uma amiga negra muito inteligente, pobre, filha de empregada doméstica e mãe solteira, considerando suas possibilidades: "eu só tenho como ser respeitada estudando”. É uma necessidade de autoafirmação quase vital e que permeia todos os recantos por onde passa o bicho homem e sua pequenez. Tire-lhe todas as coisas caras, títulos e qualquer referência que carregue e ele fica literalmente despido. Tire-lhe os indicadores que possam abonar sua capacidade e ele fica completamente desnorteado. Como disse um pastor em pregação um tempo atrás: sabemos o grau de valor de algo em nossa vida quando vivemos sem ele.
Houve um período em minha vida – quando o mundo fashion não era ainda tão versátil - em que me vi obrigada a adotar um estilo diferente devido às circunstâncias (tive quatro filhos em quase quatro anos, seis gestações em seis anos, sendo dois abortos espontâneos) e aí, naturalmente eu tive que dar uma reorganizada nos meus valores, e é claro que isso refletiu na minha exterioridade, no meu rótulo, na minha embalagem. Então eu me arrumava cada vez mais com muita simplicidade e praticidade, devido ao tempo restrito e às novas prioridades. Enquanto minhas amigas se enfeitavam, raramente eu me maquiava, optando por usar roupas básicas já que vivia grávida e me sujando de cocô, xixi e golfadas (dos filhotes rss). Adereços e maquiagem nem pensar! E o bom é que eu me sentia super confortável daquela maneira sem, contudo, perder a elegância. Afinal, bora combinar, elegância não está atrelada a adereços e maquiagem, e sim, à postura de modo geral. Daí, um belo dia eu me surpreendo com uma conhecida perua do meio me dizendo que admirava meu estilo despretensioso, mal sabendo ela que eu já me vesti daquela forma em outros carnavais. Olhando para sua performance achei engraçado e fiz um questionamento mudo sobre como nós nos esforçamos para sermos admiradas/notadas lançando mão de artifícios exteriores. E o mais curioso é que ela precisava daquilo tudo que carregava embora lá no fundinho da alma reconhecesse a inutilidade de todo aquele excesso.
Não quero com isso, dizer que não se deve ir à academia, estudar com afinco ou deixar de ir às compras e se produzir. Aliás, sempre fui adepta da beleza estética, mas do tipo mens sana in corpore sane. Pois o risco é a exacerbação, a supervalorização. A grande questão é a nossa escala de valores. A grande questão são os nossos conceitos e a nossa visão distorcida acerca do que realmente vale a pena. A grande questão que engloba todas as outras questões é: quem é (ou qual é) a nossa verdadeira referência? Esta é a minha observação. Será que, de fato, buscamos uma escala de valores equilibrada na qual em todos os nossos anseios é Deus que ocupa o lugar central?
Quando colocamos nossa escala de valores em conformidade com os valores de Deus, esta se equilibra. É onde entra o Evangelho. Ele muda seus valores, seus hábitos, seus princípios e suas crenças. Muitos de nós nos afirmamos seguidores de Cristo, discípulos de Cristo, cristãos, crentes, novos convertidos, evangélicos – enfim, a nomenclatura que rotula é grande e variada - mas não queremos a nossa escala de valores conforme a perspectiva de Deus, surpreendendo-nos a nós mesmos agindo tão-somente de acordo com a chamativa escala que nós mesmos construímos, caminhando em sentido oposto ao que nos aponta o Evangelho. Buscamos primeiro os valores ligados ao corpo, ao prazer pessoal, às coisas materiais, movidos por uma velada competitividade em autoengano que nos diz que todas aquelas coisas que fascinam nossa visão é que são referências de felicidade, agarrando-nos a elas. Distanciando-nos do que nos faz realmente seguros e em paz, resistimos em abrir mão do orgulho e da vaidade que nos denunciam a nós mesmos quem realmente somos, por mais que usemos disfarces, enfeites e maquiagens.
Nossa vida só tem sentido com Deus, só Deus sacia nossa a alma. Não sendo assim... Tudo à nossa volta é um completo vazio.
“Então, vi que todo trabalho e toda destreza em obras
provêm da inveja do homem contra o seu próximo.
Também isto é vaidade e correr atrás do vento”.
(Eclesiastes 4.4)
(Eclesiastes 4.4)
Nenhum comentário:
Postar um comentário