Há algum tempo, uns dois meses, talvez, li uma notícia que me paralisou. Um homem de Camarões, país da África, conseguiu entrar num navio como clandestino, sem nem saber para qual destino.
Fiquei pensando nesse homem, que devia ter uma vida tão sem esperança, tão sem perspectiva, que decidiu se arriscar a qualquer coisa, em qualquer lugar do mundo, à procura de um futuro. Ele não escolheu para onde queria ir, desde que pudesse deixar para trás tudo o que tinha sido sua vida até aquele momento; devia ter suas razões. Mas esse é apenas o começo da história.
Danusa Leão.
Este é apenas o parágrafo inicial de um texto que trata da dramática situação do homem que foi cruelmente atirado ao mar. Eu posso até estar enganada com meu achismo pessoal mas arrisco dizer que esse papo de que alguém ‘devia ter suas razões’ para uma transgressão às leis internacionais é muito condescendente. A autora não arrisca julgar os motivos mas diz que ele procurava ‘um futuro’. Ora, me poupe a dona Danusa, pois que futuro digno se espera ‘atirando-se’ a esmo? Razão, na acepção da palavra, foi o dispositivo menos acionado para essa empreitada. Certamente foi o desespero que o levou a tal desatino.
Bom, mas trazendo o tema para outra realidade mais próxima, na qual o 'clandestino' se aventura em mares interiores, eu analiso a situação da pessoa que extrapolou várias vezes - deu murro em ponta de faca várias vezes, chutou o pau da barraca várias vezes, perdeu as estribeiras várias vezes - como sendo uma fuga travestida de horrores externos mas, que é, na realidade, advinda de um tenebroso ‘si mesmo’. Um ‘si mesmo’ com direito a (supostos) algozes com suas próprias punições. Ambos miseráveis e em um só pacote, posto que na mesma mente: o que foge usando meios ilícitos para justificar seus fins e o que julga a causa com os próprios meios.
O ‘marginalizado’, acreditando ter zerado sua culpa na fuga que virou mania de perseguição, coloca-se acima do bem e do mal, roubando a confiança de quem lhe abre incondicionalmente as portas da casa e do coração e novamente se põe em fuga de (suposta) perseguição mesmo sabendo-se perdoado.
Inevitavelmente vem à tona a miserabilidade do homem sob os dois polos: o da perseguição e o da fuga, ambas desenfreadas. Principalmente quando esta perseguição é fruto da própria imaginação, que de tão repetitiva, inverte as situações, causando conflito nas mentes dos espectadores que confundem a própria compaixão passando a enxergar essa pessoa como injustiçada, rejeitada, maltratada, desprezada.
Focalizando toda sua energia na pseudo-perseguição, bate com a cara na parede a cada investida inconsequente. Trata-se da velha resposta (consequências) aos próprios atos. Em uma eterna briga interior, onde as ‘armas’ são: uma profunda amargura resultante da intransigência obsessiva de quem se vê perseguido pelas próprias racionalizações interiores; e a terrível sensação provocada pelo círculo vicioso da insistente e frustrante fuga de si mesmo.
Inevitavelmente vem à tona a miserabilidade do homem sob os dois polos: o da perseguição e o da fuga, ambas desenfreadas. Principalmente quando esta perseguição é fruto da própria imaginação, que de tão repetitiva, inverte as situações, causando conflito nas mentes dos espectadores que confundem a própria compaixão passando a enxergar essa pessoa como injustiçada, rejeitada, maltratada, desprezada.
Focalizando toda sua energia na pseudo-perseguição, bate com a cara na parede a cada investida inconsequente. Trata-se da velha resposta (consequências) aos próprios atos. Em uma eterna briga interior, onde as ‘armas’ são: uma profunda amargura resultante da intransigência obsessiva de quem se vê perseguido pelas próprias racionalizações interiores; e a terrível sensação provocada pelo círculo vicioso da insistente e frustrante fuga de si mesmo.
No caso do texto da Danusa, houve uma equipe justiceira e obsessiva transgredindo uma lei maior, a lei humanitária. Parafraseando-a, a falta de perspectiva e a solidão infinda, de fato, levaram essa personagem da minha história, ao desespero de mergulhar cegamente no mais íntimo e mais profundo mar revolto. Ou seja: trazendo para o chão da existência, o orgulho e a teimosia é que o afundam e o destroem. Então, por um fio de vida (dignidade humana) ele cai em si e reconhece que apenas um milagre poderá salvá-lo. Um milagre que nada tem a ver com oba oba e fogos de artifício. Um milagre silencioso e extremamente pessoal que lava e cura seu coração e sua mente. Um milagre que, definitivamente, transforma e neutraliza o seu maior inimigo: seu próprio coração.
'Pequeno' detalhe: esse milagre está atrelado à própria disposição em despir-se do ‘eu’ teimoso, arrogante, orgulhoso, ressentido, recalcado. Eis o impasse!
'Pequeno' detalhe: esse milagre está atrelado à própria disposição em despir-se do ‘eu’ teimoso, arrogante, orgulhoso, ressentido, recalcado. Eis o impasse!
E eis a parte boa: o milagre é o convite que Cristo faz e é de dentro para fora. Ele propõe que nos desarmemos, enquanto se oferece como ceia*, onde numa genuína mudança de hábitos e conceitos, passamos a ter, por meio d´Ele, uma vida de qualidade. Independente das circunstâncias.
R.
Na tradição judaica, compartilhar de uma refeição com alguém era um símbolo de confiança, afeição, intimidade e lealdade.
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