Incrível expressão que traduz claramente o que vivenciávamos, pois era exatamente assim que acontecia em meio a questionamentos silenciosos que gritavam dentro do peito onde batia com força o coração de cada um, desde que a notícia nos veio como uma bomba!
Depois nas fases seguintes, marchando perplexos ao lado do meu irmão para realização de exames, consultas, rádios, químios, internamentos... E novos exames, marcação de consultas, consultas, exames, internamentos.
E, então, o internamento para o transplante de medula gerando esperas... Longas esperas! Marcando cada passo no exercício de algo maravilhoso que fluía em cada momento de modo quase imperceptível : a paciência.
Na fase mais crucial, que era a da contagem dos leucócitos "novinhos"... Nas noites mal dormidas que antecediam dias claros e exigiam firmeza nos pés...
A dor nos acometia de todos os lados. A ele, fisicamente e tudo o mais na sua forma mais dorida, creio eu. Mas em silêncio desconcertante. Em nós, era um “tudo o mais” bem mais brando. Só que... Doía demais! Mas brincávamos! E como brincávamos! Orávamos, chorávamos, ficávamos tristes... Mas brincávamos. Era um estranho mix de todas as emoções vividas da forma mais intensa e verdadeira como nunca havia sido antes. É como se fosse um vendaval que ao se aproximar, se olha e se visualiza sua dimensão num turbilhão de incredulidade e fascinante e assustadora vulnerabilidade, certo de alcançar seu centro sem tardar. Tudo dentro de uma inexplicável sequência que vai do choro na dificuldade ao gozo do re-equilibrar em pleno redemoinho. E o mais interessante de todas as sequências inexplicáveis: uma incrível aprendizagem com o próprio paciente!
E é inevitável vir à minha mente o que ousavam dizer os amigos de Jó acerca das razões de Deus permitir aflições, usando abundantemente o jargão teológico, MAS cruelmente distorcido e incompleto. Então, num impulso sarcástico, eu me pergunto se o discurso mudaria com a famosa pimenta no próprio olho.
Aí vem Deus no final de toda falácia, e na Sua misericórdia e soberania, diz:
“O meu servo Jó orará por vós; porque dele aceitarei a intercessão, para que eu não vos trate segundo a vossa loucura; porque vós não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó. (Jó 42.8b)
Inclusive posso enxergar no livro de Jó toda a sequência que os psicólogos chamam de sucessão de fases. Ele ficou doente 'de repente', passou pelo famigerado por que?, amaldiçoando a própria existência, silenciou diante das falsas acusações de quem assistia confortavelmente de camarote com seus discursos dúbios e totalmente desprovidos de compaixão e esperança.
Enfim, mostrou-se tão incapaz de segurar a onda, chegando a pedir que Deus lhe tirasse a vida! Ele teve direito a tudo isso e mais alguma coisa no que diz respeito ao sofrimento em todas as suas variáveis! Ele tinha até uma mulher-mala. Porque – convenhamos – quem tem uma mulher como aquela não precisa de inimigo.
A segunda coisa que me chama a atenção é acerca de palavras originalmente saídas da boca de Jesus e que, com o passar do tempo, recebem outras formas literárias ecoando em vozes de poetas inspirados, PORÉM com o mesmo sentido de Novidade em cura e libertação da alma. Na representação metafórica do cálice, o que eu acho interessante é que Ele diz: SE queres! E em seguida, ora: “Contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua” Então, lhe apareceu um anjo do céu que o confortava.
Pedir para afastar um cálice amargo é normal, é humano, e ali estava explícita a perfeita humanidade de Jesus, quando Ele antevia/vivia o início da sua agonia. A lição que eu tiro é a de uma sequência de total e irrestrita DEPENDÊNCIA e CONFIANÇA, apesar das circunstâncias: - “se queres...” - “faça-se a tua vontade” - conforto na dor.
Minha terceira e limitada abordagem é sobre a depressão, e que, segundo a psicologia diz respeito ao ápice da doença, pois conforme tenho lido por aí, trata-se de uma "má vontade psíquica" onde o estado de esgotamento está diretamente relacionado com a afetividade. Mas, "cada caso é um caso", clichê que cabe perfeitamente aqui e eu não quero entrar no mérito da questão, por ser amplo e específico. O que eu quero ressaltar é a aceitação, e eu entendo que não é aceitação da doença de forma passiva, mas reagindo em meio à depressão, como fato, como realidade, como fase determinante que impulsiona a cura.
O que a minha esperança sempre me diz é que, analogamente, essa depressão é "o deserto", para onde levou aquele vendaval, no qual o caminho é árido e a caminhada é pra dentro de si mesmo. Em meio a tempestades de areia que chacoalham e redefinem conceitos e valores, relacionamentos e decepções, medos e inseguranças. Conduzindo ao oásis de uma nova existência, onde no avesso do redemoinho adquire-se nova visão. E não, aquela visão limitada e retórica dos Eliús de plantão e que se acham embaixadores de Deus, e sim, uma visão NOVA só alcançada pelo coração de quem foi refinado por Mãos Especiais. Pois só um coração despedaçado conhece uma verdadeira intimidade com o Pai. Aquela intimidade que restaura o coração imprimindo nele o Seu Amor! E promove a paz que excede o entendimento que nos reconcilia com o mundo. E nos acalma o coração.
Trecho de msg enviada por mim há alguns anos para "De paciente para paciente", do site IMF - International Myeloma Foundation.
Um comentário:
Parabéns pela postagem inspiradora.
Abraços,
Ale.
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