"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Carta aos irmãos africanos




Amados irmãos e irmãs do grande continente da Africa:

Nós, os participantes brasileiros de Lausanne III, temos sido abençoados abundantemente neste Congresso e estamos muito felizes de estar nesta parte do mundo. Os navegadores portugueses do século XV venceram os temores e as dificuldades naturais do Cabo das Tormentas, e abriram o caminho do comércio para Moçambique e para as Indias. Aqui eles ganharam inspiração, ousadia e coragem para explorar o Oceano Atlantico Sul e procurar chegar às Indias ainda que fosse “por mares dantes nunca navegados” avançando para o oeste, e Pedro Alvarez Cabral oito anos depois de Colombo foi capaz de “descobrir” a Ilha de Vera Cruz, depois rebatizada de Terra de Santa Cruz, quando perceberam que não era ilha, e depois terra do Brasil.

Ao relembrar esses fatos da formação de nossa terra e nação, não podemos deixar de recordar nossa grande dívida histórica, moral e física para com o grande continente da Africa, seus povos e nações. Depois da descoberta e por quase 400 anos do Brasil colonia e Brasil independente, nós dependemos do trabalho escravo para a formação de nossas plantações, para cavar nossas minas, para a construção de nossas casas, nossas cidades e nossa nação. Assim cometemos o pecado de sequestrar pessoas deixando atrás muitos órfãos, destruindo casas e vilas causando feridas profundas em suas nações.

Cometemos o pecado de homicídios, de tratar pessoas criadas à imagem de Deus como bestas, impondo em seus povos violência física, psicológica e moral e condições sub-humanas de vida; cometemos abusos de todos os tipos e sempre que foi possível ajudamos a destruir suas identidades pessoais, familiares, culturais e nacionais.

A dívida moral que nós temos em relação as suas nações e povos é tão vasta, profunda e enorme, que nem começamos a medi-la. Cremos que é uma dívida impagável.

Se nós quiséssemos mostrar que realmente sentimos muito pelo que aconteceu e que estamos arrependidos desse pecado histórico de nossa nação em contra de vossas nações, nós teríamos de vir até vocês e dizer: Por favor, dá nos a graça de sermos seus escravos. Sejam por favor nosso patrões e nossos senhores, e dá-nos a oportunidade de servi-los. Deixa-nos ajudar a construir suas fazendas, cavar suas minas, construir suas casas e cidades com nosso suor, sangue e lágrimas como gentes do seu povo fizeram por nós. Permitam que nossos corpos sejam enterrados anonimamente embaixo de suas estradas e cidades, como fizeram os vossos povos por nós.

E então, somente então, poderíamos perceber que somos irmãos e irmãs de sangue , porque o seu povo derramou sangue por nós e nos abençoou, e vocês nos teriam dado a graça e a oportunidade de derramar nosso sangue em favor de vocês. Talvez depois disso poderíamos começar a entender juntos a amplidão, o comprimento, a profundidade, e a altura do amor de Cristo que derramou por nós ambos o seu precioso sangue e derrubou o muro de partição para nos fazer uma só família n’Ele!

Mas hoje precisamos pedir a vocês, perdão a algo imperdoável. Por favor, perdoem-nos. Por favor perdoem os pecados do nosso povo contra vocês. Perdoem os pecados de nossa nação contra as nações de vocês.

As gentes provindas da Africa em uma imigração forçada, ajudaram a construir o nosso país não apenas com suor, trabalho árduo e sangue. Esta pessoas e seus descendentes tem construído com suas mãos, sua cabeça e pernas (como Pelé, Ronaldo, Robinho, etc.), com coração, mente e sentimentos cálidos como muitos músicos, romancistas e artistas, ou com habilidades técnicas como médicos, engenheiros, juristas, políticos, em todas as esferas da atividade humana. Muitos são membros de igrejas, e com sua fé, esperança e amor têm sido pastores, bispos, professores, líderes e santos. Os seus povos e seus descendentes têm sido uma benção para a nossa nação. Em vez de devolverem o mal que receberam com o mal eles têm abençoado a nós com a riqueza de sua música, enriqueceu a nossa cultura alimentar com sua contribuição, e sobretudo com a sua maneira rica e peculiar de ser humano, de ser gente, um próximo e irmão de alma, como estamos experimentando esta semana com vocês. Seus povos e descendentes se tornaram parte integral de nosso país e de nossas famílias. Muitos de nós nos orgulhamos de ser em certa medida, descendentes dos povos da Africa.

Por favor aceitem-nos como seus servos e servas, seus escravos e escravas em nome do Senhor Jesus.

Com amor e ternura fraternais.

Texto na íntegra AQUI
(grifos meus-RF)

10 comentários:

Amana Raab disse...

