"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Jesus Cristo






Em minha primeira imagem, percebi, a personalidade de Jesus combinava com a do Sr. Spock de Jornada nas estrelas: permanecia calmo, sereno e controlado enquanto caminhava como um robô entre os seres humanos nervosos na nave espacial Terra.

Não foi o que encontrei descrito nos evangelhos e nos melhores filmes.

Outras pessoas influíram em Jesus profundamente: a obstinação o frustrava, a justiça própria o enfurecia, a fé simples o entusiasmava.

Na verdade, ele parecia mais emotivo e espontâneo do que as pessoas comuns, não menos. Mais passional, não menos.


Quanto mais eu estudava Jesus, mais difícil se tornava classificá-lo.

Ele falou pouco sobre a ocupação romana, o assunto principal das conversas de seus conterrâneos, mas pegou um chicote para expulsar do templo judeu os pequenos aproveitadores.

Insistia na obediência à lei de Moisés, enquanto adquiria a reputação de transgressor da lei.

Poderia ser tomado de simpatia por um estrangeiro, mas afastou o melhor amigo com a dura repreensão: “Para trás de mim, Satanás!”.

Tinha opiniões inflexíveis sobre os homens ricos e as mulheres de vida fácil, mas ambos os tipos desfrutavam de sua companhia.

Um dia os milagres pareciam fluir de Jesus; no dia seguinte seu poder ficava bloqueado pela falta de fé das pessoas.

Um dia falava em pormenores sobre a segunda vinda; no outro, não sabia o dia nem a hora.

Fugiu de ser preso uma vez e marchou inexoravelmente rumo à prisão em outra.

Falou eloqüentemente sobre a pacificação, e depois disse a seus discípulos que procurassem espadas.

Suas reivindicações extravagantes colocaram-no no centro da controvérsia, mas, quando fazia alguma coisa realmente miraculosa, procurava ocultá-lo.

Como disse Walter Wink, se Jesus nunca tivesse vivido, não poderíamos tê-lo inventado.

Duas palavras ninguém pensaria em aplicar ao Jesus dos evangelhos: enfadonho e previsível.

Então, por que a igreja domou esse caráter — “aparou”, nas palavras de Dorothy Sayers, “com muita eficiência as garras do Leão de Judá, declarando-o um bichinho de estimação adequadamente domesticado para pálidos vigários e velhas senhoras piedosas”?

Barbara Tuchman, a historiadora que recebeu o prêmio Pulitzer, insiste em uma regra para escrever história: nada de “pequenas previsões”. Quando ela estava escrevendo sobre a Batalha de Bulge, na Segunda Guerra Mundial, por exemplo, resistiu à tentação de incluir um aparte: “Naturalmente todos sabemos como isso acabou”. Na verdade, as tropas aliadas envolvidas na Batalha, de Bulge não sabiam como a batalha terminaria. Pela aparência das coisas, poderiam bem ser escorraçadas de volta para as praias da Normandia, de onde tinham vindo.

Um historiador que deseja reter qualquer semelhança da tensão e do drama nos acontecimentos conforme eles se desenrolam não se atreve a fazer previsões de outro ponto de vista que tudo vê. Se o fizer, toda a tensão se desfará. Antes, um bom historiador recria para o leitor as condições da história que está sendo descrita, dando a impressão de que “você esteve lá”.

Esse é, concluí, o problema da maioria de nossas obras e idéias sobre Jesus.

Lemos os evangelhos pelas lentes de pequenas previsões de concílios eclesiásticos como o de Nicéia e o de Calcedônia, mediante as tentativas estudadas da igreja de lhe dar sentido.

Jesus foi um ser humano, judeu da Galiléia com nome e família, pessoa de certo modo exatamente igual a todos.

Mas, de outro modo, era um pouco diferente do que qualquer um que já tenha vivido na terra antes.

A igreja levou cinco séculos de debates ativos para concordar sobre algum tipo de equilíbrio epistemológico entre “como todo mundo” e “alguma coisa diferente”.

Como disse Pascal:

“A Igreja tem tido tanta dificuldade em mostrar que Jesus Cristo foi homem, contra aqueles que o negaram, como em mostrar que ele foi Deus; e as probabilidades são igualmente grandes”.



(Fragmentos de "O Jesus que eu nunca conheci" P.Y.)

4 comentários:

Esdras Gregório disse...

Regina quando eu estava lendo este post relembrei do livro mais lindo que já li em minha vida: o Jesus histórico, de Otto Borkr autor desconhecido no Brasil.

Alem de sádico rsrs sou também orgulhoso, pois tenho um post lá no blog intitulado: exercício religioso, que é muito superior a esse trecho do livro: O Jesus que eu nunca conheci de P.Y.

Coloquei o seu blog na lista de blogs que eu lei sempre, para sempre ler suas postagens recentes, e gostaria da sua vos feminina lá assim como eu também estarei as vezes por aqui.

Regina Farias disse...

Olá, Gres

Que honra!

E que alívio rss

Pois eu, pensando estar comentando no blog do Bolinha rss já ia me precipitando no meu achismo de que machista também era um dos seus adjetivo preferido he he he

Seja bem vindo!

E não se preocupe com o pH ácido dos comentários rsss (Ñão xingando minha mãe, meus filhos e meus netos... mande ver!)

Abs...

R.

Regina Farias disse...

ops!
Correção: adjetivossss preferidossss :)

Casal 20 disse...

Regina, isso me marcou também, quando ele faz essa comparação de Jesus com Spock. E, vendo os filmes de Jesus, num deles (que não vou lembrar mais qual é), verdade, Jesus parecia ter uma única expressão diante das mais diferentes e dramáticas situações. E não era porque o ator era ruim, não!

Havia nos filmes "Jesus só Deus", Jesus só homem", "Jesus hippie", "Jesus vacilão". Este, então, me chocou. O Jesus de "A última tetação de Cristo". Aquele Jesus era um "zé mané", um perdido abobado e, pior, o grande herói, que inclusive "dá jeito no vacilão de Nazaré" é, advinhe, Judas Iscariotes. Este, sim, sabia muito bem o que queria (só na cabeça do Scorcese mesmo).

Vou pro próximo. Até mais.