Para os Protestantes Reformados - e também o seu subproduto: o mundo evangélico - Lutero é uma espécie de Elias ou João Batista- esse é o significado; e a Reforma é uma espécie de Pentecoste Doutrinário; ou seja: um pentecoste de intelecto e letras.
Ora, é inegável o impacto histórico, social, econômico, ideológico, intelectual, psicológico, ético, e de projeto de sociedade -que seria de democracia capitalista- que a Reforma provocou.
Entretanto, impacto conforme acima citado teve também a Revolução Francesa, ou a Alemanha de Hitler, ou mesmo a criação do Estado de Israel.
A 1ª mudou a concepção do ocidente acerca das Monarquias.
A 2ª mudou a História presente e futura -infinitamente mais do que já percebemos.
A 3ª mudou a geopolítica do mundo para sempre -é esperar e ver.
E nem por isso foram boas por terem sido tão históricas.(a 2ª foi-é diabólica)
Entretanto, todos esses fenômenos mudaram a História.
O fenômeno da Reforma mudou a História do lado de fora mais do que na existencialidade.
Assim como o surgimento do “Cristianismo” -sob os auspícios de Roma; Constantino- aconteceu como o cair de um meteoro: Bum!
E morreram uns dinossauros; e os ratos cresceram como mamíferos a mamarem nas tetas da “igreja recém-inventada” por um ato de um Pentecoste Imperial.
O “Espírito Santo” do “Cristianismo” atendia pelo nome de Constantino.
Ora, eles -esse eventos/adventos- provocaram profundos impactos na Terra e nos fenômenos do mundo, especialmente todos aqueles fenômenos que são filhos do dinheiro; incluindo a política.
Mas, segundo o Evangelho, podem não ter significado quase nada.
Afinal, na fé, o maior rio do mundo não é o Amazonas, mas o Jordão.
Assim como o maior dentre os nascidos de mulher não foi Nabucodonozor, nem Alexandre, nem César, nem Gandhi, mas João Batista, que não teve quase qualquer impacto na História, exceto por falar a verdade acerca de Jesus.
A Igreja de Jesus é um fenômeno sutil, sem aparência, sem beleza a ser fotografada, sem poder a ser demonstrado, sem nada súbito que a ponha num patamar de glória ou de reconhecimento.
Igreja “reconhecida” já é “igreja”.
Foram os quatro primeiros séculos da Igreja -totalmente sem “História ou reconhecimento”- aqueles que até hoje nos significam o que possa no mínimo ser Igreja entre os homens; não no máximo; pois, “outras obras maiores farão”, prometeu Jesus para sempre.
Assim, a verdadeira História da Igreja não aparece nos “Livros de História da Igreja”.
São atos apostólicos somente inscritos nos corações.
Por isso a Igreja-Caminho não sabe nem de onde vem e nem para onde vai...
É duro, mas tem que ser assim.
Dessa forma -como para Jesus o que é elevado entre os homens é abominação diante de Deus- se virar culto histórico, é porque é elevado diante dos homens, e já não tem -se é que teve- significado para Deus.
Na História só se pode mesmo fazer Re-Forma.
A História tem forma. Torna-se fixa.
Portanto, o melhor a se fazer na História é uma Reforma.
É coisa do homem para o homem!
No Reino, no entanto, não se faz Reforma jamais; pois, é como por vinho novo em odre velho, ou remendo de pano novo em veste velha.
Ora, no Reino tudo tem a ver com o Dia Chamado Hoje.
Foi isso que Jesus disse ao moço que queria primeiro sepultar seu pai.
“Deixa os da história carregarem a história. Tu, porém, vai e prega o reino de Deus.”
Não que isso nos conduza a qualquer forma de niilismo histórico.
Ao contrário, passa-se a desejar conhecê-la ainda mais; pois, nela, na História, reside o germe de nossa grande tentação; posto que a História é a vida eterna dos mortais.
Entretanto, foi a perspectiva inversa o que fez de Jerusalém o centro do mundo e não Roma; apesar de historicamente o centro do mundo ter sido Roma, enquanto Jerusalém não era nada.
Digo isto para dizer que o fenômeno da Reforma Protestante tem todas as características dos fenômenos humanos, conforme todos os que se tornaram História.
A Igreja, por exemplo, foi se tornando... Assim como o reino: uma sementinha aqui, outra ali; uma sombra aqui, outra ali; uma lâmpada aqui, outra ali, e outras acolá. E não veio como uma montanha de sal, ao contrario, o sal apareceu conforme existisse massa a ser salgada. E mais: o sal só cumpre seu papel se dissolver-se na massa; pois, sal visível não serve para nada.
A única manifestação de fogo e chamas do Novo Testamento só aconteceu para 120 pessoas. Ora, isso para não falar que Jesus não só resistiu à tentação de pular do Pináculo do Templo, como também não foi aos céus do Pináculo do Templo.
Ora, por isso até hoje se discute se Jesus foi ou não histórico; e o debate sobre o Cristo Histórico apenas prova a minha tese. Afinal, um Jesus esmagadoramente histórico não seria discutido; pois estaria “fixado”.
Ele, entretanto, se faz história nas historias dos outros, e não em Sua própria, visto que Ele não é como uma torre de Salvação numa Paris mundial.
Ao contrário, Ele é invisível aos olhos da História, só sendo visto pelos que vêem a história que somente se discerne pela fé.
O descaso de Jesus para com a fixidez da História é chocante.
Pode ser bem ilustrado pelo fato de Ele escrever no chão [sabia escrever], e não ter deixado nada escrito de Si mesmo. Para Jesus o que não fosse ato não merecia virar ata.
E mesmo o que era ato, Ele só escrevia nos corações; deixando que outros escrevessem não “A História de Jesus”; mas, antes disso, a história de como eles O viram.
Daí cada evangelho ter sua própria ótica. E tudo não fixo.
As coisas do reino não dão para serem afixadas em portas de Catedrais; essa é a verdade.
Não! Elas são invisíveis aos olhos; são suaves e poderosas; e esmagam pela sutileza.
Como diz o Salmo 77:
“Pelo mar foi o Seu caminho; porém, não se acham os Seus vestígios”.
Ou seja: o mar abre, mas ninguém sabe como.
“É o vento”, dizem.
“É mesmo!”; digo eu.
Se quisermos que a Reforma seja ainda impregnada do vírus do Evangelho, então, esse culto às Tábuas da Lei de Lutero e à Revelação Institutas de Calvino, precisam acabar; e necessitam ser apenas o que foram: eventos históricos, com coisas boas e outras ruins; e, nada mais...Além disso, achei que era bom mostrar como um pregador da Graça como Lutero pôde viver tão pouco do beneficio dela em si mesmo.
Assim, acabam-se também os mitos como o do “príncipe dos pregadores”; ou o do “boca de ouro”; ou do “leão da Alemanha”; ou do “Doutor de Genebra”.
O chamado não é para fazer Reforma.
O chamado é para crescer na Graça e no conhecimento de Jesus; não como texto de doutrina ou teologia, mas como experiência da Graça se expandindo na totalidade de nosso ser, e não apenas como fenômeno de poder e influência do lado de fora.
(CF)
(negritos, coloridos e sublinhados meus- RF)
Na íntegra em: A HISTÓRIA DOS HOMENS E A HISTÓRIA EM DEUS
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