"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

"Foi a mim que fizeram"

Recebi um convite para um congresso com o tema:
“O que a igreja tem a dizer sobre sexo?”
A primeira pergunta que me veio à mente foi: a igreja de quem, qual instituição, denominação, de qual pastor, bispo, apóstolo, padre?

Daí eu pensei:
- Espera um pouco, eu também sou igreja, tenho algo a dizer! Será que lá eu poderei fazer as minhas considerações? Será que vou querer ou me sentir à vontade para isso?
Logo me veio uma resposta:
- Saberei apenas se participar!
E outra resposta me balizou pensamentos e questionamentos:
- Mesmo que me abram espaço para comentários e/ou ponderações eu não me sentirei confortável para isso.

De fato, em um congresso não conhecemos todo mundo.
Assuntos como sexo, crises domiciliares, relacionamentos, decepções, mágoas, conquistas devem ser sim discutidos, abordados, destrinchados, é verdade.

É bom saber o que os outros têm a dizer.
Mas o título me soou contraditório.
Porque a igreja tem a dizer algo. Mas para quem? Para ela mesma?
Então não pode ser congresso, conferência, algo do tipo. É um assunto intimista.
Aprendemos desde sempre que igreja é aquele lugar que nos encontramos semanalmente para orações e sermões. Mas a palavra igreja nasceu das reuniões de um povo com a mesma crença. Há uma sensação de que algo está errado. Falta alguma coisa em todo esse movimento causado pela existência da instituição.
Esse buraco aumenta a cada igreja que abre pelo mundo a fora.

Quando os primeiros cristãos começaram a se reunir havia um sentido para os ensinamentos bíblicos: “suportando-vos uns aos outros” ou “confessais as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis” e outros tantos.

Textos como esses dos livros aos Colossenses e Tiago refletem uma realidade não encontrada mais na igreja atual. Ela existia em função da intenção de dividir o pão, de ajuda mútua, de acolhimento, de sentimento comum, de igualdade e da novidade do evangelho, das boas novas.
Aqueles cristãos se reuniam em casas com simplicidade e relacionamento intenso.

Daí, falar de assuntos tão pessoais se torna um pouco mais fácil e natural.
É o caminho para a cura.
A estrutura atual reúne pessoas de todos os cantos da cidade, impossibilitando uma aproximação maior e tornando o relacionamento dependente da instituição e suas programações. Esse elo é imensamente frágil. É fácil ver pessoas se relacionando mediocremente com outras de bairros distantes. Contudo essa cultura nos impede de conhecermos nossos vizinhos, irmãos em potencial.

Há quem precise de nós debaixo do nosso nariz, seja um familiar ou um morador próximo. Mas nos esquivamos de tal relacionamento em busca do mais cômodo que tem seus intervalos durante a semana.
Não dá para ser suporte para alguém dessa forma.
O mecanismo das reuniões religiosas mais tradicionais existe em função apenas de uma coisa: a arrecadação de fundos.
Uma liturgia secular que foi criada e bem pensada para que, ao final, todos os participantes possam contribuir.
Introdução, sermão, comunhão e tudo isso apenas para a arrecadação.
O resto é adereço puro.
Momento de cânticos, avisos, participação dos fieis, entre outros.

Efésios nos ensina que Cristo nos deu dons especiais que devem ser usados para o crescimento do povo no conhecimento das promessas de Deus. Conta que Ele escolheu uns para apóstolos outros para profetas, evangelistas, pastores, mestres. A fim de que todo o corpo permaneça “bem ajustado, ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, fazendo o aumento do corpo, para a sua edificação em amor.”

O que existe hoje é uma figura de santidade conhecida e chamada de “Reverendo”. Este é o responsável pela palavra nas reuniões. É também o líder.

O texto de Efésios explica que os dons específicos existem para que a nossa fé seja uma só e para que não andemos mais como crianças, mas com maturidade no que cremos.

Sem mais, lendo as escrituras eu entendo que igreja é quando nos relacionamos com os que convivem conosco, moram próximo de nós, ricos, pobres, de diferentes classes sociais.

É quando nos importamos com as deficiências do nosso bairro, com a pobreza, com a desigualdade.

É quando promovemos algo que gera frutos, que faz a diferença.

É quando estabelecemos um relacionamento de irmãos com os mais próximos e nele possamos compartilhar de verdade, sem reservas, sem intervalos, ser suporte, crescendo juntos.

É quando na nossa casa promovemos reuniões naturais de convívio com o objetivo de amadurecimento espiritual, oração em comunidade, ajuda para os que necessitam acolhimento, multiplicação de amor, sem hora para começar nem terminar, sem oração para iniciar e finalizar.

É quando vivemos as palavras de Jesus ao dizer: Pois eu estava com fome, e vocês me deram comida; estava com sede, e me deram água. Era estrangeiro, e me receberam na sua casa. Estava sem roupa, e me vestiram; estava doente, e cuidaram de mim. Estava na cadeia, e foram me visitar.

Então os bons perguntarão: "Senhor, quando foi que o vimos com fome e lhe demos comida ou com sede e lhe demos água? Quando foi que vimos o senhor como estrangeiro e o recebemos na nossa casa ou sem roupa e o vestimos? Quando foi que vimos o senhor doente ou na cadeia e fomos visitá-lo?"

Aí o Rei responderá:
- "Eu afirmo a vocês que isto é verdade: Quando vocês fizeram isso ao mais humilde dos meus irmãos e irmãs, foi a mim que fizeram."

leo r.

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