Eu sonho fervorosamente com pessoas se reunindo apenas para conhecer mais de Deus. Dedicar a Ele "momentos de louvor", ou seja, ter o reconhecimento da sua grandeza, santidade, misericórdia, soberania. Provar do Seu amor apenas porque é inevitável aproximar-se Dele sem que isso aconteça. Fazê-Lo conhecido pelo amor ali cultivado. Ser Igreja de Cristo como corpo que faz valer, vai à luta, arregaça as mangas da camisa para ajudar a quem precisa, gastando tempo com quem necessita de um apoio, seja financeiro, psicológico, espiritual, o que for. Há - e como há! - quem precise de apenas um pão, um abraço, um teto, um cobertor.
Enquanto isso, perdemos nosso tempo, que já não é muito, com conversa fiada entre quatro paredes “santas”. Estamos completamente equivocados. Já ouviu falar em boas intenções? Dizem que o inferno está cheio delas. Para toda essa loucura é preciso um remédio que anestesie o clamor que nasce no nosso coração buscando respostas, uma fagulha do “fogo divino”. Inventaram então os famosos retiros espirituais com nomes e temas diversos.
Já vi de tudo. É como se fosse um final de semana com Deus. É tudo que você precisa: maravilhoso, inesquecível, transformador! De fato, Deus em sua infinita misericórdia, responde aos que o buscam, pena que dura só até o domingo. Na maioria destes encontros, tenta-se aplicar uma cura espiritual de males causados pela própria instituição. Aproveita-se para falar em dons espirituais, aqueles que deveríamos buscar com zelo. Renovação, reconciliação, cura, perdão, entre outros que não praticamos no dia a dia. Guardamos para que se realize em um momento especial.
Algo parecido acontece no carnaval. Festa popular mais querida no Brasil, país em que nasci e vivo até hoje. Mas essa manifestação do povo é ignorada pelos evangélicos, crentes, cristãos protestantes, chame do que quiser. Nós também nos retiramos nesta época. Todos os terreiros de macumba ficam em carga total, nós, estamos ausentes. “É um evento do diabo”. Foi o que sempre ouvi de alguns pastores, líderes religiosos e de juventudes. Quase uma semana de brincadeiras, músicas, danças, bebidas e diversão de todo tipo que se possa imaginar. O sexo parece ser mais atrativo nesta época, os apelos se intensificam.
E a igreja? Bem longe dali! Nossas ovelhinhas precisam estar protegidas das tentações. “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”. Quem está fugindo afinal? Mas tem outra trupe, a galera do evangelismo. Essa é crente de verdade. Eles chegam abalando no carnaval. Todos com a mesma camisa (branca, é claro!), com uma pomba desenhada, alguns com bandeiras para que não reste dúvidas, bíblia nas mãos, panfletinho e uma língua afiada. São os santos no meio dos perversos. Vez ou outra passa um membro da igreja que saiu para as ruas para brincar e sem querer esbarra com essa “turma do bem” e se sente a pior pessoa do mundo, um imundo, sujo, um pecador sem perdão.
A minha família brinca carnaval desde sempre. Cresci ouvindo Vassourinhas, frevo muito conhecido por aqui onde moro. Aliás, o frevo é o ritmo mais característico de nossa terra, porém desconhecido pela igreja, pelo povo que todo ano se retira. As troças de carnaval e a irreverência apenas vistas nesta época do ano são deixadas de lado e nada aproveitadas por este povo. Alheios a tudo isto, nós seguimos ignorantes a tantas outras coisas que são vistas no carnaval, como o coco, ciranda, maracatu, caboclinho, a cultura local em sua maior expressividade. (O Carnaval, historicamente, como festa popular, foi visto pela primeira vez em Veneza, na Itália, com pierrôs e colombinas, máscaras que foram criadas para que o povo se misturasse, entre classes sociais).
Quando aqui estamos no período de carnaval, e decidimos participar da festa, nos colocamos como os melhores, os detentores da verdade, os salvos que levarão a salvação para todos. Quando meus tios e tias, meu pai, primos e primas, saem às ruas para brincar carnaval, eles se divertem, participam de movimentos irreverentes, descontraídos, ficam juntos da família. Se nós não fugíssemos do carnaval, ou se não estivéssemos ali apenas para sermos os melhores, talvez a gente também aproveitasse esta festa do povo. Como crentes mesmo, servos de Deus. Por que não? “A alegria do Senhor é a nossa força”. Não precisaríamos falar nada, nem de papeizinhos para entregar. Seríamos reconhecidos pelo amor que há em nós. Não há no mundo, nem na nossa cidade, momento melhor para isso. Para brincarmos também. A vida é divertida. Mas isso é discurso de desviado, diriam alguns crentes que conheço. É exatamente isso: estou completamente desviado, desligado, desarraigado daquele pensamento preconceituoso e segregador. É lindo ver uma troça passando, um frevo ao fundo e fantasias engraçadas e inteligentes. E é uma pena pensar que a idéia de que a verdade está nas mãos de apenas um povo - além de romper gerações - está cada vez mais sólida.
