Refletindo no que o HP postou sobre GRAÇA (aqui), e numa casualidade que pertence a Deus, eu lia um texto agora há pouco e achei por bem compartilhar um fragmento como leitura complementar simples e acessível sobre GRAÇA, não como algo que se almeja num futuro eterno, mas que se experimenta AQUI E AGORA.
‘A Graça atinge-nos quando avançamos através do vale obscuro duma vida absurda e vazia. Atinge-nos quando sentimos que a nossa separação é mais profunda do que nunca fora, porque violamos uma outra vida, uma vida que amávamos, uma vida de que nos alienamos. Atinge-nos quando o desgosto que sentimos por nós mesmos, a nossa indiferença, a nossa fraqueza, a nossa hostilidade e a nossa falta de direção e de serenidade se nos tornaram intoleráveis. Atinge-nos quando, ano após ano, não se alcança a tão anelada perfeição de nossa vida, quando os velhos hábitos nos escravizam ao longo de décadas, quando o desespero destrói toda a alegria e toda a coragem.
Algumas vezes sucede que, nesse momento, uma vaga luz rompe a escuridão da nossa noite, e é como se uma voz nos dissesse: ‘Foste aceito. Foste aceito por algo que é maior do que tu e cujo nome tu desconheces. Não te preocupes como saber-lhe o nome agora; talvez o descubras mais tarde. Não procures fazer coisa alguma agora, talvez mais tarde faças muito. Não busques nada; não realizes nada; não pretendas nada. Simplesmente aceita o fato de seres aceito!’.
Se tal nos acontece, passamos pela experiência da Graça. Depois dessa experiência, podemos não ser melhores do que antes, podemos não acreditar mais do que antes. Mas tudo é transformado. Nesse momento, a Graça conquista o pecado, e a reconciliação preenche o fosso aberto pela alienação.
E nada se requer dessa experiência, nenhuma prévia adesão religiosa ou moral ou intelectual: requer-se apenas a aceitação.
À luz desta Graça percebemos o poder da graça nas nossas relações para com os outros e para conosco mesmos. Experimentamos a graça de sermos capazes de olhar francamente nos olhos os outros, a graça miraculosa da união da vida com a vida.
Conhecemos a graça de compreendermos as palavras dos outros, de nos compreendermos uns aos outros. Compreendemos não apenas o sentido literal das palavras, mas também o que se esconde por detrás delas quando são duras e irritadas. Porque mesmo então palpita o desejo de romper os muros do isolamento.
Experimentamos a graça de sermos capazes de aceitar a vida dos outros, mesmo que nos seja hostil e nociva, porque, pela Graça, sabemos que essa vida pertence ao mesmo fundo a que nós pertencemos e pelo qual fomos aceitos.
Experimentamos a graça que é capaz de vencer a barreira trágica dos sexos, das gerações, das nações, das raças, e mesmo a mais completa separação entre o homem e a natureza. A Graça aparece, por vezes, em todas estas separações para nos reunir àqueles a quem pertencemos’.
[Robinson, John A. T. – Um Deus diferente – Moraes Editores, 1968, Portugal, páginas 120-123]
Grifos meus - RF.
Observação: não tive a oportunidade (ainda) de ler o livro, mas arrisco dizer que o mesmo (como sugere o título), certamente aponta essa percepção de Deus além da tradição cristã imposta. Percepção esta, tão bem traçada nessas poucas linhas que dizem respeito à Graça na nossa existência. No nosso Hoje!
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