"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Maledicências



É grande a minha perplexidade em constatar a indiferença mórbida que permeia os corações de muitos adultos que se dizem equilibrados e de conduta ilibada. Há um desinteresse em rever conceitos, uma apatia no sentido de dar uma checada nos confusos e invertidos valores que estimulam a complacência, a negligência e a tolerância ao mal.

O perigo é quando essa indiferença instalada em mim estimula em outrem, o ‘poder’ de manipular a verdade, estabelecendo situações injustas ao espalhar uma notícia. É então que a gravidade se instala, pois que notícia assim disseminada assume dimensões terríveis, tornando-se MENTIRA vez que, generalizada e fora do contexto, cada vez mais alimentada por sentimentos negativistas tais como raiva, medo e insegurança.
E, na medida em que se explora determinado fato sem a devida clareza acerca do mesmo, vão sendo geradas novas cargas emocionais que trazem sérios prejuízos ao se estabelecer uma imagem negativa. Com fortes pitadas de sentimentos negativos como pressuposições e antipatia gratuita resultantes de baixa autoestima.


É quando a língua solta contamina a tudo e a todos pondo em chamas toda a carreira de uma vida humana. (Ler Tiago capítulos 3 e 4)


Com a língua, esse órgão tão pequeno, somos capazes de destruir vidas, de queimar o filme do outro, de fazer a caveira literalmente, posto que mata; somos capazes de manchar para sempre a reputação de alguém com a maldade gerada de nossas próprias racionalizações, nosso autoengano, nossa visão limitada da realidade. 

Então, um diálogo aparentemente inocente - porém, perversamente tramado e articulado - transforma-se em fofoca ‘que percorre uma escala que vai de conversas de natureza íntima, pessoal e sensacionalista a afirmações que difamam e estragam a reputação ou a felicidade de alguém’.


Pegamos esses ingredientes no armário do nosso próprio coração enganoso e desesperadamente corrupto colocando tudo no caldeirão medieval e assustadoramente atual saindo em desenfreada caça às bruxas’. E o mais esquisito, contraditório e REPULSIVO é que - como um mal incontido e carregando veneno mortífero - dessa mesma boca e com a mesma língua que se amaldiçoa pessoas, são ditas palavras doces e amáveis a essas mesmas supostas bruxas. Invertendo-se os papéis, atribuindo-se ainda a quem não de direito, o rótulo de cobra peçonhenta.

O alerta de Tiago acerca da maledicência e do domínio da língua é que a nossa fala é DESTRUTIVA quando meias verdades são repassadas de maneira maliciosa, rude e indelicada com o desejo de ferir o outro e exaltar a si mesmo. E ele aborda isso de forma contundente dizendo com enorme CLAREZA que se há em nosso coração, inveja amargurada e sentimento faccioso, tal sabedoria não vem do alto, sendo antes, terrena, animal e demoníaca.
Ou seja: a sabedoria de Deus nada tem a ver com a necessidade, a vontade ou a ânsia pessoal, as transferências, a insegurança, a pseudo superioridade espiritual, a pressa, a precipitação, as más influências, as afirmações e autoafirmações do homem FALHO.
E o intrigante na nossa pervertida natureza, é que na hora de sermos nossos próprios juízes, a balança dá um tilti, vez que, ao sondarmos nossos próprios corações, até nos envergonhamos um pouco do que vemos; entretanto, temos o cuidado de ser complacentes com nós mesmos, encontrando facilmente mil justificativas para cada atitude impensada e inconsequente que cometemos com os outros. Já em relação às atitudes dos outros que nos atinge o ego, reagimos de maneira rígida e inflexível.
Imagino que tipo de indignação nos apossaria se tivéssemos a capacidade – e o direito - de sondar as mentes das pessoas e DESMASCARAR PRA VALER as suas farsas, suas mentirinhas sórdidas cotidianas, sua hipocrisia, sua falsa-piedade; certamente nos armaríamos até os dentes nessa relatividade finita do olhar arrogante e meramente HUMANO que vê com lente de aumento apenas na direção oposta ao próprio coração.
Daí as máscaras - penso eu. Pois assim é a natureza humana calando na alma um real ‘me engana que eu gosto’. E gosta porque esse engano é uma espécie de espelho silencioso onde um não acusa o outro, por serem iguais, embora todos estejam a postos com suas pedras à mão ao menor vacilo do outro.
Então, nesse ambiente falso, o fiel da balança do coração perde o sentido do perfeito equilíbrio, instalando-se o bloqueio que impede o exercício da compaixão. E o mais grave é quando essa cilada atinge ápice dramático e cruel: é quando esse bloqueio vem de gente sincera, porém completamente equivocada, posto que religiosa sistemática, jurando de pés juntos ter o aval de Deus nas suas decisões estritamente pessoais. Afinal, foi colocado ‘em oração’ e o ‘exército’ está a postos.
Então  (aí a cilada!), assumindo posturas avessas ao caráter de Deus, eis que o deus dos enunciados teológicos e da justiça própria se desenha adquirindo forma e força nas vontades pessoais, traçando plano bastante conveniente, no qual a pessoa ocupa o posto de juíza e rapidamente arroga-se o direito de tomar medidas severas e precipitadas.
Jesus lista claramente a fofoca e a maledicência ao lado do HOMICÍDIO, mas nós preferimos fazer vista grossa a isso. E seguimos. Religiosos. Com dois pesos e duas medidas. Dando ouvidos a boatos, aplicando nossa justiça própria, valorizando apenas um lado da moeda, espalhando mentiras para distrair e mudar o foco, na urgência por encobrir as próprias deficiências.

“... nem haja alguma raiz de amargura

que, brotando, vos perturbe, 
e, por meio dela, muitos sejam contaminados".
(Hebreus 12.15)
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