Oie,

que engraçado, Regina, vim ver teu blog e descobri que já "te lia" há muito tempo através do recebimento dos feeds... Olha que legal! Risos. Mas, vou seguir-te do modo convencional também para aparecer minha carinha aí nos amigos. Hehe...

Bom, eu não sei se tenho parentesco com pessoas de Natal mais diretamente, talvez tenha. Não acho que a família Câmara seja tão plural quanto a família Silva, por exemplo. Mas, minha família mesmo é de Macau, interior do RN.

Desculpe a demora em responder-te, é porque eu tou mesmo sem tempo. talvez continue assim até o meio do ano de 2012. =/ . Rs. Não desista de mim! Haha...

Te procurei no twitter, mas não econtrei. Pelo menos não pelo seu nome... Vou ver se acho no twitter do Zé Luís.

;)

Wendel Bernardes disse...

Regina querida,
que texto é esse?

Comecei o meu dia completamente quebrantado com esse relato profundo e verdadeiro!

Somos, como diria o apóstolo Paulo, devedores do mais profundo amor aos irmãos africanos...

Reconhcer nossos erros e pecados é, apenas, nossa ínfima parcela inicial de dívida com tanta gente que, ao longos dos séculos, morreu (em todos os sentidos) pra que o Brasil pudece ser a Nação que é hoje!

Outro dia, enquanto conversava com alguns jovens, durante o dia da 'consciência negra', lembrava aos meninos que o recismo imposto a boca pequena no Brasil é a maior prova da BURRICE que toma a nossa terra.

Ao contrário de algumas nações que mantiveram certa 'distância' dos negros escravos rapatados da África, no Brasil, esses mesmos negros fundiram raízes desde o primeiro dia em que pisaram em nosso chão.


Seja por causa da violência a que foram submetidas as mulheres, ou pela paixão pelos brancos europeus ou índios (chamados negros da terra), mas de uma forma ou de outra, seu sengue foi miscigenado, misturado e forjado com o dos povos qua habitavam já essa nação.

Seja por um motivo ou outro, embora envergonhado com nosso passado, tenho orgulho (no melhor sentido que a palavra pode ter) de ter em meu sangue brasileiro, muito da raça negra, indispensável a qualquer nascido nessa terra, que é muito parecida com as terras de lá (África)!

Linda postagem!

Rô Moreira disse...

Re, esta sua postagem vale dez mana, temos uma grande dívida sim com os manos da África, que Deus e eles possam nos perdoar. Paz mana.

João Carlos disse...

Caraca "Cris"...

Isso deveria ser lido por todos e para todos.

Não só lido, mas vivido, decorado como uma oração de "mea culpa", mesmo que indiretamente.

Valeu mulher, se você não bombardeia com suas próprias palavras sabe onde pescar o que tem que ser dito!

Cada vez mais te amo e te admiro minha irmazinha!

Eu, seu seguidor...

Eduardo Medeiros disse...

alguém tinha que reconhecer esse pecado social que o cristianismo dominador praticou contra os povos de África.

abraços

Regina Farias disse...

Amana, (Reproduzo aqui o que escrevi lá no teu blog)

Nem se preocupe, essas ausências são normais, acontece isso comigo também. E eu não desisto fácil rss

Quanto ao parentesco, existe demais esse tipo de encontro da forma mais inusitada. Quem sabe, de repente não vai ser assim, tendo a mim como intermediária...

E eu não tenho twitter, vi seu nome na chamada do blog mesmo.

Beijos, linda! E valeu por me seguir agora "oficialmente" rsss

Regina Farias disse...

Wendel,

Eu acho que me senti exatamente como você, ao ler essa mensagem logo cedo também e me senti na obrigação de postar aqui.
Envergonhar-se e reconhecer o erro não apaga o passado mas nos faz mais dignos de ter essa descendência nas veias.
Obrigada pelo belo complemento!

Abs

Regina Farias disse...

Rô,
Obrigada, maninha.
É verdade, uma dívida impagável, em termos humanos. A nossa sorte é a misericórdia divina.
Beijo grande!

Regina Farias disse...

Jota, rapaz! Cris he he

Então,

Ler e viver, essa é a ideia.

Como diria O MESTRE: "se sabeis essas coisas, bem aventurados sois se as praticardes".

Valeu pelo carinho!

Regina Farias disse...

Edu,

Algo que me atraiu nesse texto foi o autor que nem é nascido aqui.

(Key Yuasa, japonês radicado no Brasil)

Aí é que a gente se envergonha mais ainda! Não é nem de autoria de um brasileiro "da gema".

Enfim... Que sirva de reflexão pra todos nós!

beijo!