Vejamos dois exemplos simples e básicos dos reflexos da neurose religiosa na vida cotidiana...
Estava eu conversando dias atrás com algumas pessoas queridas. Não era nenhum lugar público nem tampouco conversa formal, mas em ambiente residencial onde se fala com naturalidade e se mostra um pouco do que se pensa e assim... Se revela a alma.
Estava eu conversando dias atrás com algumas pessoas queridas. Não era nenhum lugar público nem tampouco conversa formal, mas em ambiente residencial onde se fala com naturalidade e se mostra um pouco do que se pensa e assim... Se revela a alma.
A certa altura, uma religiosa* tirou um casaquinho (spencer) de manguinha curta que vestia por cima de um clássico vestido de manga cavada, perfeitamente decente, na altura do joelho... Enfim, para personal stylist nenhum botar defeito.
Conversa vai, conversa vem, entre risadas e papo totalmente descontraído, jogando a velha conversa fora, alguns minutos depois ela muda a expressão facial, fica séria e resolve vestir o casaquinho, dizendo com um sorriso amarelo e nem um pouco convincente:
- Tá meio quente aqui, mas o calor do inferno é maior, deixa eu colocar de volta o meu casaco.
Minha perplexidade diante daquele ‘argumento’ foi tão grande que eu fiquei sem ação. Apenas ri, balançando a cabeça, como que dizendo pra mim mesma: ‘não, eu não ouvi isso’.
- Tá meio quente aqui, mas o calor do inferno é maior, deixa eu colocar de volta o meu casaco.
Minha perplexidade diante daquele ‘argumento’ foi tão grande que eu fiquei sem ação. Apenas ri, balançando a cabeça, como que dizendo pra mim mesma: ‘não, eu não ouvi isso’.
Essa mesma pessoa, em outro momento não muito distante - fazendo uma analogia com alguns acontecimentos em sua vida - havia dado um enfoque nervoso e aflito numa passagem em que, supostamente, Jesus repreende Pedro severamente por causa de sua ‘pequena fé’. (Mt 14:22.33)
É impressionante e intrigante como a religiosidade do medo, de tão arraigada em sua alma, não permite que ela enxergue o que está escrito ANTES de Jesus falar acerca da ‘pequena fé’ de Pedro.
Mas dessa vez não me contive e me pronunciei. Aliás, desde que acordei pra Jesus* virou mania, bendito vício! Falou que está na bíblia, vou lá conferir. Prontamente, peguei a minha bíblia - sempre à mão - e convidei-lhe a examinar com carinho e cuidado aquilo que ela acabara de dizer. Afinal, se tem uma coisa que eu levo a sério pra valer, é quando alguém diz que Jesus disse isso e aquilo. Corro pra conferir. Além do mais (Ainda bem!) não era nada que pedisse exegese e sim uma simples linguagem, clara e concisa.
Então, li em voz alta todo o texto detendo-me no versículo 31:
E, prontamente, Jesus estendeu a mão, tomou-o e lhe disse: Homem de pequena fé, por que duvidaste?
Daí, olhei bem nos olhinhos angustiados à minha frente e perguntei: cadê o Jesus turrão e questionador? Sim, pois o que eu estou vendo, em primeiro plano, é:
E, prontamente, Jesus estendeu a mão.
A minha perplexidade era perceber que ela não conseguia enxergar duas colocações inquestionáveis acerca do amor prático de Jesus: ‘prontamente’ e ‘estendeu a mão’.
Ou seja: a inflexibilidade da crença no Deus turrão só a permitiu ‘ler’ a pergunta, que aos olhos dela, era uma crítica acirrada: Por que duvidaste?
Esse é o ensino e a orientação da religião inflexível e cheia de regras que a impediu de enxergar o Deus do amor e da misericórdia que PRIMEIRO estende a mão; e que, em segundo plano, leva você a refletir sobre sua confiança Nele. Esse é o mesmo ensino neurótico e religioso que a empurra para o inferno em vida, por causa de alguns centímetros de pano em seus ombros; e essa mão que a empurra para o inferno em vida é a mão do deus intransigente, implacável e vingativo.
O deus da religião não deixa você enxergar a disponibilidade incondicional de um Jesus extremamente amoroso que percebe a nossa ‘habilidade’ para ir de um extremo a outro da fé, em curtíssimo espaço de tempo, como reflexo de nossa insegurança. Afinal, andar por sobre as águas requer confiança absoluta sem reparar na força do vento (circunstâncias). Confiança absoluta Naquele que reconhecemos, não apenas como o Senhor da nossa vida, mas também como PAI que simplesmente diz: ‘Vem!’.
Esses dois exemplos são apenas pequenos fragmentos do universo religioso que eu presencio ao longo da minha existência. Assusta-me, pois percebo essa neurose fixando-se nas mentes cada vez mais aprisionadas e adoecidas pela CRENÇA que tem a ver com religiosidade e que não tem absolutamente NADA a ver com o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
É por essas e outras que eu não me canso de repetir, como em comentário ontem em um blog, que há, SIM, uma enorme responsabilidade por parte de ALGUNS líderes religiosos, quando eles exigem de forma velada que suas seguidoras obedeçam a determinadas regras inflexíveis travestidas de ‘recomendação e orientação’ para uma boa conduta cristã.
