Ao ler o título da matéria de capa do Diário de PE de ontem (domingo, 12.04.09“)Mentiras dos pais pós-separação” imaginei que iria ler um texto no mínimo imparcial, já que o termo “pais” refere-se ao casal: pai e mãe.
Ledo engano...
Engano que acontece já na dita chamada de capa, onde a ênfase se dá às mentiras de ambos – pai e mãe – enquanto o conteúdo da matéria enfoca particularmente - e de maneira agressiva - a postura da mãe, considerando que na grande maioria dos casos de relacionamentos desfeitos, é ela que detém a guarda dos filhos.
Na minha leitura particular, a matéria quis tratar de uma questão específica chamada pelos psicólogos de “alienação parental” na qual a genitora denigre a imagem do ex-parceiro, tratando-o como intruso e levando o filho a afastar-se deste, sendo também chamado esse tipo de ação de “implantação de falsas memórias”, alimentada por um sentimento de ódio exacerbado.
Particularmente, eu considero isso meio patológico, por isso não concordo que seja analisado assim de maneira generalizada. E que esse caso específico deve ser tratado não apenas na Justiça, mas principalmente no especialista de saúde! Pois se o intuito é preservar o desenvolvimento psicológico e emocional do filho, nessas condições a mãe requer cuidados urgentes, já que também não existe ex-mãe como diz a matéria referindo-se à exclusão que a "mãe vingativa" faz ao pai renegado. Afinal,os dois, juntos ou não, continuam responsáveis pela formação do filho.
Em termos legais - até que as informações da referida matéria são um tanto satisfatórias, considerando apenas a especificidade do caso de mães com essa síndrome; porém, como tudo na mídia tem suas sutilezas, essa matéria não é diferente sendo então colocadas de forma velada no mesmo saco, todas as mães separadas, findando por trazer à tona de forma delicada e distorcida, situações conflituosas um dia vivenciadas por pai, mãe e filhos.
O certo é que, ao final da leitura percebe-se que se trata de um texto parcial e tendencioso, onde o pai é visto como vítima, sendo a mãe, a vilã que supostamente manipula todo um contexto familiar pelo fato de carregar a obrigação legal da guarda, convivendo, conseqüentemente, mais tempo com os filhos e tendendo a manipular a situação como uma espécie de vingancinha.
Aproveitando o assunto e ainda as primeiras palavras da matéria, digo de cátedra que raiva, mágoa e ressentimento são sentimentos inevitáveis que nos acometem quando somos rejeitados. (Aliás, o sentimento de rejeição é considerado pelos psicólogos, mais difícil de lidar do que a perda de alguém querido por morte).
Eu sei de casos específicos de relacionamento desfeito, lar desmoronado ocasionando em caos geral onde quem sai de cena geralmente é o pai e que ele não tem a menor noção dos destroços que ficam para a mãe administrar, principalmente quando esta tem uma relação de total e irrestrita dependência emocional e psicológica que, ironicamente fôra construída ao longo dos anos pelo próprio parceiro. Ninguém atenta para o fato que, fisicamente o casal está separado, mas emocional e psicologicamente há toda uma desconstrução instalada e uma lenta e subsequente reconstrução a ser realizada. (Aliás, eu abordo isso com muita clareza em "A Mulher Crisálida" onde qualquer semelhança da autora com a personagem Cris não é mera coincidência :P)
Trata-se de um processo muito delicado que traz consigo momentos de tristeza, de desolação, de profunda depressão e que desencadeiam mesmo em reações negativas como discussões e xingamentos.
Quero dizer com isso, que ainda que tenha havido discussão, briga acirrada e até mesmo insultos em alguns momentos, não significa necessariamente, que tenha havido uma campanha contra o outro.
Na grande maioria dos casos em que há esses tipos de ferramentas indesejáveis, na verdade são meros ajustes a todo um novo contexto no qual, lamentavelmente, os filhos são coadjuvantes. Pois pior para uma mãe, do que o sentimento de perda, de abandono, de rejeição, como esposa e mulher, é ter a consciência de que não faltou o seu chão apenas, mas principalmente o dos filhos, já que nada é mais triste para uma mãe do que ver ruir o chão dos seus próprios filhos e assistir à desintegração da própria estrutura familiar com enorme sentimento de impotência.
Por isso que, na minha ótica ainda, tal matéria é leviana no sentido de tratar de maneira superficial um tema que de fato é rico e abrangente, mas que não pode em hipótese alguma, ser analisado de forma generalizada, visto que cada drama familiar tem as suas próprias peculiaridades.
E até porque, ainda na minha ótica particular, nenhuma mãe, por mais entristecida ou magoada, promove em sã consciência uma campanha de desmoralização contra o pai de seu próprio filho por mais que este tenha despertado nela os sentimentos mais mesquinhos.
Por outro lado, também não creio que nenhum pai responsável, mesmo na condição de errado e por mais que tenha vacilado como chefe de família, faça o mesmo em sã consciência.
Entretanto, ambos cometem erros nesse espinhoso percurso: tanto a mãe, enquanto guardiã, quanto o pai, como visitante.
Ora, devemos parar com a hipocrisia e pensar o seguinte: se em cotidianos considerados normais, em que os pais vivem juntos e harmoniosamente, vez por outra um acusa o outro sem se ligar no inocente expectador, (o filho) quanto mais em situação litigiosa onde o ressentimento de um e o sentimento de culpa de outro, findam por levá-los a acusações recíprocas- sutis ou escancaradas- nas quais ambos, em sã consciência, o fazem em maior ou menor proporção.
E isso considerando- claro!- a dinâmica familiar, os valores, os conceitos que se tem de família e principalmente o senso de responsabilidade de cada um.
Enfim... carregamos todas essas heranças psicológicas, culturais e familiares, mas todas elas são neutralizadas quando nos entregamos Àquele que nos cura de qualquer loucura que Freud explique.
E também muito me alivia falar de coisas que já passaram com a consciência de que pertencem mesmo ao passado.
A grande sacada é saber que nunca é tarde para aprender que o maior desafio em termos de relacionamento está dentro do nosso próprio círculo familiar, onde a unidade e a diversidade estão diretamente relacionadas com o companheirismo e a individualidade que um convívio saudável requer.
E saber que "ainda que eu caia tenho a minha consciência lavada pelo eterno perdão..."
RF.
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