Em nome de Jesus, o religioso está sempre agindo mecanicamente, dentro dos moldes exigidos pela instituição; ignorando a naturalidade que surge de uma consciência dada pelo Espírito de Deus, ele não percebe que aquilo que deveria ser um ato espontâneo, perde seu valor diante de Deus; de tão acostumado na sua rotina chega ao ponto de não se dar conta que se tornou ESCRAVO de uma programação agendada pelas autoridades eclesiásticas. E ele não apenas aceita como concorda com isso. E até se orgulha, pois fica feliz em estar sendo reconhecido pelo seu destacado trabalho. É aí que a coisa se enraíza e, sem perceber - porque a coisa é sutil e gradativa - ele começa a estufar o peito por se sentir ‘referência’ para os demais. Cria-se, então, uma hierarquia institucional e espiritual. Quando não escancarada e acintosa, velada; ambas perniciosas, uma vez que travestidas de evangelizadoras, não passam de ações pseudo-piedosas.
E, ainda que não admita quando indagado, ele também acredita piamente que a confissão da sua fé está ligada à denominação religiosa que escolheu, da mesma forma que acredita que o agir com ‘caridade’ está sempre ligado a um ministério da igreja. Na sua concepção, o ambiente religioso existe para que lá em seu interior, ele pratique a sua fé. Ele acredita tanto nisso que bate no peito e diz: foi Deus que me chamou para este lugar. Meu lugar é aqui. E ali ele se engrandece diante dos homens, como co-participante de uma igreja/instituição que vai se expandindo na mesma proporção que distante do que diz o Evangelho sobre ser igreja/igreja ser*.
É também por fomentar tais conceitos em sua mente que, em relação ao culto prestado a Deus, a coisa funciona do mesmo jeito. A sisudez, a formalidade e os passos litúrgicos seguidos à risca, associados a momentos coletivos de picos emocionais, são marcas de que ali, sim, houve uma adoração perfeita. Em contrapartida, basta ver o religioso indo a um encontro mais informal de outra denominação, para perceber claramente seu desapontamento. Ele sente a falta de toda aquela performance à qual fora acostumado e, inconscientemente, já rejeita este outro tipo de culto mais light, avaliando-o não apenas como deficiente mas completamente ausente de Deus. Afinal, neste ele não sente ‘no ar’ as vibrações positivas da presença coletiva daquele Deus emocional que a todos faz cantar, chorar, rir e ferver o coração. Então, sentindo falta do outro, conclui: Aquilo lá, sim, é que é presença divina. E volta para buscar seu Deus onde acha que sempre O encontrou. E, nesse volta, nesse retrocesso, permanece invocando a Deus em lugares específicos, enganando a si mesmo em suas próprias racionalizações sobre sua fé em um Jesus que nunca estabeleceu lugar fixo de adoração.
O Jesus de quem o religioso usa largamente O Nome, 'nunca montou um palco para si; seu púlpito era um monte, uma sombra de uma árvore ou um barquinho simples na beira do rio; e seu público era composto de pessoas de todos os estilos e das mais variadas origens culturais, sociais e religiosas que afluíam de todos os lugares'. Avesso à formalidade e sem se impressionar com liturgias nem com pompas, seguia amando e servindo em liberdade, derrubando todos os muros exclusivistas; com a ousadia de quem foge da cilada do glamour mas com a naturalidade e a leveza de quem escolhe pisar livremente no chão firme da existência; conclamando a todos para fazerem o mesmo no Seu 'vem e segue-me'. E, sem jamais se impressionar com tanta gente ao Seu redor, deixou bastante claro que duas ou três pessoas, em Seu Nome, já se constitui uma igreja.
Não me canso de repetir, pois é tão simples o religioso perceber e sair dessa. Na adoração onde o espaço físico é exaltado, há uma comoção geral provocada por um espírito coletivo e imaginário que estimula os corações às mais estranhas performances. Saindo daquele transe, porém, tudo volta ao que era antes; já na verdadeira adoração, o coração quebrantado é refletido NATURALMENTE no agir, no ser, no viver, no respirar, em constante transformação interior, sem oba-oba, sem estardalhaço, independente do espaço físico em que se encontre.
Que pena que o religioso não consegue entender que o ‘vem e segue-me’ de Quem promete vida leve e em abundância toma o lugar do espaço específico das sensações e sentimentos fugazes. E que o Pai está em busca dos verdadeiros adoradores e não dos religiosos que antes seguiam invocando a Deus em lugares; que pena que esses religiosos não entendam, finalmente, que o lugar santo onde Ele pode ser encontrado é o próprio coração, quando a Ele consagrado.
Que pena...
Regina Farias
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