E pensar que os colonizadores, ao chegarem por estas terras, contemplaram a maravilha da criação de Deus... Eles tinham em suas mãos toda a pretensão de que eram os portadores do conhecimento divino, pregando, evangelizando e violentando tudo que encontravam pela frente, certos de que se não realizassem tal feito, Deus deixaria de ser conhecido pelo povo que aqui vivia. Esse retrato se repete ao longo da história. Agimos assim também, cheios de verdades absolutas, idéias separatistas, capazes de criar fronteiras. Eu tô fora! Deus é infinito, não cabe nos nossos conceitos limitados. Tanta gente que acreditamos ser infiel, incrédula ou algo do tipo, tem experiências maravilhosas com Deus; ou de fé, para compartilhar conosco. Basta baixar a guarda, ter humildade, se render e crer que o Pai se revela aos seus filhos, da forma Dele, não da nossa.
Grande é a surpresa, assim aconteceu comigo. Ao encher um copo com água, percebo que se ultrapassar o limite, a água irá transbordar, escorrer pelo vidro do lado de fora e molhar a superfície que se encontra o copo. Posso concluir que se eu estiver cheio de alguma coisa, quem se aproximar de mim será naturalmente alcançado pelo que me encheu. Acredito que é assim que funciona com o amor de Deus. A busca continua...
Tenho bom ânimo. Irei perseverar até o fim! Que a Água da Vida transborde em mim e seja derramada, onde, como e quando Ele quiser.
Amém!
Leo F.Rocha
Fragmento de um texto AQUI postado. (Parágrafos e sublinhados meus- RF mãe do autor do texto)
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E o mais interessante é que, quem lê isso, certamente pensa que eu caio na folia he he
Mas aí é porque não leu meu texto sobre carnaval...
E, como enfatizo lá, na parte de comentários (em bate bola instigante com o próprio Léo que comentou por e-mail), não estou sendo contraditória; pois o texto é claro quando eu digo do meu repúdio em relação a certas manipulações; da mesma forma que está claro que "carnaval em si" não é ruim, as pessoas é que não sabem brincar de forma saudável e transformam essa folia em uma grande insanidade coletiva.
Enfim, creio que ambos os textos me dão uma lucidez tremenda acerca do que seja válido para mim, a partir das minhas experiências pessoais, e espero que cada um reflita e procure viver de forma leve e coerente sem se deixar submeter a ditames religiosos que colocam a pessoa em aparente redoma espiritual superior usando o nome de Deus.
É disso que eu falo...
R.
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E o mais interessante é que, quem lê isso, certamente pensa que eu caio na folia he he
Mas aí é porque não leu meu texto sobre carnaval...
E, como enfatizo lá, na parte de comentários (em bate bola instigante com o próprio Léo que comentou por e-mail), não estou sendo contraditória; pois o texto é claro quando eu digo do meu repúdio em relação a certas manipulações; da mesma forma que está claro que "carnaval em si" não é ruim, as pessoas é que não sabem brincar de forma saudável e transformam essa folia em uma grande insanidade coletiva.
Enfim, creio que ambos os textos me dão uma lucidez tremenda acerca do que seja válido para mim, a partir das minhas experiências pessoais, e espero que cada um reflita e procure viver de forma leve e coerente sem se deixar submeter a ditames religiosos que colocam a pessoa em aparente redoma espiritual superior usando o nome de Deus.
É disso que eu falo...
R.
9 comentários:
Rê,
Que coisa linda é ver um jovem com o coração transbordando o verdadeiro Evangelho, puro e simples como é!!!
Parabéns, por ser a mãe de um ungido do Senhor!!!
Forte abraço e Paz!
Que beleza! O Penúltimo parágrafo é perfeito.
Bjs...
Muito interessante este texto, no nosso meio, toda cultura ainda é demoninazada. Como está registrado, muitos crentes no fundo no fundo, sabem que o Carnaval em si não é ruim, mas nunca admitirão para não se contradizer. Assim como muitas igrejas antigamente condenavam a televisão e hoje tem, orgulhosas, seus programas de TV. As pessoas relativisam valores bíblicos que são absolutos e ainda se gabam: "ai de quem alterar um j ou til".
E o Carnaval por aí que deve ser lindo hein. Um abraço e ótimo feridão.
Re, entendi você. Gostei mesmo das suas palavras. O carnaval seria muito melhor se as pessoas soubessem como brincar. Aliás, Re, parece que quase tudo entra aqui: futebol, dança, igreja...
