Ele tinha apenas 12 anos e achava a sua vida um tédio... Tudo era motivo pra ficar “bolado”. Sua casa não era lá grande coisa, mas veio de uma família boa e honesta. Mesmo assim achava a vida um saco.
Porque sua casa não poderia ser melhor?
Porque seu pai não tem um carro?
Porque tudo não era como na casa ao lado?
Lá tem ar condicionado no quarto das crianças! Eles fazem ‘computação’ (assim era chamado o curso de informática...), inglês, natação... Vão até de van para a escola.
Falando em escola, claro que nada era “perfeito” lá também.
Ele era o próprio conceito do “bullying”. Magricela ao ponto de se envergar ao sabor duma brisa de outono. Cara espinhenta, deixou de ser chamado ‘carinhosamente’ de “Chokito” e migrou (obrigatoriamente, claro...) para a alcunha de “Chapisco”. Preciso dizer mais?
Ninguém queria se relacionar com ele desde a terceira série. Bom, ninguém senão a Carlinha. Era menina boa. Boa filha; a irmã do meio, amada pela mais velha e exemplo para a caçula. Tirava ótimas notas, ganhou bolsa em ciências na quinta série e pretendia fazer o mesmo em quaisquer outras matérias.
Ela gostava dele, achava-o engraçado, curioso... e de certa forma enxergava seu jeito ranzinza como um ‘charme meio ao contrário’. Coisa de doido pensar assim, mas vá entender a cabecinha de Carlinha.
Ela foi gentil tantas vezes com ele que acabou vencendo-o pelo cansaço. Começaram a namorar na sétima série, ele com 14, ela com 13 (mas possuía maturidade e doçura para os dois, diga-se bem...).
As amigas quase tiveram espasmos múltiplos ao saber do namorado que Carlinha arrumara.
- O Chapisco? Cê ta doida? Num é porque ele é feio amiga, mas porque é chato que dói!!
Ela se divertia com as amigas rindo dela mesma e foi obrigada a concordar com a galera que ele era mesmo chatinho e bem feinho, mas agora era tarde, estava caidinha por aquela criatura.
Chapisco tava indo na onda até o dia em que brigaram, e brigaram feio... Alias era tudo culpa dele mesmo. Como pode Carlinha se indispor com alguém, mesmo como ele? Impossível!!!
A casa ficou mais chata, a escola mais tediosa e a zoação dos moleques ainda mais sacal! Ele agora não tinha mais quem o ouvisse quem sorrisse de seus lamentos, quem o abraçasse nas reclamações familiares e quem o afogasse livrando-o de sua própria chatice.
Percebeu que estava amando. Na verdade, sacou que estava viciado na empatia e doçura que Carlinha exalava pelos poros.
Hoje com 29 anos ainda tem seu charme pessoal.
Chatinho como é quase não recebe convite de seus companheiros de trabalho para as happy hours depois do expediente.
Sua família quase se esquece dele nas datas festivas.
Ele mesmo às vezes quase não se agüenta.
Isso mesmo... quase...
É que Carlinha agora faz parte definitivamente de sua história. É ela quem dá graça à sua vida descolorida.
Chegou em casa ontem e ouviu dela;
- Como foi o trabalho hoje, amor?
- Uma chatice como sempre...
Ela sorriu, maneou com a cabeça ao passo que colheu os sapatos espalhados pela sala e foi preparar-lhe o banho enquanto gratinava deliciosa torta de frango para o jantar.
Ele a olhava de costas enquanto se afagava em seu sofá (quase) sem graça, deu meio sorriso e se sentiu salvo pelo amor daquela mulher doce...
Salvo pelo amor de Carlinha.
Wendel Bernardes, editor dos blogs CINEMA COM GRAÇA e LENDAS DA VIDA
3 comentários:
É curioso como o Amor exerce um poder sunlime onde os outros sentimentos menos nobres sequer conseguem tocar!
O Amor, puro, simples e real, pode mudar vidas, pode refazer o que estava desfeito, pode construir o que estava em ruínas...
Sei muito bem disso, pois (como diria Cassia Eller) 'o Amor me pegou'!
Valeu pelo carinho, imaginei que fosse pro Café!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Wendel, meu intérprete para línguas estranhíssimas:
Você quis dizer que 'o Amor exerce um poder SUBLIME', mas eu entendo que se trata do seu teclado analfa ah ah ah ah (foi mal)
Pois é, meu irmãozinho... Como falei lá no e-mail:
Amor incondicional é assim, ela simplesmente o amava. E pronto. E veja a revolução que ela fez na existência dele...
É por essas e outras que Paulo diz que entre fé, esperança e amor, o mais importante é este último, que simplesmente derruba todos os preconceitos e nos leva a amar incondicionalmente as pessoas mais estranhas e diferentes. Essa é a 'ideia' do Evangelho.
Pois no final das contas, esse é o único mandamento de Jesus para aquele que se diz Seu discípulo. O mais é acréscimo pretensioso.
Ah e num postei no Café porque achei que seria um arremate perfeito para as postagens anteriores e alguns comentários que andei fazendo e lendo, se é que vc me entende :)
Valeu d+
R.
Claro que te entendo minha querida,
fico honrado em ter um escrito meu aqui...
A questão do 'sublime' se deve ao fato de meu teclado (analfa) estar com as letrinhas apagadas, então tô sempre trocando 'b' por 'n' ou coisa assim!
Beijos!
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