"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Palavrão não tão vão


Por esses dias eu andei lendo uns blogs  nesse mundão virtual afora e encontrei alguns críticos ferrenhos acerca de expressões consideradas vulgares onde os mesmos detonavam quem as usavam em seus textos, inclusive com rigorosos julgamentos, ao lançarem mão de versículos soltos da Bíblia para fundamentar sua rigidez.

Pra completar, ontem o presidente da nação - amado, idolatrado salve, salve por alguns, e detestado por outros – surpreendeu mais uma vez aqueles que nunca se acostumam com sua autenticidade escandalosa e linguajar peculiar.

Ora, minha gente, pega leve! (Como diz o jargão aqui em casa: deixa o cara.)

Que me perdoem os inflexíveis e mais radicais, mas o que eu vejo dentro daquele contexto é uma simples metáfora, um sentido figurado. Nada mais.

Pra que tanto oba-oba e tanto comentário/rigor ascético?

Pessoalmente, eu acho a supervalorização disso tudo uma grande bobagem.

Ou seria uma forma bem pessoal de extravasar raiva, inveja, recalque, despeito, desrespeito, inconformismo e até certo preconceito velado com a pessoa do presidente enquanto gente? (Ou seria dele gente enquanto presidente?! Vai saber o tipo de intransigente...)

Seja como for, bora ser honesto, rever nossos conceitos e, no mínimo, admitir que isso é pior do que qualquer palavrão.

Bom, mas eu não me constituí advogada de nenhum presidente He He He.

A questão aqui é o palavrão.

E o interessante é que dias atrás eu comentava com uma amiga sobre um termo mais “pesado” que coloquei em um dos meus textos e aí lembrei-me de algo que aconteceu em um show do Caetano Veloso, quando, lá pras tantas, ele se referiu a alguém como fodido.

(E que me perdoem os falso-moralistas pela aplicação de termo tão vulgar, porém para não chocar ninguém, euzinha já risquei rsss)

Então, no dia seguinte, não deu outra: um jornalista/moralista de plantão – desses que não se tocam que o músico em questão está andando pra esse tipo de comentário – perdeu seu tempo em escrever uma matéria meio patética sobre aquilo não ser atitude de um artista do naipe dele e bla bla bla.

E na mesma noite, em pleno show - como era de se esperar - o comentário/informativo do artista foi motivo de risada e não poderia ter sido menos recheado de fina ironia pelo fato de um jornalista não saber o significado daquela expressão considerada chula. Então, já que ele se escandalizava tanto, Caetano decidiu que ia chamá-lo de coitado, o que finalmente daria no mesmo, uma vez que coitado vem de coito. E coito, o que é?

Ora, a diferença é que COITADO é uma expressão tão comum e usual nos dias atuais, quanto foi palavra de baixo calão em séculos idos.

Igualzinha à outra expressão hoje em dia!

Os pseudo-moralistas são tão presos e limitados que não percebem que a questão não é o palavrão em si, a construção fonética, mas a energia (SENTIDO) colocada naquilo que se está falando.

Daí eu me lembrei que acontece isso comigo com bastante frequência em proporção inversa à mínima frequência com que me saem da boca tais expressões. Quero dizer, as pessoas pegam no meu pé e/ou falam a meia voz e por trás dos bastidores coisas do tipo e ela agora não é crente?  E eu pergunto: quem foi que me classificou e sob pena de quê?!

Para completar, pra que eu postei aquele texto meio ácido que pedia vocábulo idem?! Só tinha que dar no que deu!

Eu, que sempre fui de dar nomes aos bois, quando por exemplo dou uma senhora topada sem cabimento rss que me irrite pra valer - e se eu estiver na TPM -  não vou expressar um singelo poxa! Isso na intimidade, claro, pois em ambiente estranho ou formal, aciona-se automaticamente um dispositivo de nome conveniência, ou educação, ou refinamento, ou classe, ou linha (?) e por aí vai... podendo ainda ser apelidado de moderação, autocontrole, enfim! Bem, pelo menos esses dois últimos me soam menos mascarados e mais autênticos.

Ora, antigamente, na intimidade eu (quase) sempre fui de dizer palavrão e nunca ninguém se incomodou com isso, acho até que era porque eu sempre usava tais mecanismos de linguagem muito mais em momentos de descontração. A verdade é que, curiosamente, quando eu estava mal-humorada - ou enfurecida mesmo - não os pronunciava. E não por moralismo, longe de mim, pois sempre tive pavor de moralismo como regra. Era mais pelo fato de ser meio debochada e achar que eles se aplicam melhor nesse estado de humor sendo então presença (quase) constante em meu linguajar, não vou mentir, quem me conhece sabe que era assim... 

Por outro lado – e esse é o lado mais interessante - mesmo com as adversidades que surgiram a certa altura da vida, eu não costumava me dispor dos mesmos de forma ácida/azeda/picante para desabafar minhas agruras. Pelo contrário, em tais circunstâncias, eu escolhia ser mais, mais, digamos mais clássica e filosófica rsss (Não que não dê pra filosofar com a ajuda deles. O presidente apedrejado que o diga).

