"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

ACESSO DIRETO

'Eis que o véu do santuário se rasgou em duas partes de alto a baixo'
(Mt 27.51a)

O véu do templo era uma cortina pesada que ficava entre o Lugar Santo e o Santo dos Santos (o santuário mais interno, no qual a presença de Deus se manifestava) do restante do templo. Os sacrifícios restauravam a comunhão com Deus e o sumo sacerdote só podia entrar no Santo dos Santos no Dia da Expiação, para oferecer sacrifícios a Deus por si mesmo, por sua família e pelo povo de Israel. (Ver Lv 16.2)

O rompimento do véu, de cima a baixo, simboliza a morte de Jesus como sendo o último sacrifício pelo pecado, garantindo às pessoas o acesso direto a Deus, por meio de Cristo, sem mais a necessidade de recorrer a nenhum outro sistema sacrificial. O véu foi rasgado e o acesso a Deus foi aberto, de modo que já não somos mediados por 'sumos sacerdotes'. Cada crente é um sacerdote e tem livre acesso à presença de Deus. 

Então me vem a pergunta: seriam o véu, o cabelo, o tipo de roupa e determinado local de adoração, tipos de práticas necessárias ao acesso a Deus e passagem garantida para o céu?

Para entendermos melhor, vejamos o contexto histórico:

A palavra grega para véu é peraibon e significa ‘jogar em volta’ havendo vários tipos diferentes, sendo que muitos chegavam a ser vestimentas que atingiam não apenas o cabelo, mas cobriam grande parte do corpo, quando não o cobriam por inteiro.

1 - O shabis – faixa dourada ou prateada, era um ornamento para a cabeça. (Is 3:18.20)

2 - O turbante – cobria e ornamentava a cabeça das mulheres ricas.

3 - O peribolaios – (lit. - cobertura) algo parecido com o xale atual, era uma verdadeira vestimenta da cabeça. (A Primeira Epístola aos Coríntios, provavelmente se referia a algum tipo de cobertura assim porque, normalmente, quem usava os cabelos longos e soltos eram as prostitutas locais).

4 - Véus:

O tsaciph - Rebeca o usou como sinal de contrato de compromisso. Era para ser retirado no casamento. (Gn 24.65) - Tamar usou-o para enganar Judá (Gn 38:14.19)

O redid – peça de roupa fina, provavelmente para o verão. (Ct 5.7 – Is 3.23)

O tsamah – Véu para o rosto, ornamental, usado pelas mulheres da alta sociedade. (Ct 4:1,3 – Ct 6.7 – Is 47.2)

O mispachoth – esse objeto para cobrir, provavelmente um chapéu justo e próximo à cabeça – é associado com as atividades das falsas profetizas. (Ez 13: 18.21)

O apóstolo Paulo, líder espiritual numa época em que os cristãos eram vistos como subversivos, tratou dessa questão comportamental de maneira enfática na cidade de Corinto, lugar de prostituição e falsa conversão, onde prostitutas iam para os cultos escandalizar, distrair os novos convertidos e realizar falsas profecias. Essa mesma regra cabia ao comprimento do cabelo, já que, à época, também quem raspava ou os usavam curtinhos eram as prostitutas locais. Havia ainda aquelas que os usavam longos e eram prostitutas, como também havia aquelas recém-convertidas verdadeiramente, e que, obviamente, ainda os tinham curtinhos ou até raspados. Daí a necessidade de se pôr ordem na bagunça e poder diferenciá-las em público.

Então, como medida disciplinar, Paulo determinou RIGOROSAMENTE certas regras, de maneira que as mulheres não afrontassem a opinião pública com relação ao que era considerado conveniente à decência feminina naquele lugar e naquele contexto.

Para esse mesmo povo, ele enfatizou mais adiante: ‘E, embora seja falto no falar, não o sou no conhecimento’. Entenda-se por falto no falar, a sua dureza, seu modo rude e contundente de expressar-se ao dirigir-se a eles com suas normas; ele agia assim, com firmeza, justamente porque ao defender seu apostolado, ele bem sabia com o que estava lidando.

Ele não estava preocupado em ser o cara da oratória, como competiam aqueles que atacavam seu ministério, acusando-o de não ter habilidade. Na verdade, Paulo estava determinado a usar a autoridade que havia recebido de Cristo, demonstrando seu zelo pelos novos convertidos por meio de disciplina rigorosa.

E por que tais regras rigorosas em CORINTO? Corinto era uma cidade portuária para onde convergia gente dos mais diversos costumes, tendo a reputação não só de luxúria, mas também de má conduta sexual e prostituição religiosa, devido ao Templo de Afrodite - deusa do amor - localizar-se lá, e centenas de prostitutas realizarem ali o seu comércio e adoração. Logo surgiu o neologismo corintizar que significava praticar prostituição. Por outro lado, a idolatria, as filosofias divisórias, o espírito de litígio e rejeição de uma ressurreição física eram características marcantes dos gregos e Corinto ainda tinha o ‘agravante’ de controlar grande parte das navegações entre o Oriente e o Ocidente.

