"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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domingo, 27 de junho de 2010

Nossas dores




Algumas dores são localizadas. Outras se disseminam; tudo dói. Explico melhor. Algumas feridas só machucam no local; uma queimadura, um espinho, uma contusão, indicam exatamente o lugar e o tipo de dor. Mas há sofrimentos que se alastram de tal maneira que se perde inclusive a origem da ferida. Basta apertar onde foi machucado e sensações desagradáveis se espalham como ondas. A dor fica sistêmica. Mas isso vale não só para o físico.

Há feridas da alma que são septicêmicas.

As feridas narcísicas, por exemplo, não machucam apenas em um determinado ponto. Elas se transformam em agonias integrais. Feridas narcísicas são as que vêm da infância ou quando o esforço de firmar a identidade foi frustrado. E sempre que alguém toca nessas ulcerações da alma, tudo sofre.

Por isso, sejamos sempre cuidadosos com os juízos. Podemos lacerar uma pessoa por inteiro. Os juízos são sempre temerários. Quanto menos conhecemos uma pessoa, mais rápidas as sentenças. Caso tivéssemos acesso aos dilemas mais íntimos, às disfuncionalidades familiares mais antigas, talvez usássemos de mais misericórdia ao condenarmos.

O rei Davi optou ser julgado por Deus e não pelos homens porque sabia que Deus conhece os porões subjetivos do espírito, as hesitações da alma e os medos do coração. E os homens concluem com vereditos precipitados; com análises superficiais.

Zidane, o jogador de futebol francês, perdeu a distinção porque um adversário fez algum comentário danoso sobre sua mãe e irmã. Cutucado na ferida narcísica, todo o homem reagiu. Cristo advertiu àqueles que desprezam essas sensibilidades e partem para chamar o próximo de “raça”, que significa louco. Eles são dignos do inferno.

Já constatei o estrago que uma palavra mal dada produz, pois tratei de pessoas destruídas pela dor narcísica. Não existem xingamentos ingênuos, tudo o que se fala não produz efeitos momentâneos, mas consequências boas ou arrasadoras na autoestima de alguém. Em minha breve existência, cuidei de mulheres destruídas por comentários levianos. Conheci homens boicotados de se tornarem tudo o que podiam porque alguém, que conhecia suas feridas narcísicas, alfinetaram onde mais doía. Para destruir uma pessoa, basta lembrar malfeitos, vergonhas públicas, deficiências físicas, inadequações familiares.

A música interpretada por Ana Carolina carrega uma sensibilidade especial. Ela fala de um “vendedor de flores que ensina seus filhos a escolher seus amores”. Quanta ternura! O mundo seria diferente se lidássemos com o próximo com a delicadeza de quem mexe com pétalas de rosa.

Educação, finesse e sensibilidade não vêm de berço. São construções que demoram às vezes a vida toda. Nesta geração individualista, em que as pessoas mal se preocupam com a felicidade alheia, já faltam espaços para cuidar de tantos que pedem ajuda para dores que nem eles mesmos conseguem expressar.

Zelemos para que nossas palavras produzam vida, nunca morte.

Na íntegra aqui ---> RG


4 comentários:

Rô Moreira disse...

Parabéns pelo texto. Uma grande verdade, se cuidássemos mais do que falamos, produziríamos mais do que destruiríamos, devemos tomar cuidado, pois muitos tem o poder de adoecer e até matar mexendo na vergonha e na dor de alguém com as palavras. Paz e bjs!

Ever.TON disse...

Misericordia. Acho que é disso que estamos falando né Rê?

A etimologia da palavra Misericordia é de "ter coração para com o miserável,pobre,o lamentavel".
É Comum vermos expressões na Bíblia que demonstra que o Senhor Jesus se movia exatamente em direção as pessoas com esse princípio.

Por exemplo na passagem de Lucas 7;13 em que Jesus estava em Naim quando um "velório" de um jovem acontecia e sua mãe (viuva) chorava, encontramos a seguinte descrição:

E, vendo-a, o Senhor moveu-se de íntima compaixão por ela, e disse-lhe: Não chores.

Fico maravilhado com essas passagens. É nelas que me reconcilio com Deus em minhas fraquezas, em minhas 'dores', etc.
Procuro sempre (dentro de minhas limitações), olhar para as pessoas com os olhos do Senhor. olhos de paixão e compreensão. Olhos que não se faziam de cegos a dor do outro, mas que gerava em si mesmo dor semelhante a do sofredor a ponto de contorcer-lhe as entranhas.

Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo. Tiago 2:13

Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes. Mateus 12:7

É chegado o tempo. Este é o Ano Aceitavel, pois o Senhor 'lembrou-se/compadesceu-se de nossas mazelas. Portanto como não exercer o mesmo com o semelhante?

abs

Maria Simone disse...

Sabe REgina eu concordo com Shakespeare: "Há mais mistérios entre o céu e a terra do que imagina nossa vâ filosofia".
Se fazer o bem e amar o próximo fosse apenas suprir as necessidades de uma pessoa seria muito fácil... mas envolve muito mais.
Há pessoas que fazem da mendicância uma profissão e, não conseguem de modo algum, levantarem-se, por mais ajuda que recebam.
Mas, eu prefiro ser verdadeira com todos os tipos de pessoas, ou seja, partir do princípio de que todos devem ter uma ocupação e, desenvolverem-se pessoal e profissionalmente.
Mas também acho que há uma administração pública que deveria se preocupar mais com os problemas sociais, pois ganham para isto.
No entanto o que a biblia nos ensina é que a nossa mão direita não fique sabendo o que fez à esquerda, ou seja, não devemos publicar o bem que fazemos mas deixemos que Deus veja e nos recompense.

Regina Farias disse...




Eu vejo nesse texto de RG exatamente esse enfoque especial para o cuidado que devemos ter ao falar, como vc bem coloca.

Tom,

Quanto tempo, fico feliz com sua participação!

E complementando o que falo acima, só mesmo com misericórdia, para se reter palavras que podem trazer sérios prejuízos.

Simone,

Então, se atentássemos para o significado amplo desse amor ao próximo que Jesus nos ordena, o mundo seria bem melhor.

Obrigada a todos pelas palavras de paz e de amor.

bjus,

R.