Enfim, euzinha era a mais pacífica das criaturas, pode crer! Ô que meigo!

Mas confesso que com o passar do tempo e com as inversões de valores instaladas, eu fui ficando mais irreverente com forte pitada de cinismo devido às intempéries da vida e não deu outra: o palavrão que já me rondava desde a adolescência, ficou meio como uma marca arisca no meu vocabulário tão versátil, onde durante longo e tenebroso verão, mandar plantar coquinho passou a ser um afago.

E ainda confesso, que mesmo hoje em dia com a inevitável desacelerada devido a mudanças verdadeiras e desvalorizando/esquecendo esse tipo de linguagem, não me escandalizo nem um pouco e principalmente discordo que palavrão seja sempre expressão chula (ou que expressão chula seja necessariamente um palavrão) pois afinal depende do contexto e até do tom de voz e expressão facial.

Ou seja:

É claro que nos dias de hoje por viver uma realidade nunca experimentada na minha vida antes, já não dou valor ao palavrão, mas também não me escandalizo com quem o usa e principalmente quem o faz de maneira inteligente e bem humorada.

Ora, o moralista de plantão há de convir que nem sempre o palavrão carrega assim um sentido chulo e nunca é demais usar de inteligência e considerar o seu sentido metafórico, vá lá!


Bem!

Beeeeem longe de mim a idéia de fazer apologia ao uso indiscriminado dessa ferramenta de comunicação rss porém, como já enfatizei acima, há palavras que soam muito mais como palavrão do que as listadas como tais.

Basta se atentar para seu contexto e sua carga.

Enfim!

Palavra, palavrão, palavreado...

Tudo tem um sentido e vem com uma determinada carga emocional que denota seu grau e sua gravidade.

Por exemplo - e com toda sinceridade - não concordo quando alguém quer expressar alguma indignação e sai com a emenda do soneto, tipo “soneto o caramba!”
Ora, diz “o caramba” sugerindo outro vocábulo.
Pelo menos é o outro que nos vem à mente, bora combinar, né?
Quem quiser pode se escandalizar, mas eu penso assim: ou diz direito ou não diz.

Um dia brinquei com uma pessoa muito íntima e muito amada, bem mais velha que eu, dizendo-lhe que, embora considerando a irreverência, de nada adiantava ela dizer “pula” e mandar cortar o “t” ao se referir a uma puta. Ora  - disse-lhe eu - puta é puta, não tem como dourar a pílula! A princípio ela se surpreendeu, porém, como mulher inteligente que é, se ligou e até ficou meio encabulada/reflexiva porque captou naquela minha colocação uma tremenda sinceridade e coerência.

É isso que certas pessoas não entendem, pois a questão não é o termo em si, e sim o que se quer transmitir e de que maneira.

O termo puta é chulo? Vulgar? Torpe?

Ora, depende do ambiente e do contexto.

E principalmente da sua veracidade!
A minha maneira bem particular de ver/viver/vivenciar tudo isso é que o mais importante é sair do moralismo puro e limitado e saber que palavra torpe é aquela palavra que entorpece.

E que só entorpece a própria pessoa que a usa.

Portanto quem a usa emocionalmente, está ofendendo é a si mesma e não quem a ouve, pois – parafraseando um pregador - à medida que a pessoa se deixa levar pelo sentido real da palavra torpe, agregando-lhe uma carga emocional, ela vai se enfraquecendo, debilitando-se emocionalmente, vai ficando desanimada. Vai se entorpecendo.

Resumindo: a medida e frequência emocional com que ela a usa, determina seu próprio entorpecimento.
Não tem absolutamente NADA a ver com o ambiente social.

E, como diria o presidente, os que mais se escandalizam e criticam são os que mais falam.

Mesmo quando apenas dizem: pobre na m&$#@ o caramba!!!

RF.




2 comentários:

Mario disse...

Texto ácido, pH 1 rsrs.

Ontem quando vi a chamada na internet para o video do "Presidente Lula fala palavrão", fiquei curioso, fui olhar o que ele disse.

Mas quando vi o vídeo, pensei nisso que você acabou de dizer, o contexto em que a palavra foi usado não fazem dela um palavrão. Foi apenas uma figura de linguagem, que retrata q realidade nua e crua do Brasil.

O que me indigna é não a pirotecnia que os jornalistas estão fazendo com o fato do presidente da republica ter dito "que o pobre tá na merda", mas que esses mesmos jornalistas não cumprem o seu papel social ao não escrever com a mesma indignação sobre os milhares de brasileiros que sobrevivem em condições precárias e sub-humanas, muitas vezes, em suas favelas caminhando sobre o esgoto que corre a céu aberto, ou como disse o nosso presidente: "QUE ESTÃO NA MERDA".

ZASGRAF disse...

Poooorra, Rê..vc é f...........! Uma intelectual refinada, povão e autêntica, é isso aí. Caí na gargalhada - mandar tomar no..., passou a ser um afago - kkkkkkkkkkkkkkkk. Eu tb digo palavrões e quem não gostar...eu afago! Caramba, vc é demais!

Eu adoro vc!

Xero em todos,
Soeiro Sá