Mais um ‘Dia de Culto’.
Cheguei cedo, abri o prédio e,
como de costume, fui recebendo os primeiros irmãos que iam chegando. Em
seguida, me acomodei logo à frente. Fiz uma oração e abri a Bíblia para ler.
Folheei algumas páginas e me detive em Lucas 10, na passagem do Bom Samaritano.
Pensei: seria uma boa pregação para hoje.
O culto iniciou bem leve e
gostoso. Cantamos hinos que há tempos não cantávamos, oramos, e, na hora da
leitura da Palavra, eu senti de ler a
parte do Bom Samaritano mesmo.
Preguei sobre a arrogância do doutor da Lei em tentar a
Cristo, em dizer entre as palavras dele que “Ele amava ao Senhor sobre todas as
coisas, com toda a força, toda a alma, conhecimento e coração.”
Expliquei e fiz a igreja refletir
que deveríamos amar ao Senhor assim, mas que nenhum de nós consegue fazer isso
e nenhum de nós jamais conseguiremos. O único que assim fez foi Cristo.
Mas o doutorzinho era arrogante,
e ele, implicitamente, disse que amava a Deus desta forma ao afirmar: Mas quem é meu próximo?
Daí Jesus propôs a parábola do
desafortunado que foi assaltado e deixado meio morto no meio do caminho,
ensanguentado, braço quebrado, rosto desfigurado… Logo, um sacerdote passa por aquelas bandas e, ao vê-lo, dá uns passos para
o lado e finge que não o vê. O levita fez
o mesmo. Mas quando um samaritano o
vê, se move de compaixão, faz os primeiros socorros nele, o leva a um
hotelzinho, cuida dele a noite inteira, só partindo no dia seguinte. Deixa
ainda dois dinheiros adiantados e pede pra cuidar dele o tempo necessário, que
ele paga quando voltar da viagem.
Cristo conclui, perguntando: Quem foi o próximo?
E o doutorzinho responde: O que usou de misericórdia.
Vai e faz o mesmo
- finaliza o Mestre sem mais delongas
Fiz saber à irmandade quem eram o
Sacerdote e o Levita. Homens de Deus, conhecedores das Escrituras. Viram a
necessidade e passaram de longe.
Quem era o samaritano? O povo rejeitado
pelos judeus.
Lembrei à igreja sobre a mulher
samaritana no poço.
- Você é judeu e me pede água? Judeus não conversam com samaritanos!
Samaritanos eram um povo que os
judeus ignoravam totalmente, não queriam contato.
Perguntei a irmandade:
- Quem na nossa sociedade você
não quer contato? Uma prostituta, um assassino, um ladrão? Confesso que quis
até dizer um travesti, mas achei que ia ser forte demais.
Foi o rejeitado, o excluído da
sociedade, o ignorado que tomou uma atitude, que os “homens de Deus” não
tomaram.
Quando Cristo perguntou “quem foi
o próximo”, o doutorzinho até teve nojo de dizer “O Samaritano”, preferindo
dizer “O que usou de misericórdia”.
Cristo disse: “Vai e faz o mesmo”.
O doutorzinho saiu pisando duro
com raiva: “Que ousadia! Comparou-me a um samaritano!” Enquanto isso, na outra
parte da Palavra, a samaritana do poço de Jacó ganhou “Água da vida
eterna”. E nos diz a Bíblia que Cristo
ficou entre eles vários dias…
Tratar bem um ancião todos
querem. Tratar bem um rejeitado pela sociedade e até pela igreja ninguém quer.
Ter humildade para sermos um “Samaritano”, um rejeitado, ninguém quer. Ser um
“Sacerdote, um levita” socialmente falando, com o mesmo status, todos querem.
Ao final do culto um irmão de uma
outra localidade me saudou e me perguntou se lembrava de um irmão chamado Lucas
(nome fictício). Disse que sim, daí ele explicou que a vida dele é complicada,
aprontou muito antes de batizar e ainda hoje se viu numas encrencas, precisando
ir pra corte judicial algumas vezes.
Este irmão sempre aconselhava o
Lucas a pedir a Deus perdão a Deus e a família, e consertar a vida dele. Por
fazer isto, muitos irmãos diziam a ele: “Deixa o Lucas pra lá. Você tá
arranjando problema com a tua mão.”, mas ele sempre insistia em ir lá, aconselhar
o Lucas.
Neste final de semana passada, o
Lucas numa besteira que fez, acabou sendo preso. Daí este irmão disse: “Vou
largar de aconselhá-lo, mas vou hoje no culto pra congregar e ver se na Palavra
sinto algo a respeito.”
Daí ele me confessou: “Mediante o
conselho da Palavra eu vou continuar a aconselhar o Lucas, vou ajudar naquilo
que eu puder, mesmo que todo mundo diga pra eu deixar ele pra lá, vou pedir a
Deus pra que eu seja Samaritano e não doutor de Lei”.
Voltei pra casa com o coração cheio de alegria.
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