Pois, conforme disse o próprio Jesus, enquanto vamos nos apegando a regras e mais regras, vamos nos esquecendo que Deus está interessado em mudar é o nosso coração, pois que é de lá que saem todos os males, que é de dentro do coração que procede TUDO que contamina o homem.
Ora, repito: QUANDO alguém se converte ao Senhor (Ao SENHOR, e não, à denominação) o bom senso é perfeitamente EFICAZ, uma vez que está atrelado à CONSCIÊNCIA que se recebe, independentemente do senso comum (comunitário, igrejista, doutrinário). O nosso BOM SENSO e a nossa lucidez são presentes PESSOAIS (individuais) e INTRANSFERÍVEIS. Não há como confundir e, por isso, a prudência e a sensatez INDIVIDUAIS jamais podem ser classificadas como equívoco.
O grande equívoco é confundir aconselhamento com imposição de regras fixas. O equívoco é achar que as regras, por si só, estabelecem a ordem e a decência. O equívoco - e a tremenda ingenuidade - é acreditar que impondo regras, a jovem não sentirá vontade de experimentar o mundo livre, leve e solto que ela observa através da obscura e tenebrosa gaiola religiosa.
O Livro de Provérbios é uma excelente referência, principalmente para os jovens, porque indica um estilo de vida saudável, dando ‘dicas’ valiosas para a vida prática no relacionamento com as outras pessoas onde verdades de valor eterno refletem um relacionamento correto com Deus. Inclusive, é no Livro de Provérbios, que está a máxima: ‘repreende o sábio e ele te amará, dá instrução ao sábio e ele se fará mais sábio ainda’.
Vale lembrar ainda que, quem falou com veemência acerca dos fardos pesados da religião foi o próprio Jesus aos fariseus, chamando-lhes a atenção para a SUPOSTA lealdade deles para com as Escrituras. E sua linguagem foi de ACUSAÇÃO acerca do ensino deles sobre falsas regras de purificação e salvação.
O medo, a fuga, a transgressão e o prazer de sair dos limites - limites do bom senso e não da ‘moral’ SISUDA e intolerante - são a antítese da Graça. E, onde está a lei, não há revelação da Graça. Nessa revelação (que é pessoal e intransferível, não é coletiva nem de nenhum líder) não há nenhuma garantia de perfeição, mas a certeza de que não existe alternativa fora da Graça.
Por isso eu discordo que a igreja seja a detentora dos ensinamentos ao jovem. Esse ‘ministério’ cabe aos PAIS como lição viva e objetiva, responsabilizando-se pelo ensino de verdades espirituais, pela palavra e pelo exemplo. E não de maneira pesada, mas de forma leve, saudável, lúdica; onde a disciplina é aplicada com firmeza mas de forma amorosa e coerente com a própria conduta no cotidiano intenso e intensivo. Daí essa tarefa não poder ser relegada à Igreja ou a uma escola cristã (escola dominical).
Por isso eu discordo que a igreja seja a detentora dos ensinamentos ao jovem. Esse ‘ministério’ cabe aos PAIS como lição viva e objetiva, responsabilizando-se pelo ensino de verdades espirituais, pela palavra e pelo exemplo. E não de maneira pesada, mas de forma leve, saudável, lúdica; onde a disciplina é aplicada com firmeza mas de forma amorosa e coerente com a própria conduta no cotidiano intenso e intensivo. Daí essa tarefa não poder ser relegada à Igreja ou a uma escola cristã (escola dominical).
'Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele.' – diz o provérbio bíblico, não como promessa, mas como conselho prático; não apenas para ensinar ao pai a manter o filho sob sua autoridade, mas também para conduzi-lo para a vida, como INDIVÍDUO, a um convívio saudável com outras pessoas; ensinando-lhe a fazer escolhas e a tomar decisões sábias e coerentes; e assim, evitando que ele se submeta à falsa apreciação de um kit religioso opressor.
O homem que anda sob o signo do perdão perscruta sempre a sua consciência em cada coisa, sentimento ou ato.
Sou discípulo de Jesus, amo a Sua Palavra, reconheço a irmandade profunda na comunhão com aqueles que discerniram o mistério de Deus em Cristo e tenho prazer em anunciar esse Amor, bem como vivê-lo, especialmente com aqueles que também amam o mesmo Amor que a eles se revelou em Cristo.
No livro de Atos, tal andar comunitário e os que a ele pertenciam eram chamados de "os do Caminho". E no Caminho cada um faz o seu próprio caminho pessoal, e também o faz de modo comunal e coletivo. O discípulo é o indivíduo. A Igreja é a comunhão dos discípulos'. (Caio Fábio)
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* religiosa é diferente de crente no sentido real da palavra.
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