Paulo nos diz que a letra mata*. Mesmo
que seja letra da Escritura. Que o
exercício que tenta ver mágica de revelação na exegese, é tolice. Prova
disso é o modo como ele usa as Escrituras do Antigo Testamento. Ele diz que qualquer
interpretação que não seja via Encarnação, ou seja: centrada exclusivamente em
Jesus — é engano religioso que
presume ler tudo o que foi dito como interpretação correta.
Como poucos, Paulo entendeu que o Evangelho era Jesus e que
Jesus era o Evangelho; e que tudo o mais que tivesse havido e sido escrito
antes, como ‘Escritura’, agora, depois de Jesus, depois da Encarnação, depois
de Emanuel, Deus conosco — teria que ser submetido ao espírito de Jesus, ao
espírito do Evangelho. Pois, na Velha Aliança se poderia invocar a Deus para
que mandasse fogo do céu para consumir os adversários. Mas, em Jesus, a mesma ideia antiga de poder
espiritual, fora completamente banida, repreendida e abominada por Ele, que,
ante tal proposta de piedade perversa feita por Tiago e João, apenas respondeu
com a seguinte afirmação: ‘Vós não sabeis de que espírito sois’.
Toda Escritura é inspirada por
Deus e apta para o ensino, a correção e a educação na justiça — dizia Paulo;
embora, ao assim dizer, não transferisse para as Escrituras nada além do poder
de testemunhar Jesus, no que - e se - ela desse testemunho de Jesus; posto que, para os apóstolos, o testemunho de Jesus era o espírito de toda a profecia; ou
seja: a finalidade de toda a Palavra escrita era ser testemunho da verdade dos fatos do encontro entre a humanidade e
Deus, e, depois, entre os hebreus e Deus, e, ainda depois, acerca de Israel
como nação e Deus como o Senhor das nações. E, em Jesus, o testemunho que não se poderia entender antes de haver
Encarnação. Por isto, para Paulo, Jesus era a Chave Hermenêutica para a
compreensão das Escrituras.
Assim, em Jesus, se tem a
separação nas Escrituras de tudo quanto fosse circunstancial, passageiro,
cultural, histórico, necessário ao tempo, de um lado, e, de outro lado, tem-se
o que é permanente, o que é definitivo, o que é eterno, o que é Evangelho antes da manifestação histórica do
Evangelho.
Depois de Jesus, a Bíblia é a
coletânea de livros nos quais se pode encontrar o testemunho
histórico/profético acerca de Jesus, mas
não se tem nada, além disso.
Por exemplo, depois de Jesus a
leitura se inverteu. Já não se lê as Escrituras em busca do Messias, mas, a partir do Messias se lê o todo das
Escrituras; visto que, depois de Jesus, tudo quanto não seja Evangelho segundo
o espírito de Jesus, ainda que esteja escrito na Bíblia, caiu em estado de obsolescência e caducidade.
Sim, Jesus é tudo; e quem não
considere Jesus assim, ainda não entrou no reino do entendimento segundo Deus. Este
é um fato ante o qual não há barganhas a propor. Ou é assim ou, então, ter-se-á
tudo com a grife Jesus, mas de Jesus mesmo não se terá nada.
Há, todavia, aqueles que se
escandalizam quando digo que Jesus é o Único Verbo, a Única Palavra Eterna; e
que o mais, é testemunho humano, inspirado; sim, testemunho dessa
esperança ou dessa fé, mas não é nada além disso. Visto que em Jesus, e não na
Bíblia, é que estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. Sem
tal visão tudo é idolatria. Sim, a
Bíblia vira ídolo, as Escrituras ficam
maior que Jesus, e as doutrinas da igreja se tornam a etiqueta
comportamental de Deus, conforme definida
pelos homens.
Ou seja: porque deixou de ser
assim é que herdamos a desgraça do Cristianismo de Constantino, que é o que se
tem como igreja e crença em Jesus até hoje, mas que nada tem a ver com o Evangelho; posto que tudo tenha sido
construído a partir da Bíblia como livro e dos ‘mestres’ como decodificadores
da revelação; e, em tal caso, Jesus tinha que se harmonizar com o todo da
Escritura, e não a Escritura se harmonizar a Jesus.
Para os apóstolos, no entanto, se
requeria a coragem de deixar de fora tudo quanto não coubesse mais, ante o avanço revelado da vontade de Deus
encarnada em Jesus. Esta é a coragem de ruptura que também se demanda de quem quer que queira tornar-se
discípulo de Jesus, e de Jesus somente. Você tem outra pretensão?
Ora, nossa única pretensão
deveria apenas ser o tornarmo-nos cartas vivas, evangelhos de carne e sangue, epístolas
de reconciliação, escrituras feitas de inscrição no coração. Sim, pois em Jesus, tanto como
promessa feita pelos Profetas, como também mediante o Seu próprio Prometer aos
Seus discípulos — está dito que todos os que Nele cressem seriam evangelhos
andantes, cartas hebreias em sua mobilidade no caminho. A ponto de Paulo
declarar que nosso chamado é para sermos cartas vivas, escritas pelo Espírito
do Deus vivente. Cartas essas vistas e lidas por todos os homens, mediante os
nossos atos de amor e nossa visão
tomada pela mente de Cristo, que é o
Evangelho.
Doutrina certa segundo Jesus é
vida vivida em amor.
O que passar disso é
Cristianismo, não Evangelho!
Pense nisso!
* No contexto dessa passagem, Paulo está criticando os ritos e cerimônias utilizados como significado espiritual.
"Examinais as Escrituras porque julgais ter nelas a vida eterna,
e são elas mesmas que testificam de mim.
Contudo, não queres vir a mim para teres vida".
(CF Jo 5:39.40)
2 comentários:
Uau.
É do Caio né?
Que porrada perfeita. Sem Jesus viramos fariseus do século 21 mesmo.
Ou Jesus é tudo ou ele é nada. Simples assim.
Por vezes me peguei pensando sobre idolatria sobre a Bíblia, mas nunca achei uma definicao a respeito.
O Caio foi no ponto. Sem Jesus a Bíblia vira idolatria. Que sacada genial.
Re, brigado por compartilhar essa. Minha semana comecou bem. E que venha mais!!!
Que Cristo cresca em nós!!
Abraco sister.
HP
Então...
O C.F. tem esse dom, de desmistificar com propriedade.
Infelizmente nem todos alcançam. E não por não serem inteligentes, mas por preferirem permanecer na moldagem que lhes fizeram. Fica difícil até para iniciar a leitura, quanto mais para digeri-la, tamanha é a resistência, a preguiça mental e espiritual, o tal 'acostumar-se' em receber o pacote já prontinho.
É igual ao comentário da irmãzinha lá que diz - não sei se por pretensão, tolice ou acomodação religiosa - não precisar de um soco nos seus velhos conceitos, se achando completa e pronta.
Ora, todos nós precisamos desse soco todo santo dia! Nossa natureza humana tem uma tendência terrível para se engessar, se acomodar, seguir convenientemente a cartilha.
Sim, porque seguir o Evangelho dá trabalho ao ego, sair do si-mesmo requer deixar de mão uma série de hábitos traduzida em performance que a religiosidade esconde muito bem e que chamamos de falsa piedade, tão abominável ao Jesus que tanto 'professam'.
Eu que estava precisando reler isso! (E o engraçado é que eu não fucei o site do C.F. Vi no blog de um amigo 'casualmente').
E que venha mais desse Deus que age na casualidade!
Para que Cristo cresça em nós! :)
Abraço, 'brow' rss
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