"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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terça-feira, 21 de abril de 2009

O Começo do Fim da Igreja Evangélica Brasileira

O título deste artigo pode parecer dramático ou sensacionalista, mas segue na esteira do que muitos importantes líderes cristãos têm apontado como sendo uma posição pessoal e/ou comunitária, uma espécie de “fim para mim”.

Refiro-me a figuras como o pastor de origem batista Ed René Kivitz, que em seu recente livro “Outra Espiritualidade”, afirma estar à procura de um outro modo de expressar a sua fé em Deus e a sua fidelidade a Cristo, que não àquela que ganhou a alcunha de evangélica. Ele diz não mais se ver naquilo que pode hoje ser identificado por este adjetivo.
Antes dele Ricardo Gondin, líder internacionalmente conhecido da Igreja Assembléia de Deus, escreveu em carta aberta amplamente veiculada na Internet, seguindo o mesmo diapasão, que não é mais evangélico.

O texto de Gondin me soou mais acre que de Kivitz, nele o pastor que começou o seu ministério na capital cearense, mas que hoje está radicado em São Paulo, diz que a igreja evangélica no Brasil transformou-se numa fábrica de medos e neuroses, marcada por um forte legalismo e com seu corolário que é a burocracia forense, de tribunais eclesiásticos e assembléias deliberativas, onde muito se discute, machuca, humilha e constrange, mas pouco se delibera.

Um outro cristão de renome que parece ter declaradamente deixado as fileiras do evangelicalismo tradicional foi Caio Fábio.
Tendo sido um dos maiores evangelistas da história de nosso país com as cruzadas de evangelização que literalmente cruzaram o país nas décadas de 80 e 90 e o principal articulador da Aliança Evangélica Brasileira (AEVB), Caio guarda hoje muitas reservas em relação à maioria das iniciativas eclesiásticas tidas como evangélicas que têm notoriedade na mídia televisiva e radiofônica.
Suas acusações carregadas de uma terminologia psicanalítica apontam um grande segmento das igrejas evangélicas como estando a torturar emocional e espiritualmente os fiéis, quer seja instalando neles “culpas fabricadas em laboratório”, quer pelas promessas de saúde e prosperidade à “preços módicos”.

Por que será que estas e outras tantas figuras de peso estão se “desassociando” do movimento evangélico? Creio que poderíamos apontar pelo menos duas razões: em primeiro lugar o conceito de “evangélico” se esgarçou tanto que já não sustenta nada. Em outras palavras, cabem tantas formas diferentes de crenças e cultos debaixo desta rubrica que ela já não designa claramente nada.

A Igreja Universal do Reino de Deus se diz evangélica e a Igreja de Confissão Luterana faz a mesma coisa, mas não há sequer um aspecto em que estas duas comunidades se toquem. A segunda está muito mais próxima da Igreja Católica Romana, ao tempo que a primeira está mais próxima do Espiritismo Kardecista, dois grupos que estão fora do mundo dito evangélico.

Imaginem a confusão disso tudo...

Em segundo lugar, durante o último quartel da década de 90 a igreja evangélica passou por uma fase de “profissionalização marketeira” de seu clero e de suas instituições, ou seja, as comunidades locais começaram a ser vistas como “um negócio”, “um empreendimento” e os números começaram a se tornar mais importantes do que o conteúdo da pregação e do ensino.
Na verdade, a pregação e o ensino começaram a ser vistos como meios para alcançar os cobiçados números (freqüentadores e receita).

Em face disso os discursos começaram a ser cada vez mais sobre a vida aqui e agora, ao passo que o céu foi sendo deixado para um segundo plano.
Muitos pastores se converteram em gurus de auto-ajuda, e as liturgias foram dirigidas para promover motivação mais do que adoração.
O que funciona em muitos aspectos, mas representa uma ruptura com um cristianismo histórico que os referidos líderes dizem estar vinculados.

O fato é que mais do que nunca nós precisamos relembrar as palavras de Humberto Rohden, que nos ensinou que mais importante do que ser cristão (ou evangélico) é ser crístico.

Mais do que crer no que Jesus ensinou, urge viver como ele viveu.

O Brasil é uma terra de liberdade religiosa e de muito sincretismo, devemos ter a liberdade para dizer que nós não fazemos parte deste ou daquele movimento, sobretudo quando a agenda dos interesses destes se afastou de nosso ideal de espiritualidade.

(MartorelliDantas)

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