"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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domingo, 29 de janeiro de 2012

TENTAÇÃO




O Evangelho praticamente inicia com o tema da tentação.

Por isso, Jesus nos manda vigiar e orar, para não se cair em tentação. Conforme também Lhe aconteceu, Ele revela que as ‘estações’ da tentação têm a ver com as dinâmicas psíquicas de nosso ser.

Na fome, na necessidade de afirmação e no desejo de cumprir Sua missão, a tentação veio como indução para transformar pedras em pães – fome; como impulso para resolver quem Ele era aos olhos de todos de uma vez – Pináculo; e como um bypass no tempo, queimando etapas, sobretudo a etapa da Cruz (o Monte Alto).

Portanto, quando Ele mandou orar para evitar a tentação, não ensinava a devoção neuróticavou orar contra a tentação - nem a atitude paranóica - poderei ser atingido pela tentação a qualquer momento.

O que Ele ordena é que se encha a mente de oração, de um falar constante com Deus, que nada mais é do que um falar consigo mesmo em Deus. De tal modo, que o pensar não é de si para si, mas acontece em Deus, vivendo assim em permanente estado de conferência com Ele. Em tudo.

No Pai Nosso, Ele vincula o não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal - ao contexto antecedente, que fala de estar cheio e tomado pelo Pai, pelo desejo de que Seu nome seja em nós santificado, que seu reino cresça em nós (venha!), que a vontade Dele tenha seu lugar e chão em nós; além de nos remeter para a busca daquilo que é do céu aqui na Terra.

Desse modo, uma das maiores prevenções contra a tentação tem a ver com uma devoção profunda e não neurótica; porque se propõe a buscar o que é maior e mais elevado, ao invés de se deixar tomar pelo que é aqui da Terra. Botar as coisas da Terra sobre aquilo que é eterno, é o que abre o espaço existencial maior para a tentação.

Orar é o que mais e melhor previne a estação das tentações. Mas se alguém decide orar contra ou por causa da tentação, mais tentado ainda ficará; pois a tentação, pela via da oração e por ela própria, se torna algo fixo como pensamento e que apenas cresce mais e mais em nós. Quanto mais enfrentamos a tentação como tal, mais ela cresce em nós; e se orarmos contra ou em razão dela, mais ela se fixa em nós, tornando-se uma devoção diabólica; fazendo-nos orar contra aquilo que só se torna o que tememos quando é tratado como tal.

O tema da tentação é interminável, como infindáveis são as pulsões de tentação humana. Entretanto, sendo simples e prático, o que de melhor se pode fazer por si mesmo na hora da tentação, não é pensar que podemos vencê-la, mas sim que não temos o poder, em nossa carne, para combatê-la. E, assim, sabendo disso, virmos a descansarmos em relação à tentação, pois ela se alimenta de nossa luta contra ela.

A única maneira de enfrentá-la é deixando-a falando sozinha e sem resposta nossa, enquanto nos desobrigamos de conversar com ela ou de mostrar para Deus e para nós mesmos que temos o poder do livramento e que, por isso, a venceremos. O ‘poder do livramento’ do qual Paulo escreve aos Coríntios, só se efetiva na vida daquele que descansa no livramento que já é; e que não apenas será se o tornarmos real por nossas próprias forças!

Quando se confia na Graça e no amor de Deus por nós, toda tentação perde seu poder. E, se descansarmos na certeza de que Jesus já foi também tentado por nós - conhecendo cada uma de nossas fraquezas ou tendências -  mais vicária e transferível, pela fé, será a vitória de Jesus em nosso favor.  Se houver confiança e descanso, é claro!

Desse modo, descansando é que se vence a tentação, confiando na fidelidade e na imutabilidade do amor de Deus. Pois só assim recebemos o poder de resistir ou de suportar a tentação; desse ponto em diante as tentações deixam de ser sobre-humanas e se tornam apenas humanas; e, portanto, reduzidas ao nosso próprio nível, deixando de ser um poder irresistível.

Paulo e Hebreus ensinam que as tentações não suportam o nosso silêncio confiante na Graça; assim como não suportam nosso descanso na Cruz de Cristo. Afinal, o 'Está Consumado' vale também para as tentações.

As tentações crescem na medida em que nossas pulsões psicológicas, provocadas pelas nossas próprias cobiças (insegurança essencial) - e que são os agentes progenitores do que chamamos tentação - se aninham e se fixam em nós como medo de Deus e de Sua punição. (Neurose religiosa)

Por essa via elas apenas aumentam, visto que tal realidade existencial e psicológica aceita a provocação do medo de estar sendo tentado. Do mesmo modo, elas crescem em razão de nosso debate com elas.

Tentação come medo. E se alimenta do seguinte cardápio: oração amedrontada, debate psicológico, discussão com ela, medo de Deus; e também de seu oposto, que é a arrogância que julga que por força própria se pode vencê-la.

Quem já não tem justiça própria, não tem mais assunto com nenhuma tentação!

Quem desejar pratique.  E verá como as tentações não suportam a confiança e o descanso na Graça. E isso em silêncio que nem ora contra. Apenas ora em gratidão! O grande problema é aprender isso como confiança, e não como ‘teoria’. E mais: aprender a ser grato e natural com Deus mesmo em tais horas críticas.

Quando a gente aprende isso, a tentação começa a perder o poder uma vez que se alimenta de nossas importâncias e de nossa justiça-própria, de nossa necessidade de dar explicações a nós mesmos e aos céus; e, sobretudo, do medo de estar sendo tentado.

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