"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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terça-feira, 13 de julho de 2010

Dois pesos e duas medidas?



Recentemente fui acusada erroneamente de dar uma de juíza. E digo erroneamente porque juiz é aquele que julga, que decide, que executa, e eu, na verdade, sou mesmo é advogada de defesa nata de pobres e oprimidos.

Juiz de Direito: membro do poder judicial, que tem autoridade e poder para julgar e sentenciar.
Fonte: Dicionário Michaelis

Ademais, eu não tomei nenhuma decisão drástica - graças a Deus!- e não é porque eu não possua algumas características necessárias para exercer a função em questão, pois até que eu tenho boa dose de sensibilidade, bom senso, senso de ética, senso crítico e uma tremenda vocação humanitária, sem falsa modéstia.

PORÉM, ah porém... O que pega é que conhecimento e opinião pessoal, aparência e verdade, vaidade e excessivo rigor são algumas das ambivalências que constantemente desafiam a mente de quem tem a autoridade e o poder para tal decisão, seja na própria existência ou na função social que o delicado cargo confere.

summum jus, summa injuria <--- expressão que significa que o excessivo rigor equivale a INJUSTIÇA.

E o interessante é que na hora de sermos nossos próprios juízes, a balança entra em tilti, vez que ao sondarmos nossos próprios corações até que nos envergonhamos um pouco do que vemos, entretanto temos o cuidado de sermos complacentes com nós mesmos e, por isso, facilmente encontramos mil racionalizações para cada atitude impensada e, por vezes, inconsequente, que cometemos com os outros. Já em relação às atitudes dos outros que nos atinge os brios, reagimos de maneira rígida e inflexível, do tipo bateu uma, levou duas.

Imagino que tipo de indignação nos apossaria se tivéssemos a capacidade – e o direito- de sondar as mentes das pessoas e desmascarar pra valer as suas farsas, suas mentirinhas sórdidas cotidianas, sua hipocrisia, sua falsa-piedade; certamente nos armaríamos até os dentes nessa relatividade finita do olhar arrogante e meramente HUMANO que vê com lente de aumento apenas na direção oposta ao próprio coração.

Daí as máscaras, penso eu, pois assim é a natureza humana calando na alma um  real“me engana que eu gosto”. E gosta porque esse engano é uma espécie de espelho silencioso onde ninguém acusa ninguém, por serem iguais, embora todos estejam a postos com suas pedras à mão ao menor vacilo. Vacilo... Do outro, claro!

E, nesse ambiente falso, o fiel da balança do nosso coração perde o sentido do perfeito equilíbrio, e então se instala o bloqueio que impede o exercício da compaixão.

E, pra mim, o mais grave é quando essa cilada alcança dimensão mais confusa atingindo ápice dramático e cruel; é quando esse bloqueio se instala em gente sincera, porém sistemática e religiosa que jura de pés juntos ter o aval de Deus nas suas decisões estritamente pessoais. Afinal foi colocado “em oração”.

Então – aí a cilada! - assumindo responsabilidades avessas ao caráter de Deus, eis que o deus do ego e da justiça própria se desenha tomando forma e força nas vontades pessoais, traçando plano bastante conveniente, no qual a pessoa ocupa o posto de juíza e rapidamente arroga-se o direito de tomar medidas severas, precipitadas e sem compaixão.

Ora, o alerta de Tiago acerca da maledicência e do domínio da língua (caps 3 e 4) é que a nossa fala é DESTRUTIVA quando verdades são repassadas de maneira rude e indelicada com o desejo de ferir o outro e/ou exaltar a si mesmo. E ele aborda isso de forma contundente dizendo com enorme CLAREZA que se há em nosso coração inveja amargurada e sentimento FACCIOSO, tal sabedoria não vem do alto, sendo antes, terrena, animal e demoníaca.

E aí eu me pergunto o que é que a SABEDORIA DE DEUS tem a ver com:

• O DESAMOR

• O pisar na cana que fumega

• A insensibilidade

• A necessidade/vontade/ânsia pessoal

• As transferências

• O medo

• A insegurança

• A pseudo-superioridade espiritual

• A pressa

• A precipitação

• As influências

• As afirmações e auto-afirmações do homem FALHO?

Esse deus que assim age e assim manda agir não é o Deus que eu conheço!

Graças a Deus!

E enquanto vamos aplicando nossa justiça própria, com dois pesos e duas medidas, Deus nos diz:

O homem para quem olharei é este:

o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra.

(Cf Isaías, cap. 66 - parte"b" do versículo 2).







7 comentários:

João Carlos disse...

Bispa RÊ,

Caramba! Vi que você postou (depois de um século de hibernação), cliquei mas ainda não tinha parado para ler.

Nesse meio tempo escrevi um texto sobre o Bruno e postei. Após concluir minha lida, comecei a fazer a lição de casa e li seu texto...

Em tudo vejo que existem momentos em que nós, irmãozinhos, somos guiados a tratar dos mesmos assuntos! Até arrepia...

Falamos sobre os juízes de plantão, julgando e condenando todos aqueles que cometem pecados ao nosso redor, esquecendo-nos de nossos pecadinhos que potencialmente reservam um nobre lugar nas profundezas do inferno, "sete vezes mais quente" pelo fato de sermos considerados "crentes".

Não se brinca com a Graça. Ela é favor imerecido. Pessoas esquecem que serão julgadas pela mesma medida em que julgarem.

Sou publicano e pecador!!!!!! Misericórdia Deus...

Regina Farias disse...

Bispa não, né? grrrrrrrr

Tá se vingando porque te chamo de pastor, que eu tô ligada he he

Mas agora é sério:

Arrepia mesmo ver essa sintonia. Ainda que eu respeite e AME os diferentes e sei que você também...

Mas não dá pra ficar calada e a maneira mais saudável e proveitosa que eu vejo como apaixonada pela literatura, é colocar nas letras essa minha angústia de forma assim ampla e generalizada, onde cada um de nós pode se ver em determinadas situações à medida que vai lendo...

E eu me incluo, claro, pois como vc diz, sou "publicana" e pecadora. Misericórdia, Deus!

Valeu!

R.

Regina Farias disse...

João

Não apenas há sintonia como uma espécie de continuidade...

Veja por exemplo o texto da Adriana, "Movimento anti-casulo"

Caramba!

João Carlos disse...

o barato é louco mano!

Ever.TON disse...

Poético e profético Rê.

Inicialmente denunciador e no Granfinale A Poesia da Palavra do PAI.

Jogo flores sobre o palanque donde dissestes tais palavras, não para glorificação, mas como gesto de "tirar o chapéu", respeito. Eu não escreveria melhor.


Forte abraço Mana.
God Bless Us

Regina Farias disse...

JC

Esse barato louco é muuuuuito melhor do que qualquer baseado he he

bj

R.

Regina Farias disse...

Tom,

Chegue mais:)

Você demora mas quando vem é com atenção.

Valeu pelas palavras de carinho.

E queira Deus que essas palavras perfumadas e agora mais floridas rsss não sejam em vão.

Beijo grande!

R.