Acerca dos cabelos - Paulo também falava sobre o cabelo trançado das mulheres, porque quem os usava soltos, ou frisados, ou curtos e até raspados, eram as tais prostitutas locais.
A importância dos cabelos envolve três aspectos:

1º - distinguir claramente os sexos.
2º - afirmar publicamente o compromisso da esposa. (Não há referência às solteiras)
3º - distinguir as mulheres decentes das prostitutas.

Já nos tempos do AT, tanto homens como mulheres deixavam seus cabelos crescerem. Os cabelos eram uma característica física importante para vários homens da Bíblia, como Absalão, cujos cabelos longos, espessos e muito admirados, eram cortados anualmente, por ficarem pesados demais. (2Sm 14.26). Eliseu, por outro lado, era ridicularizado por sua calvície. (2Rs 2.23).

Nos tempos do NT, porém, o comprimento do cabelo era considerado uma marca de distinção entre homens e mulheres (1Co 11:14.15), mas jamais um mandamento de Deus por meio do apóstolo, como afirmam categoricamente algumas doutrinas religiosas. Inclusive, nos dias atuais, muitas expressões relacionadas aos cabelos são referências bíblicas, tais como:

Não lhe há de cair no chão um só cabelo da cabeça – referindo-se à segurança pessoal de Jônatas (1Sm 14.15) São mais numerosas que os cabelos da minha cabeça – significando um número alto, mas não especificado. (Sl 40.12) E até os cabelos todos da cabeça estão contados – numa referência à grande preocupação de Deus em relação a cada indivíduo (Mt 10.30)

Quanto à vestimenta - esta é outra questão extremamente mal compreendida, pois que baseada erroneamente em Deuteronômio 22, versículo 5, onde fala ser ‘abominação ao SENHOR’, a mulher usar roupa de homem, porém isso é uma referência à prática de se travestir, adquirindo comportamento do sexo oposto, numa alusão a algumas formas de homossexualismo e também a alguns cultos pagãos.

Local de adoração - No AT, Deus já falava com os crentes, por meio do profeta Jeremias, acerca da proteção que eles acreditavam ter, pelo simples fato de frequentarem o templo. Deus foi enfático quando afirmou que a garantia daquele povo não estava no templo com sua religiosidade e ritos próprios. E, sim, no arrependimento, na mudança de comportamento. (Jr 7)

Desde sempre Ele abominou as práticas vãs que não condizem com uma postura adequada diante DELE. À mulher de Samaria, Jesus falou que o PAI estava em busca de verdadeiros adoradores, aqueles que O adorem em Espírito e em Verdade. (Jo 4:19.26)  Antes disso, Ele havia expulsado os cambistas do templo, indignado com a farsa dos negociantes vendendo aos pobres ingênuos e ignorantes, animais com mácula para a oferenda ao SENHOR. E saiu destruindo o santuário prometendo reconstruí-lo em três dias, referindo-se ao próprio sacrifício na Cruz como A Aliança Eterna que tornaria todas as outras práticas inúteis e desnecessárias.

‘Quando adulto, Jesus foi ao templo apenas para pregar aquilo que acabaria com o significado do templo como lugar de culto’.

Podemos concluir que Deus não se interessa por ritos, sacrifícios ou adoradores em determinados locais.  Misericórdia quero, e não holocaustos – disse Ele de várias formas em diversas ocasiões diferentes. Afinal, não habita o Altíssimo em casas feitas por mãos humanas. O céu é o meu trono, e a terra o estrado dos meus pés; que casa me edificareis, diz o SENHOR, ou qual é o lugar do meu repouso?’ (At 7.48) Para Ele, nada significa seguir normas rigorosas na minha exterioridade física. E mais: Ele se aborrece quando o faço, e dentro de mim eu não sou um verdadeiro templo.

E quando é que eu sou templo do Senhor? Quando produzo frutos dignos do Espírito. (Ler Gálatas 5) E isso só acontece quando há uma mudança genuína dentro de mim e não na minha exterioridade como faziam os fariseus hipócritas. (Heresia – fig: contrassenso, tolice)

Na carta aos gálatas, Paulo enfatiza a justificação somente pela fé, diferenciando Lei e Graça, prisão legalista e liberdade cristã.  ‘... Pois por obras da lei ninguém será justificado’. (Obras da lei – exterioridades tais como: comportamento legalista, normas religiosas, doutrinas de homens).

Jesus disse aos fariseus: ‘Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça’. -Isso porque Seus protestos T-O-D-O-S eram ligados à perversão do coração. Os fariseus eram cheios de religiosidades, de normas e práticas ritualísticas que só tinham a ver com suas exterioridades. Empenhavam-se nessa exacerbada preocupação e esqueciam-se do principal: a compaixão. Daí Jesus deixar todos eles de queixo caído com a parábola do samaritano.

