Sempre acordo cedinho pra começar o batente que não é nada fácil - mas tiro de letra rsss- e hoje dei uma de desocupada ficando um tempão colada na janela admirando o início de uma construção que começou por esses dias aqui ao lado.
Imagine a barulhada logo cedo, pois eles não estão pra brincadeira, não.
Ultrapassando os limites legais começam a pancadaria às vezes até mesmo antes das sete da manhã.
Pode uma coisa dessas?!
Enfim...
Lá estava eu observando mais um tapa-visão sendo construído quando meus olhos se desviaram casualmente para o prédio ao lado.
Então eu vi uma cena que me prendeu a atenção fazendo-me refletir e voltar no tempo.
Enquanto uma babá esperava a jovem mãe despedir-se do bebê para ir trabalhar, um pouco mais à frente a colega empurrava um carrinho com outra criança mais ou menos da mesma idade; menos de um ano de idade, com certeza.
Aquela cena carinhosa em que a mãe segurava o filho, retardando sua saída por alguns preciosos minutos e certamente fazendo as recomendações de praxe, mexeu muito menos comigo do que o ato seguinte. Aquele em que, inevitavelmente a mãe sai de cena e a babá segurou a criança.
Caramba...
A forma como ela segurou a criança! Essa cena eu queria ter registrado, publicado, denunciado!
O desleixo, o descuido, o desinteresse, todo aquele contraste com a cena anterior me chocou e naquele momento muita coisa me passou pela mente.
Enquanto as duas babás saíam displicentemente em direção ao playground fiquei pensando nessa coisa muito estranha de ter que ficar longe dos filhos para trabalhar.
Irônica e estranhamente, outras pessoas - geralmente sem nenhum vínculo afetivo com a gente - passam muito mais tempo com os nossos filhos para que nós, mulheres, ajudemos no orçamento.
Outras pessoas assumem o papel dos pais porque o pai e a mãe não têm tempo para o próprio papel.
E assim, mães precisam trabalhar para suprir as necessidades materiais que elas julgam necessárias aos filhos que vão ficando numa espécie de orfanato particular.
Então eu volto no tempo e agradeço a Deus por ter tido todo o tempo do mundo para ficar com meus quatro filhos pequenos.
E não por falta de ambição ou época de submissão ao macho. Pelo contrário, pois mesmo sendo início dos anos oitenta, a queima de sutiãs ainda ardia no peito de algumas mulheres inteligentes que mesmo clamando por liberdade, não abriam mão de serem mães presentes.
Orgulhosamente, eu era uma delas, pois também nunca abri mão do uso do bom senso e da lucidez que Deus me deu.
É claro que podia ter usado todo meu potencial para ser alguém no mundo profissional, afinal ao casar aos vinte e um anos, cheia de energia e de planos, trancara matrícula de curso de
Odontologia que eu adorava fazer e cursava há quase dois anos.
Poderia perfeitamente correr atrás de mais dinheiro para aumentar a renda e usufruir mais e mais coisas.
Mas resolvi assumi o meu papel de mãe em tempo integral. E vejo hoje claramente o quanto valeu!
E agradeço a Deus!
Analogamente - e de modo inevitável - volto à construção acima, detendo-me nos alicerces, na fundação, na sólida base sendo edificada gradativamente.
No cuidado e no rigor das minúcias que desfazem os equívocos do pseudo-alicerce, driblando transtorno futuro.
Transtorno que muda a ordem natural das coisas; que levanta edifícios sem muita base, com meia fundação.
Algo meio sem fundamento que gera as desconstruções...
RF
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