"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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sábado, 13 de março de 2010

Vida espiritual?!




Escuto com muita frequência a expressão “fulana é muito espiritual” e isso me incomoda e me deixa muito intrigada simplesmente por não conseguir enxergar uma pessoa saudável desenvolvida separadamente em apenas uma faceta da sua existência. Para mim, o sentido de espiritualidade tem a ver com um modo sadio de se viver em todos os aspectos, daí não dar pra conceber como espiritual, alguém triste, oprimido e cabisbaixo, por exemplo.

Uma pessoa que se dedica excessivamente ao trabalho, ou que não cuida da própria saúde física sendo até desleixada com a aparência, ou que tem problemas familiares graves, e ainda tem sérias dificuldades de manter um relacionamento saudável com as pessoas, carece do princípio universal chamado equilíbrio.

Como haver equilíbrio se apenas uma dimensão da nossa existência está sendo “trabalhada”? Nós não somos mente, ou corpo, ou espírito, isoladamente. Não é possível dissociar essas três partes, pois ambas formam um único sistema.

O ser humano é resistente por natureza e por isso é muito frequente o hábito de querer carregar nas próprias costas fardos inúteis e pesados, só porque ele não se dispõe a enfrentar certas áreas da vida e entregá-las verdadeiramente a QUEM tem o poder de curar. E inevitavelmente me ocorre a questão da religião visto que esta costuma trazer sérios problemas nesse sentido, já que a mesma é mestra em mascarar a realidade com seus ensinamentos, levando o indivíduo a acreditar que está no caminho certo só porque preenche alguns requisitos exigidos por ela em detrimento do desenvolvimento sadio do ser como um todo.

Dentro do fundamentalismo religioso existe uma regra geral e simplista que me diz que se eu participo de algum ministério da igreja, se eu sigo normas áridas relacionadas com a minha exterioridade, se vou à igreja sistematicamente, se sou obediente a um pacote doutrinário, eu estou no caminho certo. Quantas vezes já se ouviu a frase absurdamente condescendente e distorcida: “Pelo menos ele está indo à igreja, lá não é o lugar do doente?”

Há essa meia verdade principalmente entre aqueles mais rígidos e legalistas cuja crença é confundida com fé, onde a verdadeira fé é substituída por meras crendices assimiladas velada e gradativamente como auto-punitivas e que, com o passar do tempo transformam-se em arraigadas superstições religiosas promovendo paralelamente uma pseudo-serenidade de espírito uma vez que lá dentro há um anestésico que eu chamo de envolvimento coletivo em manifestações emocionais, e aí é que reside a armadilha, pois de lá se sai embriagado de um espírito raso e temporário numa demonstração gritante de que esse caminho extremamente equivocado e perigoso não serve absolutamente de parâmetro para a conduta realmente cristã, posto que em nada colabora com o equilíbrio necessário para se viver uma vida prática coerente, sensata, ética. Pelo contrário, conduz a uma série de situações conflitantes que coloca a pessoa cada vez mais em parafuso em relação aos reais conceitos e valores, sendo que o mais grave de tudo é fazer isso usando sempre o nome de Jesus.

Ora, Jesus é antes de tudo ÉTICO! De nada me serve seguir a cartilha exigida pela denominação religiosa, se aqui fora, na minha vida prática, eu não tenho uma vida social e familiar equilibrada. É aí onde entra o verdadeiro equilíbrio espiritual. Que equilíbrio espiritual é esse que não me permite discernir o que é ético, o que é de fato a lista das situações cotidianas nas quais eu devo exercer a minha condição de equilibrada? As ações aqui fora da igreja é que vão dizer da minha saúde física, mental e espiritual. O cultivo e a prática de princípios e valores, a tomada de decisões, as escolhas pessoais, as minhas atitudes coerentes, estes sim, servem como fiel da balança.

