Era uma vez uma caverna.
Nessa caverna havia muitas pessoas que nasceram, cresceram e permaneceram ali sem nunca ter visto a luz do dia. Aliás, não viam nem sabiam de absolutamente nada do que acontecia lá fora.
Viviam acorrentados e de costas para a entrada. Sem se mover, apenas vislumbravam o mundo por meio de um feixe de luz produzido por uma fogueira externa. Essa tenra luz projetava sombras na parede enquanto eram associadas aos sons que vinham de fora. E, assim, as pessoas aprenderam que aquela 'sombra da realidade' era a realidade do mundo lá fora. Afinal, esse era o único contato permitido com o mundo exterior.
Certo dia, um dos prisioneiros conseguiu se libertar das correntes e, aos poucos, foi se movendo e avançando com dificuldade rumo à saída da caverna, vencendo um a um, cada obstáculo que surgia. Aquela desconstrução gradativa não era nada confortável. As pernas tremiam enquanto os olhos ardiam com todo aquele brilho exterior. Mas algo dentro dele o impelia para fora como em inevitável parto.
Quando, finalmente, esse ousado e destemido homem rompeu definitivamente com aquele casulo, ficou maravilhado com tudo que viu. Um mundo completamente diferente daquele que havia apreendido. Diferente do enganoso e limitado espaço físico e mental que restringira sua visão. E o prazer em desfrutar de tamanha beleza em tão harmonioso caos foi transformando os passos acanhados em um andar livre e sem impedimentos.
A felicidade explodia dentro dele, mas ele queria voltar à caverna... Para contar a novidade! Ele só pensava em compartilhar aquela alegria! E jamais poderia imaginar que recepção era aquela que o aguardava. A rejeição foi imediata. Instintiva. Pela ousadia de expressar o que realmente viu, foi apedrejado e quase morto pelos próprios companheiros. Pelo mesmo grupo com quem experimentou aquela vidinha inexpressiva de sons e imagens difusos durante toda uma existência. Pela turba incrédula, apática e engessada por costumes e hábitos de nascença. O coração destes sentia de repudiar aquela imprudência.
Então, mesmo tomado por louco, o homem não se intimidou e conseguiu fugir de volta, levando outros 'loucos' consigo. E foram. Correndo riscos terríveis juntos; transpondo altos muros; enfrentando os fantasmas do medo e da insegurança gerados por toda aquela liberdade que se descortinava a se perder de vista. E a verdade ia surgindo na cara. Ardendo-lhes os olhos e queimando-lhes o peito. Impulsionando-os a uma nova e definitiva maneira de enxergar o mundo.
Foi quando, libertos, descobriram o quanto estiveram acorrentados. E quanto valeu o desconforto de toda uma desconstrução/reconstrução da antiga 'ordem'.
RF.
Inspirado em 'O Mito da Caverna' (Platão).
Então, mesmo tomado por louco, o homem não se intimidou e conseguiu fugir de volta, levando outros 'loucos' consigo. E foram. Correndo riscos terríveis juntos; transpondo altos muros; enfrentando os fantasmas do medo e da insegurança gerados por toda aquela liberdade que se descortinava a se perder de vista. E a verdade ia surgindo na cara. Ardendo-lhes os olhos e queimando-lhes o peito. Impulsionando-os a uma nova e definitiva maneira de enxergar o mundo.
Foi quando, libertos, descobriram o quanto estiveram acorrentados. E quanto valeu o desconforto de toda uma desconstrução/reconstrução da antiga 'ordem'.
RF.
Inspirado em 'O Mito da Caverna' (Platão).
3 comentários:
Parece algo que já li, ou será que já viví?
Acho que ambos rsss
A caverna é o mundo ao nosso redor, físico, sensível em que as imagens prevalecem sobre os conceitos, formando em nós opiniões por vezes errôneas e equivocadas, (pré-conceitos, pré-juízos). Quando começamos a descobrir a verdade, temos dificuldade para entender e apanhar o real (ofuscamento da visão ao sair da caverna) e para isso, precisamos nos esforçar, estudar, aprender, querer saber.
Bjos,amiga!
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