"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Sujo e mal lavado




O marido chega em casa às pressas pois está um tanto atrasado para assistir o noticiário de sua preferência. Acomoda-se no sofá e grita:
- mulheeerrr, cadê a TV??
A mulher entra na sala esbaforida mas muito segura de si:
- ah, marido, levei hoje cedinho pra vender porque o irmão disse hoje lá na igreja que quem não desse o dízimo até amanhã não seria salvo.

Parece piada. Antes fosse...
Mas é a mais pura e cada vez mais corriqueira realidade. Isso é crime e tem nome: coação. E o tom velado de ameaça de quem diz dá quem pode? E, claro, com o cuidado em mudar para o nome de 'oferta', pois como sugere a expressão, se está ofertando, ninguém está obrigando.

Me chama à atenção essa piada porque quem a conta vive numa terrível prisão religiosa que pratica outros tipos de coação. 

É a história do 'sujo falando do mal lavado'. Gente que critica o fiel que vende a TV para pagar dízimo com risco de não ser salvo é a mesma gente que sofre pressão psicológica terrível para se batizar até tal dia sob pena de não ser salvo. Gente que usa todo tipo de roupa e linguagem circulando por aí no seu dia-a-dia, mas quando bota o pé dentro do suposto lugar santo, estão mudadas as indumentárias e o modo de portar-se.

Tem um monte de designação para o que as denominações por aí fazem para conseguir dinheiro e fiéis, que são verdadeiros casos de polícia. Para não citar várias designações com risco de repetição e redundância, vou sintetizar em uma só que, a meu ver, abrange tudo:

Pressão psicológica - Coloca a alma da pessoa em uma prisão invisível. Sua principal armadilha consiste em ludibriar o raciocínio, onde a driblada lucidez é substituída pelo auto-engano; assim, a vítima, eternamente angustiada, passa a experimentar situações constantes de estresse vivendo em distorcido mundo paralelo criado para sabotar sua própria consciência. 

E tem uma sequência que eu chamo de círculo vicioso, pois tal opressão que vai se instalando, ao mesmo tempo é aliviada na medida em que a pessoa se dirige ao local em que toma um pseudo-banho espiritual que lhe diz 'Deus está aqui'. E, quando ela volta pra casa, reinicia-se todo aquele processo instalado anteriormente que a prende cada vez mais em um emaranhado de normas, regras, proibições e obrigações. É um  'TENHO QUE' para todos os movimentos, até ao próprio respirar. Daí, segue-se outra fase: a do fingimento. Sim, pois não dá pra suportar tanta carga, então fingir é a válvula de escape. É quando as máscaras caem bem. Mas caem na face. E grudam. Estabelece-se então no indivíduo uma ingenuidade (tolice) que o encaminha às cegas a uma patologia que os dirigentes chamam de conversão.

E o mais absurdo de tudo é quando, nessas denominações em nome de Jesus, impera a meninice espiritual que beira a pretensão. É quando o pregador diz que a salvação só é encontrada naquele espaço físico. Ponto máximo da alucinação provocado pelo ópio do denominacionalismo. Mira fácil: o cabisbaixo, fragilizado, sugestionado. Inicia-se o processo da doutrinação que seria hilária se não estivesse em jogo a saúde psicológica do indivíduo...

Fica no ar pesado algo indizível porém perfeitamente claro: de um lado o autoritarismo do opressor travestido de bondoso intermediário de Deus; de outro, o constrangimento do dizimista/ofertante psicológico que, vendo-se nu e miserável, acaba cedendo e comprando uma fórmula repleta de efeitos colaterais e reações adversas que vai transformá-lo em um ser estereotipado, mais doente do que antes. Mas com aparência de feliz e realizado vez que no baú do seu kit espiritual estão todas as máscaras necessárias. Conforme a situação.





2 comentários:

Wendel Bernardes - Cinema Com Graça disse...

É como você bem disse. É algo cíclico e que se repete à exaustão. Não sei realmente te dizer o que seria pior nesa enfadonha situação; se a coação dos líderes, ou a castração dos liderados. Mas tenho certeza que tudo isso é uma triste realidade baseados simplesmente na vontade do homem de ser 'porta-voz' de Deus, usando todo e qualquer artifício para juntar grana, ou mesmo ganhar status!

Triste e real!

Regina Farias disse...

Então...
Grana e/ou status pra mim dá no mesmo. São táticas igualmente detestáveis!
Ficar rico à custa do tolo e encher a 'igreja' de fiéis pelo status de 'mais espiritual', são duas jogadas igualmente enganadoras.