Quando se entra em um site de relacionamento, como Orkut ou Facebook, deve-se deixar registrado no cadastro todas as nossas preferências: tipo de música, onde se graduou, etc etc etc. Todos temos nossas preferências.
Mas acontece que, quando frequentamos igreja, ocorre algo curioso: os gostos e preferências ficam padronizados, estereotipados. Todos temos que viver uma “vida de crente”, aquele que não bebe, não fuma, não cheira e nem escuta música “mundana” – infelizmente, esse ethos não atinge a vida moral: não se deve fumar ou beber, mas a maledicência, a injúria, a crueldade e a sensualidade são práticas corriqueiras, desde que cobertas com o manto hipócrita da religiosidade estéril. Enfim, uma espécie de gnosticismo meia-boca, onde a espiritualidade é divorciada do cotidiano.
Mas, como não sou uma pessoa que pensa dentro da caixinha (pelo menos tento), coloco aqui quais são minhas preferências:
• Prefiro ter amigo gay a ter amigo ultrafundamentalista e, como consequência, machista. O gay, ao menos, quer viver sua vida, mas o ultrafundamentalista não vive a sua e quer se meter na dos outros também.
• Prefiro andar com um ateu a me relacionar com um dogmático. Com exceção de Richard Dawkins, tão dogmático e fundamentalista em sua cruzada ateísta quanto qualquer religioso de carteirinha, o ateu não vê Deus através das argumentações e dados experimentais. O dogmático só consegue ver Deus através de um volume grosso e empoeirado de teologia sistemática, mas nada mais além disso.
• Andar com gente entortada pela vida é bem melhor que andar com gente desentortada pela própria retidão religiosa. O entortado pela vida ainda pode ser desentortado pelo Crucificado, mas o desentortado pela religião precisa ser entortado-e-desentortado pelo Senhor.
• Prefiro ouvir Zé Ramalho a ouvir muita estrelinha gospel, do modelo Beyonce-wannabe. Zé Ramalho chega a até mesmo fazer uma alegoria (inconsciente, creio eu) do estado da igreja evangélica de hoje através da música Admirável gado novo, além de nos premiar com sua bela poesia. As estrelinhas gospel de hoje não apresentam nem a beleza da poesia e nem a harmonia de uma bela canção, e muito menos nos fazem pensar. É produto industrial, e não arte.
• Prefiro a sabedoria de crianças à infantilidade de gente envelhecida no coração. Deus suscita força da boca das crianças, mas o coração envelhecido gera rancor, amargura e depravação.
• Prefiro o Jesus simples dos Evangelhos ao falso jesus mercadológico. O Jesus simples, se estivesse fisicamente entre nós hoje, andaria com gente maltrapilha, iria a um show de rock comigo, me mostraria o Pai. Já o jesus mercadológico está atrás apenas do meu dinheiro, com seus cada vez mais desavergonhados arautos e seus produtos de quinta categoria.
Lá do blog do Digão
9 comentários:
É ASSIM QUE EU CREIO!
É ISSO QUE EU VIVO!
LONGA VIDA AOS SUBVERSIVOS DE JESUS, QUE NÃO SE CONFORMAM (TOMAM A FORMA DE) COM ESTA RELIGIÃOZINHA HIPÓCRITA CHAMADA ERRONEAMENTE DE "EVANGÉLICA"!
AH, SE JESUS ESTIVESSE HOJE EM CARNE COMIGO... IRÍAMOS JUNTOS AO ROCK IN RIO!!!!!!!
TOMARÍAMOS UM BOM VINHO PARA DESCONTRAIR, DARÍAMOS MUITA RISADA ENQUANTO ELE ME ENSINARIA A ANDAR SOBRE AS ÁGUAS, SÓ PRA VARIAR...
(tudo em caixa alta, de propósito...)
João tomaria um bom vinho e ainda comíamos um peixinho frita na praia. Eita coisa boa !
Eita, leia-se Comeríamos ok
Ufa!
Acho que muito do que se rotula de religiosidade, ou ainda de fundamentalismo evangélico, pode ser traduzido por puro farisaísmo e boa hipocrisia de fato!
Concordo em muitos aspectos com o texto e concordo mais ainda com a 'revolta' dos sentimentos que se afloram para viver a verdadeira subversão que é o evangelho de Jesus!
Só não creio que para ser subversivo eu tenha que beber (seja vinho ou coca-cola), ouvir Zé Ramalho (ou Elba - ui!), ou ir a um show de rock (apenas).
Acho que a subversão é muito mais o encontro com a liberdade de ser 'separado' do que a prisão de ser livre, segundo o conceito humano. Mas nada disso porque uma religião determina, entende?
Creio que não devo deixar de beber para ser um 'bom religioso', e nem creio que o fato de beber (dentro de minha liberdade de fazer o que eu quiser) me faça mais livre do que quem o faz 'livremente' sem conhecer Jesus!
Não estou aqui para discordar de ninguém, afinal opinião é como aquele conhecido ditado: todo mundo tem a sua, não?!
Acho, na minha humilde e um tanto leiga opinião, que ser cristão é ser livre de esteriótipos, rótulos!
Não fui chamado nem para ser um cara crente de 'extrema esquerda fundamentalista', que acredita que "nada posso naquele que me fortalece", nem para ser alguém que exija ter liberdade para simplesmente fazer o que me der na telha... se for assim, não sou servo de ninguém, senão de mim mesmo!
Mas ainda acho que o texto quer enfatizar que a religiosidade é mesmo uma patologia! Tem se inserido a cada dia na alma humana, e que faz o homem enxergar somente pelos olhos da sandice de ser guiado por quem quer que seja, menos Deus!
Grande abraço a todos!
Gente,
Eu me identifiquei com o texto justamente porque entendi que o autor fez suas analogias (de repente, conforme seus gostos pessoais, estilo de vida, etc) para refletirmos sobre a religiosidade doente em que muitos estão atolados.
Eu entendo sempre com muita lucidez- e dela não abro mão pois ela é o fiel da balança da minha liberdade- é que a questão não é o "pode ou não pode", isso é coisa de menino que quer se auto-afirmar; pra mim, a questão é sempre a farsa, a exterioridade,a hipocrisia. É isso que é repulsivo.
Beijos
Taí, gostei demais dessas preferências do autor. as minhas em relação ao assunto são bem parecidas.
abraços
Meu maior desafio hoje no ministério e desmistificar conceitos e preconceitos que chegam normalmente junto com irmãos de outras igrejas.Se me fosse possível não receberia pessoas de outras comunidades. São normalmente os piores de se lidar.Chegam sempre cheios de manias e muito dogmatizados.
Paz!
Olá Regina,
quero pedir perdão se meu comentário soou fundamentalista demais...
com aquelas conjecturas de 'pode', ou 'não pode'... mas minha intenção foi dizer que "não existe uma regra". Nem para dizer que pode, nem para dizer que não pode, entende?
Volto a confirmar meu pedido de perdão se o comentário soou ofensivo a alguém ou a alguma postura, ok?
Paz!
Wendel
De modo algum!
Não vi nada ofensivo nas sua palavras.
Eu entendi perfeitamente e o seu comentário só veio a enriquecer o texto, vejo como um complemento.
E ainda que fosse para discordar, não significaria ofensa.
Deus te abençõe!
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