"NÃO EXISTE NENHUM LUGAR DE CULTO FORA DO AMOR AO PRÓXIMO"

Translate

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Denominacional de carteirinha



Imagem cedida pelo Zé Luís


Sabemos que muitos frequentam uma igreja pela tradição familiar para ter uma 'garantia espiritual'. É a história da confiança no 'templo do Senhor'. Outros passam a frequentar pelas circunstâncias, mas  desenvolvendo a mesma ilusão (para não dizer doutrina) da confiança no templo, na denominação, no deus-denominação e no líder representante de Deus.

Vemos exemplos de pessoas de uma mesma família se convertendo ao mesmo tempo a uma determinada denominação, geralmente quando estão vivenciando na pele um grande drama familiar. Uma coisa a se pensar é que a curiosidade do fato fica por conta de que os familiares que estão fora do contexto desse drama, fora dessa fragilidade emocional, quase nunca são influenciados. 

Comigo aconteceu de ser influenciada apenas parcialmente; desde muito jovem cheguei a ser metralhada de todas as formas com o velho proselitismo que perdurou durante anos e anos martelando na minha cabeça. E, apesar do terrorismo velado, meu senso crítico sempre falava mais alto do que a pesada carga de medo e culpa impregnada nas profetadas que, eventualmente, eu ouvia. Eu creio que o que mantinha certo equilíbrio era meu senso de questionamento desde garota, meu temperamento irreverente e 'do contra'; ainda que de maneira bem intimista, debatendo com os meus próprios botões. Sim, pois eu sempre me perguntava, aflita, debaixo dos meus lençóis, que Deus era aquele que me angustiava me oprimindo o peito e me adoecendo a alma em vez de me fazer bem.

Quando me converti AO EVANGELHO - há dez anos e totalmente FORA de qualquer muro religioso -  ENCANTEI-ME com os inúmeros ministérios da IECB e logo me filiei a ela, no afã e na imensa alegria da ocasião em trabalhar nos tais 'ministérios'. Com a continuidade, fui amadurecendo na fé e substituindo minha empolgação inicial pelo meu acirrado senso crítico que me fez esfriar em relação a essa coisa de ministério. Passei a enxergar melhor o que se passa nos bastidores do evangelismo programado e não concordei com o que vi. Não tem nada a ver com desilusão ou desânimo. Sou adulta e conheço a natureza humana. Eu não quero é fazer parte de algo que não condiz com meus valores.

Vejo muitos dizerem que devemos estar filiados, de carteirinha e tudo, que quem se furta a isso é porque não quer ter responsabilidades na igreja e blá blá blá. Eu, particularmente, não concordo com isso. Sou responsável para com o próximo, e não para com 'o próximo' determinado pela organização igrejista. Da mesma forma que vejo pessoas trabalhando nos ministérios para agradar, bajular, se projetar, ter algum benefício próprio, deixando pra depois o 'zelo' pelo próximo. Como também me enoja o apavonamento dos líderes que se alimentam desse comportamento fiel de seus súditos.

É uma pena que muitos engessados religiosos acreditam que se alguém se pronuncia em sentido oposto ao da maioria, não está 'agindo com amor'. Está sendo agitador, perseguidor, rebelde, e mais um monte de adjetivações convenientes. Na verdade, essa 'maioria', foi induzida a falar assim sem questionar. Essa é a parte mais triste, pois fomos adestrados a abaixar a cabeça e nos submetermos às doutrinas estabelecidas desde que o mundo é mundo.

Todos nós herdamos, fortemente, da cultura católica, no sentido de recebermos o prêmio celestial se seguirmos fielmente determinadas normas. Isso se disseminou de formas diferentes, mas idênticas na sua essência.

O tempo passou, as ramificações denominacionais surgiram inevitavelmente, e o homem continuou fazendo vista grossa ao que Jesus alertou acerca dos perigos das tradições, posto que são invenções dos seres humanos. Pois, quando essas tradições entram em choque com as Escrituras, em geral, a primeira reação é preservar o que foi criado pelo homem.

Sabemos que um calendário litúrgico varia de denominação para denominação. Sabemos que esse calendário representa a sequência de tradições empregadas pela Igreja Primitiva, como um meio de relacionar nossa fé em Deus à nossa vida e atividades diárias. Ok, tudo bem. Entretanto, a questão não é a tradição em si. Jesus observou os ritos judaicos. A questão está sempre em torno dos vícios (hábitos, costumes) gerados e transmitidos por essa tradição, INVALIDANDO a Palavra de Deus. Esse é o ponto.

Tenho acompanhado bem de pertinho a vida fundamentalista de alguns religiosos que eu tanto amo. Assisto- os viverem na própria pele as consequências de doutrinas que vão contra o Evangelho. Entretanto, eles não têm força nem coragem para se pronunciar e, muito menos, migrar para outra denominação. Sei lá, sair daquela prisão, daquela opressão, dar o grito de liberdade, ser feliz de verdade. A forte impressão que me causa é que reina uma crença maluca sobre salvação eterna estar ligada a uma Nova Jerusalém aqui na terra.

Por outro lado, tenho observado, por meio da internet, que as novas gerações estão se pronunciando e, mesmo dentro das quatro paredes da igreja, estão colocando a boca no trombone e deixando claro que não aceitam mais o pacote doutrinário que enfiaram goela abaixo durante décadas. Nos meus comentários acerca disso em blogs de amigos eu sempre digo que, a princípio eu estranho um pouco, mas, no final admiro quem quer permanecer nela, confiante na correção desses erros.

É como falei exatamente dias atrás em conversa por e-mail com um líder dessa denominação cristã:

'Por tudo isso, eu admiro pessoas como vocês. Porque ficaram no meio do furacão e não se neurotizaram. Mantendo a lucidez e o bom senso. E melhor! Botando a boca no trombone pra arrumar a casa, ainda que se expondo e dando a cara a tapa. Vocês sim, é que são corajosos, uns valentes diante de Deus.  Não tenho a menor dúvida de que tamanha autoridade vem do Senhor Jesus. Glórias, pois a Deus, eternamente'!

RF

TEXTOS RELACIONADOS:



Nenhum comentário: