"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

Translate

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Um elefante incomoda...

Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros
e orai uns pelos outros, para serdes curados.


"Hoje foi um dia como outro qualquer - às vezes, tenho a impressão de que os dias são sempre iguais. O sofá estava afastado da parede e, introvertidamente, deitei no chão entre o sofá e a parede. Fechei os olhos e... Resolvi bater um papo com o meu passado. Foi uma conversa árida, sombria, sem sabor, sem cor, dolorida.

Meu passado lançou-me na face coisas que fiz - das quais não me orgulho nem um pouco - pessoas que decepcionei, gente que deixei de ajudar. Não consegui ser um bom filho para meus pais; destruí a paz de minha família. Fui um péssimo aluno no ensino fundamental... Desvarios de um ser humano tentando ser normal!

Devolvi a afronta. Coloquei o dedo na cara do "meu passado", apontando-lhe uma lista de fatos rudes que me marcaram e que me influenciam até hoje: poucas pessoas gostavam de mim por causa da minha aparência (oras, nunca fiz sucesso com as meninas); meus tios debochavam de mim; minha mãe me batia por não entender que a culpa de não conseguir aprender era da dislexia; estudei em escolas de nível educacional questionável; por culpa da anemia, mamãe me encheu de "suco" de fígado de boi, além das incontáveis mamadeiras com leite e farinha láctea (o que resultou num garoto BEM REDONDINHO).

Ah, e falando nisso... Que coisa, einh?! O garoto redondinho cresceu, comendo feito um demônio-da-tazmânia, tornando-se num adolescente obeso, retraído, cheio de complexos e irritado por não conseguir achar tamanho de calça suficientemente grande. Uma época de poucas amizades e muitas revoltas... Muitas! Revoltado com a sociedade, com o governo, com a superficialidade das pessoas, com a falta de recursos. Por vezes tinha vontade de morrer.

Quando lembro desses tempos quero tão somente me afastar de pessoas. Dá uma vontade de fazer cara-feia, cruzar o braços e gritar "afastem-se, tenho lepra!"

É, eu sei! Solidão nunca resolveu nada. Racionalmente tento evitá-la. Solidão não passa de uma armadilha funda, escura e fria. Mas, ao mesmo tempo, é tão difícil pra mim, entender os humanos, criaturas nascidas sem nenhuma glória, em meio a fezes, sangue e dores, num pedaço de pano que chamamos por lençol.

Oh, quão miserável e hipócrita eu sou! Tão cheio de defeitos quanto qualquer outro...
Não quero mais conversar com meu passado. Saí daquele diálogo mancando e sangrando. Abri meus olhos, e ainda estava lá, atrás do sofá, ridiculamente deitado no chão feito criança tristonha.

Ainda sou o mesmo. Cheio de defeitos, meio-revoltado, obeso, complexado e grisalhamente um pouco mais velho. Minha aparência continua não agradando a maioria. Para mim, é comum observar as pessoas ocupando todos os lugares do ônibus, menos aquele que está ao meu lado. Afinal, "um elefante incomoda muita gente", não é mesmo?

Quem sabe eu emagreça pra me vingar do "meu passado". Talvez eu decepcione menos e ajude mais. Isso sim, é um bom pensamento! Essa é a parte da história que me arranca sorrisos".
     
        Autoria e título original AQUI


'O coração alegre é bom remédio, 
mas o espírito abatido faz secar os ossos'
(Provérbios 17.22)


6 comentários:

Wendel Bernardes disse...

Uau!
Tão parecido com histórias que ouvimos SEMPRE e que vivemos as vezes, não?

Gosto de ver o homem lidar com seus próprios medos... sabendo que estão lá ainda, sem saber se vão vencê-los ou não, mas sempre desafiando e continuando a ser quem é!

Essa atitude, algumas vezes louca, pode nos trazer experiências sutis, outras nem tanto... mas quase sempre (pra não dizer SEMPRE) nos levam DIRETO pros braços o Pai!

Lindo texto!
Como parece com alguém que conheci uns anos atrás (guardadas as devidas proporções, claro...)

Beijo!

Regina Farias disse...

Então, W,

Como falei lá no 'confuso, entre outras coisas...

Se fôssemos nos isolar por causa das 'monstruosidades' que carregamos, viveríamos TODOS isolados uns dos outros.

Beijo!

R.

René disse...

Rê,

Acho que Alguém disse, certa vez: "Não é bom que o homem esteja só". E olha que Ele conhece nossas monstruosidades, melhor do que nós mesmos. Então...

Mas os questionamentos são inevitáveis, não? Que bom que eles nos levam, como disse o Wendel, direto para os braços do Pai!

Abração e Paz!

Rodrigo Toledo disse...

Olá, Regina.
Fiquei muito feliz e honrado em ver um de meus textos no seu blog. Obrigado por compartilhar algumas das minhas idéias em seu espaço. Que Deus lhe abençõe em Cristo Jesus.

Regina Farias disse...

Então, René,

E é nos questionamentos que estabelecemos o limite da paranóia...

bj

Rê.

Regina Farias disse...

Olá, Rodrigo!

A honra é toda minha, em ter acesso a textos que dizem da nossa vida real, do cotidiano, das coisas simples, espontâneas, sem máscaras e que nos levam a mudanças de conceitos e valores que nos promovam sanidade em todos os aspectos. Isso, pra mim, é ferramenta valiosa na busca de se viver o Evangelho puro e simples.

Obrigada pela oportunidade e que
Deus te abençõe grandemente.

Rê.