Cultura e evangelho sempre serão um desafio a cada geração até a volta de Jesus. Deixo aqui um link para você de uma exposição sobre isso: http://tempora-mores.blogspot.com/2011/02/quando-cultura-vira-evangelho.html
Abraços sempre afetuosos.
Éder,
Que prazer ter vc por aqui!
Então...
Os religiosos se acham no direito de fazer proibições usando de terrorismo psicológico e as pessoas, geralmente fragilizadas, embarcam nessa viagem repressora; ou então "desrespeitam as ordens" e ficam cheios de culpa. De qualquer forma, passam a ter uma relação neurótica com Deus, porque não O conhecem e sim usos e costumes ditados pela tradição da denominação,capazes de promover suposta salvação, ABOLINDO O SACRIFÍCIO DA CRUZ!
Ah e "o carnaval multicultural do Recife" é muito rico, embora hoje em dia eu prefira ver pela TV que alguns crentes abominam rsss
Bom feriado pra ti tb e apareça:)
Abs,
R.
Fábio,
Então...
Aprendemos a nos complementar trocando links, né? rss
A bronca é a confusão que alguns crentes fazem com a frase "coisas do mundo" e não sacarem que tem a ver com seu próprio coração corrompido estejam onde eles estiverem, até mesmo dentro de um "lugar santo".
Eu já havia lido esse texto do Nicodemus e foi bastante oportuna sua iniciativa em deixar o link, pois além de reler com prazer, serve para reafirmar, em outras palavras, o que aqui foi dito.
Por outro lado, mesmo tendo sido contundente - e não existe melhor testemunho, posto que com base em experiências pessoais, há de se concordar que determinada parcela de pessoas prefere valorizar um tipo de texto assim, didático e de um autor "renomado" :)
Acho super válido, e respeito demais isso, até porque os tipos de abordagem são inúmeros e tem pra todo gosto, contanto que sejam lúcidos e coerentes com um Evangelho sadio :)
Para mim, a importância nisso tudo é que testemunhemos para que outras pessoas sejam alcançadas e libertas de ensinamentos toscos que escravizam suas almas.
Obrigada por enriquecer mais ainda essa questão.
Bom carnaval. Aprecie com moderação rsss
Abs,
R.
René e Mariani,
As considerações que eu fiz "em cima" do que vcs escreveram, ficaram tão extensas (normal rss) que resolvi colar no final do texto.
Meu carinho, sempre!
R.
Faço minhas algumas das palavras de Léo, em extenso comentário ao meu texto do ano passado sobre Carnaval e que está linkado acima.
"Eu acho que o carnaval foi roubado de alguns, com intenções mais maquiavélicas do que as dos que lucram, consequentemente, com a desgraça dos frutos negativos na vida de muitos no período carnavalesco.
A diversão agradável foi embora junto com pessoas bacanas afastadas de lá pela acusação de que lá não há salvação, de que lá é a porta do inferno e casa dos demônios ou festa do candomblé e religiões semelhantes.
Parte disso é verdade, deixamos a casa vazia, sem dono. Quem deveria ser anfitrião, fugiu. Porém esse povo não foi abandonado. Há a misericórdia de Deus, seus livramentos, zelo, amor, interferência, sustentação, enfim, como Ele não poderia estar presente?!
A atual falsa alegria pode ser substituída ainda, uma vez que esse feriado dificilmente deixará de existir.
Precisamos de quem combata o bom combate, de quem lute contra principados e potestades. Precisamos mostrar a alegria e o amor que há em nós, pois só assim seremos reconhecidos como crédulos, servos de Deus, discípulos de Jesus, carregadores da verdadeira Cruz.
Não precisa ser apenas em época de carnaval, esse é o desafio, a batalha que travo comigo mesmo, todos os dias, todos os finais de semana, todas as festas.
Seguramente alguns movimentos que se auto-intitulam santos, divinos, litúrgicos, eclesiásticos, são os que mais matam pessoas nessa vida. Matam a sua liberdade, sua arte, suas ideias e geram pensamentos segregacionistas, preconceituosos, e vaidade de se acharem diferentes, escolhidos.
O carnaval não me assusta. Eu vou pular, me misturar, tentar mostrar uma alegria diferente. Que Deus me capacite, me alegre, esteja comigo, me proteja, me use e me ensine, me perdoe".
Alegra-me ver essa lucidez no coração de um jovem temente(temor=dependência) a Deus que, apesar de ter vivido na adolescência as neuroses igrejistas que aprisionam, não se deixou levar por uma tsunami religiosa que destrói vidas.
R.
Re, tenho aprendido contigo desde o primeiro post e, sei, vou seguir aprendendo.
Estamos juntos pela causa desse mesmo Reino. Estou de olhos abertos e ouvidos atentos, minha irmã em Cristo Jesus.
Parabéns pela clareza das suas palavras. Sigo junto!
Abraços sempre afetuosos.
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