Tudo isso me diz claramente que se eu tenho fidelidade apenas dentro da igreja eu não estou sendo fiel ao Deus da igreja e sim à igreja enquanto ditadora de regras inflexíveis que em vez de libertar o que faz mesmo é acorrentar a alma. Essa fidelidade apenas lá dentro é pura viagem, é ilusão, (É o tal ópio!), é religiosidade mascarada que só promove a dissimulação, a mentira e o auto-engano que entristece, que abate, que oprime, que DESANIMA.

Deus requer nossa integridade é na vida relacional aqui do lado de fora da igreja. E isso nada tem a ver com performances e tão-somente com o nosso caráter refletido nas nossas ações. Trata-se de uma busca constante que nos dá lucidez e nos liberta dos fascínios enganosos que conduzem ao poço escuro e profundo.

Para mim, isso é ser integralmente espiritual. Esse é o equilíbrio que vem da CURA. O mais é pura crendice que só adoece e aprisiona.




Disse Jesus:

Aquele que beber da água que eu lhe der
nunca mais terá sede;
pelo contrário, a água que eu lhe der
será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna.

(Cf João 4.14)





4 comentários:

Marcio Alves disse...

Regininha

Fantástico texto!!

O grande problema desta espiritualidade surreal doente e pobre advém do dualismo, da compartimentação da vida, divida e vivida separadamente, sendo que o ser é integral em sua essência, não sendo bi, ou tricotômico, mas um ente possuidor de uma essência existencial de corporiedade almatica, sendo alma sem corpo fantasma, e corpo sem alma, morto vivo, ou seja, somos o que somos sendo o que somos na integralidade da essência do ser que é ser sendo na existência.

Abraços

Ricardo Mamedes disse...

Regina, minha irmã,

Concordo plenamente com o texto - enxuto, equilibrado, mas que chama à reflexão.

O que mais se vê nas entidades religiosas hoje em dia é essa manifestação exterior de religiosidade. E o misticismo ridículo travestido de espiritualidade, mas que no fundo é somente carnalidade.

Bem, você sabe, eu ando revoltado com essas tais "manifestações". Abandonaram o Deus da graça, do favor imerecido, da salvação pela fé, em busca de um deus outro. A graça prescinde dessas tais regras, do emocionalismo, do transe, do misticismo exacerbado , em suma de toda essa boçalidade.

Quem encontra a graça de Deus não busca o show, mas a santidade é algo que a acompanha, que aproxima os filho do Pai. E esse processo é automático, porque vem de Deus, sendo Ele o único motivador (Filipenses 2:13).

O que sempre peço a Deus é não somente o entendimento, a compreensão bíblica desse processo, mas os sinais de que Ele opera em mim as Suas maravilhas espirituais não visíveis, mas apreensíveis. Nada tenho a jactar - parafraseando Paulo - uma vez que não possuo qualquer mérito. Toda honra e toda Glória a Deus, que nos justificou em Cristo Jesus.

Belo texto minha irmã!

Que Deus, rico em graça e misericórida, lhe abençoe.

Ricardo.

João Carlos disse...

É Regina, bateu forte e colocado.

Parece míssil teleguiado, tipo aqueles que os Estados Unidos usaram na guerra do Iraque (?), conhecidos na época da "Operação Tempestade o Deserto"... (pra variar viajei né?)

Escrevi algo parecido, nem lembro o post, já faz um tempo. Também não me conformo com a pieguice, é muito fácil ser crente dentro da igreja e ser deformado fora dela.

Como disse o Caio Fábio em um livro abençoadíssimo dele, temos que ser "SAL FORA DO SALEIRO"

Beijo.

JC

Regina Farias disse...

Meus amigos,

Amo os comentários de vocês, principalmente porque funcionam como complemento valioso.

Márcio,

É forte, mas a expressão é essa mesmo: morto vivo.

Ricardo,

Saudades de suas considerações...
Compartilho dessa sua "revolta".
Espero que você não suma :)

J.C.,

Então... é essa tal deformidade respaldada pela denominação que muito me inquieta.

Valeu e voltem sempre!

bj

R.