O autor da carta aos Hebreus, preocupado com os novos convertidos que estavam voltando às antigas práticas, crenças e legalismos do antigo judaísmo, lembra-lhes acerca da fé na Graça de Deus, por meio do Cristo da Cruz. Justamente o povo que cruzara fronteiras na raça e na coragem, estava desistindo da Nova e Eterna Aliança que Deus fizera, sem entender que viver pela fé era superior a viver pelo legalismo.  (A palavra hebreu vem da raiz semítica da palavra que determina um estado constante de progressão. Progredir - seguir em frente)

Eles queriam voltar aos antigos sacrifícios, mas o autor enfatizara que os únicos sacrifícios que com os quais Deus se compraz são os sacrifícios de louvor e a cooperação entre as pessoas. Em outras palavras, aquilo que Ele já havia dito muito tempo antes: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. É esse o único sacrifício pelo qual Ele se interessa. Porque na Nova Aliança, está tudo feito, realizado, consumado! Jesus realizou, por nós, o sacrifício. Na Cruz. O sacrifício que nos reconcilia com Deus.

A nossa parte é permitir que Ele faça morada em nós. Nós somos o templo do Senhor. Ele bate à nossa porta o tempo todo, nós é que não queremos ouvir. Mas quando ouvimos, Ele entra e faz uma mudança incrível: tira o nosso coração de pedra e coloca um de carne. E nele, o Seu Espírito. Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome. (Hebreus 13.15)

Enfim, o discípulo de Jesus não é conhecido pela performance, pela exterioridade, pelo cabelo ou pela vestimenta. Disse Jesus: ‘Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros.’ (João 13.35)

RF.

(Pesquisa: A Bíblia da Mulher - Editora Mundo Cristão - 2003 - SBB)

5 comentários:

Anônimo disse...

Olá Regina,
De maneira nenuma não quero como dizem; "puxar demais sua aba..." mas essa mensagem eu já ouvi, mas lendo de novo tocou em mim de uma forma diferente, tirou mais uma vez a escama que eu teimava em deixar...admito que pra muitas coisas eu fechei os olhos, e por desespero de querer mais de Deus achava que ele me "ouviria mais" se eu estivesse num templo onde acontecem muitos milagres ou que ele só falaria comigo se eu estivesse no monte orando...sem duvidas que ir no monte orar e se revestir é muito bom, mas quando se tem um proposito e se vai sem a intenção no coração de se receber algo, porque dai não é uma busca ou quebrantamento mais sim um negócio uma troca...
Deus tem se mantido calado comigo os últimos meses, mas tem me feito olhar e prestar atenção em coisas que ultimamente não tinha prestado tanta atenção...
Tenho perdido o interesse de ficar colada nas igrejas, mas não de Deus, misericordia se assim o fizesse!!! será por isso que então tenho perdido tanto interesse de igrejas e tenho olhado mais pra Deus??? Não deixo de congregar, mais sendo sincera, sinto que esse não é mais meu foco...
O que esta acontecendo comigo???

Bjossss
Que Deus continue a abençoar sua vida...

Likka disse...

Regina, uma coisa que me intrigava era o por quê de Paulo doutrinar apenas a igreja de Corintios, se fossem pra TODAS as mulheres usarem o véu e deixar seus cabelos crescidos,então por que ele não ensinava assim também para todas as"igrejas"? Confesso a vc que tenho essa visão ampla como o texto fala, e digo que o que realmente Deus requer de nós vai Muito além de usos e costumes, de doutrinas baseadas em uma carta de Paulo, é muito mais que isso, é interno, é víceral, é ama-lo em espírito e em verdade!! Mas é dificil, quando se conhece a doutrina de uma denominação primeiro que as EScrituras Sagradas, aí a verdade é aquilo que te passam como se essas regras fossem salvíficas. Dificil é desvenciliar-se de tudo isso sem sentir um "tiquinho de culpa". Obrigada sister pela leitura, foi muito proveitosa para mim, Deus abençoe, bjs

Regina Farias disse...

Likka,

Eu entendo que é difícil, e nem tampouco eu tenho essa pretensão de abolir tal uso. De maneira nenhuma. Não estou com isso querendo impor ninguém que tenha o hábito do uso do véu, a deixar de usá-lo. É habito, é costume. A própria igreja católica teve esse costume até bem pouco tempo. Na minha opinião, a parte boa disso tudo é esse nível de consciência que vc atingiu, que eu atingi anos atrás. A ideia é sempre trazer certas regras doutrinárias à luz da Palavra para desmistificá-las. Acho de uma responsabilidade muito grande, principalmente pra esse povo que se diz líder, usar o nome de Jesus para fazer seus acréscimos à Palavra. Isso é sério.

Fico muito feliz por ver cada vez mais essa nova geração não engolir qualquer coisa, agindo como o povo de Bereia, como cita o livro de Atos.

Deus te abençoe,

R.

Regina Farias disse...

Menina, só agora vi o depoimento da Flor...

:(

Regina Farias disse...

Acho que quando moderei deixei pra comentar depois e 'passou batido :(